A pequena floresta de eucaliptos era muito menos hostil do que a mata atlântica originária da região, mas, apesar de ser um problema ambiental, serviria de abrigo para os viajantes. O afastamento entre as árvores e a inexistência de arbustos permitira que os reboques fossem levados, um por vez e manualmente, para uma área no interior da vegetação que não pudesse ser vista da rodovia.
Mesmo sem sinal de que choveria naquela noite, uma lona tinha sido esticada e amarrada às árvores, por sobre as bicicletas e carretas, servindo como um abrigo completo. Mas Raul não estava embaixo do abrigo. Tinha se sentado no chão, com as costas encostadas em uma das árvores. Margarida e Letícia apoiavam as cabeças em cada uma de suas curtas pernas. As amigas tinham estendido lençóis por sobre a terra, para evitar pequenos insetos e a possível sujeira do ch&at
Quando a professora chegou ao supermercado que sua colega Claudia indicara, imaginou que receberia notícias de um confronto com o bando assassino e do seu consequente extermínio. A segurança que sentia na infalibilidade de seu plano era tamanha que, em nenhum momento, pensou em checar a localização de Margarida no aplicativo. Para sua surpresa, tudo tinha saído completamente diferente do esperado. Maura estava trancada em um quarto, esperando seu próprio julgamento. Depois de tecer sua história cheia de fatos distorcidos e convencer Claudia da monstruosidade do grupo, sem ter para onde ir e receosa de ficar sozinha por muito mais tempo, Maura decidiu que o melhor a se fazer seria esperar anoitecer, evitando ter que dar mais explicações para a colega ou qualquer
De frente para o espelho, sem os óculos escuros, Barão Samedí espalhava tinta branca por sobre o rosto, com os movimentos rápidos e precisos de quem faz a mesma tarefa dia após dias, pintando a caveira por sobre a face.Maman Brigitte se aproximou por trás, lentamente, colocando as mãos por sobre os ombros de seu companheiro. Começando a massagear lentamente. O Barão interrompeu os movimentos da pintura e deixou os próprios braços pendendo ao lado do corpo, apreciando o carinho e dizendo:- Você também está sentindo, não é?Como não obteve resposta, além da continuação da massagem, virou o corpo e encarou atentamente sua amada, antes de repetir a pergunta:- Essa atmosfera estranha, de que as coisas estão fora do caminho, você está sentindo?Brigitte tirou as mãos dos ombros do Bar&ati
De frente para o espelho, sem os óculos escuros, Barão Samedí espalhava tinta branca por sobre o rosto, com os movimentos rápidos e precisos de quem faz a mesma tarefa dia após dias, pintando a caveira por sobre a face.Maman Brigitte se aproximou por trás, lentamente, colocando as mãos por sobre os ombros de seu companheiro. Começando a massagear lentamente. O Barão interrompeu os movimentos da pintura e deixou os próprios braços pendendo ao lado do corpo, apreciando o carinho e dizendo:- Você também está sentindo, não é?Como não obteve resposta, além da continuação da massagem, virou o corpo e encarou atentamente sua amada, antes de repetir a pergunta:- Essa atmosfera estranha, de que as coisas estão fora do caminho, você está sentindo?Brigitte tirou as mãos dos ombros do Bar&ati
Os cabelos repletos de tranças do homem negro barbado estavam desgrenhados e seu rosto lavado em suor. A expressão em seu rosto, com os olhos arregalados e a boca aberta, era de completa confusão. La Croix se agitava na cadeira, desconfortável, tentando cobrir com a mão a sua rígida nudez.Maman Brigitte gargalhava estridentemente com uma mão na boca, dando tapas na própria coxa com a outra e batendo o pé no chão. Acontecimento raro, apesar da revolta sentida segundos antes ao descobrir que o irmão possuía bonecos ritualísticos com a imagem de La Croix, o que significava que também possuía um seu, Cemetière ria um sonoro ‘há há há’, balançando para cima e para baixo os seus ombros magros. Samedí esboçava um sorriso sádico e encarava o irmão, esperando que ele compreendesse o que estava acontecendo.<
Barba reduziu a velocidade, guiou o carro em direção ao acostamento e engatou a marcha ré, pois, durante a discussão com Maura, enquanto decidia se acreditaria ou não na professora, passara do ponto mais próximo de entrada na mata.A movimentação estranha com o veículo acordou Jackson que, sobressaltado, olhou para todas as direções, tentando entender o que acontecia. Sem encontrar nada fora do normal, perguntou:- A gente chegou? Cadê eles?Com o braço passado por trás do encosto do acento de Jackson e o corpo virado para trás, o homem barrigudo respondeu, enquanto continuava sua marcha ré:- Maura viu um movimento ali no mato, a gente vai checar o que pode ter sido.Sentada no banco de trás e acompanhando a conversa, a professora achou interessante a resposta de Barba. Tudo bem eles terem desconfiança um em relaç&ati
“Se tudo é um absurdo e eu não tenho controle sobre nada, por que continuar tentando viver? Se as pessoas que continuam em seus próprios corpos de carne e osso não passam de joguete nas mãos de deuses e entidades sobrenaturais, o que serão daqueles como eu, que se tornaram fantoches com alma? Se, mesmo seguindo as orientações de Barão Samedí, continuamos sendo perseguidos, caçados e abatidos, um por um, sem misericórdia e sem ao menos entender o motivo pra isso tudo, o que aconteceria se ao invés de fugir, começássemos a revidar? De certo seríamos punidos com mais desventuras.”.O orangotango encarava o céu, com os olhos abertos e sem piscar, mas não respondia aos puxões e cutucões de Margarida. Exasperada, a psicóloga tentava forçar a memória, tentando se lembrar de como tinham trazido Letí
Barba foi pego de surpresa com o início rompante da sinfonia e, como reflexo, seu corpo entrou em modo defensivo, com as pernas um pouco flexionadas, a esquerda um pouco à frente, segurando a chave de roda com as duas mãos ao lado da cabeça. A música vinha de todas as direções, impedindo que o homem barrigudo conseguisse ouvir, até mesmo, os seus próprios pensamentos. Olhou para todos os lados, procurando entender o que estava acontecendo. Encontrou Maura, do outro lado do acampamento. Seus olhos, tão arregalados que, mesmo à distância, ele conseguia perceber o branco dos globos oculares. A professora ofegava, uma das mãos espalmada no peito e o outro braço pendente, segurando o facão na altura do joelho. No susto, tinha derrubado o aparelho que encontrara.Jackson não teve a mesma presença de espírito que os seus companheiros e, quando a música
Impulsionada pela adrenalina, Margarida inclinou o corpo para frente, com o intuito de começar a perseguir a professora. “Ela pode ser mais flexível e ter conseguido me dar todos aqueles chutes de kung fu, mas quero ver se, descalça ela é mais rápida que eu nesse chão cheio de coisa”, pensou, mas assim que ergueu o calcanhar, ganhando impulso, sentiu a mão macia de Letícia fechar em seu pulso.A psicóloga olhou para Letícia e, mesmo vendo um sorriso estático desenhado em seu rosto, sabia que ela estava lhe dizendo alguma coisa, mas não conseguia ouvir, impedida pela música ensurdecedora. Percebendo a inutilidade de suas palavras, a boneca de pano apontou em direção ao combate entre Jackson e Raul, no momento em que o homem barrigudo se aproximava.Margarida sacudiu o braço, soltando a mão da amiga e, mesmo sabendo que estava longe