Rylan
Merda.
Encostei a cabeça no travesseiro da maca, respirando fundo. Meus músculos ainda doíam, o ombro ardia, mas não era isso que me incomodava.
Era ela.
Aquela maldita garota de 18 anos que tinha a audácia de se meter onde não devia.
A audácia de querer me enfrentar. De achar que me conhecia melhor do que eu mesmo.
Fechei os olhos por um segundo. Só um. Mas tudo o que vi foi o rosto dela... vermelha, ofegante, os olhos arregalados quando brinquei com a ideia de beijá-la. E o pior?
NuriaA primeira coisa que senti foi o cheiro.Não o da enfermaria, nem o das compressas ou do sangue seco que ainda pairava no ar.Mas o dele.Amadeirado. Denso. Familiar. Misturado com uma nota de algo novo.Algo quebrado.Abri os olhos com esforço. As pálpebras pesavam como se o mundo tivesse desabado sobre mim. A luz era fraca, filtrada por uma das janelas parcialmente fechadas.A dor veio logo depois.Forte. Pulsante. Na coxa.
StefanosO som dos monitores na ala médica era o único ruído constante... suave, ritmado, quase como o som de uma respiração tranquila.A respiração dela.Nuria dormia. Pela primeira vez em horas, seu rosto não estava tão pálido. Havia cor nas bochechas. Calor na pele. O pulso no pescoço seguia estável. E o ferimento... estava se fechando.Me levantei da maca e a encarei em silêncio, passando os dedos com cuidado por sua têmpora. A pele ainda quente, mas agora... serena. Como se a tempestade tivesse recuado."Você é a loba mais i
NuriaAcordei com a sensação de vazio.Não era dor.Nem frio.Era... ausência.Do calor dele.Do peso do seu corpo na borda da maca. Do som rouco da sua respiração perto da minha orelha. Do cheiro dele misturado ao da enfermaria.Tentei me mexer. A perna ainda latejava, mas o curativo estava firme. O corpo mais leve. Menos dor. Mais lucidez.Mas o lugar ao meu lado… estava gelado."Ste
StefanosEu tinha voltado da sede da alcateia a algumas horas, mas ainda não podia ir ver Nuria. Precisa terminar de ajustar os detalhes e as proteções, tudo para evitar que a Eclipse tivesse uma nova chance.Como se eu já não tivesse inimigos o bastante, não é, Deusa?O mapa sobre a mesa estava manchado de anotações.Círculos vermelhos. Linhas riscadas. Nomes de aliados que viraram inimigos. De traições enterradas sob sorrisos.E eu ali.
NuriaJá se passaram três dias desde o ataque.O corte ainda doía, especialmente quando o corpo cansava de fingir que estava tudo bem. Mas a dor… era o de menos.Stefanos permanecia em estado de alerta, embora um pouco mais calmo. A raiva ainda vivia em seus olhos, mas agora ela era controlada. Direcionada. Ele não baixou a guarda nem por um segundo. E eu? Eu estava fazendo o mesmo.Sentada na poltrona do quarto, com um roupão felpudo envolvendo meu corpo, encarei o vapor do chá à minha frente. Três dias de silêncio interior, de pensar demais, de tentar entender as mudanças em mim, físicas, emocionais, espi
NuriaA porta bateu atrás da estilista e, por alguns segundos, o silêncio foi confortável.Stefanos não se moveu. Apenas me olhava.Com aquele olhar.O tipo de olhar que me fazia esquecer que havia sangue nobre em minhas veias. Que eu era uma descendente da linhagem mais poderosa. Que o mundo lá fora me esperava com olhos famintos.A única coisa que eu conseguia lembrar… era que eu era dele."Você tem ideia," ele começou, com a voz baixa e arrastada, se aproximando devagar, "do quanto foi sexy te ver expulsar aquela mulher da nossa casa?"
StefanosO silêncio que caiu sobre o salão era denso, como a calmaria antes do abate.Solon me encarava.O olhar era o mesmo: arrogante, traiçoeiro. Mas algo em sua postura… hesitou. Ele não deu um passo à frente. Não rosnou. Não sorriu como da última vez.No fim, ele recuou. Um único passo. Quase imperceptível, mas para mim… foi suficiente.“Não era minha intenção desrespeitar,” ele disse, com aquela voz arrastada de quem treinou cada palavra diante do espelho. “Só queria cumprimentá-la. Dizer um ‘oi&rsqu
NuriaA luz dourada da lareira dançava pelo pequeno salão enquanto o som do riso preenchia o ambiente. Meu pai serviu mais uma rodada de vinho, minha mãe cortava pedaços extras de torta para Elias, e Gael ainda insistia em me provocar."Você vai mesmo fazer isso?" Ele perguntou, encostado na mesa, os braços cruzados."Claro que vai," meu pai respondeu antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. "Minha filha, primeira violinista da Orquestra Nacional!"O orgulho em sua voz fez meu peito vibrar. Ser escolhida para a Orquestra Nacional era um sonho que eu nem ousava imaginar, e agora estava diante de mim. Mas havia um preço."Se eu aceitar, terei que viver entre os humanos."O silêncio caiu por um instante.A Alcateia Lunar sempre fora meu lar. Uma comunidade fechada, isolada dos humanos, escondida entre as montanhas. Enquanto outras alcateias tentavam se misturar ao mundo moderno, a nossa se mantinha fiel às tradições antigas. Saindo dali, eu me tornaria mais uma loba aventureira."Você