KESIA MUNIZ Estava tonta, como uma bêbada, ou uma barata. A cama em baixo de mim era macia e me pareceu enorme. O lugar era meio escuro... onde eu estou? Sentei rápido quando um lampejo de memória me veio a mente, estava na porta do banheiro esperando meu filho sair e... Olhei para tudo ao meu redor, e nada era familiar. Quer dizer, uma coisa era, Fellipo estava sentado em uma poltrona vermelha perto da cama me olhando. Engoli em seco. — Fellipo? — Olá. — Respondeu sério. Pulei da cama e passei a mão no cabelo como uma forma de organizar meus pensamentos. — Tenho umas coisas para lhe perguntar. — Começou quebrando o silêncio. — E acredito que também tenha perguntas para mim. Fiquei calada, não sabia o que dizer. Claro que tinha milhares de perguntas, porém nenhuma delas deixaram meus lábios. Ele suspirou e colocou os cotovelos sob os joelhos. — Você quer que eu comece? — Onde está meu filho? — foi a primeira frase que consegui formular. — Seguro e bem. —
KESIA MUNIZ Ele me drogou. Única explicação lógica para isso. Não respondi. Virei as costas e sai rumo a porta principal. Meus passos eram rápidos. Eu tenho que sair. — Não vou te prender aqui. Mas saiba, está sem celular, sem dinheiro, sem documentos. Não fala italiano, não conhece a cidade. E ninguém vai te ajudar. — parei ao ouvir a voz dele. — E ainda tem uma criança nos braços. Sabia o que ele estava fazendo, queria me deixar totalmente sem escolha para ficar a sua mercê, sem nem poder sair do país. E conseguiu. Por hora. — Se isso não é prender, eu não sei mais o que é. Ele tem razão em algumas coisas que disse, não posso sair por aí com uma criança pequena no colo, sem rumo. O que faço meu Deus? Não confio nele. Mas tenho que fazer esse esforço pelo meu filho, até que eu consiga recuperar nossos documentos, que devem ter ficado na rodoviária ou em posse dele. Virei para vê-lo em pé no topo da escadaria, nos encarando sem expressão alguma. — Você me trou
KESIA MUNIZ Quando o dia raiou lá fora, desci somente para dar de comida ao Angelo rapidamente, antes que os donos da casa chegassem, fui informada de que foram fazer uma visita. Uma senhora simpática que trabalha na cozinha me ajudou. Depois disso, voltei para o quarto em que Doris me deixou. Nos banhamos, e vestimos roupões. Ele ficou na cama brincando com alguns bonequinhos, enquanto eu procurava algo para nos vestir. Abri o closet enorme. De um lado tinha muitas roupas femininas, todas pareciam novas, muitos vestidos, e graças a deus tinha calças jeans também, saias, lingeries etc. E do lado oposto, roupas de crianças masculinas. Será que foi ele que comprou tudo isso? É claro que não, deve ter mandado algum empregado. Mas como ele soube nossos tamanhos certos? — Mãe? Cadê o tio Fellipo? E a vovó Doris? — Quis saber interessado, surpresa, virei para olha-lo. — Quer dizer que está com saudade só deles? E do seu avô e do tio Hugo? Ele não pode se apegar a essa
KESIA MUNIZ Então lembrei de ter pego uma m*****a camisa, que na hora da fuga acabou caindo do cabide e a segurei para tentar evitar ser pega. — Claro que não. — Neguei séria. — As roupas que mandei comprar não foram suficientes? — ele voltou a cruzar os braços e me analisar. — Como sabia meu tamanho exato? — perguntei curiosa. Ele sorriu cínico. — Eu sei de tudo. — Sorri cínica também. — Sabe o nome do alvo? Seu sorriso se desfez e o meu aumentou. — Questão de tempo. — Desconversou. — Seria capaz de matar uma pessoa? — a pergunta escapou dos meus lábios. Ele ergueu uma sobrancelha e sorriu. Não um sorriso normal, um meio sombrio, esquisito. Seus olhos vagaram para um ponto fixo na parede como se tivesse lembranças. Será que ele já matou alguém? — Você saberá. — Dito isso, ele me deu as costas. — Pode ficar coma camisa se quiser. — E entrou no closet fechando a porta na minha cara. Filho da puta. Me xinguei mentalmente por ter ido logo no quarto dele. Podia simplesm
KESIA MUNIZ Com o susto de ouvir a voz dele tão perto, escorreguei o dedo no gatilho e errei o alvo. Virei furiosa para encara-lo. — Me fez errar! — resmunguei. Ele deu de ombros, notei que me encarava muito sério, parecia estar com raiva. — O que está fazendo aqui em baixo? — ele perguntou alto. — Que lugar é esse? O que esses caras estão fazendo aqui? E essas armas? — ignorei a pergunta dele e fiz as minhas próprias. — Isso não é da sua conta curiosa dos infernos. — Ele praticamente rosnou. — Aqui é a minha casa. — Mas eu posso contar para polícia tudo que tem aqui! Isso com certeza é ilegal. E... Ele me segurou pelo braço com força e antes que eu pudesse agir, puxou a arma da minha mão. Me debati, tentando sair do seu alcance. O que não foi possível devida a força que segurava com uma mão só. — O que estão olhando seus ratos? — ele gritou fazendo eco no galpão. — Vão embora. Acabou por hoje. Os homens que haviam parado para olhar o showzinho de graça, ficara
KESIA MUNIZ Os olhos escuros dela brilhavam com lágrimas. Não sou a pessoa mais indicada do mundo para dar conselhos ou consolo a alguém. Fiquei sem jeito, sentia que devia falar algo. Mas não consegui, fiquei muda. Ela fungou e baixou a cabeça envergonhada, delicadamente, limpou as lágrimas. — Desculpe, estou sendo uma boba. Mas é que olhando todo o amor que você tem pelo seu filho. Lembrei de como queria ter feito tudo por eles. — Doris continuou falando. — Eles? — perguntei sem entender nada do que ela falava. Ela levantou a cabeça e mirou nos meus olhos. Seu semblante era de uma mulher forte e machucada. Por trás do rosto marcado pelo tempo. Com certeza, havia muitas histórias, não daquelas bonitinhas que podemos contar aos filhos e netos. —Sim. Meus filhos. Fellipo e... — Esse nome é proibido nessa casa. — Fellipo apareceu repreendendo a mãe. Como assim? O Fellipo tem um irmão? Ele nunca mencionou isso, mas da forma que falou parece não gostar muito dele. — Vou
KESIA MUNIZ Eu não conseguia desviar meus olhos dela e da barriga. Não sou burra, sei muito bem que tem várias espertinhas que tentam o golpe da barriga. Ela pode não está grávida do Fellipo. Mas também pode estar. Na verdade, estando ou não, não é da minha conta. Estendi os braços para pegar meu filho de um Fellipo sério e aborrecido, olhando para a Tolita, apelidinho que dei pra ela, como se quisesse matá-la. — Me dar ele aqui. — Pedi com a voz baixa para não interromper o casal. Ele virou e com cuidado passou a criança para meus braços. Sai sem falar uma palavra, subi as escadas e pela minha visão periférica, vi Fellipo arrastar a Tolita para o corredor do escritório dele. — Aii amor... que bruto. — Reclamou com a voz manhosa.— Cala a boca sua vadia. — Foi a última coisa que ouvi antes de subir quase correndo. Por causa do menino no colo, tive dificuldade para conseguir abrir a porta. Onde está Doris quando preciso? Tirei a roupa do Angelo, vesti outra mais conf
KESIA MUNIZ — Eu nunca vou me apaixonar por você. Não se preocupe. — Respondi afiada. Ele rosnou e me puxou colando nossos corpos. Repetindo os mesmos movimentos de mais cedo no galpão. — Tenho certeza que sim. — Afirmou. — Fellipo Messina, sempre muito confiante. — Debochei. Me sentia mole e entregue. Não posso ser burra, ele talvez seja pai do bebê da prima. — Eu sei que você me quer. Assim como eu quero você... E esmagou meus lábios com os seus sem me dar tempo para recusar. Fui empurrada ficando presa entre ele e a parede. Lutei para afasta-lo, meu coração pedia por isso, distância. Mas ele não se movia e a proximidade impedia de chutar suas bolas. Fellipo chupava e lambia avidamente meus lábios, passeando com a língua entre os mesmos pedindo passagem. Parei de lutar, porém, não deixei que entrasse. Percebendo que não ia ceder, ele puxou meus cabelos com mais força, chegou a doer. Sabia o que ele queria que fizesse. Eis a dúvida: ceder ou fugir? Receosa, a