12/2070 – Cinco meses após o acidente.Após algumas semanas, chegava o tão esperado dia da entrevista. Brenda havia passado todo o mês escolhendo minuciosamente uma babá para cuidar dos gêmeos. Agora que sua licença chegava ao fim, ela retornaria ao trabalho.Marcos se olhava no espelho do quarto, indeciso entre qual de seus dois ternos usar. Brenda aguardava já pronta na sala.— Ele é sempre assim, quando vamos sair demora horas para se arrumar. — Ela falava com a babá. — Espero que Arthur e Lino não peguem essa mania.— Eu estou ouvindo! — Marcos gritou do quarto.A recém-contratada dava leve sorrisos de volta sempre que Brenda falava, parecia tentar esconder a insegurança de ficar sozinha logo no primeiro dia com as crianças. Embora já tivesse trabalhado com bebês antes, o fato de serem duas crianças para cuidar aumentava o nível de dificuldade desse trabalho. Ela em suas idas ao quarto tentava decorar a cor das roupas dos gêmeos e em qual berço cada um ficava. Havia uma, entre as
— Desculpem, não estou bem, preciso... eu... com licença... — Abner se levantou e foi rapidamente em direção à saída do estúdio. Houve uma longa pausa enquanto todos observavam a cena. Rodrigo buscava um meio de dar prosseguimento à entrevista.— Então, como é a sensação de serem pais em dose dupla? Como estão sendo as madrugadas e a rotina do casal?Marcos e Brenda pareciam desconfortáveis com a repentina saída de Abner, perceberam a tentativa desesperada por parte de Rodrigo em retomar o clima da entrevista.— Ah, já quase não dormimos durante a noite, Arthur chora bastante, sabe. Isso para não falar no cheiro das fraldas. — Marcos falava com todo o seu bom humor. Brenda deu um incisivo olhar de repreensão.— Está sendo maravilhoso ver as crianças crescerem, Lino já tem bastante cabelo. Em alguns dias já vou voltar ao trabalho. É uma experiência realmente incrível. — Brenda olha para a câmera e faz um aceno. — Ruth! À essa altura você já deve ser nossa babá preferida!Era visível a t
12/2070 – Cinco meses após o acidente. O meio de dezembro se aproximava e com ele vinha a formatura. O evento que estava acontecendo na quadra de sua escola contava com a presença de familiares dos formandos. Logo que entrávamos na quadra, era possível ver a longa mesa com grande parte dos professores que deram aula no último ano de Diego, também havia alguns professores dos anos anteriores. De frente para a mesa de professores estava a turma de formandos, Diego se sentava na ponta da segunda fileira. Em sua frente, haviam dois lugares vagos, seus pais estavam em cadeiras mais atrás. A cerimônia ainda não havia começado.Enquanto outros alunos chegavam, Diego conversava com três amigos próximos. Havia no ar o clima de despedida, além de ser a última vez que estaria com grande parte de seus amigos e professores. Um fato que sabia ser algo inevitável vinha o perturbando: Essa poderia ser a última vez que veria Rebeca.Ele se lembrava da cena, três anos atrás, quando a viu entrando pela
★Na manhã daquela terça-feira, os raios de sol batiam forte na janela do quarto, parte dos raios atravessava a cortina e incidiam bem no rosto de Diego. O frio árduo da madrugada foi gradualmente substituído pelo calor que àquela altura o acordava. A grossa camada de cobertas empurradas para o canto da cama era uma prova da mudança brusca de temperatura. Abriu os olhos e se deu conta do mormaço que preenchia seu quarto. A claridade forte era um sinal de que talvez ele tivesse dormido além da conta, ou um indicativo de que o verão estava chegando ao seu ápice.Ele descia as escadas tomando consciência de que calor estava maior que no último domingo, maior que a segunda-feira, e ele pressentia que o dia seguinte seria ainda mais quente.— Pelo calor, levantei achando que já era meio-dia. — Diego falava para sua mãe na sala.— Nem fala, está quente mesmo. Mas seu pai saiu faz pouco tempo, está cedo.Diego sentou-se no sofá ao lado de sua mãe e começou a calçar seu tênis. Rosa bebia um su
01/2071 – Seis meses após o acidente.Hamilton levantou-se do sofá. Deu alguns passos tortos em direção a adega, pegou o frasco que já estava quase vazio e tornou a encher seu copo. Estendeu a mão direita para devolver a garrafa à sua posição enquanto segurava o copo com a mão esquerda. Ele colocou a garrafa na horizontal e o absinto restante derramou-se sobre sua camisa — ele havia deixado a garrafa aberta. Enquanto colocava o copo e a garrafa sobre a prateleira, uma voz familiar invadiu sua mente.“Hamilton?”“Sim?” respondeu ele.“Preciso que vá à reunião de amanhã.”“Mas Bernardo não iria?”“Precisamos conversar sobre ele.”Silêncio.“Você e ele têm algo em comum”, Teresa confessou, “algo que me preocupa.”“O que seria?” Hamilton quis saber.“Vocês dois estão em posições estratégicas, possuem muita informação. Mas no seu caso eu imagino que não seja um problema, pelo menos... eu espero.” Ela falava com a intenção de demonstrar sua confiança.“E como posso ser útil nessa reunião?”“
01/2071 – Seis meses após o acidente. Roger encerrava o dia de trabalho na oficina quando Glauber, seu patrão, o chamou na sala da administração. — Precisamos acertar os custos do reparo do carro que Diego estragou. O dono veio buscar, ele ficou furioso. — Glauber explicou. — Agora, além de não pagar pelo serviço, ele quer que eu devolva o carro como ele entregou. — Está certo, eu vou pagar. — Roger falou. — Quanto fica? — Hm, a parte elétrica já era, só trocando tudo. — Glauber calculava mentalmente. — Três mil. Roger achou caro, mas não esboçou nenhuma insatisfação. Após chegar em casa, Roger foi ao quarto de Diego. — Filho? — Entra aí. — Diego estava mexendo em seu computador novo que ele mesmo havia comprado. — Sobre o acidente na oficina, Glauber está me cobrando. Como você está com dinheiro, eu achei que poderia pagar. — Roger falou sem jeito. — Tudo bem, quanto ele cobrou? — Seis mil. Diego não achava justo ter que deixar seu pai, que recebia
— Co-como assim? — ela falava surpresa. — Tinha sangue? Eu não...Marcos voltou e cruzou os braços encarando Ruth.— Você não mexeu naquela vassoura? — Brenda perguntou.— Eu... talvez te-tenha mexido, mas... não tinha sangue.Brenda lembrava em sua mente de Ruth pedindo aumento no dia anterior, depois de ter negado o pedido. Ela conseguia visualizar Ruth trancando a porta do quarto durante a noite, e espancando a cabeça de Toby com a vassoura.— Você não se deu ao trabalho de sequer lavar a vassoura para esconder o sangue, não é mesmo? — Brenda vociferou.— Querida... — Marcos interveio.— Ah, eu já sei. — Brenda continuou. — Você queria ter certeza de que eu veria, não é mesmo? Queria que eu soubesse que foi você mesma que fez. Queria se vingar!— Senhora Brenda, eu não...— Sua cínica! — Brenda precipitou-se para cima de Ruth.Marcos colocou-se entre as duas.Brenda recuou, se dando conta de que estava prestes a perder a razão.Naquele dia, sabendo que o clima na casa tornaria difíc
04/2071 – Dez meses após o acidente. Theo ia na frente com as crianças pelo saguão do aeroporto, Bernardo caminhava atrás. Eles haviam acabado de desembarcar na França e se dirigiam para sua nova casa. Um outro agente fora alocado para exercer as tarefas que Bernardo era inicialmente responsável na casa da Coreia do Norte. Com o tempo, por estar indo às reuniões com a Ordem, suas funções antigas foram substituídas por novas tarefas. Teresa percebia na influência que Bernardo exercia sobre os outros agentes um meio de fazer com que, através dele, seus objetivos fossem disseminados de forma positiva. A comunidade interna trabalharia determinada se acreditasse nos benefícios que os projetos em execução nas últimas décadas visavam o bem-estar da sociedade. Apesar disso, seu braço direito nos últimos anos foi Edson, mas sem dúvidas, Hamilton também disputava esse posto, já que ele possuía amizades no meio militar e dialogava com membros estratégicos da AEB. Bernardo estava alocado na c