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Cap. 04 - Sinônimo de poder

Calía não pôde deixar de expressar divertimento ao espanto visível na face do general nortista. Assim que seu espanto inicial passou, Ezioh se ajoelhou quase que imediatamente na frente da imperatriz do fogo, fazendo-a sorrir mais ainda.

— Peço perdão, vossa majestade real imperial. — Ele declara com a cabeça agora baixa em sinal de respeito.

Ela deixa o ar sair pela boca lentamente antes de dizer algo.

— General Ezioh Belialuin. — Ela balbucia baixo. Ele a encara. — Conheço sobre sua família... Seu tataravô era sulista, se não me falha a memória.

Ezioh mantém a expressão séria na face.

— Ele nasceu no Sul, de fato! Mas, o sangue sempre foi do Norte! — Sua declaração arranca mais uma risada leve da imperatriz.

— Vocês sempre tão orgulhosos! — Ela deixa um suspirar alto preencher o local. — Diga-me, qual seu interesse em falar comigo?

Ele se surpreende levemente.

Calía Vatra Le Fer não era nem um pouco como ele imaginou, ou, esperou que fosse. Ela era visivelmente desinibida, volúvel e ele arriscaria até teimosa. A beleza dela era bastante aparente, de forma que chegava a ser desconcertante olhar demais para seu rosto perfeito sem nenhuma mancha sequer além de um pequeno sinal no canto inferior de seus lábios cheios e avermelhados.

Os cabelos pareciam cascatas onduladas da mais fina seda pálida, um tom bem suave de louro. A vestimenta jamais apreciada pela cultura do norte, com toques de tecido que faziam o corpo magro e acentuado dela se demarcar sobre o vestido negro deixando a imaginação de qualquer um bem criativo.

Ezioh percebendo que a encarava demais, balança a cabeça sutilmente voltando a si. Com uma leve expressão carrancuda, ele se põe de pé, percebendo que ela era bem baixa se comparado a ele.

— Queria apenas descobrir se a senhora estaria realmente cortejando uma aliança, como minha rainha anseia tão fielmente. — Ele finalmente a responde.

Calía agora possuía uma leve ruga no meio da testa, acontecia quando ela pensava demais. Com a mão no queixo, ela caminha lentamente ao redor do homem buscando algum defeito físico ali, mas inutilmente não encontrou.

— Sabes que não tenho que responder vosso questionamento ousado! — Ela diz seca. — Aliás, tal interesse me passa a impressão de desespero de sua rainha... — Ela para detrás de Ezioh, e encara as costas largas do homem por longos segundos antes de prosseguir. — Não possuo interesse em pessoas desesperadas, general! — Por fim conclui.

Ezioh sorri de lado. — Não se trata de desespero vossa graça, mas sim de uma aliança bastante conveniente para ambos os países.

A imperatriz também sorriu ao notar o jogo que ele queria fazer com as palavras que ela usava. Antes que ela o retrucasse ousadamente como pretendia fazê-lo, a voz de uma terceira pessoa a tomou por atenção: — Majestade estava preocupada!

A declaração arranca uma leve risada de Calía.

— Céus, Maud assim me fazem parecer irresponsável com minha própria segurança.

Com a fala nitidamente irônica, a general do sul não pôde deixar de sorrir cúmplice com sua senhora.

— Sei que podes defender-se perfeitamente bem, majestade, mas gosto de fazê-lo de bom grado a vós! — Maud diz encarando, Ezioh. — Vejo que conseguiu sua reunião, general!

Ele sorri sem humor. — Ao que parece.

Calía arruma a saia fina de seu vestido, antes de se pronunciar novamente.

— Bem, foi um prazer conhecê-lo, General Belialuin! — Ela diz encarando o homem profundamente antes de sumir das vistas de ambos os generais.

Maud volta seu olhar afiado a Ezioh, antes de seguir Calía na mesma direção.

— Ela foi gentil, mas você fez sua rainha parecer incapaz, e foi estúpido de sua parte. — Ela fala séria. Ele sorri falso. — É assim que ela joga, só queria te privar da estupidez em parecer vulnerável na frente da mulher mais importante do nosso continente.

Dito isso, Maud some pelo mesmo lugar que sua imperatriz passou minutos antes.

Caroenne, capital do império do fogo

Cassius estava visivelmente cansado!

Sua vista estava turva por várias noites sem conseguir dormir. Aliás, desde que Calía resolveu aceitar o convite da rainha do norte, que suas noites haviam sido mais curtas que o normal. Sempre que ele podia, usava ópios para se manter alerta, mas, daquela vez não estava fazendo tanto efeito.

— Rina, um chá, por favor. — Ele pede à serva que estava mais próximo.

A jovem de cabelos curtos e castanho foi rápida ao servir o homem.

— Alguma carta nova? — Ele pergunta a jovem sem muito interesse.

Fazia alguns dias desde a partida da imperatriz, e como era de praxe, sempre havia relatórios ao decorrer de cada viagem que ela fazia.

— Perdoe-me senhor, ainda não houve respaldo desde a última! — Ela responde tímida.

Ele suspira baixo.

— Tu parecesses péssimo, meu caro chanceler Brondeville!

Aquela voz…

Cassius esboçou surpresa na face. — Anastácia?! — ela sorri. — Não fazia ideia de sua chegada. — Ele indaga.

Anastácia Vatra Le Fer era tia da imperatriz. Sendo uma mulher madura e muito bem resolvida, a marquesa de Nedaville só visitava a sobrinha em casos raros e extremos, por isso a surpresa do homem.

— Tinha vindo acabar com a ideia da minha geniosa sobrinha em ir para o norte, — ela bufa — mas ao que parece, eu cheguei deveras atrasada!

Cassius balança a cabeça em negação.

— Ela partiu a alguns dias atrás, estava ansiosa para uma negociação amigável.

Anastácia riu com gosto. — Calía Vatra Le Fer? Minha sobrinha? A imperatriz do fogo? — mais gargalhadas. — Sua declaração me anima Cassius.

— Ela está tentando fazer as coisas de um jeito mais diplomático, marquesa, deverias ficar orgulhosa. — Ele diz sério.

Anastácia levanta a mão sutilmente pedindo algo para beber, enquanto sentava em frente à Cassius. — Eu tenho orgulho da minha menina justamente por ela não ser diplomática!

A mulher de aparência de uns quarenta anos, ingere sua bebida rapidamente já pedindo a próxima taça.

Sempre que Anastácia vinha visitar Calía, ela deixava claro que bebidas eram proibidas a tia, por justamente ser quem ela era... Uma alcoólatra descarada.

— Mas diga-me, porque impedir Calía de ir ao norte? — Cassius pergunta mudando de assunto.

Anastácia suspira antes de virar mais uma taça de vinho.

— Prometi ao palhaço do meu irmão, que ela jamais teria contato com o Norte caso ele viesse a morrer! — Anastácia suspira alto. — Maldito Maxon, me fazendo ter responsabilidades que eu não consigo cumprir. Inferno!

Cassius a olha curioso. — Porque o falecido imperador faria tal pedido?

— Maxon fez uma promessa a Aleah em seu leito de morte, e eu acabei de estragar tal promessa. — Ela bebe mais. — Portanto, devo seguir até o Norte pro estrago não ser maior do que o previsto.

— Do que está falando?

Cassius estranhamente não estava com um bom pressentimento sobre aquilo.

Anastácia ri baixo. — Do pai verdadeiro de Calía, verdadeiro motivo pelo qual o fogo nunca deveria tocar o gelo.

Hestia, capital do reino do norte

O reino do norte parecia estar pleno desgosto. Era visível a má vontade da maioria do povo e dos nobres, deva-se ressaltar, sobre a chegada de sulistas em seu território.

Ophélia estava uma mistura de euforia, medo e apreensão sobre a chegada da imperatriz do fogo em suas terras. Sabia que Calía era imprevisível e muito, muito poderosa!

— Gostaria de beber algo, majestade? — Uma serva pergunta se aproximando da rainha.

Ophélia estava se arrumando para recepcionar pessoalmente a imperatriz do fogo, e mesmo ela não admitindo em voz alta, estava tentando parecer o mais bem possível na frente da outra mulher. Com seus longos cabelos negros e lisos, ela coloca sua coroa de ouro e pedras de safira sobre a cabeça, que contratavam perfeitamente com seu vestido vermelho bordô. Ela sorri levemente com sua aparência frente a seu grande espelho.

— Uma taça de licor, por favor! — Ela pede agradecida.

O valete da rainha, Victor Morton abre a porta e anuncia a pessoa que Ophélia esperava encontrar antes dos outros.

Ela sorri quase que involuntariamente. — Lady Yamhool…

A jovem loira Cecily Yamhool sorri de volta.

— Vossa majestade! — ela se curva. — Pediram para que eu viesse às pressas, algum problema?

Ophélia caminha graciosa em direção a jovem. — Preciso que me ajude com algo, minha cara. — A rainha suspira baixo. — Gostaria que você se tornasse amiga da imperatriz enquanto ela estiver aqui… — Cecily assente sem entender muito. — Sei do noivado que seu pai lhe arranjou com o jovem herdeiro Montgomery de Milo, então queria que me ajudasse com isso. — Ela conclui.

Cecily sorri fraco. — Não é um casamento que eu almeje muito, mas seria uma honra lhe ajudar com qualquer coisa que for sua graça.

Ophélia toca a mão da jovem compassiva.

— Sei que vir de família nobre tem seus percalços minha querida, mas também sei que você irá se adaptar muito bem com as possibilidades.

De fato, Cecily era uma mulher muito bonita, tinha cabelos longos e louros, olhos azuis notáveis e uma excelente educação, Ophélia tinha certeza que ela se sairia bem no que lhe propusessem. Além de tudo, a loira não tinha papas na língua, e talvez aquilo fosse bom para se relacionar com Calía Vatra Le Fer.

— Vossa majestade?! — Victor, o valete a chama.

Ophélia o encara. — Sim?

— A caravana da imperatriz Calía acaba de passar pelos portões de Hestia.

Ophélia respira fundo, pois mesmo não querendo admitir, estava com medo daquele impasse político que iria acontecer em minutos.

— Não se preocupe, sua majestade se sairá muito bem. — Cecily a consola sorrindo de canto.

Ophélia agradece já se pondo de pé.

— Hoje eu finalmente serei a mulher que eu estou destinada a ser.

Aldova, fronteira do norte com o Sul

Torvi estava irritada!

Alguns dias quando encontrou quem parecia ser o primo regicida da nova rainha do norte, ela pensou que seria útil ao seu lorde e ele finalmente a notasse como guerreira, mas só o que tinha recebido até o momento fora a irritante tarefa de cuidar do homem até que ele se recuperasse por completo.

No dia que Torsten o interrogou, Dante Caphossìo não dizia absolutamente nada com nada, só falava com metáforas e ainda assim era pouco compreendido. O homem parecia estar entrando em um estado mental de loucura, que Torvi tinha certeza que lhe afetaria indiretamente.

— Há quantos dias você está fazendo isso? — Seu amigo e fiel companheiro de caça a questiona.

Ela suspira. — Dias demais… ele nem sequer come direito, só fala em morte e na vida infeliz que seria depois dela. Não aguento mais tal tarefa!

O homem ri. — Ao menos o lorde finalmente a notou!

Ela cora. — Não gosto do seu jeito de falar, só quis ser útil de alguma forma. — Ela se explica indignada. — Aliás, preciso que me ajude a acordar aquele indivíduo.

— Por quê?

— Já está na hora dele conhecer meu lado ruim, se não abrir a boca pra dizer algo coerente. — Ela responde impaciente.

O homem amigo de Torvi, era alto e forte, não precisou muito para carregar o homem Caphossìo até o centro onde a morena o amarrou ao tronco sem piedade.

— Vamos acorde! — Ela dá um tapa em sua face de forma nada delicada. — Se não quer ser torturado, sugiro que abra a porra dos olhos e me diga algo de útil.

Após alguns segundos de espera, Dante pareceu finalmente reagir ao toque indelicado da nórdica.

— O quê… — ele sussurra — Onde estou?

Torvi bufa. — Estará morto até ao anoitecer se não disser algo de útil.

O Caphossìo olha para Torvi entre curiosidade e desdém.

— Acha que fui largado aqui para permanecer vivo? — ele pergunta irônico. — Não se sinta presa por mim, me mate de uma vez, já morri de qualquer forma.

Torvi ri. — Pra quem não estava dizendo muita coisa coerente, você finalmente falou algo que eu teria muito gosto em fazer.

Dante ri de canto. — Faça!

Antes que Torvi pegasse seu machado de caça, outra pessoa a interrompeu.

— Antes que você se junte ao seu tio no seu inferno, — Torsten sorri irônico — tenho uma proposta a lhe fazer.

Hestia, capital do reino do norte

Os portões do palácio foram finalmente abertos!

Nobres, pessoas importantes, uma infinidade de servos e outros mais, estavam ao lado de Ophélia na entrada do castelo real, esperando a mulher mais poderosa do continente.

Assim que os portões revelaram uma o general Ezioh Belialuin, com uma enorme caravana atrás, Ophélia soube que dalí não tinha mais volta. Aos poucos a carruagem real imperial foi se revelando as várias pessoas ali, que para alguns demonstrava desgosto e outros, curiosidade.

Ezioh foi o primeiro a descer do seu cavalo e se curvar em respeito a sua rainha.

Ophélia sorriu contente por vê-lo novamente.

— Tens noção do que devo esperar? — A rainha questiona quando ele se aproxima ficando ao lado dela.

Ezioh sorri de canto. — Seja mais esperta!

Antes que Ophélia o retrucasse, a carruagem real imperial parou bem em frente à sua pessoa.

A primeira pessoa a descer estava conduzindo o veículo, e sendo este o cocheiro, ele logo abriu a porta da carruagem com o que pareceu ser de forma lenta e agonizante para Ophélia.

A primeira figura a descer de dentro do veículo foi uma ruiva estonteante de cara amarrada, vestindo roupas que não seriam adequadas a uma jovem nortista.

Ophélia engoliu a seco quando a ruiva começou a falar, mas, sem nunca demonstrar em sua face.

— Majestade! — Maud cumprimenta a rainha educada. — Gostaria de apresentá-la a Calía Vatra Le Fer, — a mulher mais esperada enfim desce do veículo — grã duquesa de Nedaville, condessa de Green, princesa de Ociape, marquesa de Milo, senhora do fogo e imperatriz real de todo sul! — ela por fim conclui.

Ophélia quis não demonstrar nada, mas falhou miseravelmente quando um sorriso presunçoso se despontou dos lábios de Calía.

Ali iria começar o inferno de uma nação!

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