De frente para o espelho, sem os óculos escuros, Barão Samedí espalhava tinta branca por sobre o rosto, com os movimentos rápidos e precisos de quem faz a mesma tarefa dia após dias, pintando a caveira por sobre a face.
Maman Brigitte se aproximou por trás, lentamente, colocando as mãos por sobre os ombros de seu companheiro. Começando a massagear lentamente. O Barão interrompeu os movimentos da pintura e deixou os próprios braços pendendo ao lado do corpo, apreciando o carinho e dizendo:
- Você também está sentindo, não é?
Como não obteve resposta, além da continuação da massagem, virou o corpo e encarou atentamente sua amada, antes de repetir a pergunta:
- Essa atmosfera estranha, de que as coisas estão fora do caminho, você está sentindo?
Brigitte tirou as mãos dos ombros do Bar&ati
De frente para o espelho, sem os óculos escuros, Barão Samedí espalhava tinta branca por sobre o rosto, com os movimentos rápidos e precisos de quem faz a mesma tarefa dia após dias, pintando a caveira por sobre a face.Maman Brigitte se aproximou por trás, lentamente, colocando as mãos por sobre os ombros de seu companheiro. Começando a massagear lentamente. O Barão interrompeu os movimentos da pintura e deixou os próprios braços pendendo ao lado do corpo, apreciando o carinho e dizendo:- Você também está sentindo, não é?Como não obteve resposta, além da continuação da massagem, virou o corpo e encarou atentamente sua amada, antes de repetir a pergunta:- Essa atmosfera estranha, de que as coisas estão fora do caminho, você está sentindo?Brigitte tirou as mãos dos ombros do Bar&ati
Os cabelos repletos de tranças do homem negro barbado estavam desgrenhados e seu rosto lavado em suor. A expressão em seu rosto, com os olhos arregalados e a boca aberta, era de completa confusão. La Croix se agitava na cadeira, desconfortável, tentando cobrir com a mão a sua rígida nudez.Maman Brigitte gargalhava estridentemente com uma mão na boca, dando tapas na própria coxa com a outra e batendo o pé no chão. Acontecimento raro, apesar da revolta sentida segundos antes ao descobrir que o irmão possuía bonecos ritualísticos com a imagem de La Croix, o que significava que também possuía um seu, Cemetière ria um sonoro ‘há há há’, balançando para cima e para baixo os seus ombros magros. Samedí esboçava um sorriso sádico e encarava o irmão, esperando que ele compreendesse o que estava acontecendo.<
Barba reduziu a velocidade, guiou o carro em direção ao acostamento e engatou a marcha ré, pois, durante a discussão com Maura, enquanto decidia se acreditaria ou não na professora, passara do ponto mais próximo de entrada na mata.A movimentação estranha com o veículo acordou Jackson que, sobressaltado, olhou para todas as direções, tentando entender o que acontecia. Sem encontrar nada fora do normal, perguntou:- A gente chegou? Cadê eles?Com o braço passado por trás do encosto do acento de Jackson e o corpo virado para trás, o homem barrigudo respondeu, enquanto continuava sua marcha ré:- Maura viu um movimento ali no mato, a gente vai checar o que pode ter sido.Sentada no banco de trás e acompanhando a conversa, a professora achou interessante a resposta de Barba. Tudo bem eles terem desconfiança um em relaç&ati
“Se tudo é um absurdo e eu não tenho controle sobre nada, por que continuar tentando viver? Se as pessoas que continuam em seus próprios corpos de carne e osso não passam de joguete nas mãos de deuses e entidades sobrenaturais, o que serão daqueles como eu, que se tornaram fantoches com alma? Se, mesmo seguindo as orientações de Barão Samedí, continuamos sendo perseguidos, caçados e abatidos, um por um, sem misericórdia e sem ao menos entender o motivo pra isso tudo, o que aconteceria se ao invés de fugir, começássemos a revidar? De certo seríamos punidos com mais desventuras.”.O orangotango encarava o céu, com os olhos abertos e sem piscar, mas não respondia aos puxões e cutucões de Margarida. Exasperada, a psicóloga tentava forçar a memória, tentando se lembrar de como tinham trazido Letí
Barba foi pego de surpresa com o início rompante da sinfonia e, como reflexo, seu corpo entrou em modo defensivo, com as pernas um pouco flexionadas, a esquerda um pouco à frente, segurando a chave de roda com as duas mãos ao lado da cabeça. A música vinha de todas as direções, impedindo que o homem barrigudo conseguisse ouvir, até mesmo, os seus próprios pensamentos. Olhou para todos os lados, procurando entender o que estava acontecendo. Encontrou Maura, do outro lado do acampamento. Seus olhos, tão arregalados que, mesmo à distância, ele conseguia perceber o branco dos globos oculares. A professora ofegava, uma das mãos espalmada no peito e o outro braço pendente, segurando o facão na altura do joelho. No susto, tinha derrubado o aparelho que encontrara.Jackson não teve a mesma presença de espírito que os seus companheiros e, quando a música
Impulsionada pela adrenalina, Margarida inclinou o corpo para frente, com o intuito de começar a perseguir a professora. “Ela pode ser mais flexível e ter conseguido me dar todos aqueles chutes de kung fu, mas quero ver se, descalça ela é mais rápida que eu nesse chão cheio de coisa”, pensou, mas assim que ergueu o calcanhar, ganhando impulso, sentiu a mão macia de Letícia fechar em seu pulso.A psicóloga olhou para Letícia e, mesmo vendo um sorriso estático desenhado em seu rosto, sabia que ela estava lhe dizendo alguma coisa, mas não conseguia ouvir, impedida pela música ensurdecedora. Percebendo a inutilidade de suas palavras, a boneca de pano apontou em direção ao combate entre Jackson e Raul, no momento em que o homem barrigudo se aproximava.Margarida sacudiu o braço, soltando a mão da amiga e, mesmo sabendo que estava longe
Vinicius, o irmão de Letícia, estava deitado na cama, acordado, mas ainda de olhos fechados, esperando, preguiçosamente, que o despertador tocasse para, enfim se levantar e tomar banho. Sentia saudades dos pais e custava a se adaptar àquela nova vida cheia de horários, regras e sanções. Não que os pais fossem muito amorosos ou atenciosos, mas, da forma deles, estavam sempre presentes. Chorou um pouco, como fazia quase todas as manhãs e acabou pegando no sono. Acordou suando, sem entender o motivo de o quarto estar tão quente, logo cedo. Chutou as cobertas para longe do corpo e, estendendo o braço melado de suor, procurou o celular, na tentativa de descobrir o horário, mas, tateando a cômoda vazia, lembrou-se, xingando baixinho: - Cacete, meu celular ainda tá confiscado... A constatação de que o aparelho não estava no quarto e, portanto, não iria despertar às seis horas da manhã, como de costume, veio com um arrepio na espinha. A preguiça desapareceu, como num passe d
Após ouvirem a história de Sérgio que, por conveniência, se apresentara para Jackson e Maura como Barba, o trio da boneca de pano estava reunido em torno do reboque com as bagagens, na floresta de eucaliptos. O itinerário escolhido por Letícia quando deixaram a universidade estava atado, de maneira indissociável, à presença de Jotapê no grupo, afinal, não apenas o próximo destino tinha a intenção de reunir sua irmã ao grupo, como o destino final também era a fazenda do mesmo, mas o artesão fora vítima de uma martelada fatal quando o grupo tentava fugir de seus captores na cidade. Quando Sérgio perguntou sobre o destino do grupo, ninguém soube responder, por ainda não terem tempo para pensar no assunto. Mas agora, com o perigo afastado, era chegado o momento de estabelecerem um novo roteiro. Desde o início da jornada, Raul tinha dúvidas quanto ao seu destino final. O orangotango achava muito interessante a ideia de abandoarem a cidade e viverem todos juntos em