Esther observou o teto de concreto do seu quarto, sobre o tapete. A luminária daquele ângulo, parecia um dos abajures esquisitos da feira de decoração e tendências que sua mãe costumava frequentar.
Ela havia se jogado ao chão quando sua cabeça deu "chilique", no momento em que ela pensava em mil e uma maneiras de conseguir duzentos mil reais.
Ela poderia fotografar cinquenta mil cães e gatos, e cobrar quatro reais por foto, mas, onde diabos ela encontraria tanto bicho? Ou talvez ela poderia cobrar todas as pessoas que lhe tomaram livros e CD's, emprestados e nunca os devolveram, mas se ela fizesse isso, certamente não poderia pedir mais nada emprestado a ninguém pelo resto de sua vida. Quem sabe talvez ela pudesse pedir duzentos mil reais ao seu tio-avô, Marciano Ferreira Duarte: ele era solteirão, vivia bem no norte do país, e adorava apostar em jogos de aza
O carro preto era um conversível, e de dentro dele saiu um homem bem-arrumado. Ele usava óculos escuros. E olhou para os lados antes de entrar na casa. Esther retirou a chave da fechadura do cofre e colocou rapidamente o pôster no lugar. Cobrindo o esconderijo. Ela abriu a porta do quarto e foi silenciosamente até o corredor que dava acesso à escada. Escondida, começou a observar quem era a visita. Assim que o homem retirou os óculos escuros para cumprimentar o Senhor Rebouças, ela se recordou daquele rosto familiar. Era o policial que parou Fogueira e ela, a fim de alertá-los sobre as obras da rua, no dia em que eles foram para a praia, e o mesmo que perambulava com uma cara fechada pelo parque de diversões. Mas o que ele fazia ali? — Bom dia, Rebouças. Eu trouxe os documentos da outra casa em Castanheiras. Só preciso que assine isto para mim depois. — Ele falou, entregando os papéis. O policial estava descaracterizado, como se estivesse em s
No dia seguinte... Fogueira O carro passou por cima da mangueira que estava esparramada no gramado da frente da casa dos Vilela, antes de estacionar. — Alguém chegou. — Fogueira disse para o pai. Ele estava em seu escritório, entretido com uma pilha de papéis. Enquanto Fogueira foi do escritório do seu pai até a sala, foi possível escutar o som da porta do carro bater com força. A visita se encaminhou até a casa. Fogueira olhou pelo olho mágico que havia na porta antes de abri-la. Era possível ver um semblante de um homem alto, de terno, do outro lado. A campainha tocou neste ínterim. — Pois não. — Fogueira disse ao a
Ele saltou a última lombada no final da rua, antes de fazer a curva e ir em direção ao Montville, um conjunto residencial próximo às montanhas de Daiana e Alto das Pedras. O lugar era agradável e às vezes fazia as pessoas esquecerem, só por um momento, que moravam na pequena e barulhenta Monteiro. — Acho que você irá adorá-las. — Fogueira disse, retirando o buquê de trás das suas costas, no momento em que Esther acabara de abrir a porta principal da sua casa. — Ai, meu Deus. São lindas. — Ela disse, enquanto cheirava o perfume que exalava das rosas. — Você não vai acreditar... São rosas negras. — Ele comentou, se adentrando a casa. — Jura? Que bom, eu... — Você e eu estamos em vantagem. O mesmo cheiro, a mesma cor. Deste modo evito sair em vantagem, usufruindo do seu presente. — Ele a interrompe. Ela hesitou um segundo antes de falar: — Muito gentil de sua parte. Que bom! Compartilhamos o mesmo tom. — Ela foi em direção a uma e
Há uma regra imutável e inadaptável que diz: "um fato leva a outro." E um fato válido leva às centenas mais, e um fato vil, cria, mas retira o que deveria ser mantido. A vida deve ser seguida como ela é. Sente-se ao lado de um cachorro e perceba que ele observa as coisas de um modo, e você de outro, pois é você e o cão que escolhem como enxergam e interagem com o mundo e as coisas ao seu redor. — O que é a vida, senão aquilo que interpretamos do mundo ao nosso redor!? — Esther pensou ao saltar da cama ao acordar. Ela acordou inspirada e recordando de uma velha história de motivação que sua avó costumava contar sobre um cãozinho: Recebi sem querer sabedoria canina verdadeiramente tocante e babada de um animalzinho de dois anos. Quando ele nascera, não enxe
Esther jogou a mochila em cima do sofá assim que chegou em casa, fechando as cortinas da janela da sala e sentando-se no chão, com as costas contra o sofá. Ela fechou seus olhos e puxou o oxigênio com a boca, aliviando uma tensão que se acumulava em seu diafragma. Ela respirou profundamente mais uma vez. — Se recuperando do cansativo dia. O Chuva se aproximou dela e encostou seu nariz gelado na perna dela, fazendo-a abrir os olhos. — Oi! Chuva. — Ela mexeu nas orelhinhas dele. — Me diz o que faço. Eu estou gostando de alguém. E você sabe de quem é, mas tenho medo de estragar tudo. O cãozinho balançou o rabo, como se estivesse prestando atenção no que ela falava. Passos vindo em direção a sala, podiam ser ouvidos.<
Esther saiu do colégio tranquilamente, enquanto ia em direção ao estacionamento. Sua bicicleta estava estacionada próximo ao carro do Estevão, e o garoto estava ali, encostado no automóvel e digitando algo freneticamente no celular. Sua expressão séria e centrada fez com que ele quase não enxergasse Esther. Seu reflexo biológico estava apurado e ele percebeu a aproximação dela. — Ei. Tudo bem? Cadê Elis? — Estevão perguntou no momento em que Esther se aproximou dele. — Tudo certo, Estevão. E você? Eu não a vi nos últimos horários. — Ela respondeu, olhando para os lados e se recordando do último momento que a viu no colégio. — Tudo certo. Eu briguei com ela por bobagens, mas você poderia entregar isto a ela? — Ele disse, entregando um envelope fec
SEM DISCUSSÕES Elis aproximou-se do café, e Esther já a esperava há um bom tempo. Elis tinha a mania de se produzir todinha quando saía de sua casa, para qualquer lugar. — Que bom que você veio, não é mesmo? Julgava me deixar com uma bomba. — Esther disse, terminando de tomar o suco de maçã verde que pediu, enquanto esperava Elis chegar. — Me conta a fofoca, que eu já estou toda agoniada. — Elis disse, puxando uma cadeira e sentando-se à mesa. — Primeiro você lê isso aqui. — Esther entregou o envelope a ela. — Quê isso? — Abre. — Não é droga não, né? TEMPO DE MUDANÇA Fogueira foi até o guichê de passagens e comprou duas vagas no ônibus que levaria Esther e ele até a capital. Ele pagou o atendente, assim que ele terminou de processar o pedido. — Obrigado. Assim que ele se virou, seus olhos se bateram em Esther, que estava logo à sua frente, no meio da multidão. Ele ficou parado por alguns segundos, observando-a. Ela usava um belo vestido azul-ciano e um elegante chapéu de Sol, que combinava com o look. Seus belos cabelos estavam soltos, e voavam livres. Assim que ela encontrou os olhos dele, o lançou um modesto sorriso, como de costume. Último capítuloPARTE 31