Brenda Ortiz No restaurante— O que houve, belíssima? — Estêvão pergunta ao notar que estou trêmula após derrubar a taça de vinho no chão.— Estou sentindo algo estranho, uma sensação de que algo ruim aconteceu. Quero ir embora! — falo angustiada, sentindo uma pontada estranha no peito, como há muito tempo não sentia.A última vez que tive essa sensação, soube imediatamente que Zoe havia sido atropelada ao atravessar a rua correndo, sem olhar para os lados, apenas para pegar sua boneca. Mesmo tendo sido uma péssima mulher ao abandonar minha própria filha, sempre sinto quando ela está em perigo. Não sei explicar por que isso acontece, mas é sempre assim.Preciso ligar para minha tia Maria e saber como estão as coisas por lá. Mas só posso fazer isso quando estiver trancada no meu quarto, na mansão. Ninguém pode desconfiar de nada sobre meu passado, muito menos do meu segredo.Saio dos meus pensamentos com a voz tranquila e carinhosa de Estêvão.— Acalme-se, belíssima! Tome um pouco d'á
Durval MontrealMinutos Antes do AcidenteAo menos uma boa notícia terei para dar às minhas princesas hoje. Desde que cheguei ao Brasil, só tenho recebido uma bomba atrás da outra. Mas, por fim, consegui fechar esse negócio e comprar aquela belíssima casa à beira-mar em Búzios. Assim como eu, tenho certeza de que elas ficarão radiantes quando souberem da novidade. Não vejo a hora de chegar para contar e comemorar com a minha gostosa."Hi... por falar nela, olha só quem está me ligando! Realmente, não conseguimos ficar tanto tempo longe um do outro. Sempre foi assim desde o dia em que nos conhecemos", penso, apertando o botão lateral do fone e atendendo logo em seguida.— Durval? Amor? Onde você está? — Antes que eu possa dizer qualquer coisa, minha Maria dispara.— Já estou a caminho de casa, amor. Fui resolver alguns assuntos sobre minha irmã e acabei me atrasando um pouco, mas logo chegarei — digo, sorridente.— Está tudo bem com você? Tudo bem mesmo? — Ela pergunta, aflita.— Sim,
Brenda Ortiz Nunca sinto tanto medo e assombro com a possibilidade de perder alguém como agora. A cada instante que o carro faz a curva no retorno e seguimos para o hospital, meu coração acelera. Estou aterrorizada com tudo isso e não sei o que fazer se algo pior acontecer a Gregório. Sinto-me culpada por ter aceitado o convite de Estêvão e tenho certeza de que, se tivéssemos ido embora juntos, nada disso teria acontecido. Sem contar o fato de que o desaparecimento de Gregório justamente no momento em que estávamos saindo foi, no mínimo, suspeito. Será que esse homem ao meu lado no carro foi o causador dessa desgraça? E, se foi, o que ele fez para que Gregório não viesse atrás de nós para impedir nossa saída? Não, Brenda. Pare de maquinar coisas que não existem, a não ser na sua mente. Balanço a cabeça, tentando afastar tais pensamentos, e olho desconfiada para Estêvão, buscando respostas para tudo o que está acontecendo. Eu o amo... Amo Gregório com todas as minhas forças. Des
Meu Deus, tira essa angústia do meu peito. Protege e guarda o meu Durval. Não permitas que nada de ruim aconteça. Não sei o motivo dessa aflição, mas, desde que chegamos a este país, sinto-me mal e sempre impaciente com tudo. Sempre suspeitei que vir para o Brasil não era uma boa opção, mas, para não contrariar Durval, acabei concordando e fingindo estar feliz. No fundo, já desconfiava de que era um grande erro.Penso nisso enquanto olho pela janela e percebo a noite se aproximando. Estou mais ansiosa do que nunca por sua chegada.Estamos longe um do outro há poucas horas, mas parece uma eternidade. Toda essa angústia faz surgir interrogações na minha mente que me atormentam há anos.Por que nunca consegui dizer toda a verdade sobre Zoe para Durval?Por que escondi que não sou sua mãe legítima, mas sim sua tia?Agora sinto essa aflição e esse medo de revelar a verdade, temendo que Durval nunca me perdoe. Perdê-lo seria o mesmo que decretar minha morte.Eu o amo desde o primeiro instan
Maria LeBlanc Saio dos meus pensamentos, tomada pela ira. Em seguida, aciono o botão "off" para finalizar o programa e fecho a tela do notebook com força. Zoe me olha com seus olhinhos brilhantes e, com sua voz doce, diz:— O que houve, mamãe? Está nervosa porque o papai ainda não chegou? — Ela segura sua boneca e se aproxima de mim.— Não houve nada, meu raio de sol. É só coisa de adultos. Mas você não deve se preocupar com isso. — Falo, sentando-a no meu colo e acariciando seus cabelos encaracolados, que brilham como raios de sol.— Ser adulto é complicado, né, mamãe? — Ela me olha nos olhos e toca meu rosto com suas mãozinhas suaves.— A vida é muito fácil de ser vivida, meu amor. Nós, adultos, é que complicamos um pouco as coisas. Mas já disse para a senhorita não pensar nessas coisas, viu? — Digo, fazendo cócegas em sua barriga. Ao parar, ela fala:— Quando crescer, quero encontrar um amor igual ao seu e do papai. Meu papai parece até um príncipe, de tão lindo, mamãe! Eu quero u
Maria LeBlanc No HospitalChegamos ao hospital algum tempo depois. Renato nos deixa na entrada enquanto vai estacionar o carro. Assim que descemos, vou direto buscar informações na recepção. Uma enfermeira muito atenciosa, chamada Clara, me atende e explica que a situação de Durval é complicada. Com a batida, ele sofreu uma forte lesão cervical e está em coma induzido para tentar reduzir o inchaço na região. Eu não entendo absolutamente nada e logo disparo:— Eu não entendo esses termos médicos! Seja clara comigo, por favor. Meu marido corre risco de vida?— Ele não corre risco de vida, senhora, mas pode perder a mobilidade das mãos, das pernas ou até mesmo do corpo inteiro — responde Clara, com um olhar preocupado. Me agarro em Zoe, buscando a força de que preciso naquele momento.— Em outras palavras, ele pode ficar paraplégico? É isso que está tentando me dizer? — pergunto, engolindo seco.— Sinto muito, mas, infelizmente, sim.— Meu Deus... Não... Não pode ser... O meu Durval não
"Cuidado com algumas escolhas: Ganância leva ao egoísmo... e egoísmo leva à solidão."(Karina Perussi)☆☆☆BrendaSaio do hospital sentindo que minha cabeça está prestes a explodir. Primeiro, por ter visto aquela menina linda e imaginar que poderia ser minha filha. Segundo, por quase cair nas garras do maldito Cristóvão. Esse desgraçado se diverte me atormentando, me cercando por todos os lados como uma fera selvagem.Mas ele não perde por esperar. Quando menos imaginar, sua hora vai chegar. Agora, porém, não tenho tempo para isso. Preciso aproveitar ao máximo esse momento a sós ao lado de Gregório, que é o único...Ele saiu do hospital antes mesmo de receber alta. Disse que se sentia bem e, por isso, não havia necessidade de permanecer ali. Achei estranho, mas vindo de um homem como ele, não é surpresa que quisesse deixar aquele lugar o mais rápido possível, antes que algum intrometido registrasse o ocorrido e estampasse seu nome na capa dos jornais da cidade.Gregório me convida par
Brenda Véspera de Ano Novo Na empresa Já faz vários dias que Gregório sequer olha direito para mim. Continuo indo todos os dias para a empresa, mas ele contratou um motorista de aplicativo particular para ficar à minha disposição. Falamos apenas o essencial durante o expediente, e ele até mudou seu escritório temporariamente para a sala de reuniões, deixando todo o espaço apenas para o meu uso até que a obra da minha sala seja concluída. Resumindo: ele está me dando um gelo. Ou melhor, um iceberg depois de tudo o que aconteceu naquela madrugada. Isso me causa uma grande dor. Tenho chorado todas as noites por conta de seu desprezo e, por essa razão, comecei a usar óculos, inventando uma falsa conjuntivite apenas para esconder meus olhos inchados, que nem mesmo a maquiagem consegue disfarçar. Agora já passa das onze da manhã e, como é véspera de Ano-Novo, teremos meio expediente. No restante do dia, haverá uma confraternização entre os funcionários, uma espécie de amigo oculto trad