BrendaHoras depoisDesperto, aparentemente no mesmo lugar, ouvindo vozes alteradas e uma forte discussão. E para variar, era em italiano— Uscire! D'ora in poi tocca a me.(Saia! Agora fica por minha conta!) — Estêvão diz.— Si signore! Ma cosa succede se si presenta? Cosa devo fare?(Sim senhor! Mas, e se ele aparecer? O que faço?) — Cristóvão pergunta.— Stupido! Quello che facciamo sempre... mentire!(Estúpido! O que sempre fazemos... mentir!) — Estêvão grita.— Ma è un padrino intelligente e non accetterà alcuna risposta. E abbiamo ancora Carlo che è già sospettoso.(Mas, ele é esperto padrinho e não vai aceitar qualquer resposta. E ainda temos o Carlo que já está desconfiado.) — Cristóvão fala arqueando a sobrancelha.— Merda! Lascia che Carlo si prenda cura di me. Tuo fratello non è così intelligente come pensi, altrimenti non sarebbe caduto nelle grinfie di quel demone in forma di donna e avrebbe già scoperto che eri tu l'assassino di Nancy. Quindi basta stupidità e fai come
Brenda Em frações de segundo, vejo toda a minha vida passar diante dos meus olhos. Saio das lembranças e devaneios com a voz firme e respondo ao maldito Estêvão: — Gregório não pensa como você. Ele me ama de verdade e vamos nos casar em breve, goste você ou não! — Casar? — o maldito gargalha. — Não me faça rir, belíssima. Meu afilhado é casado, e assim vai continuar até o dia em que eu permitir — diz ele, sorrindo. Respondo de imediato, tremendo por dentro, mas sem demonstrar: — Você está atrasado com as notícias. Ele já pediu o divórcio e, em breve, será um homem livre. Vamos nos casar, e ninguém vai nos impedir. Nem mesmo você, Dom Estêvão! Ele aperta meu maxilar com força, empurrando minha cabeça para trás. O encaro fixamente, tomada por uma repulsa que se espalha pelo meu corpo. Ele aproxima o rosto do meu, me empurra contra a parede e deixa sua boca a milímetros da minha. Tento virar o rosto, mas ele segura com mais força, machucando minha boca por dentro, e diz, olhando fu
Gregório Saio daquela maldita delegacia mil vezes pior do que entrei. Ainda não consigo acreditar em tudo o que ouço sobre a Brenda. Como ela consegue mentir dessa maneira? E o pior de tudo: como eu me deixo levar por ela? Entro no carro, e Rubens vem logo em seguida, falando sem parar no meu ouvido. Já estou sem paciência, e ouvir sua voz torna tudo ainda pior.— Caralho! Será que dá pra calar a porra da boca, Rubens? — grito, tentando localizar o Carlo pelo celular.— Gregorio, antes de ser seu advogado, também sou seu amigo. Só desejo o seu bem. Essa mulher te roubou, tentou matar o Jorge, e você quer jogar a tua ira em cima de mim, como se eu fosse o culpado por toda essa imundície? — diz Rubens, e fico ainda pior.— Mas que caralho! Não percebe que estou nervoso nessa merda? Ainda não acredito que ela foi capaz de fazer tudo isso bem debaixo do meu nariz, sem que eu percebesse porra nenhuma! — grito, olhando para a estrada e lembrando de tudo o que passamos horas atrás. Como ela
Mais de 15 horas depoisIlha de Paranea / Sicília - ItáliaGregórioO jatinho pousa suavemente na pista privada da ilha de Paranea. Ajusto os punhos da camisa antes de me levantar, mantendo a expressão impassível. Cada movimento é calculado antes mesmo de eu dar o primeiro passo fora da aeronave. Pittore abre a porta, e desço com calma, sentindo a brisa salgada tocar meu rosto. Meus olhos, escondidos pelos óculos escuros, vasculham o entorno. Cada detalhe é armazenado como uma peça de um quebra-cabeça que ainda estou montando.— Il signore Carlo lo aspetta nella villa. — informa Pittore.(“O senhor Carlo o espera na vila.”)Apenas assinto e sigo até o carro que me leva à propriedade. No trajeto, reviso mentalmente tudo o que já descobri. Cada detalhe da traição de Brenda agora é uma peça da minha estratégia. Não ajo por impulso. Ira cega. Aprendi isso cedo demais. Agora, o jogo exige frieza, planejamento e execução cirúrgica.Ao chegar à vila, desço do carro sem pressa. A propriedade
Gregório— Eu te explico tudo em outro momento, meu filho. Mas, por favor, acalme-se! Eu sou seu verdadeiro pai! — diz Carlo, aproximando-se, tentando tirar a arma da minha mão. Mas minha fúria é imensa, e tudo o que quero agora é encontrar aquela bandida ordinária da Brenda.Me afasto de Carlo e passo por cima do corpo de Cristóvão, que geme de dor, caído no chão. Paro diante dele, encaro-o e, friamente, piso com a ponta da bota sobre o ferimento em sua coxa. Rosno:— FILHO DA PUTA! A sua sorte é que tenho algo mais urgente pra resolver e não posso perder tempo com um cachorro miserável como você. Mas já deu pra perceber que eu não estou mais de brincadeira — e muito menos sou o otário de antes, que tinha medo de matar alguém. Já viu o demônio alguma vez na vida, irmãozinho do caralho?Cristóvão me encara com os olhos esbugalhados, gritando de dor, enquanto aumento a pressão do pé em sua perna. O ferimento escurece na hora. Enfio o cano da arma no ferimento em seu ombro, fazendo o sa
"Se eu errar, que seja por muito, por amar demais, por me entregar demais, por ter tentado ser feliz demais."— Clarice Lispector********Gregório — Brenda? Acorda! Que merda aconteceu aqui? Você está toda machucada! — ajoelho-me diante de seu corpo, colocando as mãos sobre a cabeça, ainda com a arma em punho. É então que percebo uma poça de sangue ao seu redor.Puta merda! Ela está sangrando muito. Será que aquele maldito atirou nela?Acredito que não tenha chegado a tanto, não por falta de coragem, mas por falta de tempo. Mas não vejo sequer uma marca de tiro em seu corpo. Com certeza ele deu uma coronhada na cabeça dela quando ouviu minha voz, tentando impedi-la de gritar por socorro.Apoio sua cabeça na minha perna, afasto seu cabelo para o lado e a olho rapidamente. Sua boca está machucada. Suas pernas e braços estão vermelhos, inchados. Olho ao redor do cômodo e vejo algumas cordas jogadas no chão, próximas à cama. Sua roupa, que era branca da última vez que a vi, está irrecon
Gregório Saio dos meus pensamentos com sua voz fraca. — Eu nunca fui amante do seu irmão, meu amor. Nunca tivemos nada. Ainda há muitas coisas que preciso te contar. Ele está mentindo para te machucar, porque sempre te invejou. Mas eu te amo, e sempre vou te amar, mesmo você me desprezando... O que sinto por você é verdadeiro... Você é a maior verdade da minha vida. Ela derrama algumas lágrimas, faz uma pausa buscando fôlego e continua: — Eu menti muito... Eu errei... Mas, quando estava nos seus braços, eu me entreguei por inteira a você, meu amor... Só com você eu me sinto completa... Só nos teus braços eu me sinto mulher... Por favor, não me rejeite... Eu preciso de você e sei que também sente minha falta, porque vejo nos seus olhos que ainda me ama e quanto está sofrendo. Você é o único e grande amor da minha vida... Me perdoa, Gregório... Me perdoa, meu amor... Eu te imploro... Eu preciso do seu perdão... Ela fala com dificuldade, chorando sem parar. Tenta se levantar, mas s
"O amor verdadeiro é mais forte que o vento: invade qualquer janela ou porta aberta. Não deixa nada pelo caminho. Entra com tudo e muda a vida por completo."****Gregório Subo as escadas desesperado, como um louco, com a arma em punho. Pittore toma a dianteira e entra no quarto, disparando vários tiros em sequência. O desgraçado do padrinho tenta fugir a todo custo, mas nossos homens correm em seu encalço. O quarto tem acessos para várias partes da ilha, e com todas aquelas rotas de fuga, que ele conhece bem, escapar é fácil demais.Minha maior preocupação é com possíveis vítimas, então grito:— PITTORE, CUIDADO! — exclamo, aflito.Ao abrir a porta, vejo um corpo caído. É a empregada que cuidava da Brenda. O maldito padrinho acertou um tiro certeiro em sua cabeça. Ela morre na hora.Continuo avançando pelo quarto, que mais parece um cenário de guerra. Todos os móveis estão destruídos, e, ao olhar para a cama, vejo Brenda coberta de sangue.Dou um grito:— BRENDAAAA, NÃOOOOOO!Corro