Nuria
Acordei com a sensação de vazio.
Não era dor.
Nem frio.
Era... ausência.
Do calor dele.
Do peso do seu corpo na borda da maca. Do som rouco da sua respiração perto da minha orelha. Do cheiro dele misturado ao da enfermaria.
Tentei me mexer. A perna ainda latejava, mas o curativo estava firme. O corpo mais leve. Menos dor. Mais lucidez.
Mas o lugar ao meu lado… estava gelado.
"Ste
StefanosEu tinha voltado da sede da alcateia a algumas horas, mas ainda não podia ir ver Nuria. Precisa terminar de ajustar os detalhes e as proteções, tudo para evitar que a Eclipse tivesse uma nova chance.Como se eu já não tivesse inimigos o bastante, não é, Deusa?O mapa sobre a mesa estava manchado de anotações.Círculos vermelhos. Linhas riscadas. Nomes de aliados que viraram inimigos. De traições enterradas sob sorrisos.E eu ali.
NuriaJá se passaram três dias desde o ataque.O corte ainda doía, especialmente quando o corpo cansava de fingir que estava tudo bem. Mas a dor… era o de menos.Stefanos permanecia em estado de alerta, embora um pouco mais calmo. A raiva ainda vivia em seus olhos, mas agora ela era controlada. Direcionada. Ele não baixou a guarda nem por um segundo. E eu? Eu estava fazendo o mesmo.Sentada na poltrona do quarto, com um roupão felpudo envolvendo meu corpo, encarei o vapor do chá à minha frente. Três dias de silêncio interior, de pensar demais, de tentar entender as mudanças em mim, físicas, emocionais, espi
NuriaA porta bateu atrás da estilista e, por alguns segundos, o silêncio foi confortável.Stefanos não se moveu. Apenas me olhava.Com aquele olhar.O tipo de olhar que me fazia esquecer que havia sangue nobre em minhas veias. Que eu era uma descendente da linhagem mais poderosa. Que o mundo lá fora me esperava com olhos famintos.A única coisa que eu conseguia lembrar… era que eu era dele."Você tem ideia," ele começou, com a voz baixa e arrastada, se aproximando devagar, "do quanto foi sexy te ver expulsar aquela mulher da nossa casa?"
StefanosO silêncio que caiu sobre o salão era denso, como a calmaria antes do abate.Solon me encarava.O olhar era o mesmo: arrogante, traiçoeiro. Mas algo em sua postura… hesitou. Ele não deu um passo à frente. Não rosnou. Não sorriu como da última vez.No fim, ele recuou. Um único passo. Quase imperceptível, mas para mim… foi suficiente.“Não era minha intenção desrespeitar,” ele disse, com aquela voz arrastada de quem treinou cada palavra diante do espelho. “Só queria cumprimentá-la. Dizer um ‘oi&rsqu
NuriaA luz dourada da lareira dançava pelo pequeno salão enquanto o som do riso preenchia o ambiente. Meu pai serviu mais uma rodada de vinho, minha mãe cortava pedaços extras de torta para Elias, e Gael ainda insistia em me provocar."Você vai mesmo fazer isso?" Ele perguntou, encostado na mesa, os braços cruzados."Claro que vai," meu pai respondeu antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. "Minha filha, primeira violinista da Orquestra Nacional!"O orgulho em sua voz fez meu peito vibrar. Ser escolhida para a Orquestra Nacional era um sonho que eu nem ousava imaginar, e agora estava diante de mim. Mas havia um preço."Se eu aceitar, terei que viver entre os humanos."O silêncio caiu por um instante.A Alcateia Lunar sempre fora meu lar. Uma comunidade fechada, isolada dos humanos, escondida entre as montanhas. Enquanto outras alcateias tentavam se misturar ao mundo moderno, a nossa se mantinha fiel às tradições antigas. Saindo dali, eu me tornaria mais uma loba aventureira."Você
NuriaSeis meses.Seis meses de agonia. De dor. De espera.Seis meses de um pesadelo sem fim, onde cada dia era um lembrete de que minha existência não me pertencia mais.O Alfa da Alcateia Invernal não era um homem. Era uma sentença.Desde a noite em que Solon marcou minha pele com seus dentes, eu me tornei sua propriedade. Seu experimento. Seu fracasso.Ele me trancou em um quarto, me forçou a beber seus chás, a suportar seus toques, a ouvir suas promessas doentias. Me reduziu a nada além de um ventre vazio, uma peça defeituosa no seu plano de grandeza.E agora, meu tempo acabou.A sentença seria cumprida.Meus olhos estavam fechados, mas eu já sentia tudo ao meu redor.O cheiro da terra úmida. O vento cortante da noite. As correntes frias ao redor dos meus pulsos e tornozelos. A respiração irregular das outras mulheres condenadas.O altar estava pronto.Eu seria sacrificada à Deusa.Um grito cortou o silêncio.Dessa vez, eu abri os olhos.A dor veio de imediato. O ferro cravado em
StefanosO cheiro de sangue ainda impregnava o ar. Denso. Ferroso. Familiar.Eu estava acostumado a ele.A guerra moldou quem eu sou. Desde jovem, fui treinado para isso, para caçar, para matar, para nunca hesitar. Enquanto outros alfas se preocupavam com política e alianças frágeis, eu me fortalecia no campo de batalha.Minha alcateia prosperava porque eu a construí com ferro e sangue.E foi isso que chamou a atenção do Alfa Supremo.Aos vinte anos, recebi minha primeira ordem direta. Aos vinte e cinco, me tornei seu lobo de confiança. Hoje, aos trinta e oito, sou mais do que apenas um Alfa.Sou seu executor. Seu cão de briga. O predador que ele solta quando quer que alguém desapareça.E, até agora, nunca falhei.A Alcateia Invernal já estava condenada antes mesmo de eu pisar naquele solo. Solon cavou a própria ruína, preso em sua obsessão cega, agarrando-se a rituais ultrapassados e crenças insanas.Se as investigações estivessem corretas, ele fazia parte de um clã não reconhecido p
NuriaO salão estava em silêncio, mas não era um silêncio vazio. Era sufocante, carregado, um campo de batalha onde as palavras eram lâminas afiadas, e eu sabia que a primeira a vacilar seria a primeira a sangrar.Stefanos pegou a garrafa no aparador, encheu o copo e virou o líquido em um único gole antes de se servir de mais uma dose. O whisky queimava sua garganta, mas não tanto quanto sua paciência ao lidar comigo.Então, me olhou.Havia algo calculado naquele olhar. Ele me estudava não como uma mulher, mas como um enigma que ele queria desmontar peça por peça.Apoiou-se na mesa, os dedos longos girando o copo lentamente. O whisky refletia a luz branda do salão, mas seus olhos... prateados como lâminas, prontos para cortar no momento certo."Vai me dizer seu nome ou quer que eu arranque de você aos poucos?"Segurei seu olhar sem hesitar.Não responder era minha única arma agora.Mas ele não era do tipo que desistia facilmente.O canto de sua boca puxou um sorriso de leve. "Acha que