PRÓLOGO
Andrômeda, Comando Superior do planeta Evíluto.Passados trinta anos do término de sua terceira guerra, o planeta que ainda se recuperava era visto a quatrocentos quilômetros abaixo da sua respectiva estação do Comando Superior.— Este foi o último? — Jonas Forth perguntou.— Certamente, todos os demais já passaram pelo processo e alcançaram o ponto desejado. — Drak Nazar respondeu presunçoso.O encontro era privado apenas aos dois líderes das galáxias destinadas a se unirem. Os dois caminhavam na direção de um lago próximo.— E na sua? — O cabelo escuro de Drak alongava-se nas costas acima do sobretudo preto, a veste longa tremulava nos calcanhares ao ritmo lento dos seus passos. — No último levantamento existiam atrasos consideráveis.Jonas estava pensativo, mas sabia que era inegável, Andrômeda já estava décadas à frente no progresso necessário para a unificação.— Nosso conselho conseguiu induzir grandes avanços, em conjunto com a Ordem que inicialmente se recusou a receber nossas instruções. — Jonas usava vestes compridas acinzentadas e possuía barba branca.— Sempre que os contatos se intensificam e nossa presença é percebida, eles chegam à conclusão que não há outra alternativa. Em Elishebba foi necessário que movêssemos uma grande parte dos nossos para lá. Um juramento foi feito pelo conselho superior do planeta, acredito que tudo ficará bem. — Drak se referia ao maior planeta de sua galáxia. — Nós sempre buscamos entender o lado deles, é um planeta enorme que já havia se destruído em uma escala preocupante após muitas guerras.— Essa questão já foi superada, não temos grandes guerras há cento e vinte cinco anos. — Jonas anunciava orgulhoso.— Vocês continuam com problemas tão graves quanto este. O sistema adotado não é eficiente. Você sabe. Aquele planeta... ele continua sendo um fardo para vocês? — A heterocromia fazia com que Drak Nazar tivesse um olho na cor preta e outro que era um intenso vermelho.— Era exatamente a ele, que eu me referia, a Terra não passa mais por grandes conflitos, além disso… – Jonas foi interrompido.— O sistema, como eu disse, ainda é um problema. Como quer que nos unifiquemos se noventa por cento da população não tem consciência de nós, nem mesmo dos reais problemas que seus governos estão criando como medida para nos evitar.— Nós estamos buscando nos tornar mais visíveis até que eles estejam preparados para o contato, só preciso de mais... — Jonas Forth sentia-se desconfortável dialogando com Drak, mas sabia que a comunicação entre eles era imprescindível.— Tempo? — Drak Nazar interrompeu. — Já lhe foi dado o tempo. A lei cósmica da gravidade está inevitavelmente nos atraindo, seu conselho não consegue instruir os habitantes para o caminho certo. Que outra coisa tem tomado o seu tempo?Todos os pontos eram favoráveis ao trabalho feito pelo comando de Andrômeda, a população e seus governos estavam intensamente conectados. Ao contrário da Terra, não havia o que se esconder, não havia fome, não havia reclamação por parte dos governados, pois o diálogo entre eles e os governantes era feito de forma dinâmica, quase instantânea.— Siga nosso exemplo, exerça poder sobre os líderes, o poder parte deles, eles são os que precisam ser afetados. — Drak sentia-se superior ao usar seu conselho como exemplo.A solução era também o problema a ser superado: o Comando Superior terráqueo ainda não havia unificado sequer a forma de governo de todos os países.— Não podemos correr o risco de nos expor, eles podem entender como uma ameaça. Precisamos agir cautelosamente sem exercer influência direta nos grandes líderes, eles precisam chegar às próprias conclusões. — Jonas falava em tom de súplica.A cidade do Comando Superior de Evíluto passava por uma geleira que se estendia de uma borda a outra do continente.Composto por uma base branca nebulosa, o terreno e o gramado da estação ficavam acima dessa nuvem onde ocupava seu lugar natural. Tudo ali era formado por essa matéria sutil.A abundância em água era uma semelhança de grande parte dos planetas que eram ocasionalmente visitados pelos líderes do conselho, com exceção ao planeta Sirius da Via Láctea. Composto por um sistema de duas estrelas, Sirius orbitava a maior delas. Juntas, eram as mais brilhantes da região. Passava por dificuldades em relação ao racionamento de água, mesmo assim, seus habitantes haviam desenvolvido tecnologia suficiente e estavam na zona habitável. Fronteiras criadas pelo Comando Superior sustentavam a vida em uma pequena parte do planeta.— Faça como quiser, mas o faça assim que retornar. Precisamos adaptar as línguas para a futura comunicação entre nossos povos. Por maiores que sejam nossos avanços, ainda somos semelhantes. — Drak instruía.Jonas parou de caminhar ao chegar na beira de um lago de águas escuras, Drak acompanhou sua pausa. As estrelas cintilavam no firmamento. Naquela altitude, sem interferência atmosférica, pareciam estar ao alcance das mãos e eram refletidas no espelho d’água.— Não quero ser apressado, a vida na Terra tem tudo para dar certo, eles só escolheram o meio não tão ideal de se governar.— Não tão ideal? — repetiu Drak ironicamente. — Seu povo troca o avanço tecnológico pela permanência no poder, esse é o pior ponto que uma nação poderia chegar. Para isso eles possuem articulação, mas não a utilizam de maneira inteligente como espécie evoluída.Os seres na estação do Comando Superior de Evíluto viam a fronteira entre luz e noite oito vezes no que seria um dia no planeta. O movimento em torno de si ocorria no decorrer de trinta e seis horas terrestres.À medida que a escuridão caía, a estação entrava em eclipse e a conversa chegava ao fim. Ficavam visíveis as três luas no horizonte que se aproximava. A que mais se destacava era uma grande bola vermelha, efeito criado pela densa atmosfera do planeta.Jonas e Drak trocaram algumas palavras, Drak movimentou afirmativamente a cabeça, Jonas imitou seu movimento. Após a despedida, Jonas saltou para o alto tornando-se um rastro branco nebuloso. Drak Nazar percorria um caminho envolto por um vale de árvores roxas, afastando-se do lago. Uma nébula rasteira encobria as raízes das árvores e tornava úmido o gramado.Drak mentalizou o nome de seu velho aliado, conjurando-o. Em meio às árvores, materializou-se Rolderklás. Um som breve e seco foi emitido. A nébula ao redor da figura recém-chegada esvoaçou-se, deixou de ser a fina camada inerte que só cobria as ervas rasteiras, alcançando os galhos mais altos das árvores próximas. A movimentação abrupta envolveu Rolderklás no nevoeiro enquanto ele se dirigia para o encontro de Drak Nazar.Rolderklás usava vestes vitorianas, blusa azul marinho e um chapéu clássico branco.Um caminho calçado com pedras lisas abria passagem para a subida do monte em que ficava o palácio. A construção era circular e possuía por todos os lados formas pontiagudas. Visto pelo alto, estava localizado na região norte da nave. Parecia um enorme ouriço-do-mar no topo da elevação que dava destaque à construção de aspecto gélido, causado pela coloração branca. Era cercado pelo vasto gramado verde que cobria o monte.Drak Nazar e Rolderklás estavam em meio à subida no caminho que levava ao palácio quando um estrondo perturbou o ambiente. — Um meteoro cruzava velozmente o local em que eles estavam. Por ser constituído de uma matéria bruta, o meteoro atravessou quase sem interagir com a sutil matéria formadora da estação e dos seres que ali viviam. O fenômeno, comum para os habitantes do local, passou despercebido pelos dois, que continuaram caminhando.Ambos chegavam ao topo da subida que dava acesso ao palácio. Após passarem pelo átrio, a câmara central continha uma mesa circular de centro vazio, com quatorze lugares uniformemente espaçados. No alto do aposento, acima da câmara de reuniões, havia uma abertura que permitia ver as estrelas.Drak Nazar entrou seguido de Rolderklás, as portas fecharam-se automaticamente da mesma forma que foram abertas, formando uma grande pirâmide dourada com símbolos que representavam cada fase das luas, e o raro momento em que elas se sobrepunham como um único círculo no céu.Sentaram-se lado a lado.Drak Nazar conjurou duas taças sobre a mesa, enquanto conspirava com seu aliado, em seguida bebeu o conteúdo de uma delas. Ele tinha o costume de tomar decisões sem consultar seu conselho.— Para dominar um povo é preciso entender seus deuses e seus homens. — Rolderklás apontou com a sua taça indicando Drak, em seguida levou-a em direção a si mesmo.Após a conversa, ambos se levantaram da mesa e se dirigiram ao átrio. Havia na parede uma longa clava negra com espinhos de diamante.A escuridão já havia tomado o céu por completo. As três luas cintilavam em meio às estrelas.Via Láctea, Comando Superior do planeta Terra. Ano 2070.Era noite no ocidente, a estação do Comando Superior terráqueo navegava sobre as planícies africanas.O alto escalão do conselho se dirigia ao salão principal. Os membros eram responsáveis pelo governo da estação sideral, assim como de todo o planeta.Enquanto o conselho se reunia, Jonas Forth estava sentado em uma cadeira de madeira na sala dos mensageiros, uma pena sob seu controle flutuava escrevendo em um pergaminho sobre a mesa.Atrás dele, um cetro de madeira com cristais azuis estava pendurado na parede. O cetro Dimfloat era um objeto ancestral. Havia lendas sobre seus poderes, que só poderiam ser conjurados por seres vivos nascidos na Via Láctea, e como ele poderia neutralizar até a mais poderosa alma.Jonas levantou-se. A pena caiu sobre a mesa ao lado do pergaminho. Ele ergueu sua mão direita guiando o pergaminho, que flutuou até a lareira. A chama tornou-se um azul intenso e ao final da combustão retornou à sua cor amarelada.Os seletos terráqueos destinatários da mensagem acordaram durante a madrugada ao terem suas mentes invadidas pela voz de Jonas. Os que estavam acordados, pararam suas atividades ordinárias e concentraram-se em receber o informe. Jonas Forth deixou a lareira e se retirou da sala dos mensageiros.Uma curva à direita e era visível através das janelas de vidro a paisagem típica, que se repetia ciclicamente durante o dia. A preferida de Jonas era a das grandes cidades durante a noite, pois além de representar visualmente toda a energia contida naqueles lugares, demonstrava que o conselho estava fazendo um bom trabalho ao conceder as condições básicas para a sobrevivência, com até certo luxo, de grande parte dos que ali habitavam.A porta dupla do salão principal foi aberta, fazendo o som ecoar junto aos passos que iam preenchendo o salão.Dirigiram-se cada um para os lugares que ocupavam de praxe. Todos eram iguais como membros do conselho, mas distintos pelas suas experiências. Ali interagiam para tomar as decisões que refletiriam sobre os seres vivos no planeta Terra.Iniciava-se mais uma reunião sob o comando do líder Jonas Forth. Todos os lugares estavam preenchidos ao redor da longa mesa de monolito negro.— Senhores, como ficou definido pela última conferência, daremos prosseguimento à discussão sobre a unificação com Andrômeda. — disse Jonas Forth.— Líder, estivemos conversando. Antecipar a unificação seria o ideal, mas sabemos que ainda não alcançamos as condições necessárias. – Júlio era o responsável por receber as principais informações quando o conselho da Ordem que se instaurou na Terra possuía algo a falar.— Líder, receio que o problema não seja tão simples quanto imaginávamos. Nossas mensagens estão sendo recebidas com êxito, eles compreendem os sinais, a questão é que se recusam a aceitar qualquer influência externa. — disse Derick, que era responsável por enviar as ordens do comando.Quando Júlio recebia as respostas, era comum que ambos tentassem novos contatos antes de levar qualquer desentendimento que ocorresse para o conselho. Juntos, tentavam dialogar sem impor incisivamente o que fosse acordado pelo Comando Superior à Ordem, mas ultimamente as recusas às instruções dadas pelo comando eram cada vez mais frequentes.— Bem, então vejo que o método de Drak Nazar será o que iremos seguir.— Líder, se me permite. Acredito que seja possível prosseguir sem agirmos diretamente, isso vai contra os princípios que temos procurado seguir nas últimas décadas.— Derick, acontece que já permitimos as articulações necessárias, os que restaram isolados da grande Ordem estão sendo prejudicados pela falta de capacidade das potências em cederem recursos àqueles territórios que não lhes oferecem benefícios. Além disso, existem também aqueles que estão rigidamente vinculados ao desejo de poder: não cedem aos próprios aliados, nem aceitam nossos planos. — disse Jonas Forth.— E acha que uma invasão seria a forma mais apropriada de indicar o caminho correto? — Hâmsala fazia parte do conselho. Hâmsala costumava desempenhar a função de emissário. Ia, quando autorizado, a outros planetas, transitando pelas zonas inabitadas e pouco monitoradas entre eles.(Continua)— Sinceramente, não vejo outra alternativa, Hâmsala. A não ser que tenha algum plano que queira compartilhar conosco. — Parece que você foi contaminado com as más ações de Drak Nazar durante sua longa visita. Aliás, poderia nos explicar por que levou tanto tempo? — Hâmsala provocava. — O que vi em Andrômeda foi realmente encorajador, e não permito que se dirija desta forma ao Líder que tem realizado ótimos trabalhos. — Estão vendo? Ele fala como se fosse um deles, desde que voltou parece ter desistido de todo o projeto que temos elaborado há anos. — Hâmsala olhava para cada membro do conselho buscando angariar apoiadores. — Desistido? Acha que chamei todo o conselho para declarar o fim do projeto? — Jonas estava inconformado. — E o que a brilhante mente acha que vai provocar descendo lá e se tornando evidente para todos que ainda não estão preparados? — Hâmsala criticava rispidamente. — Sugiro que mude a forma de se referir a mim, Hâmsala. Precisamos focar... — Ora vejam só, ago
07/2070 – Momentos após o acidente.Assustada, a gestante não se lembrava de nada ocorrido durante seu parto, nem sequer dos momentos de dor que antecederam a chegada dos gêmeos bivitelinos, no exato momento em que a queda de um objeto causou todo o caos naquela manhã, que tinha tudo para ser um dia típico na rotina de Abner, o médico responsável pelo parto.— Como está Brenda? — Algo acabou confundindo a memória de Abner, ele não se lembrava de como fez os procedimentos após o segundo gêmeo nascer, lembrava claramente de ter removido o primeiro e cerca de dez minutos depois o segundo bebê começava a apontar.— Ela está em uma sala neste andar, está em perfeito estado, você fez um ótimo trabalho. – Verônica era a coordenadora do corpo de médicos.— Eu fiz? Mas eu só removi um bebê, o outro está dentro dela! Ela não pode estar bem. — Abner falava preocupado.— Você está confuso, por isso te trouxemos para cá e aplicamos o sedativo, quando retomar os sentidos se lembrará de tudo que fez.
07/2070 – Momentos após o acidente. Como nações aliadas, era comum o contato entre elas em casos de eventos que exigiam total sigilo. Os demais países pertencentes à Ordem também desejavam saber os detalhes das possíveis causas daquele incidente que suspeitosamente não teria sido provocado por um erro no acoplamento em uma das estações de construção da cúpula. “Para o progresso é necessário praticar o desapego, acima de tudo, do poder. Solicito que o pratiquem. Para o vosso bem. Aproveitemos o momento para saudar a memória, relembrando as orientações contidas em uma das primeiras mensagens enviadas pela líder anterior, Olória Law. Absorvendo os conhecimentos nela contidos, cada um de vocês perceberá possuírem a lealdade necessária perante o cetro Dimfloat, pois sei que a bravura é mútua às duas “dimensões”. Portanto, declaro que a advertência está feita, e que o próximo passo será uma intervenção direta no sistema que se instaurou. Do seu líder, Jonas Forth” — A mensa
— Eu acho que descobri uma coisa, meu professor de física... Te explico, quando você chegar, vou pegar o ônibus, tchau. Ele sabia que se não desligasse iam surgir as mesmas perguntas que passou pela sua cabeça até entender o que tinha acabado de acontecer. Difícil seria explicar para seu pai. — Entendeu? Ele vai “empurrar” a corrente, e quando não aguentar mais, volta tudo pro indutor. — Diego tentava explicar de maneira simples e didática aquilo que envolvia princípios físicos difíceis de se explicar para alguém que não teve o mesmo nível de escolaridade. — Então tem como tirar energia dessa coisa, e dá pra usar isso para o que a gente quiser? Até pra carregar o celular? — É bem isso, mas o funcionário da escola disse pra eu não falar pra ninguém. — Também acho, muito menos pra sua mãe. — Ué, mas se eu falei pra você, não pensei que teria problema falar pra ela o que aconteceu e explicar como o circuito funciona. — Não sei... Talvez... Ela pode não gostar. — Roger
07/2070 – Dias após o acidente. O dia amanhecia, mas os raios de sol que passavam pela cortina ainda não eram fortes o bastante para fazer com que Diego despertasse. Assim que o relógio marcou cinco e meia, o despertador o acordou. Saindo de casa sem tomar café da manhã, seguiu pela rua do valão, que àquela hora ainda estava parcialmente escuro e coberto por uma leve neblina, ele percorria o trajeto ainda sonolento sem se dar conta das coisas que passavam à sua volta. Uma curva à esquerda, a grande reta levava ao ponto terminal. Cerca de cinco pessoas estavam em frente ao ônibus que seria o próximo a partir. Assim que Diego entrou na fila o motorista chegou convidando para que todos entrassem. A primeira cadeira sozinha logo atrás do motorista era a favorita de Diego, que certamente dormiria durante todo o percurso. Após cerca de sessenta paradas, ele acordou no ponto exato em que deveria se levantar e preparar-se para descer. Seus rituais diários, com o tempo, tornaram sua ro
10/2070 – Três meses após o acidente.Saindo de casa. Era hora de passar pela rua que cercava o escuro valão. Uma curva à esquerda, uma longa reta. Ele chegava ao ponto e entrava no ônibus que o levaria para seu destino. Dormir era inevitável, ele já nem se preocupava em acordar cedo o bastante a tempo de se preparar para desembarcar. Curvas e mais curvas, um engarrafamento ou outro entre elas.A rotina por horas entediante tinha tudo para ser a mesma.Lá vinha ele, o ponto de Diego chegava e nem sinal de movimento para se levantar. Tarde demais. O ônibus prosseguia e o ponto lotado ficava para trás.Estávamos indo rumo ao centro da cidade. Rumo a mais caos, mais aglomerado de gente, mais pessoas seguindo para seus destinos cumprir suas tarefas. Quanto mais nos aproximávamos do centro, maior era o número de pessoas cumprindo suas ordinárias tarefas diárias.— Droga.Após acordar e perceber que provavelmente não chegaria cedo o bastante para assistir os dois primeiros tempos de aula, vi
12/2070 – Cinco meses após o acidente.Após algumas semanas, chegava o tão esperado dia da entrevista. Brenda havia passado todo o mês escolhendo minuciosamente uma babá para cuidar dos gêmeos. Agora que sua licença chegava ao fim, ela retornaria ao trabalho.Marcos se olhava no espelho do quarto, indeciso entre qual de seus dois ternos usar. Brenda aguardava já pronta na sala.— Ele é sempre assim, quando vamos sair demora horas para se arrumar. — Ela falava com a babá. — Espero que Arthur e Lino não peguem essa mania.— Eu estou ouvindo! — Marcos gritou do quarto.A recém-contratada dava leve sorrisos de volta sempre que Brenda falava, parecia tentar esconder a insegurança de ficar sozinha logo no primeiro dia com as crianças. Embora já tivesse trabalhado com bebês antes, o fato de serem duas crianças para cuidar aumentava o nível de dificuldade desse trabalho. Ela em suas idas ao quarto tentava decorar a cor das roupas dos gêmeos e em qual berço cada um ficava. Havia uma, entre as
— Desculpem, não estou bem, preciso... eu... com licença... — Abner se levantou e foi rapidamente em direção à saída do estúdio. Houve uma longa pausa enquanto todos observavam a cena. Rodrigo buscava um meio de dar prosseguimento à entrevista.— Então, como é a sensação de serem pais em dose dupla? Como estão sendo as madrugadas e a rotina do casal?Marcos e Brenda pareciam desconfortáveis com a repentina saída de Abner, perceberam a tentativa desesperada por parte de Rodrigo em retomar o clima da entrevista.— Ah, já quase não dormimos durante a noite, Arthur chora bastante, sabe. Isso para não falar no cheiro das fraldas. — Marcos falava com todo o seu bom humor. Brenda deu um incisivo olhar de repreensão.— Está sendo maravilhoso ver as crianças crescerem, Lino já tem bastante cabelo. Em alguns dias já vou voltar ao trabalho. É uma experiência realmente incrível. — Brenda olha para a câmera e faz um aceno. — Ruth! À essa altura você já deve ser nossa babá preferida!Era visível a t