Caenum Platearum
Caenum Platearum
Por: Thalia Meireles
Prefácio

Desde o início somos ensinados que um filho é a maior benção que um homem poderia possuir em vida. O que para muitos é uma dádiva suprema, para o impassível imperador do fogo, o parto de sua mulher era tudo, menos uma benção sublime.

Em outras circunstâncias, ele provavelmente estaria comemorando aos berros que sua amada Aleah era a mulher mais linda do mundo, e que seu filho seria o mais amado de todos, mas, que ledo engano! Sua mulher não passava de uma vadia adúltera que provavelmente lhe daria um bastardo anormal como castigo. Por muito tempo, Maxon quis acreditar que aquela criança era sua, mas o tempo e a postura incerta de sua esposa, lhe denunciavam quase sempre quando estavam a sós.

Maxon nunca foi um homem rígido ou cruel, sempre foi citado como um governante passivo e benevolente. Por esse, e o fato de amar tão incondicionalmente a Aleah, ele permitiu que a criança nascesse, e também prometeu que não machucaria sua mulher de forma alguma.

Era um homem bom!

Tão bom que em momento nenhum saiu do lado de sua esposa, mesmo que ela gritasse tão alto quanto possível por causa da dor. A parteira que conduzia o parto, nem de perto transpirava medo, apenas uma seriedade e frieza a cada vez que mandava a imperatriz empurrar com toda força que possuía. Aos poucos, Aleah foi ficando cada vez mais fraca, e com isso sua morte era quase eminente.

— Maxon... — a voz da jovem imperatriz do fogo soava baixa e visivelmente cansada, mas tão determinada quanto podia soar. — Prometa a mim que cuidará dela.

O imperador estava apavorado, e mesmo sem entender muita coisa, assentiu a sua mulher, a única coisa boa que a vida tinha lidado em todos os anos que se entendia por pessoa.

— Eu farei o meu melhor.

Ela sorri entre lágrimas. — Me perdoe por ter feito o que fiz, mas tu tens que entender que foi necessário. — um grito de dor. — Quando ela completar vinte e cinco anos, — mais um gemido doloroso — diga a ela para procurá-lo!

Um último grito de dor, até um berro estridente e alto ecoar por todo quarto escuro do imperador.

Aleah estava pálida, tinha perdido mais sangue do que possuía, e ela sabia bem o que vinha a seguir, por isso não hesitou em pedir sua filha no colo.

— Deixe-me pegá-la ao menos uma vez em vida. — A imperatriz murmura baixo e cansada. — Seu nome será Calía, e você terá um pai que te amará muito. — ela sussurra olhando diretamente para o marido. — E que nunca permitirá que você conheça o outro lado.

— Aleah... — O imperador dizia inconsolável.

— Não se esqueça do que eu lhe disse, — a parteira pega Calía das mãos da mãe já sem força alguma. — o nome dele é Caenum.

Com um último suspiro, a grande imperatriz do fogo dá sua última lufada de ar antes de sua cabeça perdurar para o lado esquerdo já sem vida.

— Prometo que ela nunca saberá da existência da outra criança.

Thales nunca havia sido um homem de muita paciência ou amorosidade ao próximo, somente sua esposa conhecia seu lado fraterno e amoroso. Mesmo que fosse quase imperceptível, Susana sabia que podia contar com o marido para cuidar da pequena Ophélia, sua criança abençoada.

— Faça com que ela nunca saiba da existência da outra criança. — A rainha murmura baixo. — Eu sei que me odeias agora, mas também sei que cuidarás muito bem desta menina! Quando chegar a hora, diga a ela o nome, Platearum.

O rei acena com a cabeça para que a menina fosse tirada do colo da mãe. Com passos lentos e comedidos, o rei do gelo sentou à beira da cama que sempre dividiu com sua amada esposa e lá repousa.

— Farei o meu melhor para não a odiar. — Ele por fim declara frio.

Susana sorri compassiva. — Grata.

Sem muita pressa ou comoção, o rei perfura lentamente o coração da mulher que um dia amou mais do que ninguém na vida.

— O fogo jamais tocará o gelo! — Ele termina beijando os lábios frios da mulher.

O destino começou a ser traçado ali, no leito de morte de duas mulheres amaldiçoadas por ele.

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