Brenda OrtizHoras antes de ir para a empresaSentada na poltrona, olhando para o espelho, me amaldiçoo.Burra! Mil vezes burra.Foi por tão pouco... tão pouco... que ainda não acredito que eu, Brenda Ortiz, não consegui tê-lo ao meu lado, nos meus braços e, principalmente, na minha cama.Passei a madrugada inteira acordada, me revirando entre os lençóis, pensando nele, lembrando do seu toque e sentindo seu perfume impregnado no meu corpo de uma maneira única. Isso me causa a pior sensação possível: a maldita saudade de algo nunca vivido.Tudo poderia ser tão fácil para nós dois, mas ele sempre estraga tudo. Se não fosse por sua maldita consciência, teríamos tido uma noite inesquecível nesses lençóis.Mas não... Como sempre, você foge e se esquiva, Gregório. Por quê? Por que você é tão diferente dos outros homens? Por que precisa tornar tudo ainda mais difícil?Um fogo arde dentro de mim apenas por pensar em você ou sentir seu perfume. Odeio tudo o que me faz sentir apenas com um olha
Brenda Ortiz É mais do que evidente o quanto Gregório mexe comigo e reacende sentimentos que eu jurava estarem mortos. Mas, durante esta madrugada, percebo que nada é tão fácil quanto imaginei.Todo aquele teatro, com direito a falsas lágrimas, foi meticulosamente planejado com a ajuda de João, fazendo com que Gregório viesse ao meu encontro imediatamente. No entanto, todas as minhas expectativas se desmancham diante das suas atitudes.João, como sempre, é perspicaz e sabe bolar as melhores estratégias para que tudo aconteça como eu desejo. Mas estou com um pé atrás com ele, principalmente por suas atitudes suspeitas. Ainda tenho contas a acertar com esse abusado, pois tenho certeza de que ele me traiu ao entregar as cartas da minha filha, Zoe, para Cristóvão. O motivo dessa traição, logo descobrirei.Ontem, porém, não era o momento certo para discutir ou colocá-lo contra a parede. Mas, certamente, sua hora de responder pelos seus atos e afrontas vai chegar. E coitado do Joãozinho...
BrendaÉ ele. O maldito Cristóvão está bem atrás de mim, com sua ousadia de sempre. Esse maldito cismou comigo, e pelo visto, não vai desistir tão cedo. Maldição!Por que em meu caminho sempre tem que existir um obstáculo? Já consegui me livrar de muitos outros, mas esse verme, ao que tudo indica me dará trabalho para fazê-lo desaparecer para sempre.Me afasto o quanto posso, mas a sala é minúscula, e logo não há mais para onde fugir. Deixo cair os papéis no chão e fecho a tampa da copiadora de uma só vez, fazendo um grande ruído. Só não é ouvido por todos porque o desgraçado já havia fechado a porta.Engulo em seco e me abaixo para pegar as folhas, quando sinto um puxão forte no meu cabelo. Meu corpo é virado à força, minha bunda pressionada contra o pau nojento daquele verme. Parece um déjà vu. Entro em pânico só de imaginar o que pode acontecer a seguir.Não! Isso não!Esse homem tocar em mim novamente, é o mesmo que morrer. Tento escapar, mas é quase impossível diante da força
Brenda OrtizLembro de João no mesmo instante, mas não falo nada. Apenas continuo ouvindo aquele desgraçado falar.— Surpresa, vadia? Deve estar se perguntando como soube de tudo isso, não é? Isso só serve para você perceber que comigo não se brinca. E outra, somente a morte poderá me tirar do seu caminho.Ele tem razão. Apenas a morte me livrará desse fardo. Afinal, os mortos não falam.Enquanto ele continua despejando suas ameaças, eu traço meus planos.— É, Brenda... Você já percebeu que não tem para onde fugir. Está presa e cercada por todos os lados. Então, não falte a esse encontro, vagabunda, ou eu te mostro tudo o que sou capaz de fazer com aqueles que não cumprem minhas vontades. E começarei por onde mais dói: seu querido papai.Ele fala friamente, mencionando meu pai com um sorriso no rosto. Isso me faz odiá-lo ainda mais.— Desgraçado! Maldito! Eu te mato! Juro que te destruo como um verme se ousar mostrar a foto da minha filha para alguém ou, pior ainda, tocar no meu pai!
Durval Em frente à Montreal Laticínios Ao telefone — Celso? — Fala, irmão! Conseguiu ler todo o dossiê? — Celso responde rapidamente. — Sim! Tu não imagina o que descobri, cara. — O desgraçado é mesmo teu pai? — Ele pergunta, ansioso como sempre. — Tudo indica que temos algum parentesco. Mesmo que ele não seja meu pai, é ao menos meu tio. — Afirmo. — Como você tem certeza disso? Por ironia do destino, estou cara a cara com Estêvão Delfiori. A semelhança é absurda. — O cara está bem na minha frente e se parece muito com meu pai quando era jovem. Talvez esse seja o motivo de tanta semelhança comigo. Mas hoje mesmo vou tirar isso a limpo. — Falo, sem tirar os olhos do meu alvo. — Como? — Peguei as digitais dele num copo de café que ele deixou na recepção da empresa. Vou fazer um exame de DNA. — Onde você está, Durval? — Na Montreal Laticínios. Vim conversar com Gregório, e foi a melhor decisão que tomei. Agora consigo descobrir quem é esse maldito padrinho.
"Houve um tempo em que sentiAmor e ódio, mas você era minhaVocê era a única razão de fazerOs meus olhos sorrirem várias vezesE apenas sinto que agora este medo está me consumindo por dentro"(Another Day - Michelle Morrone)☆☆☆☆Ainda na empresa...Sala de Reuniões...Gregório Montreal — Brenda tem muitos compromissos nesta empresa nestes dias e não pode aceitar o seu convite, padrinho. Ramon também está doente e precisa que ela esteja em casa. Não é mesmo, Brenda? — falo, mas ela sequer me olha.Parece chateada pelo que aconteceu hoje cedo. Apenas confirma minhas palavras, mas, desafiadora, encara diretamente meu padrinho.— Isso é verdade, senhor Delfiori. Meu pai está muito doente e hoje é o meu primeiro dia na empresa. Melhor adiarmos esse jantar para outro dia. — Sua voz é firme, mas seus olhos cruzam os meus por um instante antes de desviar, me fazendo imaginar mil coisas.A voz insistente do senhor Estêvão me arranca dos meus pensamentos:— Mas acredito que ao menos um caf
"E não sei por que outra pessoa está na sua cabeçaE isso me faz sentir que estou ficando louco"(Trecho de Another Day - Michele Morrone)❤️Gregório Montreal Saio da sala de reuniões decidido a dar um fim nessa palhaçada e definir de uma vez por todas nossa situação.Passo pelo corredor como um furacão e derrubo uma bandeja de café das mãos de um dos funcionários, tamanha é a minha fúria.— Senhor... senhor...Ouço a voz de Olga, mas não dou ouvidos e continuo pelo corredor até minha sala. Abro a porta de uma só vez e a tranco imediatamente, fazendo com que meu pecado se assuste e derrube todos os papéis que segura. Ela me olha alarmada e tenta falar:— Senhor... O que...Não a deixo terminar. Derrubo tudo que está sobre sua mesa e a seguro pela cintura, sentando-a sobre o móvel. Seguro seu rosto com minhas mãos, olho no fundo de seus olhos e afirmo:— Você é minha nesse inferno e não será de mais ninguém. Chega dessa brincadeira de sedução, café ou maldito vinho. Nenhum homem cheg
Brenda Ortiz No restaurante— O que houve, belíssima? — Estêvão pergunta ao notar que estou trêmula após derrubar a taça de vinho no chão.— Estou sentindo algo estranho, uma sensação de que algo ruim aconteceu. Quero ir embora! — falo angustiada, sentindo uma pontada estranha no peito, como há muito tempo não sentia.A última vez que tive essa sensação, soube imediatamente que Zoe havia sido atropelada ao atravessar a rua correndo, sem olhar para os lados, apenas para pegar sua boneca. Mesmo tendo sido uma péssima mulher ao abandonar minha própria filha, sempre sinto quando ela está em perigo. Não sei explicar por que isso acontece, mas é sempre assim.Preciso ligar para minha tia Maria e saber como estão as coisas por lá. Mas só posso fazer isso quando estiver trancada no meu quarto, na mansão. Ninguém pode desconfiar de nada sobre meu passado, muito menos do meu segredo.Saio dos meus pensamentos com a voz tranquila e carinhosa de Estêvão.— Acalme-se, belíssima! Tome um pouco d'á