KESIA MUNIZ — Acho que não precisa de ajustes. — Concluí andando desajeitada por causa do peso da roupa. — Nossa como pesa, e olha… — parei quando percebi que o Léo nem ouvia nada do que eu falava, parado, estático, como se tivesse visto um fantasma ou algo assim. Revirei os olhos. Abri a boca para perguntar o porquê daquelas caras estranhas, mas ele disse primeiro: — Você está tão linda. Nenhuma noiva entrou mais bela naquela igreja. — E limpou uma lágrima imaginária. Não consegui conter um riso. — Me sinto o bolo do casamento e não a noiva. — Fiz uma careta passando a mão na armação tentando inutilmente diminuir o volume. Quem diria, eu com um vestido de noiva, meu pai soltaria fogos de alegria. Sorri triste ao lembrar deles. — O que foi raio de sol? Por que parou de brilhar? — Léo perguntou passando a mão na minha bochecha. Forcei um sorriso e me afastei. — Não é nada. — Menti. — Tudo bem. Mas vamos ver logo os últimos detalhes. Falta apenas uma hora. — Olho
KESIA MUNIZ Isso só pode ser uma seita maligna. Onde estava com a cabeça quando aceitei? No meu filho. Senti vontade de dar meia volta e sair correndo, mas a imagem do rostinho redondo e sujo de chocolate do meu pequeno veio na mente. Não posso desistir, é nossa única chance. — Para mim você não é digna de sentar naquele trono. — O tal Luigi falou. Quer dizer que o trono ao lado do Fellipo é meu? O Léo me disse que sentaria em um trono como uma rainha, mas não acreditei. Virei a cabeça para o idoso, o encarei séria. — Poderia calar a boca por favor? — pedi com uma falsa educação. O homem ficou sério e em silêncio. Obrigado pela colaboração. Minha pele queimava com tantos olhares. O pior deles era o do Fellipo, a intensidade era tanta que me hipnotizava, atraída como abelha pelo mel. Notas suaves de piano ressoaram pela igreja. Pelo menos não é aquela música chata de todo casamento. Começamos a andar. Luigi parecia tenso do meu lado. Eu me encontrava mil vezes
FELLIPO MESSINA Sentir a Kesia totalmente entregue, não tinha preço. Na cama não foi só sexo como sempre é com as outras. Foi diferente, o corpo dela se emoldava perfeitamente com o meu. Como se pertencêssemos um ao outro. Meu corpo e minha alma a marcou como minha. Agora mais que nunca preciso dela para viver. Pela manhã, depois de mantê-la acordada a noite quase toda, a observei dormir, ainda nua. Me afastei o suficiente para ter uma visão melhor. Kesia era linda, seu corpo possuía cicatrizes em traços finos e outros grossos como se fosse uma pintura. Fiquei a observá-la até o dia amanhecer. Dei um beijo em seus lábios, que com o sono pesado, não se moveu. Hoje você vai ser oficialmente minha. Fui para meu quarto. Tomei banho e segui direto para a sede. Tinha coisas importantes a fazer, como planejar a invasão do lugar onde Angelo está, administrar um novo carregamento de drogas que estão vindo de navio da China. Quero deixar tudo pronto antes de viajar com mi
FELLIPO MESSINA — Senhora, mandaram entregar isso. — A mesma garotinha que trouxe as alianças, dessa vez trazia na mão uma caixinha preta coberta com camurça e um bilhetinho em cima. Kesia sorriu para ela e pegou a caixa. Imediatamente a menina virou as costas e voltou correndo para dentro da mansão. — Senhor. Tem algo diferente. — Frances declarou ainda olhando em volta. Em alerta, ajudei minha esposa entrar no carro e entrei também. Os soldados estavam nos carros de escolta. — Fellipo. — Kesia chamou baixinho, mas não dei atenção, pois o som característico de uma bomba estourando me fez olhar para a casa agora em chamas. — Senhor? — Frances falou claramente pedindo uma orientação. — Vamos embora. — Respondi e logo o carro entrou em movimento. — Liga para os bombeiros. Vinicius, sua conta só aumenta. O desgraçado nos vigiava de longe. A intenção não era nos matar, mas mostrar que estava por perto. — Fellipo! — gritou desesperada do meu lado. — O que é Kesia? — i
KESIA MESSINA É difícil acreditar que no mundo existem pessoas como o Vinicius. Eu custei a crer que ele tinha sido capaz de fazer o que fez com o próprio filho. Mas é quase normal, o mundo está perdido. Aliás não é o mundo, são as próprias pessoas que não fazem questão de mudar. O desespero me engolia, paralisava toda vez que lembrava do pequeno dedo do meu filho naquela caixa... Depois da ligação não consegui mais dormir. Passei a noite toda me embriagando e o Fellipo me acompanhava. — Eu vou matar ele. — Fellipo disse deitando ao meu lado. Estávamos deitados, eu agarrada a garrafa de uísque quase no fim. Olhando para o teto branco que girava. —Você tem coragem de matar alguém? — Já matei mais do que posso lembrar. — Ele respondeu estando bastante falante por causa da bebida, mas creio que esteja menos bêbado que eu. Arregalei os olhos e acabei rindo. — Seu mentiroso! Eu duvido. Empresários não precisam matar a concorrência. — É claro que precisa. Bebi mais
KESIA MESSINA Meu coração se agitou no peito, parecia que ia pular fora a qualquer instante. — Ah que cena linda. — Vinicius disse de forma dramática. Meus olhos não desviavam do pequeno garotinho. As roupas não eram a mesma que ele vestia naquele dia, agora ele usava uma calça jeans preta e uma camisa também preta, e tênis branco. — Sem mais delongas, traga o pirralho aqui. — Vinicius sinalizou com a mão e o homem de preto se moveu trazendo meu filho consigo. Varri com os olhos furiosos todo seu corpo, felizmente, todos os dedinhos estavam ali. Aparentemente, se encontrava bem. Quando fomos soltos, ambos corremos para um abraço apertado e saudoso. As lágrimas foram inevitáveis. — Você está bem? — perguntei apertando-o entre meus braços, lugar esse que nunca devia sair. — Sim. — Confimou me abraçando de volta. — Aquele homem fez mal a você? — perguntei preocupada o analisando novamente de perto. — Ele é meu pai de verdade? — Angelo soltou. O que esse infeliz fa
KESIA MESSINA — Prefiro morrer de uma vez do que ficar olhando para essa sua cara que me enoja. — Cuspi. Vinicius apenas sorriu. — Não antes de te dizer umas coisas. — Não quero ouvir nada. — Você está muito atrevida. Lembra quando ficava no canto de uma cabana parecida com essa, nua, tremendo de medo igual um ratinho? Bons tempos. — Se inclinou como se fosse contar um segredo. Lembro de tudo seu diabo. Não lhe respondi. — É claro que lembra. Foram momentos inesquecíveis para você. Devia me agradecer por isso, pelo menos te dei um filho lindo. — Continuei calada, apenas o encarando nos olhos, demostrando toda a raiva que sentia. O silêncio pairou no local, não fazia questão de manter um diálogo com ele. Só ficaria quieta, esperando o momento em que Fellipo passaria pela aquela porta. Ou não. — Então agora é a senhora Messina... A Dama. Me pergunto como aceitou se casar tão rápido com meu irmão. Creio eu que não foi por conta própria. — Continuei sem dizer nad
KESIA MESSINA Recriminei a mim mesma por não sentir nada pela vida que acabou de ser tirada às minhas vistas. Vinicius sorriu e deu de ombros. — Ele estava atrapalhando meus planos. — Esclareceu, como se eu tivesse perguntado alguma coisa. Assoprou o cano da arma sem tirar o sorriso sádico dos lábios e caminhou para a mesa no fundo da cabana. Olhei para a porta, estava fechada, e pela janela, pude ver seguranças cercando toda a área do lugar. Sem chances de fuga no momento. Ele voltou com uma adaga em mãos. — Por que não deixou ele me matar? Não faz diferença nas mãos de quem irei morrer. — Perguntei para tentar prolongar enquanto não achava uma saída. Ele caminhou um pouco mais até estar próximo o bastante de mim. — Eu quero fazer isso. É meu direito. Não me segurei e ri. Esse cara é tão fútil e infantil. “Ah vou me vingar porquê o brinquedinho do meu irmão é mais legal que o meu”. O pensamento me fez rir mais. O homem se irritou e enfiou a faca na minha coxa,