Como o passar do tempo, seus filhos foram crescendo. Celina apesar de cega, era uma menina muito feliz, pois recebia o amor de seu pai e o carinho de sua tia. A menina, que nem sequer havia conhecido a mãe, conversava sempre com a tia a respeito dela: - Tia, como era minha mãe? - Sua mãe...Sua mãe era maravilhosa, alegre, meiga, assim como vós . Nos éramos grandes amigas, assim como vós e a Marina. Corríamos por toda a fazenda de nosso pai, fazíamos muitas travessuras juntas. Nos gostávamos muito. - Minha mãe era bonita, tia? - Muito, ela tinha olhos verdes, da cor dos seus. Tinha os cabelos negros encaracolados. Era uma mulata, que causava inveja a muitas sinhazinhas. - Ela era cega como eu? - Não, minha querida. Euvira podia ver. - Tia... - Fale Celina. - Se minha mãe, ainda estivesse viva, ela teria me amado? - Sim Celina. Ela teria a amado muito. O sonho de Euvira era ter um filho. - À tia, como queria ter minha mãe ao meu lado! - Mas ela está do seu lado Celina. Lá
Matilda temia muito ao ver seu filho Julio César, conversando a sois com Joaquim. Por isso sempre procurava aproximar-se dos dois: - Joaquim, o que está falando com o menino? - Estou lhe preparando, pois ele sendo meu filho mais velho, um dia cuidará de toda essa fazenda. - É mamãe, meu pai me disse, que um dia tudo isso será meu e de meus irmãos. Joaquim percebendo a aflição da esposa pediu a seu filho: - Julio César, meu filho, vá brincar com seus irmãos dentro de casa, para que eu e sua mãe, conversemos um pouco. - Sim papai! - Matilda, sempre que fico sozinho com Julio César, vós se aproxima depressa. Por quê? - Confesso, que temo muito por Julio. Talvez, por ele não ser seu filho, vós sintais raiva dele. - Jamais, Matilda! Eu amo Julio César, como se ele fosse meu filho. - Joaquim...Eu sei que depois de vós saber da verdade, jamais conversamos sobre o assunto. Mas quero lhe dizer, o porque não contei a vós, assim que nos casamos, que esperava um filho de outro homem...
Os anos passavam depressa, porém o sofrimento não. Albertina de tanto trabalhar aos poucos foi envelhecendo, Aurora sua filha já, se tornara uma bela donzela, há poucos dias completará dezesseis primaveras. Passou-se muito tempo, tempo esse que não foi suficiente para que Albertina esquecesse toda a desilusão que sofrerá com o marido, por isso ela jamais se casou novamente, ela vivia sozinha com a filha, trabalhava muito para seu sustento e o da filha, e tentava quitar a grandiosa divida do marido, (a única lembrança deixada por ele), ainda assim, ela não conseguiu pagar a divida, pelo contrario, apesar dos muitos anos de trabalho, Albertina apenas conseguiu quitar parte da divida. Todas as tardes, mãe e filha saiam pelo povoado vendendo doces, costuravam, lavavam, faziam de tudo para receber poucos tostões, para assim tentar uma vida melhor. O maior desgosto de Albertina, era o de ver a filha, a bela jovem Aurora nessa vida miserável, o prazer da mãe, seria sem duvida o de ver a fi
Com os anos se passando, Joaquim e Matilda, envelheceram um pouco. Julio César já era um homem, bonito refinado e elegante, tinha um carinho muito grande por Celina, ele sentia necessidade de protegê-la, pelo fato de ela ser cega. Marina e Celina, tornaram-se moças lindíssimas, assim como suas mães, as duas tornaram-se grandes amigas. Matilda tornou-se para ela como uma mãe, Joaquim a queria muito bem, porém João Manoel, o mais moço, que ainda era um rapazola, maltratava muito Celina, a desprezava pelo fato de ela ter nascido escrava, ele era diferente dos irmãos, era mesquinho, arrogante, humilhava Celina constantemente com palavras, mesmo sabendo que ela era sobrinha de sua mãe: - Vós pretendeis um dia casar-se Celina? - Sim, senhor João Manoel. Sonho com esse dia. - Mais isso não passará de um sonho vão, escravinha. Ti além de seres escrava, ainda és cega. Com certeza, nunca conseguirá casar-se com um bom partido, o Maximo que conseguirá, é casar-se com um daqueles negrinhos
Na fazenda, Joaquim e Matilda estavam aflitos, Joaquim já havia mandado Julio César e João Manoel a procura das duas. Mesmo assim, ele e sua esposa não agüentavam mais tanta espera, e a preocupação aumentava a cada minuto. Foi quando bateram na porta, eram elas: - Oh céus! Celina minha filha o que houve? Rapaz, por favor, traga Marina até sua alcova, para que eu possa cuidar dela. (Falou Matilda desesperada). O rapaz colocou Marina em sua alcova, e a deixou aos cuidados de sua mãe, e desceu a sala conversar com Joaquim e Celina: - Celina, conte-me o que houve. - Tio Joaquim, eu e Marina saímos para passear juntas, estávamos tão distraídas, que perdemos a noção do tempo, quando fomos surpreendidas pela chuva, Marina teve uma recaída e desmaiou... - Eu vinha passando pela estrada, e vi Celina gritando desesperada por ajuda, desci de meu coche a fim de ajudá-las. - Eu sou-lhe muito grato meu rapaz por ajudar minha sobrinha e minha filha. Mais me perdoe, não o conheço não é? -
Já se sentindo mais à vontade, Diogo dirigiu-se a cozinha a fim de beber um copo d’água, ali se deparou com Celina. :- Olá, senhorita, como vai? Diogo beijou a mão de Celina. Neste momento, João Manoel que os observava, aproximou-se dos dois. :- Ora meu primo, ela não é uma senhorita. É apenas uma escrava qualquer. - Uma escrava? - Sim. Não se lembra de Celina, aquela escravinha cega? - Sim. Lembro-me. Devo reconhecer o quanto esta lindíssima. - Meu primo, não diga asneira a essa escrava inútil. A tola a de dar credito as suas palavras, e pode vir a se apaixonar. (Risos) É de seu costume, querer para si, coisas de fidalgos. Já tem vestidos, uma boa educação, agora a de querer roubar o pretendente de sua senhora. (Ele riu-se mais ainda). Celina retirou-se envergonhada, e muito ofendida. - Pare de perturbar a pobre João! - Gosto de perturbar essa escrava! - João Manoel, eu sempre soube que Celina, apesar de suas origens, jamais foi considerada uma escrava. - Tolice, ela sem
Passados dois dias, Doutor Rafael foi à fazenda visitar Marina. Para sua surpresa a encontrou de pé, passeando pelo jardim. :- Olá, senhorita Marina como está? - Muito bem Doutor Rafael. - Vejo que já esta bem melhor, esta até passeando pelo jardim. - Sim. Sinto-me muito bem. O senhor ajudou-me tanto, e eu pouco sei de sua vida. - Bem, sou um médico recém formado. Nasci aqui mesmo no Brasil, porém quando pequeno, após a morte de meus pais, foi levado por meus tios para a Alemanha, lá cresci e me criei. Só agora, aos vinte anos, voltei para o Brasil, aprender um pouco mais de minha profissão. - Sua vida me parece um livrinho de surpresas. Gostaria de conhecê-lo melhor. - Talvez não tenhamos tempo. Daqui a dois meses partirei novamente para a Alemanha. - Por que tão depressa? O senhor tem noiva lá na Alemanha? - Não. Vou, por que ao termino das convenções dos médicos realizadas aqui no Brasil, mais nada me prenderá aqui. Neste momento, os dois se entreolharam. Rafael sentiu um
O tempo passava e Rafael refletia nas palavras de Matilda. No dia de sua partida, ele decidiu:- “a verei, mesmo que pela ultima vez”. Na fazenda, Marina que ficara tristonha pensando em seu amor, se alegrou ao vê-lo. Ela correu ao seu encontro: - Senhorita Marina, não poderia partir sem vê-la. - Doutor Rafael, por favor não vá! - Tenho de ir. Ao ficar aqui, só estou causando sofrimento a meu coração. Sei que jamais a terei, eis impossível para mim. - Por dizes isso? - Seu pai jamais aceitaria nossa união. - Não quero que parta, eu preciso de ti. Não se vá, eu imploro! - Não posso ficar minha amada. - Vais embora, mesmo sabendo que deixas dilacerado meu coração? - Para que eu fique, precisaria ao menos de ter a certeza de que sou correspondido em meu amor. - Fique certo disso, pois eu o amo. Se partir, levaras consigo meu coração. - É serio o que dizes? - Acha acaso que mentiria eu? Julga-me uma mentirosa? - Não, de jeito algum. Apenas não creio ser digno de tão formoso