ANASTASIAMordi meu lábio enquanto encarava o prédio à minha frente. TasteTech Inovações, li as letras em negrito na fachada. Nada havia mudado desde que eu saí. Claro que não. O que eu estava esperando? Só se passaram alguns meses, não anos, afinal.Respirei fundo, tentando me acalmar, e forcei meus pés a se moverem para dentro do prédio e encontrar Aiden. O tempo não estava esperando por mim.Dois dias. Foram necessários dois dias inteiros até eu finalmente conseguir falar com Aiden. No começo, seu secretário me ignorou, dizendo que ele nem sabia quem estava falando.— Eu não te conheço e você não pode simplesmente ter acesso ao meu chefe assim. O que você quer?Suspirei. — Eu só preciso muito falar com o CEO, por favor.— Está procurando emprego? Não temos vagas.E então, a linha foi cortada.Mas eu não desisti. Liguei de volta imediatamente. Mesmo à meia-noite, eu não parava de ligar. Ele me bloqueou e eu passei a usar o número do Dennis até que, finalmente, na noite do segundo di
Olhei para ele e vi suas sobrancelhas franzidas, um misto de confusão e preocupação girando em seus olhos enquanto me encarava como se eu tivesse perdido o juízo.— Ana, você está bem? — Ele perguntou, preocupado. — Quem é Amie?— Sua filha.A preocupação desapareceu, suas sobrancelhas se descruzaram, mas seus olhos se encheram de ainda mais confusão.— Minha filha? Eu tenho uma filha?Engoli em seco. Desde o nascimento da Amie, eu já tinha vivido esse momento mil vezes na minha cabeça e temi cada segundo disso. Esse medo só piorou quando ele se tornou nosso chefe e eu sempre me preocupei que ele pudesse descobrir e levá-la de mim. Mas depois que me casei com o Dennis, achei que não havia mais com o que me preocupar. Mas eu deveria ter sabido...Engoli de novo e assenti. — Sim, você tem.Então, o olhar dele se encheu de descrença, sua boca entreaberta em choque.— Eu tenho uma filha? — Repetiu após um longo silêncio. — Ana, isso é algum tipo de brincadeira de mau gosto?Minha voz vaci
AIDENAna e eu nos viramos para a porta e vimos Sharon parada ali, com os olhos arregalados enquanto lançava um olhar fulminante para Ana.— Mas o que está acontecendo aqui? O que você está fazendo aqui? O que foi que eu acabei de ouvir?Disparou ela, tudo de uma vez, enquanto avançava para dentro da sala.— Quer saber? Nem quero confirmar se ouvi o que acho que ouvi. Não me importa. Saia agora.Ela apontou para a porta, e os olhos de Ana se arregalaram.Ana abriu a boca e a fechou em seguida, incapaz de dizer qualquer palavra, antes de me lançar um olhar pedindo ajuda.Mas eu não disse nada. Tampouco fiz qualquer movimento. Eu ainda estava com raiva dela, e talvez, no fundo, eu também precisasse que ela saísse dali. Assim eu poderia pensar com clareza e processar tudo.Principalmente, eu precisava ficar sozinho, precisava do silêncio para entender o que acabara de descobrir: eu tinha uma filha de seis anos que carregava meus genes e que estava à beira da morte, ou de viver miseravelme
— E daí se essa criança for sua? Por que você acha que ela não poderia estar mentindo? — E o que ela ganharia mentindo? A criança é minha. Eu tenho certeza disso. — Eu não ligo se é sua ou não! — Ela gritou, me encarando com raiva. Sua voz tremia enquanto ela pegava a bolsa que tinha jogado no sofá. — Não me importa o que aconteça, Aiden. Você não vai fazer isso. E se fizer... não vai gostar do que eu vou fazer depois. Ela saiu batendo a porta atrás de si. Eu só esperava que ela não fosse atrás da Ana, como da última vez. Fiquei ali, tentando processar a bomba que Ana tinha acabado de jogar em mim, do nada. Eu não sabia bem o que sentir. Feliz por ter uma filha com Ana? Triste e com raiva porque ela me afastou da vida dessa criança? Minhas emoções estavam um caos. Eu estava dividido quanto a essa história de Irmão Salvador, ainda mais agora que tentava desesperadamente fazer as coisas darem certo com Sharon. Estava me esforçando para esquecer Ana, enterrá-la no passado, m
SHARONOlhei através do vidro fosco enquanto girava a bebida no copo. Tudo o que Anastasia disse não parava de ecoar na minha cabeça. Eu ri sem humor e murmurei para mim mesma: — Patético. Aiden nem sequer tentou me acalmar ou pedir minha opinião antes de decidir se envolver em todo aquele processo que ela expôs. Como sempre, ele tomou uma decisão sobre algo que também me dizia respeito sem se importar com o que eu pensava ou deixava de pensar. — Que patético estar apaixonada por um homem assim. Nunca me incomodou tanto, mas dessa vez doeu. Meu coração parecia se partir em dois pela milésima vez, e dessa vez eu não tinha certeza se conseguiria colá-lo de novo. Foi então que percebi que, desde que Aiden e eu nos casamos, sempre pareceu que eu precisava lutar pelo amor dele a cada passo do caminho. Sempre precisava fazer demais para que ele me enxergasse. Sempre sentia como se ela, Anastasia, fosse uma nuvem sobre nossas cabeças, só esperando o momento perfeito para desabar
De qualquer forma, ele era um bom ouvinte, então continuei desabafando: — E sabe de uma coisa? Eu o amava tanto que estava disposta a ignorar tudo isso. Nunca o pressionei ou algo assim, — Soltei um arroto, e nós dois caímos na gargalhada, rindo de verdade. Mas, depois, meu coração que tinha se aquecido com aquela risada boba ficou pesado, sombrio, sozinho, vazio. — Mesmo no nosso casamento, eu nunca tive certeza. Na verdade, muito antes disso tudo, eu já sabia a verdade. Sempre soube que ele amava outra pessoa, mas me forçava a não admitir. Me convencia de que era coisa do passado dele e que eu não precisava focar nisso. Eu dizia a mim mesma que tudo o que eu precisava fazer era olhar para o nosso futuro e torná-lo melhor. Moldá-lo em memórias inesquecíveis. Mas acho que eu estava sendo só... iludida. — Arrotei outra vez, mas dessa vez, nenhum de nós riu. Os olhos de Dennis estavam tão tristes que eu tive a impressão de que a situação dele era bem diferente da minha. Parecia q
AIDENOuvi ela suspirar profundamente. Então disse: — Muito obrigada por ter vindo. Eu realmente agradeço. Fiz um aceno rígido com a cabeça, meus olhos fixos na minha filha. — Bem. — Ela começou de forma desajeitada. — Nos precisamos ir ao médico para que o processo comece imediatamente. Soltei um suspiro pesado. Sim, o processo. Era por isso que eu estava aqui… a razão pela qual ela foi forçada a me contar que tinha uma filha minha… o único motivo pelo qual me permitiram conhecer minha própria filha era porque ela estava à beira da morte. Senti meu interior começar a ferver de raiva mais uma vez. Ao mesmo tempo, a facada da traição e da dor ainda estava lá, cravada em mim. Com um último olhar para Amie, engoli toda a raiva e apenas assenti. — Vamos, então. Precisávamos começar imediatamente, para que tudo isso, para que eu ser apresentado à minha filha não fosse em vão no final das contas. Ela foi na frente. O caminho até o consultório foi silencioso, tenso. Mas sobr
AIDENOs sons patéticos dos meus soluços cessaram quando senti os dedos dela se mexerem contra os meus. Rapidamente enxuguei as lágrimas do rosto e ergui a cabeça. Os olhos dela estavam bem abertos, me encarando. Por um segundo, apenas encarei de volta. Ela estava mesmo acordada ou era só o que eu queria enxergar? Ela piscou. Eu sorri. Apertei levemente sua mão entre as minhas. Não era ilusão. Ela realmente estava acordada. — Oi. — Falei com a voz rouca. — O cara da caneta. — Ela disse, com a voz fraca e o rosto sério. Meu sorriso se alargou. — Você se lembra de mim. Ela assentiu. — Eu amei a caneta. Ainda amo. Ela ainda está em casa. É minha caneta favorita. A essa altura, já sentia meus olhos marejando de novo. — Fico feliz. — Sem saber bem o que dizer, disparei. — Posso te trazer mais, se quiser. Quantas? Uma dúzia? Duas? Um pacote inteiro? Revirei minha memória tentando lembrar onde tinha comprado a caneta, para poder conseguir mais para ela. Ela sorriu su