Jenna não poderia ter escolhido um vestido menos quente? Ou menos apertado na cintura, menos bufante na saia, menos salmão na cor...?
Tudo bem, eu estava sendo uma cadela mal-humorada. Mas eu estava com calor, estava cansada, e minha cota de casamentos havia alcançado um limite.
Aquele seria o último.
Jen e Luke seriam os últimos que me teriam como madrinha. As pessoas me usavam como pé de coelho, mas se esqueciam de perguntar como eu estava em relação a tudo aquilo. Gostava dos casais que me convidaram, mas realmente não tinha nenhuma ligação mais estreita com a maioria deles. Sem contar o desespero para ter sucesso no casamento.
Não era a minha presença que evitaria as brigas, traições, rotinas, cobranças, doenças e também não seria a minha presença que lhes abençoaria com filhos, sexo gostoso pelo resto de suas vidas, promoções no trabalho, conquistas e o que mais viesse para a suas relações. Algumas coisas eram inevitáveis, outras dependiam dos esforços do próprio casal. Forçar alguém a ser sua madrinha por uma superstição era ridículo.
Só perdia para o fato de que, mesmo eu reclamando e odiando cada segundo, continuava aceitando que me empurrassem para seus enlaces uma e outra vez. Sim, isso era mais ridículo e estava na hora de parar.
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Assim que os brindes, fotos, choros, as danças, mais choros, declarações de amor e mais fotos acabaram, escapei aos tropeços para a área externa do salão de festas e suspirei aliviada quando senti o vento fresquinho bater em minha pele quente. Respirar um pouco seria bom para a minha bebedeira totalmente justificada pela necessidade de uma dose de diversão.
Era um alívio ficar longe das conversas e do ruído de festa. Especialmente das tias que sempre tinham uma opinião sobre o fato de você ser madrinha, não casada, mas que mesmo assim trazia sorte aos noivos. Estas eram as mais chatas, pior que o calor, o barulho ou o vestido apertado. Seria interessante ficar longe delas para evitar que minha língua bêbada não as chamasse de velhas fofoqueiras ou algo do tipo.
Eu não era casada. Nem comprometida com ninguém, mas também não era nenhuma encalhada. Eu tinha encontros, sexo e até namorava às vezes, mas não pensava em noivado, casamento e juras de amor eterno. Honestamente, me irritava um pouco essa vibe Rei Leão, sabe? A do ciclo sem fim?
Você nasce, cresce, amadurece, conhece alguém, casa, copula, prolifera e morre. Parece que ao chegar à Terra, você ganha um checklist para seguir.
Tudo preto e branco.
Credo!
Minhas irmãs dizem que é porque sou nova e não encontrei ninguém que despertasse essa vontade em mim, mas Becca tinha apenas um ano a mais do que meus vinte e três, e já estava casada há quatro anos. Era difícil elas entenderem que a opção era minha. Uma questão de opinião também. Matrimônio, festas de casamento ou noivado não tinham apelo algum para mim, geralmente eram piegas, faziam com que gastássemos rios de dinheiro e ainda precisávamos aturar pessoas indesejáveis na festa.
Eu só pensava que há mais na vida do que a regra comum que todos seguem, mas de algum modo as pessoas interpretavam isso como: mulher amarga que morrerá sozinha, exceto pelos seus dezenove gatos.
Nunca fui amarga!
Apenas via a vida de outra forma. Trabalhava com o que gostava, como professora de primeira série, tinha poucos amigos — mas minha melhor amiga, Della, valia por muitos —, me perdia em alguma balada com certa frequência e namorava da forma que eu queria.
Se eu almejava algo mais? Claro, viajar, talvez uma segunda faculdade, participar de um concurso de tortas — eu não sei cozinhar nada, mas queria participar de um concurso. Vai entender...—, sair da casa dos meus pais e ter meu próprio apartamento.
Por que era tão difícil para as pessoas entenderem que eu não queria o mesmo que minhas irmãs?
Claro, eu queria alguém para amar e compartilhar a vida, mas não necessariamente casar com um monte de rosas vermelhas ao redor, e muito menos com as velas do chafariz da senhora Kato. Sim, fui a tantos casamentos, que até os fornecedores eram meus conhecidos.
Balançando a cabeça na tentativa de colocar meus pensamentos no lugar novamente, olhei em direção ao chafariz e analisei a troca calorosa entre um casal. Era Lindsey, a dama de honra, e o padrinho de Luke, Went. Eu não o conhecia, mas Lorenzo, meu amigo de longa data que também estava na festa, nos apresentou mais cedo.
Ela parecia bem brava com o cara, mas eu podia ver que aquilo estava mais para tesão e/ou paixão recolhida. Para completar a situação, assim que a dama de honra encerrou o assunto e resolveu deixar o chafariz, esbarrou em uma garçonete. Fechei os olhos, esperando o pior daquela colisão, mas quando abri novamente só a garçonete estava lá, parecendo meio confusa com aquela movimentação abrupta por parte de Lindsey.
Observei a garçonete se recompor e decidi ir até ela para pedir uma bebida, mas um garçom que naquele momento passava por mim parou, me oferecendo mais espumante, e eu apenas sorri e aceitei.
Duas taças.
Virei uma das bebidas e devolvi a taça na bandeja enquanto pegava outra em seguida. Eu não deveria estar bebendo. Não tinha ideia de como voltaria para casa, já que viera de carro sozinha. Mesmo assim, me tornei a melhor amiga do estoque de espumante da festa.
Merda! Vou ter que chamar um táxi, pensei olhando as fotos dos noivos, que estavam estrategicamente colocadas na entrada do salão para dar boas-vindas aos convidados. Revirei os olhos e resmunguei, já um pouco alta:
— Quanto amor, Jen...
Mas logo me peguei apreciando as imagens. Eram bonitas, de bom gosto... E definitivamente transpareciam o sentimento entre o casal.
Terminando minha segunda taça de espumante daquele momento, olhei novamente para o chafariz. Deixei a taça vazia entre os porta-retratos, levantei a saia bufante do vestido e andei até a fonte. Eu poderia comentar sobre como já estava usada e batida a ideia de casar em um salão de festas com um chafariz da sorte, mas quem eu era para falar mal dele?
— Eu entendo você e sua reputação de chama do amor, amigo — dei algumas batidinhas no chafariz para consolá-lo e sentei na borda, analisando as delicadas velas boiando e refletindo as chamas no espelho d’água. Passei os dedos perto dos pavios acesos e brinquei um pouco com eles. Meu rosto parecia bonito no reflexo, então olhei diretamente em meus olhos e me perguntei:
Será que isso tudo não é um pouco de amargura?
Será que você não quer ter a sua própria madrinha?
Revirei os olhos para a Amelia refletida na água e neguei a minha própria pergunta.
Não. Eu não queria.
Não se tratava de inveja, a questão era sobre a minha escolha. Casamentos apenas perderam a graça. Eu não precisava de festa, véu, bolo de dez andares ou uma maldita madrinha para ser feliz em um relacionamento. Então eu prometi enquanto olhava para as velas flutuantes:
— Nunca mais vou a um casamento novamente. Queria ter uma moeda para jogar aqui... Mas eu não preciso de moeda, não estou pedindo nada. Basta convicção. Então: Nunca. Mais. Vou. A. Um. Casamento. Novamente!
Quando cogitei me levantar para ir embora dali, uma voz profunda e baixa, muito próxima às minhas costas, me pregou um susto imenso.
— A senhorita...
Com os batimentos cardíacos subitamente acelerados, dei um salto, batendo a cabeça em algo duro e logo ouvi um barulho de vidro quebrando. Virei rapidamente e esbarrei no peito de alguém, o que me fez dar um passo para trás e pisar na barra do maldito vestido. Isso fez com que eu perdesse completamente o equilíbrio já comprometido pelo álcool, e o único local que havia para cair era dentro do chafariz.
O chafariz cheio de velas.
Antes de cair, duas coisas aconteceram:
Eu rezei...
Por favor, que as velas apaguem antes de me queimar.
E ouvi um homem dizendo:
— Puta que pariu!
No momento em que minha bunda bateu na água, tentei firmar as mãos, mas adivinha só? Elas deslizaram no fundo de pedra da fonte, e eu consegui afundar as costas até estar totalmente submersa do quadril para cima.
Gritei debaixo d’água, mas obviamente pareceu um gargarejo, ou um cacarejo. Eu me debati e tentei colocar as mãos no fundo do chafariz novamente, quando senti que estava sendo içada pelo decote do vestido. Assim que minha cabeça saiu da água, puxei o ar ruidosamente enquanto era colocada de pé com tamanha força, que acabei colidindo novamente com o peito da pessoa em minha frente.
— Você está bem? — Ele perguntou nervosamente, mas eu ainda estava tossindo demais para responder. — Droga! Evie vai me matar, as velas estão novamente apagadas, Julie vai me matar... A senhora Kato vai me matar. — Ouvi o homem enquanto ele dava pequenas batidas em minhas costas e me direcionava até uma cadeira. — Aqui, moça, sente aqui.
Eu fiz o que ele disse enquanto tentava me recuperar. Quando finalmente o ar voltou, me virei para agradecer a ele pelo resgate, mas então perdi o fôlego novamente.
Meu salvador era somente o homem mais lindo que eu já tinha posto meus olhos.
— Você está bem? — perguntou novamente, retirando a pequena toalha pendurada em seu bolso e me entregando. — Desculpe, esse pano sujo não vai ajudar muito... Vem comigo, vou ajudar você a se secar.Ele estendeu a mão para me ajudar a levantar, mas eu só consegui ficar parada, olhando para ele. Alto, porte másculo, cabelos escuros e sedosos, daqueles que quando mexemos não param no lugar e provavelmente escorrem pelos dedos, olhos cor de mel, os dentes pareciam levemente tortos — notei enquanto ele falava sem parar —, mas eram tortos de uma forma sexy... Combinava com ele.— Moça? Droga! Será que entrou água no cérebro? Está bêbada? — perguntou, franzindo o cenho e me analisando mais de perto. — Alô?! — caminhou um pouco mais e nivelou seu rosto com o meu.Piscando para trazer de volta o meu foco, balancei a ca
Ele não me levou até a porta de casa. Não deixei. Passava das dez da manhã, e meus pais estariam acordados, com toda a certeza.Droga, Amelia, consiga logo sua própria casa!Assim que passei pelo portão, virei em direção ao seu carro apenas para lhe acenar mais uma vez. Um último adeus. Ele prometeu que me ligaria, mas eu não criaria esperança.Com mais uma olhada, ele assentiu e acelerou seu Mustang GT-qualquer-coisa, que tanto se orgulhava, e foi embora.Quando fechei a porta e me escorei atrás dela, fechei os olhos tentando controlar tudo que sentia naquele momento. As lembranças da madrugada tentavam invadir minha mente, mas eu as bloqueava até que estivesse em meu quarto, na minha cama.— Amy? É você? — Ouvi meu pai perguntando da cozinha.— Sim! Bom dia, pai. Estou subindo.— Quem trouxe
O vestido vermelho delineava meu corpo valorizando o que precisava, com exceção dos meus seios. A única coisa que valorizaria meus seios seriam próteses mamárias. Meus peitos eram pequenos e mal enchiam meu sutiã tamanho P. Meu corpo era simples, pesava cerca de sessenta quilos, às vezes menos, na maioria das vezes mais. Meu bumbum era decente, assim como minhas pernas, mas meus seios eram simples, necessitavam de artifícios para que ficassem apresentáveis. No caso do vestido que usava para ir ao JJ Pub naquela noite, eu precisava de um sutiã push up, mas o único naquele estilo que eu tinha estava lavando, então nada de seios avantajados para mim.Meus cabelos eram cacheados, com cachos grandes e abertos, facilmente modeláveis. Eram castanhos, em um tom chocolate, assim como meus olhos. Optei por deixá-los soltos, mas peguei um elástico fino e discreto e coloquei
— Que tal a sua casa? — perguntei, deixando de lado qualquer protocolo existente no código de conduta inventado para a mulher não transar antes de cinco encontros.Nesse código de conduta, itens como “não se depile”, “use calcinha velha” e “diga que está menstruada” estavam no topo da lista. Mas a minha vontade de pular em Joshua e transar com ele a noite toda era maior e o fato de eu não estar dando “checked” em nenhum dos itens cagados dessa lista me levavam a acreditar que eu deveria fazer o que desejava, e não seguir um protocolo que me deixaria frustrada depois.Exatamente como fiquei nas duas últimas semanas quando não levantei todas as camadas de tecido cafona do vestido de madrinha e simplesmente transei com ele em seu carro. — Hum... Estou em transição entre casas agora — admitiu, e eu le
— Caramba! Você é muito preguiçosa. Vamos! Acorde, Amy. Já passa das onze. — Ouvi a voz baixa de Josh sussurrando enquanto distribuía beijos por minhas costas nuas.— Hum... Bom dia. Eu gosto disso. Mas não sou preguiçosa, é sábado — respondi, me virando, o rosto de Josh estava em meus seios. Com um sorriso, começou a beijá-los. — Josh... — murmurei, levando as mãos em seus cabelos.— Eu sou totalmente a favor de ficarmos na cama o dia todo, mas precisamos nos alimentar, por isso acordei você. Estou com fome, e a noite eu tenho que tocar em um bar na cidade vizinha — explicou entre os beijos deliciosos que dava.— Tudo bem, mas se você continuar fazendo isso, não sairemos — afirmei sem nenhuma convicção, estava totalmente bem em não sair para comer. Quem precisava de comida?
Eu não sabia dizer se as coisas entre Josh e eu estavam indo rápido ou devagar demais. Para mim, tudo estava indo de forma natural, estávamos saindo há três meses, mas não havia rótulos e sequer falávamos sobre isso. Nossos horários não eram lá muito compatíveis. Eu trabalhava em horário integral de segunda a sexta na escola, Josh trabalha de sexta a domingo como garçom em eventos ou tocando em bares, às vezes nas quartas-feiras também.Nós sempre arranjávamos um jeito de nos encontrar, saíamos para passeios, jantares, eu o acompanhava até seus pequenos shows nos bares, inclusive no Sea. Ele continuava a se esgueirar para a sala dos fundos ou para conversar com a tal de Libby sempre que estávamos lá, mas ela nunca saiu ou deu as caras no bar. Joshua geralmente voltava um pouco tenso depois que saía de lá e levav
Algumas manhãs depois, acordei com sussurros de Josh ao telefone. Seu apartamento era pequeno, o quarto era separado da pequena sala integrada na cozinha, mas eu conseguia ouvi-lo de qualquer forma.Levantei e fui até a porta, tentando não fazer nenhum barulho. Era errado o que eu estava fazendo? Sim! Era. Mas não consegui evitar. Especialmente porque Libby continuava vindo em minha mente. Sempre que estávamos no Sea para alguma apresentação, Josh ia para a sala dela e ficava por pelo menos dez minutos e voltava tenso.Em todas as vezes.— Bem, diga a ela que o papai também a ama. Que sempre a amará. — Seu tom era baixo, porém ríspido. — Mas você precisa dizer a ela a verdade, Libby, não continuarei mentindo para Mina cada vez que nos encontrarmos. E você precisa assinar os papéis. O prazo se esgotou.Mina?Pap&eacut
Olhei para ele, incrédula. Se a menina não era sua filha e Libby não era a sua esposa... O que tudo aquilo significava?— Mas... Mas eu vi o dia que você estava abraçado com Libby enquanto ela chorava e dizia que estava com saudades. Hoje mais cedo você estava insistindo para ela assinar os papéis e disse que “papai também ama”... Eu lhe perguntei e você disse que ela era ninguém, Josh! — exclamei, furiosa. — Por que não me disse?— Eu tentei! — gritou. — Liguei para você, você não atendeu. Deixei recado no seu correio de voz dizendo que queria contar tudo!— Você teve a chance de me contar quando eu perguntei. Mas preferiu dizer que ela era ninguém. Por quê? Por quê? — rebati aos berros.— Porque eu tive medo do que você pensaria de mim! — gritou de volta.<