A atendente terminou de recadastrar os livros e lhe entregou um cartão. — Com este, era possível pegar mais livros emprestados.
— Obrigada. — Esther agradeceu, enquanto guardava o cartão no bolso e pegou a mochila, agora, com mais facilidade. Seu ombro quase não sentia que ela estava ali, pendurada a ela.
— De nada. A garotinha é sua irmã? — A atendente indagou, apontando discretamente para a menina.
— Ah! Não... Ela é uma amiga. — Esther respondeu, virando-se e encarando a menina.
Esther deu alguns passos à frente, mas para, quando se recordava de algo.
— A propósito, você sabe onde fica a sala de artes?
— Subindo a escada, na segunda porta à direita. — A atendente passou as coordenadas.
— Muito obrigada!
— Júlia, quer me acompanhar em um lugar legal? — Ela perguntou, ao se aproximar da menina.
Ela aceitou, carregando o livro que havia pegado na estante e trazendo-o consigo.
A escada de madeira qu
Pensar de acordo com uma informação pré-estabelecida pela nossa mente é fácil, mas "ver" através do que aparentemente está ali, requer energia. Neste caso, torno-me como você me vê em sua mente, ainda que isto não seja eu de fato. Sou como um espelho. O que você vê em mim, tem exclusivamente ligação direta ao que realmente é você. Então seria correto afirmar que somos iguais? Sim, definitivamente. Não de um modo físico. Creio que neste ponto, temos nossas singularidades. Mas observe as coisas e os seres como eles realmente são. Iguais uns aos outros, energeticamente. Desprovidos de falhas, e preenchidos de poder infinito. Os mesmos átomos que formam meu corpo, forma o corpo de outra pessoa. São os mesmos órgãos, as mesmas programações, a mesma biologia sanguínea, o mesmo cérebro, o mesmo ser. Iguais, mas, diferentes quando pensam. O fato proeminente está no pensar. O ser é igual, até pensar, e se pode fazer isso, consegue ser, ou não ser "coisas".
Fogueira Os dias passavam e não esperava ninguém. Pouco se importava com o procedimento de Esther ou do minucioso trabalho de Fogueira. Já se foram nove dias... Faltavam menos de onze dias para o campeonato e absolutamente vinte, para o concurso de telas, e Fogueira parecia ter conseguido mais tempo e esperança para si mesmo. Mas ele não era o único a ter uma rixa com o tempo. Sua amiga Esther, parecia precisar de um milagre naquele momento. A vida gosta de ação, e ainda que pareça que você não esteja pronto, só um sopapo em sua estrutura pode impulsioná-lo a alguma ação imediata. — Você e essa sua brincadeira de novo, Fogueira? — Seu pai indagou irritado, enquanto entrava no carro. Ele renegava a ideia de
Esther observou o teto de concreto do seu quarto, sobre o tapete. A luminária daquele ângulo, parecia um dos abajures esquisitos da feira de decoração e tendências que sua mãe costumava frequentar. Ela havia se jogado ao chão quando sua cabeça deu "chilique", no momento em que ela pensava em mil e uma maneiras de conseguir duzentos mil reais. Ela poderia fotografar cinquenta mil cães e gatos, e cobrar quatro reais por foto, mas, onde diabos ela encontraria tanto bicho? Ou talvez ela poderia cobrar todas as pessoas que lhe tomaram livros e CD's, emprestados e nunca os devolveram, mas se ela fizesse isso, certamente não poderia pedir mais nada emprestado a ninguém pelo resto de sua vida. Quem sabe talvez ela pudesse pedir duzentos mil reais ao seu tio-avô, Marciano Ferreira Duarte: ele era solteirão, vivia bem no norte do país, e adorava apostar em jogos de aza
O carro preto era um conversível, e de dentro dele saiu um homem bem-arrumado. Ele usava óculos escuros. E olhou para os lados antes de entrar na casa. Esther retirou a chave da fechadura do cofre e colocou rapidamente o pôster no lugar. Cobrindo o esconderijo. Ela abriu a porta do quarto e foi silenciosamente até o corredor que dava acesso à escada. Escondida, começou a observar quem era a visita. Assim que o homem retirou os óculos escuros para cumprimentar o Senhor Rebouças, ela se recordou daquele rosto familiar. Era o policial que parou Fogueira e ela, a fim de alertá-los sobre as obras da rua, no dia em que eles foram para a praia, e o mesmo que perambulava com uma cara fechada pelo parque de diversões. Mas o que ele fazia ali? — Bom dia, Rebouças. Eu trouxe os documentos da outra casa em Castanheiras. Só preciso que assine isto para mim depois. — Ele falou, entregando os papéis. O policial estava descaracterizado, como se estivesse em s
No dia seguinte... Fogueira O carro passou por cima da mangueira que estava esparramada no gramado da frente da casa dos Vilela, antes de estacionar. — Alguém chegou. — Fogueira disse para o pai. Ele estava em seu escritório, entretido com uma pilha de papéis. Enquanto Fogueira foi do escritório do seu pai até a sala, foi possível escutar o som da porta do carro bater com força. A visita se encaminhou até a casa. Fogueira olhou pelo olho mágico que havia na porta antes de abri-la. Era possível ver um semblante de um homem alto, de terno, do outro lado. A campainha tocou neste ínterim. — Pois não. — Fogueira disse ao a
Ele saltou a última lombada no final da rua, antes de fazer a curva e ir em direção ao Montville, um conjunto residencial próximo às montanhas de Daiana e Alto das Pedras. O lugar era agradável e às vezes fazia as pessoas esquecerem, só por um momento, que moravam na pequena e barulhenta Monteiro. — Acho que você irá adorá-las. — Fogueira disse, retirando o buquê de trás das suas costas, no momento em que Esther acabara de abrir a porta principal da sua casa. — Ai, meu Deus. São lindas. — Ela disse, enquanto cheirava o perfume que exalava das rosas. — Você não vai acreditar... São rosas negras. — Ele comentou, se adentrando a casa. — Jura? Que bom, eu... — Você e eu estamos em vantagem. O mesmo cheiro, a mesma cor. Deste modo evito sair em vantagem, usufruindo do seu presente. — Ele a interrompe. Ela hesitou um segundo antes de falar: — Muito gentil de sua parte. Que bom! Compartilhamos o mesmo tom. — Ela foi em direção a uma e
Há uma regra imutável e inadaptável que diz: "um fato leva a outro." E um fato válido leva às centenas mais, e um fato vil, cria, mas retira o que deveria ser mantido. A vida deve ser seguida como ela é. Sente-se ao lado de um cachorro e perceba que ele observa as coisas de um modo, e você de outro, pois é você e o cão que escolhem como enxergam e interagem com o mundo e as coisas ao seu redor. — O que é a vida, senão aquilo que interpretamos do mundo ao nosso redor!? — Esther pensou ao saltar da cama ao acordar. Ela acordou inspirada e recordando de uma velha história de motivação que sua avó costumava contar sobre um cãozinho: Recebi sem querer sabedoria canina verdadeiramente tocante e babada de um animalzinho de dois anos. Quando ele nascera, não enxe
Esther jogou a mochila em cima do sofá assim que chegou em casa, fechando as cortinas da janela da sala e sentando-se no chão, com as costas contra o sofá. Ela fechou seus olhos e puxou o oxigênio com a boca, aliviando uma tensão que se acumulava em seu diafragma. Ela respirou profundamente mais uma vez. — Se recuperando do cansativo dia. O Chuva se aproximou dela e encostou seu nariz gelado na perna dela, fazendo-a abrir os olhos. — Oi! Chuva. — Ela mexeu nas orelhinhas dele. — Me diz o que faço. Eu estou gostando de alguém. E você sabe de quem é, mas tenho medo de estragar tudo. O cãozinho balançou o rabo, como se estivesse prestando atenção no que ela falava. Passos vindo em direção a sala, podiam ser ouvidos.<