SHARONOlhei através do vidro fosco enquanto girava a bebida no copo. Tudo o que Anastasia disse não parava de ecoar na minha cabeça. Eu ri sem humor e murmurei para mim mesma: — Patético. Aiden nem sequer tentou me acalmar ou pedir minha opinião antes de decidir se envolver em todo aquele processo que ela expôs. Como sempre, ele tomou uma decisão sobre algo que também me dizia respeito sem se importar com o que eu pensava ou deixava de pensar. — Que patético estar apaixonada por um homem assim. Nunca me incomodou tanto, mas dessa vez doeu. Meu coração parecia se partir em dois pela milésima vez, e dessa vez eu não tinha certeza se conseguiria colá-lo de novo. Foi então que percebi que, desde que Aiden e eu nos casamos, sempre pareceu que eu precisava lutar pelo amor dele a cada passo do caminho. Sempre precisava fazer demais para que ele me enxergasse. Sempre sentia como se ela, Anastasia, fosse uma nuvem sobre nossas cabeças, só esperando o momento perfeito para desabar
De qualquer forma, ele era um bom ouvinte, então continuei desabafando: — E sabe de uma coisa? Eu o amava tanto que estava disposta a ignorar tudo isso. Nunca o pressionei ou algo assim, — Soltei um arroto, e nós dois caímos na gargalhada, rindo de verdade. Mas, depois, meu coração que tinha se aquecido com aquela risada boba ficou pesado, sombrio, sozinho, vazio. — Mesmo no nosso casamento, eu nunca tive certeza. Na verdade, muito antes disso tudo, eu já sabia a verdade. Sempre soube que ele amava outra pessoa, mas me forçava a não admitir. Me convencia de que era coisa do passado dele e que eu não precisava focar nisso. Eu dizia a mim mesma que tudo o que eu precisava fazer era olhar para o nosso futuro e torná-lo melhor. Moldá-lo em memórias inesquecíveis. Mas acho que eu estava sendo só... iludida. — Arrotei outra vez, mas dessa vez, nenhum de nós riu. Os olhos de Dennis estavam tão tristes que eu tive a impressão de que a situação dele era bem diferente da minha. Parecia q
AIDENOuvi ela suspirar profundamente. Então disse: — Muito obrigada por ter vindo. Eu realmente agradeço. Fiz um aceno rígido com a cabeça, meus olhos fixos na minha filha. — Bem. — Ela começou de forma desajeitada. — Nos precisamos ir ao médico para que o processo comece imediatamente. Soltei um suspiro pesado. Sim, o processo. Era por isso que eu estava aqui… a razão pela qual ela foi forçada a me contar que tinha uma filha minha… o único motivo pelo qual me permitiram conhecer minha própria filha era porque ela estava à beira da morte. Senti meu interior começar a ferver de raiva mais uma vez. Ao mesmo tempo, a facada da traição e da dor ainda estava lá, cravada em mim. Com um último olhar para Amie, engoli toda a raiva e apenas assenti. — Vamos, então. Precisávamos começar imediatamente, para que tudo isso, para que eu ser apresentado à minha filha não fosse em vão no final das contas. Ela foi na frente. O caminho até o consultório foi silencioso, tenso. Mas sobr
AIDENOs sons patéticos dos meus soluços cessaram quando senti os dedos dela se mexerem contra os meus. Rapidamente enxuguei as lágrimas do rosto e ergui a cabeça. Os olhos dela estavam bem abertos, me encarando. Por um segundo, apenas encarei de volta. Ela estava mesmo acordada ou era só o que eu queria enxergar? Ela piscou. Eu sorri. Apertei levemente sua mão entre as minhas. Não era ilusão. Ela realmente estava acordada. — Oi. — Falei com a voz rouca. — O cara da caneta. — Ela disse, com a voz fraca e o rosto sério. Meu sorriso se alargou. — Você se lembra de mim. Ela assentiu. — Eu amei a caneta. Ainda amo. Ela ainda está em casa. É minha caneta favorita. A essa altura, já sentia meus olhos marejando de novo. — Fico feliz. — Sem saber bem o que dizer, disparei. — Posso te trazer mais, se quiser. Quantas? Uma dúzia? Duas? Um pacote inteiro? Revirei minha memória tentando lembrar onde tinha comprado a caneta, para poder conseguir mais para ela. Ela sorriu su
ANASTASIA— Ele não é meu pai! Ouvi Amie dizer em um tom defensivo bem na hora em que voltei para o quarto.Eles ainda não tinham notado minha presença, então fiquei parada, observando enquanto Aiden se enrijecia e não dizia nada. Pareciam estar em uma espécie de disputa de olhares. O olhar de Amie estava carregado de hostilidade, e Aiden… ele parecia derrotado.A enfermeira, finalmente percebendo a tensão no ar, gaguejou ao tentar encontrar algo para dizer, olhando de uma para o outro. No fim, murmurou um envergonhado:— Entendi.Lancei um olhar para a enfermeira. Talvez ela tenha feito alguma pergunta que provocou essa reação da Amie. Talvez, por nunca ter visto Aiden antes, tenha perguntado se ele era o pai.Mas não a culpei. Ela era nova por ali, provavelmente não conhecia nem a mim, nem ao Dennis.Talvez a culpa fosse minha. Ah, quem eu queria enganar? A culpa era minha. Eu devia ter dado um jeito de explicar para Amie que ela tinha outro pai além do Dennis. O pai por quem ela se
ANASTASIAEu encarei Amie, que me olhava fixamente, esperando pela minha resposta.Eu não fazia ideia do que dizer. Eu não podia dizer a ela que Aiden não era seu pai, não mais. Não depois dele já ter dado a entender isso. Eu não podia dizer que ele não era seu pai para depois, no futuro, contar que o homem que eu disse que não era o pai dela, na verdade era.Isso seria estúpido. E seria mentir. Sempre ensinava a Amie a não mentir, mas que exemplo eu estaria dando?Além disso, Aiden provavelmente nem gostaria disso. Isso poderia deixá-lo furioso. E eu não podia correr o risco de ele voltar atrás na decisão de ajudar.Mas seria o momento certo para contar? Fisicamente, ela já estava sofrendo, e seria cruel submetê-la ao turbilhão emocional que essa revelação traria. Por mais que fosse algo que, cedo ou tarde, ela teria que enfrentar, mas eu não podia fazer isso agora. Eu não queria que fosse agora.Ela conhecia o Dennis como pai. E, por enquanto, eu queria manter assim.— Mamãe? O papai
ANASTASIAEu estava exausta, principalmente mentalmente, quando finalmente cheguei em casa. Arrastando os pés até a porta, comecei a listar mentalmente as coisas que precisava fazer. Separar alguns livros de pintura para Amie...Depois que tentamos ligar para Dennis e ele não atendeu, Amie concordou que ele poderia mesmo estar ocupado com o trabalho, como eu tinha dito.Então ela disse: — Você vai pra casa hoje, né? Quando chegar, fala pra ele que tô morrendo de saudade! E pede pra ele trazer meus materiais de pintura quando vier. Eu sempre fico entediada quando não estou dormindo. — Depois sorriu animada. — E eu prometi que ia desenhar uma coisa pra ele.Aproveitei isso como uma chance de animá-la e implorei para saber o que ela ia desenhar, mas ela não quis contar. Só disse: — É um segredo entre meu papai e eu.Suspirei e parei em frente à porta. Tentei destrancar, mas, para minha surpresa, já estava aberta.Dennis já voltou? Meu coração se aqueceu. Ele ter escolhido voltar mais c
SHARONEsfreguei os olhos enquanto soltava um bocejo.Forcei a vista para a planilha na tela, mas quanto mais eu encarava, mais as palavras e os números se embaralhavam e mais pesadas minhas pálpebras ficavam.Estava com medo de ir para a cama, porque toda vez que fechava os olhos, tudo o que eu via era Aiden e Anastasia, cheios de carinho um com o outro.Cada momento em que eu ficava à toa era tomado por pensamentos dos dois juntos. Eu não queria ter esses pensamentos. Não queria imaginar que meu marido seria pai da filha de outra mulher.Desde que aquela bruxa voltou para nossas vidas, eu não tinha mais notícias de Aiden. Não sabia nem se ele voltou pra casa, porque a primeira coisa que fiz na manhã seguinte à minha noite de bebedeira foi reservar um voo, arrumar minhas coisas e deixar o país.Havia deixado meu negócio aqui e voado direto para Aiden sem pensar duas vezes. Quem ficou no comando da empresa até que fez um bom trabalho, mas eu não estava satisfeita.Eu não queria algo ap