Capítulo 1

Jenna não poderia ter escolhido um vestido menos quente? Ou menos apertado na cintura, menos bufante na saia, menos salmão na cor...?

Tudo bem, eu estava sendo uma cadela mal-humorada. Mas eu estava com calor, estava cansada, e minha cota de casamentos havia alcançado um limite.

Aquele seria o último.

Jen e Luke seriam os últimos que me teriam como madrinha. As pessoas me usavam como pé de coelho, mas se esqueciam de perguntar como eu estava em relação a tudo aquilo. Gostava dos casais que me convidaram, mas realmente não tinha nenhuma ligação mais estreita com a maioria deles. Sem contar o desespero para ter sucesso no casamento.

Não era a minha presença que evitaria as brigas, traições, rotinas, cobranças, doenças e também não seria a minha presença que lhes abençoaria com filhos, sexo gostoso pelo resto de suas vidas, promoções no trabalho, conquistas e o que mais viesse para a suas relações. Algumas coisas eram inevitáveis, outras dependiam dos esforços do próprio casal. Forçar alguém a ser sua madrinha por uma superstição era ridículo.

 Só perdia para o fato de que, mesmo eu reclamando e odiando cada segundo, continuava aceitando que me empurrassem para seus enlaces uma e outra vez. Sim, isso era mais ridículo e estava na hora de parar.

**

Assim que os brindes, fotos, choros, as danças, mais choros, declarações de amor e mais fotos acabaram, escapei aos tropeços para a área externa do salão de festas e suspirei aliviada quando senti o vento fresquinho bater em minha pele quente. Respirar um pouco seria bom para a minha bebedeira totalmente justificada pela necessidade de uma dose de diversão.

Era um alívio ficar longe das conversas e do ruído de festa. Especialmente das tias que sempre tinham uma opinião sobre o fato de você ser madrinha, não casada, mas que mesmo assim trazia sorte aos noivos. Estas eram as mais chatas, pior que o calor, o barulho ou o vestido apertado. Seria interessante ficar longe delas para evitar que minha língua bêbada não as chamasse de velhas fofoqueiras ou algo do tipo.

Eu não era casada. Nem comprometida com ninguém, mas também não era nenhuma encalhada. Eu tinha encontros, sexo e até namorava às vezes, mas não pensava em noivado, casamento e juras de amor eterno. Honestamente, me irritava um pouco essa vibe Rei Leão, sabe? A do ciclo sem fim?

Você nasce, cresce, amadurece, conhece alguém, casa, copula, prolifera e morre. Parece que ao chegar à Terra, você ganha um checklist para seguir.

Tudo preto e branco.

Credo!

Minhas irmãs dizem que é porque sou nova e não encontrei ninguém que despertasse essa vontade em mim, mas Becca tinha apenas um ano a mais do que meus vinte e três, e já estava casada há quatro anos. Era difícil elas entenderem que a opção era minha. Uma questão de opinião também. Matrimônio, festas de casamento ou noivado não tinham apelo algum para mim, geralmente eram piegas, faziam com que gastássemos rios de dinheiro e ainda precisávamos aturar pessoas indesejáveis na festa.

Eu só pensava que há mais na vida do que a regra comum que todos seguem, mas de algum modo as pessoas interpretavam isso como: mulher amarga que morrerá sozinha, exceto pelos seus dezenove gatos.

Nunca fui amarga!

Apenas via a vida de outra forma. Trabalhava com o que gostava, como professora de primeira série, tinha poucos amigos — mas minha melhor amiga, Della, valia por muitos —, me perdia em alguma balada com certa frequência e namorava da forma que eu queria.

Se eu almejava algo mais? Claro, viajar, talvez uma segunda faculdade, participar de um concurso de tortas — eu não sei cozinhar nada, mas queria participar de um concurso. Vai entender...—, sair da casa dos meus pais e ter meu próprio apartamento.

Por que era tão difícil para as pessoas entenderem que eu não queria o mesmo que minhas irmãs?

Claro, eu queria alguém para amar e compartilhar a vida, mas não necessariamente casar com um monte de rosas vermelhas ao redor, e muito menos com as velas do chafariz da senhora Kato. Sim, fui a tantos casamentos, que até os fornecedores eram meus conhecidos.

Balançando a cabeça na tentativa de colocar meus pensamentos no lugar novamente, olhei em direção ao chafariz e analisei a troca calorosa entre um casal. Era Lindsey, a dama de honra, e o padrinho de Luke, Went. Eu não o conhecia, mas Lorenzo, meu amigo de longa data que também estava na festa, nos apresentou mais cedo.

Ela parecia bem brava com o cara, mas eu podia ver que aquilo estava mais para tesão e/ou paixão recolhida. Para completar a situação, assim que a dama de honra encerrou o assunto e resolveu deixar o chafariz, esbarrou em uma garçonete. Fechei os olhos, esperando o pior daquela colisão, mas quando abri novamente só a garçonete estava lá, parecendo meio confusa com aquela movimentação abrupta por parte de Lindsey.

Observei a garçonete se recompor e decidi ir até ela para pedir uma bebida, mas um garçom que naquele momento passava por mim parou, me oferecendo mais espumante, e eu apenas sorri e aceitei.

Duas taças.

Virei uma das bebidas e devolvi a taça na bandeja enquanto pegava outra em seguida. Eu não deveria estar bebendo. Não tinha ideia de como voltaria para casa, já que viera de carro sozinha. Mesmo assim, me tornei a melhor amiga do estoque de espumante da festa.

Merda! Vou ter que chamar um táxi, pensei olhando as fotos dos noivos, que estavam estrategicamente colocadas na entrada do salão para dar boas-vindas aos convidados. Revirei os olhos e resmunguei, já um pouco alta:

— Quanto amor, Jen...

Mas logo me peguei apreciando as imagens. Eram bonitas, de bom gosto... E definitivamente transpareciam o sentimento entre o casal.

Terminando minha segunda taça de espumante daquele momento, olhei novamente para o chafariz. Deixei a taça vazia entre os porta-retratos, levantei a saia bufante do vestido e andei até a fonte. Eu poderia comentar sobre como já estava usada e batida a ideia de casar em um salão de festas com um chafariz da sorte, mas quem eu era para falar mal dele?

— Eu entendo você e sua reputação de chama do amor, amigo — dei algumas batidinhas no chafariz para consolá-lo e sentei na borda, analisando as delicadas velas boiando e refletindo as chamas no espelho d’água. Passei os dedos perto dos pavios acesos e brinquei um pouco com eles. Meu rosto parecia bonito no reflexo, então olhei diretamente em meus olhos e me perguntei:

Será que isso tudo não é um pouco de amargura?

Será que você não quer ter a sua própria madrinha?

Revirei os olhos para a Amelia refletida na água e neguei a minha própria pergunta.

Não. Eu não queria.

Não se tratava de inveja, a questão era sobre a minha escolha. Casamentos apenas perderam a graça. Eu não precisava de festa, véu, bolo de dez andares ou uma maldita madrinha para ser feliz em um relacionamento. Então eu prometi enquanto olhava para as velas flutuantes:

— Nunca mais vou a um casamento novamente. Queria ter uma moeda para jogar aqui... Mas eu não preciso de moeda, não estou pedindo nada. Basta convicção. Então: Nunca. Mais. Vou. A. Um. Casamento. Novamente!

Quando cogitei me levantar para ir embora dali, uma voz profunda e baixa, muito próxima às minhas costas, me pregou um susto imenso.

— A senhorita...

Com os batimentos cardíacos subitamente acelerados, dei um salto, batendo a cabeça em algo duro e logo ouvi um barulho de vidro quebrando. Virei rapidamente e esbarrei no peito de alguém, o que me fez dar um passo para trás e pisar na barra do maldito vestido. Isso fez com que eu perdesse completamente o equilíbrio já comprometido pelo álcool, e o único local que havia para cair era dentro do chafariz.

O chafariz cheio de velas.

Antes de cair, duas coisas aconteceram:

Eu rezei...

Por favor, que as velas apaguem antes de me queimar.

E ouvi um homem dizendo:

— Puta que pariu!

No momento em que minha bunda bateu na água, tentei firmar as mãos, mas adivinha só? Elas deslizaram no fundo de pedra da fonte, e eu consegui afundar as costas até estar totalmente submersa do quadril para cima.

Gritei debaixo d’água, mas obviamente pareceu um gargarejo, ou um cacarejo. Eu me debati e tentei colocar as mãos no fundo do chafariz novamente, quando senti que estava sendo içada pelo decote do vestido. Assim que minha cabeça saiu da água, puxei o ar ruidosamente enquanto era colocada de pé com tamanha força, que acabei colidindo novamente com o peito da pessoa em minha frente.

— Você está bem? — Ele perguntou nervosamente, mas eu ainda estava tossindo demais para responder. — Droga! Evie vai me matar, as velas estão novamente apagadas, Julie vai me matar... A senhora Kato vai me matar. — Ouvi o homem enquanto ele dava pequenas batidas em minhas costas e me direcionava até uma cadeira. — Aqui, moça, sente aqui.

Eu fiz o que ele disse enquanto tentava me recuperar. Quando finalmente o ar voltou, me virei para agradecer a ele pelo resgate, mas então perdi o fôlego novamente.

Meu salvador era somente o homem mais lindo que eu já tinha posto meus olhos.

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