"Se eu errar, que seja por muito, por amar demais, por me entregar demais, por ter tentado ser feliz demais."— Clarice Lispector********Gregório — Brenda? Acorda! Que merda aconteceu aqui? Você está toda machucada! — ajoelho-me diante de seu corpo, colocando as mãos sobre a cabeça, ainda com a arma em punho. É então que percebo uma poça de sangue ao seu redor.Puta merda! Ela está sangrando muito. Será que aquele maldito atirou nela?Acredito que não tenha chegado a tanto, não por falta de coragem, mas por falta de tempo. Mas não vejo sequer uma marca de tiro em seu corpo. Com certeza ele deu uma coronhada na cabeça dela quando ouviu minha voz, tentando impedi-la de gritar por socorro.Apoio sua cabeça na minha perna, afasto seu cabelo para o lado e a olho rapidamente. Sua boca está machucada. Suas pernas e braços estão vermelhos, inchados. Olho ao redor do cômodo e vejo algumas cordas jogadas no chão, próximas à cama. Sua roupa, que era branca da última vez que a vi, está irrecon
Gregório Saio dos meus pensamentos com sua voz fraca. — Eu nunca fui amante do seu irmão, meu amor. Nunca tivemos nada. Ainda há muitas coisas que preciso te contar. Ele está mentindo para te machucar, porque sempre te invejou. Mas eu te amo, e sempre vou te amar, mesmo você me desprezando... O que sinto por você é verdadeiro... Você é a maior verdade da minha vida. Ela derrama algumas lágrimas, faz uma pausa buscando fôlego e continua: — Eu menti muito... Eu errei... Mas, quando estava nos seus braços, eu me entreguei por inteira a você, meu amor... Só com você eu me sinto completa... Só nos teus braços eu me sinto mulher... Por favor, não me rejeite... Eu preciso de você e sei que também sente minha falta, porque vejo nos seus olhos que ainda me ama e quanto está sofrendo. Você é o único e grande amor da minha vida... Me perdoa, Gregório... Me perdoa, meu amor... Eu te imploro... Eu preciso do seu perdão... Ela fala com dificuldade, chorando sem parar. Tenta se levantar, mas s
"O amor verdadeiro é mais forte que o vento: invade qualquer janela ou porta aberta. Não deixa nada pelo caminho. Entra com tudo e muda a vida por completo."****Gregório Subo as escadas desesperado, como um louco, com a arma em punho. Pittore toma a dianteira e entra no quarto, disparando vários tiros em sequência. O desgraçado do padrinho tenta fugir a todo custo, mas nossos homens correm em seu encalço. O quarto tem acessos para várias partes da ilha, e com todas aquelas rotas de fuga, que ele conhece bem, escapar é fácil demais.Minha maior preocupação é com possíveis vítimas, então grito:— PITTORE, CUIDADO! — exclamo, aflito.Ao abrir a porta, vejo um corpo caído. É a empregada que cuidava da Brenda. O maldito padrinho acertou um tiro certeiro em sua cabeça. Ela morre na hora.Continuo avançando pelo quarto, que mais parece um cenário de guerra. Todos os móveis estão destruídos, e, ao olhar para a cama, vejo Brenda coberta de sangue.Dou um grito:— BRENDAAAA, NÃOOOOOO!Corro
Gregório — Porta qui quel bastardo di Christopher. ADESSO!(Tragam aquele maldito do Cristóvão até aqui. AGORA!) — ordeno, sentindo meu corpo inteiro estremecer enquanto olho para Brenda desacordada sobre a cama.— Si, signore!(Sim, senhor!) — Pittore responde, saindo imediatamente em direção aos túneis onde o desgraçado do Cristóvão está preso.Afasto-me e encosto meu corpo na coluna entre a cama, observando em silêncio todos os procedimentos que o médico realiza para tentar salvá-la. Carlo tenta se aproximar para falar algo, mas o afasto de imediato, sem sequer olhar em sua direção. Tudo está difícil demais para mim, e agora, ter que pedir ajuda justamente para aquele bastardo... é o pior que poderia acontecer.O médico termina de aplicar um medicamento no soro quando ouço um barulho. A porta do quarto se abre bruscamente. O desgraçado do Cristóvão entra com as mãos algemadas, mas permanece firme, mesmo após os ferimentos que sofreu. O doutor já o havia atendido e retirado os proj
GregórioAlgumas horas depois...Saio daquele quarto me sentindo perdido, um merda, de mãos atadas diante dessa situação. Estou completamente nas mãos daquele bastardo do Cristóvão. Mas isso será por pouco tempo. Preciso concordar com todas as suas loucuras para impedir que algo pior aconteça à Brenda e ele faça logo a transfusão de sangue. Sei que muitos pensam que sou fraco, imbecil, um otário por ter aceitado tão rapidamente as imposições daquele merda. Mas, em primeiro lugar, vem a saúde da mulher que, apesar de tudo o que foi capaz de fazer, continua sendo o grande amor da minha vida. Jamais me perdoaria se, por uma loucura ou crise de possessividade, ela viesse a sofrer. Por isso não o mato naquele momento... Mas, como disse, isso será por pouco tempo.Agora estou na parte de baixo da muralha, bebendo para tentar esquecer tudo o que tem acontecido. Sei que essa não é a melhor escolha, mas, neste momento, é isso ou matar Cristóvão agora mesmo. Então, como preciso ter paciência e
Gregório — Vá, meu filho! Tente superar tudo isso e viva esse amor. Ouça o que este pai tem a dizer: o verdadeiro amor só surge uma vez na vida. Por isso, devemos agarrá-lo com todas as nossas forças e não permitir que nada nos impeça de ser felizes. Você e Brenda erraram muito, mas nunca é tarde para se redimir e recomeçar.Olho para Carlo e apenas o abraço novamente, por um longo tempo, sem dizer uma única palavra. Quando nos afastamos, com lágrimas nos olhos, seguro seu ombro e consigo apenas dizer:— Eu te amo, papai! Obrigada por tudo o que sempre fez por mim, mesmo estando distante.Carlo desaba em lágrimas, tomado pela emoção. O abraço sobre o ombro se transforma em um convite silencioso para que ele me acompanhe até o quarto onde Brenda está. Queremos conversar todos juntos e encontrar uma forma de manter tudo em sigilo, afastando as autoridades de nós. Subimos os degraus quando, de repente, ouvimos gritos e o médico surge desesperado, pedindo socorro.— Corram... RÁPIDO! O m
"Eu erro, eu falho, mas tenho certeza de que podemos consertar tudo juntos. Perdão, amor!"---Brenda OrtizNão consigo entender como ainda estou viva depois de tudo o que me acontece desde que chego a esta ilha. Talvez esta seja a oportunidade que tanto imploro durante todo esse tempo para tentar consertar o mal que cometo ao longo dos anos. Além, é claro, de reconquistar o amor do homem da minha vida.Ver Cristóvão tão transtornado e agindo como um louco me faz pensar que nada nesta vida é mais importante do que a nossa sanidade. Uma sanidade que, por causa da minha ganância, por muito pouco não perco. Preciso me recuperar o quanto antes para procurar minha filha — e tentar conseguir o perdão de todos aqueles que tanto faço sofrer.Meus pais, minhas irmãs, minha filha, Gregorio... e a mim mesma. Hoje, deitada nesta cama, percebo que a maior prejudicada por toda a minha loucura sou eu. Por minha culpa, afasto da minha vida todos aqueles que, mesmo com seus defeitos, me amam e se impo
Brenda Ortiz — Meu amor, eu... ai... ai... ai... me ajuda... — grito, segurando a cabeça que dói intensamente, embora essa dor não se compare à de perder um grande amor.— Brenda? O que houve? O que está sentindo? Se acalme, vou chamar o médico agora mesmo para te examinar — diz Gregório, aproximando-se da cama e segurando minha mão, visivelmente preocupado. Ele ainda me ama. Tenho certeza disso. Se não amasse, não estaria tão abalado.— Será que ainda não percebeu o que eu realmente preciso, Gregório? — digo, olhando-o. Ele engole seco e tenta se afastar.— Pare com essas loucuras, Brenda! Como pode dizer que não precisa de um médico se ainda sente dores na cabeça? Eu tenho que... — ele começa a falar, mas interrompo ao segurar sua mão com força, colocando-a sobre o meu peito esquerdo.— A minha dor está aqui, Gregório... dentro do meu coração. Essa dor me mata, me consome pouco a pouco... O seu desprezo, sua renúncia... estão me destruindo e eu não consigo controlar. Olhe para mim.