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Prólogo II | Capítulo 1

— Sinceramente, não vejo outra alternativa, Hâmsala. A não ser que tenha algum plano que queira compartilhar conosco.

— Parece que você foi contaminado com as más ações de Drak Nazar durante sua longa visita. Aliás, poderia nos explicar por que levou tanto tempo? — Hâmsala provocava.

— O que vi em Andrômeda foi realmente encorajador, e não permito que se dirija desta forma ao Líder que tem realizado ótimos trabalhos.

— Estão vendo? Ele fala como se fosse um deles, desde que voltou parece ter desistido de todo o projeto que temos elaborado há anos. — Hâmsala olhava para cada membro do conselho buscando angariar apoiadores.

— Desistido? Acha que chamei todo o conselho para declarar o fim do projeto? — Jonas estava inconformado.

— E o que a brilhante mente acha que vai provocar descendo lá e se tornando evidente para todos que ainda não estão preparados? — Hâmsala criticava rispidamente.

— Sugiro que mude a forma de se referir a mim, Hâmsala. Precisamos focar...

— Ora vejam só, agora o Senhor Líder Jonas exige pronomes de tratamento enquanto conspira invadir o planeta e expor todo o comando aos… – Hâmsala foi interrompido.

A discussão se acalorava.

— Senhores, temo que estejamos passando do ponto... — Júlio tentava atenuar a discussão. Interrompeu a fala ao perceber que Derick estava prestes a falar.

— Hâmsala, suas acusações são precipitadas. — Derick afirmou.

— Já chega! Hâmsala, retire-se, está dispensado do conselho por hoje.

A discussão saíra do foco para um rumo que o líder do comando sabia ser exatamente o que não precisavam para aquela reunião, o caos instaurado nos terráqueos não poderia de forma alguma se elevar aos membros do conselho.

— Não irei me retirar, não chegamos a um acordo, o que será feito depende do meu assentimento. — Hâmsala disse.

— Lhe foi dada uma ordem. Ou você se retira, ou eu me retiro, e o meu comando se encerra por aqui. — Jonas impôs.

Silêncio. Ninguém ousava se mexer e romper o sensível filamento que sustentava a harmonia no local, ninguém desejava ser o responsável pela saída do Líder da galáxia.

Ninguém se moveu no local, e a ausência de movimento também representava uma decisão.

Os lábios de Jonas se abriram, um sussurro inicial do que seria uma fala foi interrompido.

Jonas se levantou.

O que se ouviu em seguida foi o alto barulho de sucção, junto à uma forte movimentação do ar ao redor da mesa, ao mesmo tempo que a cadeira onde há pouco estava o líder do conselho era jogada com brutalidade para trás. 

Todos viram Jonas sumir. A pesada cadeira de mármore não foi forte o bastante para resistir ao impacto provocado pela desaparição repentina de Jonas Forth.

Todos na mesa se entreolharam surpresos e viram a cadeira já em ruínas ao canto da parede.

Antes de Jonas, ninguém aceitava a ideia de assumir um posto de extrema dificuldade que era conciliar o comando da galáxia com todos os problemas que se acumulavam na Terra. Terminada a primeira grande guerra, Jonas foi eleito Líder após ser o único que deu fim ao que seria o desastroso desfecho da Segunda Guerra Mundial. A saída de Jonas representava a queda de um conselho que procurava ouvir seus aliados e buscar o melhor caminho para a continuação da vida na Terra, e sua futura subida para o mesmo patamar dos demais planetas da galáxia.

 

07/2070 – Dia do acidente.

A caminhada acabava de começar.

As ruas cercavam o valão que possuía cerca de oitocentos metros de comprimento. Era a primeira e não tão bela paisagem no caminho que Diego percorria diariamente.

Atravessando a movimentada rua, sempre no sinal, seguindo para a deserta passagem pelo portão gradeado que dava acesso ao condomínio que ele iria percorrer.

Quatro praças estavam no trajeto, a primeira possuía uma quadra de areia, subindo as escadas que cruzavam esta praça inclinada ele chegava à rua de cima. Caminhando por mais algumas ruas. A segunda praça possuía também uma quadra, mas esta era cimentada e havia ali uma varanda coberta e cercada, com uma churrasqueira e uma longa mesa de concreto junto à parede. Era um local para fazer pequenas festas ou comemorações.

Dando meia volta no local, ele estava passando pelo ponto mais misterioso. Sempre que passava por ali, sentia uma presença estranha, havia algo diferente na atmosfera que cercava a extremidade daquela praça. Ali havia um grande amontoado de árvores em uma colina de uns vinte metros de altura e, no topo, havia um pequeno mirante com mesas e bancos para observar a paisagem de todo o condomínio.

Conforme as árvores ficavam para trás, ficava também a oportunidade de vasculhar em meio a elas à procura de algo desconhecido, mas o que permanecia era a grande curiosidade por aquele simples lugar.

Uma curva à esquerda, uma longa reta, ele estava na terceira praça. Esta era simples. Como de praxe, possuía uma quadra, dessa vez de areia, tinha equipamentos para fazer exercícios. Correndo, Diego seguia para a quarta e última praça.

Essa era a maior de todas, possuía em seu quarteirão uma escola. O centro era um gramado onde havia um parquinho com brinquedos cercados por um gradeado de formato circular com duas passagens que permitiam a entrada das crianças que ali brincavam.

O local de saída do condomínio era diferente daquele por onde ele entrava. Ele se esgueirou entre as grades do estreito portão que fora travado para impedir que motos passassem por ali. Diego sabia bem que se fosse pela esquerda e caminhasse pela longa estrada chegaria em um cemitério. Ele seguiu pela direita na direção que o levaria até sua casa.

Diego não sabia, mas era possível sentir dentro de sua própria casa a presença estranha de um forte campo que permeava o ambiente. Quando acordava durante a noite em seu quarto, as causas que lhe provocavam aquela sensação de algo leve pressionando seu crânio, como se o ar tivesse se adensado espontaneamente e lhe submergindo em um oceano profundo, acompanhada de um zumbido agudo, era de mesma natureza daquela que ele sentia com mais frequência na típica e inexplorada praça número dois.

Chegávamos novamente ao extenso valão coberto por árvores, bastava uma reta até chegar em sua casa, onde iria almoçar e preparar-se para ir à escola enquanto assistia ao noticiário.

— Foi muito alto, parecia que tudo ia desabar, um grande estrondo. — falava a testemunha.

— E onde você estava quando aconteceu?

— Bem ali, do outro lado da rua, não deu tempo sequer de ver de onde a coisa veio, os pedaços da parede se desprenderam e caíram em cima de quem passava. — A testemunha apontava assustada para a fachada do hospital parcialmente destruída.

— Obrigada. Como podemos ver, toda a área foi isolada, a informação que temos é que os procedimentos no hospital foram interrompidos, havia um parto sendo feito no exato momento da queda do objeto ainda não identificado. Podemos ver destroços da fachada em cima de carros, olhem ali, naquele vermelho, o para-brisa foi completamente destruído.

A repórter interrompeu sua fala e passou o comando para o apresentador do jornal que demonstrava ter algo a falar.

— Obrigado, Suzana. Nós acabamos de receber um laudo da pré-avaliação feita no prédio, e junto às informações divulgadas pela AEB, a Agência Espacial Brasileira, podemos afirmar que o material de metal retorcido encontrado no topo do edifício foi sim desprendido da estação de construção espacial. Os assessores de imprensa lamentaram o ocorrido e ficaram surpresos com as imagens recebidas do material que inegavelmente fazia parte da cúpula. Eles afirmaram também que a possibilidade de um acidente como esse acontecer é extremamente remota, pois além da intensa manutenção nos pontos de construção da cúpula, a própria atmosfera se encarrega de proteger a terra de possíveis corpos que venham em nossa direção, geralmente o lixo espacial cai nos oceanos. Acontece que o material encontrado era realmente denso e resistente. Apesar das avarias, a peça fazia parte da região externa da carenagem e não apresentou riscos para os astronautas. Uma missão de reparo já está sendo planejada. O módulo afetado foi isolado e os astronautas irão evitar o acesso àquela parte da estação de construção. Os pacientes da maternidade serão transferidos para um hospital próximo.

“Veja a seguir: Presidente da república move esforços para instaurar portaria que define medidas especiais de proteção ao conhecimento sensível.”

 

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