Brenda Ortiz — Meu amor, eu... ai... ai... ai... me ajuda... — grito, segurando a cabeça que dói intensamente, embora essa dor não se compare à de perder um grande amor.— Brenda? O que houve? O que está sentindo? Se acalme, vou chamar o médico agora mesmo para te examinar — diz Gregório, aproximando-se da cama e segurando minha mão, visivelmente preocupado. Ele ainda me ama. Tenho certeza disso. Se não amasse, não estaria tão abalado.— Será que ainda não percebeu o que eu realmente preciso, Gregório? — digo, olhando-o. Ele engole seco e tenta se afastar.— Pare com essas loucuras, Brenda! Como pode dizer que não precisa de um médico se ainda sente dores na cabeça? Eu tenho que... — ele começa a falar, mas interrompo ao segurar sua mão com força, colocando-a sobre o meu peito esquerdo.— A minha dor está aqui, Gregório... dentro do meu coração. Essa dor me mata, me consome pouco a pouco... O seu desprezo, sua renúncia... estão me destruindo e eu não consigo controlar. Olhe para mim.
DurvalAlgum tempo depois – Rio de Janeiro, Hospital Central— Está tudo bem com você, amor? — pergunto, notando Maria um pouco distante.— Estou bem, meu amor. Melhor, impossível, vendo você totalmente recuperado e, enfim, podendo sair desse hospital — responde ela, colocando as mãos sobre o meu rosto e me dando um beijo. Mas sinto que algo grave está acontecendo, e por alguma razão Maria tenta esconder de mim. Só que não sou ingênuo, e logo vou descobrir.— Amor, precisamos conversar sobre dois assuntos muito sérios do meu passado — digo enquanto termino de tomar meu café, que, por sinal, tem gosto de nada — como tudo neste hospital.— Assunto sério? Está sentindo alguma dor? Se for isso, fale agora mesmo para eu chamar o doutor — ela pergunta, nervosa.— Calma, meu amor. Já disse que é sobre a minha vida antes de te conhecer. Não tem nada a ver com minha saúde, que, não é por nada, mas estou me sentindo muito bem fisicamente. Posso dizer que até melhor do que antes — falo, mordendo
DurvalAinda abraçados, continuo perguntando, tentando entender melhor toda a situação.— Então você conhecia bem a mãe da Zoe para se afeiçoar assim a ela antes mesmo de ela nascer. É isso, Maria? — pergunto, encarando-a. Ela arregala os olhos, surpresa, e se afasta, como se escondesse algo ainda mais grave.— Conhecia não... Eu ainda conheço, meu amor... Usamos durante anos o mesmo sobrenome... Ortiz — diz ela, e me espanto.— Espera aí... Ortiz? Já ouvi esse sobrenome antes e não é nada comum aqui no Brasil — tento puxar pela memória onde ouvi esse nome e, de imediato, me lembro da mulher que me atendeu quando liguei para a casa da Carmen... Tereza Ortiz. — Tereza Ortiz... essa mulher é a mãe da Zoe? — pergunto, surpreso com a resposta dela.— Tereza era minha cocunhada e avó da Zoe, meu amor. A mãe da Zoe se chama Brenda... Brenda Ortiz Dark — diz Maria, e eu caio sentado na cama.— Brenda Ortiz? A secretária do Gregório? — pergunto, assustado.— Sim. Ela mesma. Mas... como você a
Durval— Isso é jeito de chegar, Celso? Sabe bater na porta, não, cara? Quase me pega com o pau na mão ou dentro da gruta — digo, segurando o riso, enquanto olho para Maria, que está na mesma situação.— Cara, você é um pervertido mesmo. Estamos num hospital, e se não percebeu, essa porta nem maçaneta tem. E qualquer pessoa normal imaginaria que um sujeito que quase morreu estaria sem forças pra essas coisas — diz Celso, sério, sentando-se na poltrona, o que só aumenta minha vontade de rir.— Um homem normal, Celso. Mas esse definitivamente não é o caso do seu irmão — comenta Maria, fingindo timidez, mas rindo por dentro mais do que eu.— Sem palavras pra isso, viu? Mas deixa pra lá, Maria. E aí, já estão prontos? — pergunta Celso.— Prontíssimos! A médica até trouxe a papelada da minha alta. E você precisava ver, Celso… uma gata! — digo, e Maria me dá um tapa na cabeça.— Durval... me respeite, homem! Ou não aceito mais seu pedido de casamento — diz Maria, e Celso arregala os olhos,
Durval Montreal Estamos nos aproximando da entrada do hospital quando ouço uma voz atrás de nós chamando por alguém. Meu coração acelera no mesmo instante e, ao me virar para confirmar minhas suspeitas, fico paralisado. Maria segura firme a minha mão, já entendendo o que está acontecendo.Celso para, se aproxima e segura meu ombro, dizendo:— Seja forte, irmão, e não desista agora. O destino está te dando outra oportunidade para recuperar o tempo perdido. Ao que tudo indica, esse é o teu filho. Vai lá falar com ele.— Quer que eu te acompanhe, meu amor? — pergunta Maria.— Não precisa, minha vida. Esse momento deve ser apenas dele e meu.— Você tem razão. Boa sorte, meu amor! Não se esqueça de que te amo e estarei sempre aqui com você. — diz ela, me dando um beijo rápido e um abraço apertado.— Boa sorte, irmão! — deseja Celso, colocando a mão no meu ombro. Eu apenas balanço a cabeça, afirmando em silêncio.Respiro fundo, tentando reunir forças para dar esse passo tão importante: con
DurvalFico paralisado diante do que vejo. Ainda não compreendo como Carmen consegue se recuperar tão rapidamente. Quando estive na clínica psiquiátrica, ela estava em um estado deplorável, agindo como se fosse insana. Agora, vê-la tão lúcida, forte e com um olhar imponente me deixa boquiaberto.Olho para Jorge, que parece tão surpreso quanto eu. Ele a abraça, mas logo se afasta. Ao que tudo indica, o relacionamento entre eles não é tão bom quanto eu imaginava. Mas isso são apenas suspeitas — algo que só poderei confirmar mais adiante.Fujo dos meus pensamentos e digo:— Carmen? É você mesma? — pergunto, assustado, sem acreditar que é realmente minha irmã diante de mim.— O que foi, Durval? Por que está me olhando como se tivesse visto um fantasma? — ela diz, sorrindo, enquanto retira os óculos escuros e os guarda na bolsa.— Me perdoe, minha irmã, mas quando fui visitá-la na clínica, você estava tão mal... Nem me deixaram falar com você. E agora, vê-la assim, tão bem, é surreal — dig
Maria Leblanc Não entendo o que está acontecendo comigo para desmaiar com tanta facilidade. Nunca tive nenhum problema de saúde, mas, desde que chego ao Brasil, é a segunda vez que isso acontece. Talvez seja por tudo o que descubro — e, claro, pelo acidente com Durval — que me sinto tão frágil. Não vejo outro motivo para isso.Tento abrir os olhos, mas uma dor forte na cabeça e as pálpebras pesadas me impedem de entender onde estou.— Meu Deus! Esse não é o melhor momento para eu ficar acamada. Um turbilhão de acontecimentos lá fora e eu aqui, imóvel nessa cama... Durval e, principalmente, Zoe precisam de mim. Ajude-me a sair desse lugar o mais rápido possível. Preciso conversar com Tereza e contar tudo o que sei. Tenho certeza de que ela me ajudará a proteger minha Raio de Sol — penso, enquanto continuo tentando abrir os olhos para entender o que realmente está acontecendo.Permaneço por alguns instantes com os olhos fechados, imaginando estar sozinha. Mas logo percebo passos próxim
Brenda Ortiz Alguns dias se passaram desde aquela tragédia. Ontem, realizamos os sepultamentos de Cristóvão e Estêvão no mausoléu da família. Gregório permanece pensativo e introspectivo durante todo o dia. Eu o compreendo e, por isso, dou o espaço que ele precisa. Cada pessoa reage à morte de forma diferente: alguns choram, outros gritam, há quem negue, e há os que, como Gregório, preferem o isolamento.Já estamos há algum tempo aqui na ilha, e minha recuperação surpreende até os médicos. Pouco a pouco, retomo as forças, e com os cuidados do meu amor, tudo acontece de forma muito mais rápida. Hoje, o doutor remove os pontos do ferimento na minha cabeça, e as dores cessam. Apenas um leve desconforto na coluna persiste por conta das fortes pancadas que sofro, mas nada que algumas sessões de pilates não resolvam.Gregório e eu conversamos cada vez mais sobre nossas vidas — e, principalmente, sobre nosso futuro juntos. O pedido de divórcio já está em andamento e, ao que tudo indica, em