05/2071 – Dez meses após o acidente. Brenda e Marcos estavam fora havia dois dias. Durante a tarde, as crianças passaram a maior parte do tempo na sala, onde Ruth colocava desenhos para elas assistirem. Brenda e Marcos faziam chamadas de vídeo para verem as crianças e saberem se estava tudo bem. “Talvez a gente volte mais cedo, estou morrendo de saudades.” Brenda falou. Ruth estava sentada ao lado de Arthur e Lino os filmando. “Eles estão comendo? Lino, olha aqui pro papai. Você tem que comer em!” Marcos falou como costumava fazer. Uma ventania se principiou no fim daquela tarde. Ruth foi ao terreno dos fundos retirar as roupas do varal, algumas delas estavam caídas no chão. Ela recolheu cada uma e as levou para dentro. Uma chuva começou a cair, molhando o gramado dos fundos, as árvores na encosta atrás da casa se alvoroçaram. Três cruzes jaziam lado a lado. Diante delas, percebia-se no chão as três marcas de terra marrom que destoavam do resto do gramado verde, indic
Após terem sido recolhidos os termos assinados, o homem iniciou propriamente a apresentação.— Então agora que estão todos cientes dos termos, vocês terão uma explicação sobre o que deve ser o principal interesse de vocês aqui na AEB, o mecanismo de funcionamento da cúpula.Houve um murmurinho de excitação que se propagou pelo auditório.“Quem ministrará a palestra será a coordenadora do núcleo de ciências biológicas, Sthefany Vasconcelos. Passo a palavra a ela.”— Obrigada, Carlos. — Foi possível ouvir enquanto ela se encaminhava ao púlpito.— Bom dia, a todos. — Ela limpou a garganta com alguns goles de água e devolveu o copo à tribuna. — Eu gostaria de me apresentar brevemente, para ambientar vocês aqui ao laboratório de bioengenharia. Eu sou formada em ciências biológicas e especializada em engenharia bioquímica.“Vocês não precisam ficar preocupados porque a base do conhecimento que será abordado aqui vocês certamente já aprenderam no colegial. Vocês provavelmente devem se lembrar
05/2071 – Dez meses após o acidente. Ruth estava na sala, fazia alguns minutos que Lino estava desaparecido. A porta do quarto dos pais estava trancada, então ele não poderia estar lá. Seguiu para a cozinha, abriu a porta e acendeu a luz. Suas mãos tremiam. Ele não poderia ter saído do berço sozinho. Ela imaginava que alguém havia entrado pela porta dos fundos e o levado, por isso o ruído que ouvira. Não sabia como contaria isso para Marcos e Brenda. Estava tomada pelo desespero. Resolveu, em meio ao pânico, que ligaria para a polícia. Mesmo com o clima frio daquela noite, sua testa estava molhada. Ela estava na sala quando escutou: Um grito agonizante veio do corredor. Ela largou o telefone. Correu até o quarto dos gêmeos. Arthur chorava em seu berço. Dentro dele, estava também Lino. Caído. Seu rosto sangrava. Uma faca afiada estava no fundo do berço suja com o sangue dele. Havia um corte sobre seu olho esquerdo. 05/2071 – Dez meses após o acidente. De madru
05/2071 – Dez meses após o acidente. Após o acidente com Lino, Ruth seguiu para o hospital com os dois. Depois de chegar lá e conseguir atendimento, ela ligou para Marcos. — Pensei que a ideia fosse silenciarmos os celulares. — Brenda falou ao ouvir o telefone de Marcos tocar. Ele o pegou na mesa de cabeceira. Pensou em não falar para Brenda quem ligava, mas ela o pressionava com o olhar. — Oi, Ruth. — ele atendeu. “Seu Marcos, eu não queria te ligar, mas Lino se machucou. Eu estou no hospital com os dois.” Ruth falou. Marcos queria saber o que aconteceu, mas com Brenda ao seu lado seria difícil fazer perguntas sem deixá-la preocupada. Marcos dirigia o carro. Brenda, com a cara fechada, no banco ao lado. Ele não falava nada, pois também temia pelas crianças. Não aguentando o silêncio ensurdecedor, Brenda se manifestou. — Quando eu falar uma coisa, você me escuta. — Brenda falou possessa. Marcos continuou em silêncio, concentrou-se na estrada. — Eu não q
05/2071 – Dez meses após o acidente. Marcos ficou em casa pelos cinco dias seguintes. Ele era quem fazia o curativo de Lino, já que Brenda ficava agoniada ao olhar o machucado. Ele estava na sala, pensativo, junto de Brenda e as crianças. Aquele era seu último dia de folga e ele temia deixá-la sozinha com os gêmeos. Por isso, havia tomado uma provisão. A campainha tocou e ele foi atender. Brenda virou-se no sofá para ver quem estava à porta e surpreendeu-se ao perceber que era Ruth. Ela levantou-se. — Bem-vinda de volta, querida. — Marcos a cumprimentou. Ruth entrou e ficou com cara de tacho ao ver Brenda. — Senhora Brenda, eu queria me desculpar pelo meu descuido. — Ruth falou sem graça. — Me perdoe pelo que falei, eu... não sei onde estava com a cabeça, tem sido muito agitado para mim, eu não deveria ter te dispensado daquela forma. — Brenda falou. — Me desculpe mesmo. Obrigada pela oportunidade, eu vou melhorar. Obrigada, senhor Marcos. — Ruth disse. — Imagina... — Marcos r
08/2071 – Um ano e um mês após o acidente. “Widsom?” Bernardo o convocou mentalmente. “Sim?” Ele respondeu. “Precisamos nos ver.” “Depois daquele dia, eu pensei se não seria tão arriscado nos encontrarmos quanto conversar por aqui.” Widsom disse. “Bem, como quiser, não acho que seja possível notarem, já que não mantemos contato frequente.” Bernardo disse. “Eu também não acho.” “Eu identifiquei no indivíduo 58 da primeira leva de exames que você me enviou uma avançada capacidade receptora, ele apresenta raízes que se estendem pela coluna vertebral, se ramificam para as terminações nervosas do corpo. Widsom, isso é muito raro de se ver.” “Eu percebi qualidade nele por outros fatores. Ele está em monitoramento.” Widsom disse. “Eu tenho planos para ele.” Bernardo disse. “Eu também tenho planos para ele.” “Quais são seus planos?” Bernardo perguntou. “Bem, acho que é bom ter alguém que interaja tão bem com os reatores, ele pode estar distante e ainda assim eu conseguiria ouvi-lo.
11/2071 – Um ano e quatro meses após o acidente. Diego e Rebeca andavam na faixa de pedestres, os carros parados no semáforo, de dentro deles os motoristas observavam o casal caminhar. Eles atravessaram os portões de ferro na entrada da quinta da boa vista. O parque era repleto de árvores centenárias. Os dois caminhavam de mãos dadas enquanto crianças de bicicleta passavam por eles. Rebeca chamou a atenção de Diego para uma menininha no gramado com roupa vermelha de bolinhas pretas, como uma joaninha. Rebeca acenou para a criança, que acenou de volta, e em seguida escondeu o rosto nas mãos, sorrindo envergonhada. Os pais da criança a abraçaram felizes. Eles chegaram em um lago de água verde. Nele havia uma pequena ilha com uma árvore e um templo com pilares de uma arquitetura antiga. Caminharam por uma ladeira e chegaram ao Palácio de São Cristóvão, antiga residência da família imperial. Subiam as escadas para o jardim. Rebeca estirou-se próxima a uma das palmeiras que haviam ali
Via Láctea, Comando Superior do planeta Terra. Ano 2070. Momentos antes do acidente. Era noite no ocidente, a estação do Comando Superior terráqueo navegava sobre as planícies africanas. O alto escalão do conselho se dirigia ao salão principal. Os membros eram responsáveis pelo governo da estação sideral, assim como de todo o planeta. Enquanto o conselho se reunia, Jonas Forth estava sentado em uma cadeira de madeira na sala dos mensageiros, uma pena sob seu controle flutuava escrevendo em um pergaminho sobre a mesa. Atrás dele, um cetro de madeira com cristais azuis estava pendurado na parede. O cetro Dimfloat era um objeto ancestral. Haviam lendas sobre seus poderes, que só poderiam ser conjurados por seres vivos nascidos na Via Láctea, e como ele poderia neutralizar até a mais poderosa alma. Jonas levantou-se. A pena caiu sobre a mesa ao lado do pergaminho. Ele ergueu sua mão direita guiando o pergaminho, que flutuou até a lareira. A chama tornou-se um azul intenso e ao final