(Continua)
— Eu acho que descobri uma coisa, meu professor de física... Te explico, quando você chegar, vou pegar o ônibus, tchau. Ele sabia que se não desligasse iam surgir as mesmas perguntas que passou pela sua cabeça até entender o que tinha acabado de acontecer. Difícil seria explicar para seu pai. — Entendeu? Ele vai “empurrar” a corrente, e quando não aguentar mais, volta tudo pro indutor. — Diego tentava explicar de maneira simples e didática aquilo que envolvia princípios físicos difíceis de se explicar para alguém que não teve o mesmo nível de escolaridade. — Então tem como tirar energia dessa coisa, e dá pra usar isso para o que a gente quiser? Até pra carregar o celular? — É bem isso, mas o funcionário da escola disse pra eu não falar pra ninguém. — Também acho, muito menos pra sua mãe. — Ué, mas se eu falei pra você, não pensei que teria problema falar pra ela o que aconteceu e explicar como o circuito funciona. — Não sei... Talvez... Ela pode não gostar. — Roger
07/2070 – Dias após o acidente. O dia amanhecia, mas os raios de sol que passavam pela cortina ainda não eram fortes o bastante para fazer com que Diego despertasse. Assim que o relógio marcou cinco e meia, o despertador o acordou. Saindo de casa sem tomar café da manhã, seguiu pela rua do valão, que àquela hora ainda estava parcialmente escuro e coberto por uma leve neblina, ele percorria o trajeto ainda sonolento sem se dar conta das coisas que passavam à sua volta. Uma curva à esquerda, a grande reta levava ao ponto terminal. Cerca de cinco pessoas estavam em frente ao ônibus que seria o próximo a partir. Assim que Diego entrou na fila o motorista chegou convidando para que todos entrassem. A primeira cadeira sozinha logo atrás do motorista era a favorita de Diego, que certamente dormiria durante todo o percurso. Após cerca de sessenta paradas, ele acordou no ponto exato em que deveria se levantar e preparar-se para descer. Seus rituais diários, com o tempo, tornaram sua ro
10/2070 – Três meses após o acidente.Saindo de casa. Era hora de passar pela rua que cercava o escuro valão. Uma curva à esquerda, uma longa reta. Ele chegava ao ponto e entrava no ônibus que o levaria para seu destino. Dormir era inevitável, ele já nem se preocupava em acordar cedo o bastante a tempo de se preparar para desembarcar. Curvas e mais curvas, um engarrafamento ou outro entre elas.A rotina por horas entediante tinha tudo para ser a mesma.Lá vinha ele, o ponto de Diego chegava e nem sinal de movimento para se levantar. Tarde demais. O ônibus prosseguia e o ponto lotado ficava para trás.Estávamos indo rumo ao centro da cidade. Rumo a mais caos, mais aglomerado de gente, mais pessoas seguindo para seus destinos cumprir suas tarefas. Quanto mais nos aproximávamos do centro, maior era o número de pessoas cumprindo suas ordinárias tarefas diárias.— Droga.Após acordar e perceber que provavelmente não chegaria cedo o bastante para assistir os dois primeiros tempos de aula, vi
12/2070 – Cinco meses após o acidente.Após algumas semanas, chegava o tão esperado dia da entrevista. Brenda havia passado todo o mês escolhendo minuciosamente uma babá para cuidar dos gêmeos. Agora que sua licença chegava ao fim, ela retornaria ao trabalho.Marcos se olhava no espelho do quarto, indeciso entre qual de seus dois ternos usar. Brenda aguardava já pronta na sala.— Ele é sempre assim, quando vamos sair demora horas para se arrumar. — Ela falava com a babá. — Espero que Arthur e Lino não peguem essa mania.— Eu estou ouvindo! — Marcos gritou do quarto.A recém-contratada dava leve sorrisos de volta sempre que Brenda falava, parecia tentar esconder a insegurança de ficar sozinha logo no primeiro dia com as crianças. Embora já tivesse trabalhado com bebês antes, o fato de serem duas crianças para cuidar aumentava o nível de dificuldade desse trabalho. Ela em suas idas ao quarto tentava decorar a cor das roupas dos gêmeos e em qual berço cada um ficava. Havia uma, entre as
— Desculpem, não estou bem, preciso... eu... com licença... — Abner se levantou e foi rapidamente em direção à saída do estúdio. Houve uma longa pausa enquanto todos observavam a cena. Rodrigo buscava um meio de dar prosseguimento à entrevista.— Então, como é a sensação de serem pais em dose dupla? Como estão sendo as madrugadas e a rotina do casal?Marcos e Brenda pareciam desconfortáveis com a repentina saída de Abner, perceberam a tentativa desesperada por parte de Rodrigo em retomar o clima da entrevista.— Ah, já quase não dormimos durante a noite, Arthur chora bastante, sabe. Isso para não falar no cheiro das fraldas. — Marcos falava com todo o seu bom humor. Brenda deu um incisivo olhar de repreensão.— Está sendo maravilhoso ver as crianças crescerem, Lino já tem bastante cabelo. Em alguns dias já vou voltar ao trabalho. É uma experiência realmente incrível. — Brenda olha para a câmera e faz um aceno. — Ruth! À essa altura você já deve ser nossa babá preferida!Era visível a t
12/2070 – Cinco meses após o acidente. O meio de dezembro se aproximava e com ele vinha a formatura. O evento que estava acontecendo na quadra de sua escola contava com a presença de familiares dos formandos. Logo que entrávamos na quadra, era possível ver a longa mesa com grande parte dos professores que deram aula no último ano de Diego, também havia alguns professores dos anos anteriores. De frente para a mesa de professores estava a turma de formandos, Diego se sentava na ponta da segunda fileira. Em sua frente, haviam dois lugares vagos, seus pais estavam em cadeiras mais atrás. A cerimônia ainda não havia começado.Enquanto outros alunos chegavam, Diego conversava com três amigos próximos. Havia no ar o clima de despedida, além de ser a última vez que estaria com grande parte de seus amigos e professores. Um fato que sabia ser algo inevitável vinha o perturbando: Essa poderia ser a última vez que veria Rebeca.Ele se lembrava da cena, três anos atrás, quando a viu entrando pela
★Na manhã daquela terça-feira, os raios de sol batiam forte na janela do quarto, parte dos raios atravessava a cortina e incidiam bem no rosto de Diego. O frio árduo da madrugada foi gradualmente substituído pelo calor que àquela altura o acordava. A grossa camada de cobertas empurradas para o canto da cama era uma prova da mudança brusca de temperatura. Abriu os olhos e se deu conta do mormaço que preenchia seu quarto. A claridade forte era um sinal de que talvez ele tivesse dormido além da conta, ou um indicativo de que o verão estava chegando ao seu ápice.Ele descia as escadas tomando consciência de que calor estava maior que no último domingo, maior que a segunda-feira, e ele pressentia que o dia seguinte seria ainda mais quente.— Pelo calor, levantei achando que já era meio-dia. — Diego falava para sua mãe na sala.— Nem fala, está quente mesmo. Mas seu pai saiu faz pouco tempo, está cedo.Diego sentou-se no sofá ao lado de sua mãe e começou a calçar seu tênis. Rosa bebia um su
01/2071 – Seis meses após o acidente.Hamilton levantou-se do sofá. Deu alguns passos tortos em direção a adega, pegou o frasco que já estava quase vazio e tornou a encher seu copo. Estendeu a mão direita para devolver a garrafa à sua posição enquanto segurava o copo com a mão esquerda. Ele colocou a garrafa na horizontal e o absinto restante derramou-se sobre sua camisa — ele havia deixado a garrafa aberta. Enquanto colocava o copo e a garrafa sobre a prateleira, uma voz familiar invadiu sua mente.“Hamilton?”“Sim?” respondeu ele.“Preciso que vá à reunião de amanhã.”“Mas Bernardo não iria?”“Precisamos conversar sobre ele.”Silêncio.“Você e ele têm algo em comum”, Teresa confessou, “algo que me preocupa.”“O que seria?” Hamilton quis saber.“Vocês dois estão em posições estratégicas, possuem muita informação. Mas no seu caso eu imagino que não seja um problema, pelo menos... eu espero.” Ela falava com a intenção de demonstrar sua confiança.“E como posso ser útil nessa reunião?”“