01/2071 – Seis meses após o acidente.Hamilton levantou-se do sofá. Deu alguns passos tortos em direção a adega, pegou o frasco que já estava quase vazio e tornou a encher seu copo. Estendeu a mão direita para devolver a garrafa à sua posição enquanto segurava o copo com a mão esquerda. Ele colocou a garrafa na horizontal e o absinto restante derramou-se sobre sua camisa — ele havia deixado a garrafa aberta. Enquanto colocava o copo e a garrafa sobre a prateleira, uma voz familiar invadiu sua mente.“Hamilton?”“Sim?” respondeu ele.“Preciso que vá à reunião de amanhã.”“Mas Bernardo não iria?”“Precisamos conversar sobre ele.”Silêncio.“Você e ele têm algo em comum”, Teresa confessou, “algo que me preocupa.”“O que seria?” Hamilton quis saber.“Vocês dois estão em posições estratégicas, possuem muita informação. Mas no seu caso eu imagino que não seja um problema, pelo menos... eu espero.” Ela falava com a intenção de demonstrar sua confiança.“E como posso ser útil nessa reunião?”“
01/2071 – Seis meses após o acidente. Roger encerrava o dia de trabalho na oficina quando Glauber, seu patrão, o chamou na sala da administração. — Precisamos acertar os custos do reparo do carro que Diego estragou. O dono veio buscar, ele ficou furioso. — Glauber explicou. — Agora, além de não pagar pelo serviço, ele quer que eu devolva o carro como ele entregou. — Está certo, eu vou pagar. — Roger falou. — Quanto fica? — Hm, a parte elétrica já era, só trocando tudo. — Glauber calculava mentalmente. — Três mil. Roger achou caro, mas não esboçou nenhuma insatisfação. Após chegar em casa, Roger foi ao quarto de Diego. — Filho? — Entra aí. — Diego estava mexendo em seu computador novo que ele mesmo havia comprado. — Sobre o acidente na oficina, Glauber está me cobrando. Como você está com dinheiro, eu achei que poderia pagar. — Roger falou sem jeito. — Tudo bem, quanto ele cobrou? — Seis mil. Diego não achava justo ter que deixar seu pai, que recebia
— Co-como assim? — ela falava surpresa. — Tinha sangue? Eu não...Marcos voltou e cruzou os braços encarando Ruth.— Você não mexeu naquela vassoura? — Brenda perguntou.— Eu... talvez te-tenha mexido, mas... não tinha sangue.Brenda lembrava em sua mente de Ruth pedindo aumento no dia anterior, depois de ter negado o pedido. Ela conseguia visualizar Ruth trancando a porta do quarto durante a noite, e espancando a cabeça de Toby com a vassoura.— Você não se deu ao trabalho de sequer lavar a vassoura para esconder o sangue, não é mesmo? — Brenda vociferou.— Querida... — Marcos interveio.— Ah, eu já sei. — Brenda continuou. — Você queria ter certeza de que eu veria, não é mesmo? Queria que eu soubesse que foi você mesma que fez. Queria se vingar!— Senhora Brenda, eu não...— Sua cínica! — Brenda precipitou-se para cima de Ruth.Marcos colocou-se entre as duas.Brenda recuou, se dando conta de que estava prestes a perder a razão.Naquele dia, sabendo que o clima na casa tornaria difíc
04/2071 – Dez meses após o acidente. Theo ia na frente com as crianças pelo saguão do aeroporto, Bernardo caminhava atrás. Eles haviam acabado de desembarcar na França e se dirigiam para sua nova casa. Um outro agente fora alocado para exercer as tarefas que Bernardo era inicialmente responsável na casa da Coreia do Norte. Com o tempo, por estar indo às reuniões com a Ordem, suas funções antigas foram substituídas por novas tarefas. Teresa percebia na influência que Bernardo exercia sobre os outros agentes um meio de fazer com que, através dele, seus objetivos fossem disseminados de forma positiva. A comunidade interna trabalharia determinada se acreditasse nos benefícios que os projetos em execução nas últimas décadas visavam o bem-estar da sociedade. Apesar disso, seu braço direito nos últimos anos foi Edson, mas sem dúvidas, Hamilton também disputava esse posto, já que ele possuía amizades no meio militar e dialogava com membros estratégicos da AEB. Bernardo estava alocado na c
Naquele dia, Diego foi dormir reconfortado, pois sabia que havia ao menos uma pessoa que o apoiava. Sentiu-se menos sozinho, embora a pessoa na qual ele pensava todas as noites não estivesse ao seu lado. Diego propôs um desafio para si mesmo: Se eu tivesse que escolher entre ter abertura para me aproximar de Rebeca, ou entrar na AEB, o que eu escolheria? A indecisão durou poucos segundos. — Rebeca. — ele falou decidido. Logo em seguida puxou o cobertor sobre sua cabeça para se esconder, pensando se não teria feito a escolha errada. A data de um novo concurso havia sido anunciada, a primeira etapa seria realizada logo após o concurso em que Diego foi reprovado. As semanas de estudo se prolongaram, Diego terminava a lista, restavam apenas alguns livros pendentes. Ele pesquisou por um dos últimos, e percebeu que este tinha um teor diferente. Ele buscou pelos outros livros restantes e descobriu que não se tratava de livros acadêmicos. Decidiu que continuaria lendo na ordem da lista, e
05/2071 – Dez meses após o acidente. Brenda cuidava de Arthur e Lino na sala. Os três eram os únicos na casa. Ela nutria em silêncio sua raiva por Ruth. Não queria discutir com Marcos já que ele, mesmo sem ter concordado que Ruth matou os gatos, ao menos a afastou dos serviços. A campainha tocou e ela foi atender. Abriu a porta e deparou-se com dois policiais. — Bom dia, senhora Brenda. — o policial cumprimentou. — Bom dia. — ela falou sem entender o motivo da presença dos dois. — Será que podemos entrar? Queremos ouvir o seu depoimento. — ele anunciou. Ela pensou por um instante demonstrando insatisfação. — Podem. Podem entrar. A policial e seu companheiro sentaram-se em um dos sofás. Brenda entrou e sentou-se em outro. — Nós recebemos uma denúncia de ameaça, e ficamos preocupados ao assistir o vídeo que a senhora publicou. — a policial falou. — Queríamos saber a sua versão da história. Brenda contou sobre os problemas que teve com Ruth, e os motivos q
05/2071 – Dez meses após o acidente. Ele caminhou convidado pelo som que muito lembrava o de sua mãe. Seus irmãos que haviam partido, talvez tenha sido após receberem o mesmo chamado. Ele foi então juntar-se à sua mãe que emitia o apelo incessante e finalmente reencontrar seus irmãos. Tão logo Hope passou pela porta entreaberta, suas pernas amoleceram e ele deixou-se cair no chão. ★ ★ ★ — Brenda, o café saiu. — Ruth falou após ir até a sala. — Você olha eles? — Brenda perguntou, referindo-se aos seus filhos que estavam no chão com alguns brinquedos. — Claro. — Ruth respondeu. Ela levantou-se do sofá e parou na porta do seu quarto. — Eu já vou, estava separando mais algumas roupas. — Marcos disse ao ver Brenda o esperando. Brenda e Marcos estavam sentados à mesa. — As crianças já comeram? — Sim, Ruth já deu. — Acho que deveríamos levar Lino ao médico, talvez ele não esteja comendo bem como Arthur. — Marcos comentou. — Você tem que ver a cara que ele f
05/2071 – Dez meses após o acidente. Brenda e Marcos estavam fora havia dois dias. Durante a tarde, as crianças passaram a maior parte do tempo na sala, onde Ruth colocava desenhos para elas assistirem. Brenda e Marcos faziam chamadas de vídeo para verem as crianças e saberem se estava tudo bem. “Talvez a gente volte mais cedo, estou morrendo de saudades.” Brenda falou. Ruth estava sentada ao lado de Arthur e Lino os filmando. “Eles estão comendo? Lino, olha aqui pro papai. Você tem que comer em!” Marcos falou como costumava fazer. Uma ventania se principiou no fim daquela tarde. Ruth foi ao terreno dos fundos retirar as roupas do varal, algumas delas estavam caídas no chão. Ela recolheu cada uma e as levou para dentro. Uma chuva começou a cair, molhando o gramado dos fundos, as árvores na encosta atrás da casa se alvoroçaram. Três cruzes jaziam lado a lado. Diante delas, percebia-se no chão as três marcas de terra marrom que destoavam do resto do gramado verde, indic