AIDENApoiei o cotovelo na mesa e levantei o celular com um gesto que misturava cansaço e resignação. Meus olhos percorriam repetidamente pela pergunta que havia digitado, enquanto, em determinado momento, balancei a cabeça.— Não. Mesmo que seja anônimo, ficará óbvio que sou eu. Pelo menos para quem me conhece.Sem me deixar abater, reformulei a pergunta:‘Tenho um amigo. Ele tem dois filhos com sua primeira paixão, mas ele e ela se separaram por causa de certas circunstâncias. Meu amigo e sua primeira paixão estão ambos casados, porém com pessoas diferentes. Contudo, a filha mais velha não tem ideia de quem é seu pai. Como ele pode dizer à criança que é seu pai sem causar problemas? Afinal, seria aconselhável que ele contasse a verdade?’— Sr. Aiden?Levantei o olhar e, ao encontrar os olhos dos presentes, percebi que todos estavam fixos em mim.— Sim? — Recordei com esforço o que havíamos discutido anteriormente. Ah, sim: a estratégia para vender nosso novo produto.— Todos já deixa
SHARONEu quis acreditar que o médico à minha frente era apenas um homem em uma tela de televisão, um ator, talvez. Imaginava que ele trabalhava como médico só meio período ou que sua verdadeira paixão era a atuação, estando ali para ensaiar falas para uma audição. Mas eram apenas suposições, devaneios que me faziam oscilar entre a dúvida e o desespero.Seu rosto exalava seriedade e não havia vestígio de brincadeira em sua expressão. Ele me revelava uma verdade que eu jamais pensei ser capaz de engolir.— Então você deve cuidar de si mesma e ficar atenta a tudo isso. Espero que você engravide novamente e que não haja aborto espontâneo.As lágrimas começaram a escorrer pelas minhas bochechas, e logo os soluços se fizeram presentes enquanto eu ouvia suas palavras.— Isso não pode estar acontecendo, pensei repetidamente. Como isso pode estar acontecendo?— Está tudo bem, senhora. Está...— Não me diga que está tudo bem. — Sussurrei, com a voz trêmula, pois nada estava bem!— Isso não pode
DENNISMinhas mãos deslizavam distraidamente pelos seus cabelos e pelo braço nu, enquanto um sorriso preguiçoso surgia ao contemplar sua figura adormecida, aconchegada em mim. Vestida com a minha camiseta sem mangas, aquela mesma que eu ajudara a pôr há poucos minutos, ela parecia a mulher mais sexy do mundo.A sensação de paz, tranquilidade, satisfação e felicidade que me envolvia naquele instante era algo que eu desejava eternizar. Eu faria de tudo para que aquilo permanecesse, e até mesmo me empenharia para reconstruir minha estabilidade financeira; perder tamanha quantia para vigaristas jamais seria o fim. Meus bares, sempre lotados, tinham potencial, e eu recuperaria não só aquele dinheiro, mas ainda mais. Somente assim, poderíamos nos mudar para outro país e viver em paz, longe do incômodo de um ex ou de qualquer outra interferência.Enquanto me perdia em pensamentos sobre qual país Ana preferiria, senti meu celular vibrar, independentemente de onde o tivesse deixado. Procurei-o
ANASTASIAApós as sessões de exercícios de hoje, senti-me extremamente rejuvenescida. Depois de fazer uma limpeza leve na casa, deparei-me com um lar praticamente desprovido dos itens essenciais, e a situação era ainda mais preocupante na cozinha. Como Dennis preparava a maior parte das refeições, não me surpreendi ao notar que o recipiente destinado ao armazenamento dos grãos estava vazio – restava apenas uma colher de aveia. Na cozinha, havia apenas os móveis, queijo, leite, água e café.Aproveitei o momento, pois fazia tempo que não saía para fazer compras. Arrumei-me, peguei um táxi e fui direto ao mercado.Enquanto examinava os ingredientes para os biscoitos, ouvi um grito repentino vindo do nada. Eu e os demais clientes nos viramos para observar Nora, minha ex-colega, que me encarava boquiaberta.— Meu Deus! Ana, é você? — Ela gritou do outro lado da sala, e os olhares dos presentes se fixaram em mim.Lhes ofereci um sorriso de desculpas, a deixei no carrinho e o empurrei enquant
ANASTASIATerminei de fazer as compras bem tarde. Havia inúmeras coisas que eu precisava adquirir e o tempo que eu deveria ter dedicado a isso foi desperdiçado pelos meus ex-colegas, que fizeram com que cada minuto se esvaísse. Empurrei meu carrinho até o caixa e entrei na fila. Poucos minutos depois, chegou a minha vez; observei o atendente escanear com eficiência o código de barras de cada item e, em seguida, ele anunciou o valor total das minhas compras com um sorriso discreto. Entreguei-lhe meu cartão, que ele prontamente passou na máquina, devolvendo-o logo em seguida, arrumando as compras e entregando-as a mim.— Obrigada. — Disse enquanto me virava e saía.Meia hora depois, destranquei a porta da frente de casa e entrei. Carreguei tudo para a cozinha e comecei a organizar os itens. De vez em quando, me lembrava do incidente no supermercado e me perguntava, pela enésima vez, como aqueles ex-colegas sabiam de tudo aquilo, já que, mesmo estando em contato o tempo inteiro, detalhes
DENNISForcei-me a dirigir até a igreja de Tabitha, mesmo sabendo que teria de frequentar o lugar mais vezes do que desejava, pois estava ficando cada vez mais difícil manter aquilo longe de Ana. Na maioria dos dias, morria de vontade de contar a ela o que eu estava fazendo, mas não queria levantar suas esperanças caso tudo aquilo se revelasse apenas uma perda de tempo.Eu tinha perguntado quando chegaríamos à parte principal, e bastou isso para que encerrassem as palestras e me apresentassem o verdadeiro trabalho.Desde então, minhas visitas passaram a consistir em um banho após o outro com água fedorenta. Da última vez, a água estava verde e, quando perguntei o motivo, um deles listou a longa relação de ervas que haviam colocado nela. Tive que prender a respiração na maior parte do tempo e apertar os lábios com tanta força para não engasgar com o mau cheiro ou, por engano, engolir aquilo que diabos fosse.Suspirei enquanto estacionei o carro em frente à igreja e só esperava que hoje
TABITHASid bateu a garrafa de cerveja na mesa.— Isso era necessário. — Suspirou ele. — Aquele cara faz tantas perguntas.— Você nem disse como ele nunca deixa de demonstrar seu desinteresse. — Ron balançou a cabeça.— Eu gosto de como ele parece ser difícil de conquistar. Eu me alimento de clientes como esse. — Disse Jon.Todos soltaram um gemido diante das palavras de Jon.Revirei os olhos.— Sabe de uma coisa, Jon? Se lidar com gente teimosa é o que te faz prosperar, por que não considera seguir carreira como terapeuta, hein?Ron riu enquanto se reclinava na cadeira, levantava as pernas e as repousava sobre a mesa.— Ele deveria conciliar ser terapeuta e professor do ensino médio. Os alunos do ensino médio são impossíveis pra caralho.Sid gargalhou.— Concordo com vocês dois. E você, Tabitha, por que não considera uma profissão em tempo integral como a amante do seu chefe?Olhei para cima e encontrei o olhar de Sid fixo em mim.— O quê? — Falei franzindo a testa.Os outros riram.—
SHARONSuspirei enquanto fechava meu laptop, encerrando o dia, e sentindo o peso de um passado que me perseguia desde aquele dia terrível e da descoberta igualmente terrível. Trabalhar de casa tinha se tornado uma prisão, tomada pelo medo de que alguém descobrisse meu segredo e o contasse para o Aiden – a pior forma de ele saber. A alternativa mais segura, agora, seria ser honesta e garantir-lhe que poderíamos ter outro bebê, mas não consegui me forçar a isso; preferi guardar tudo para mim, pelo menos por enquanto… “por enquanto” era o mantra que eu repetia há meses.Tudo ficava cada vez mais difícil. Houve vezes em que ele insistia em me acompanhar ao hospital para as consultas pré-natais, e eu lutava para o convencer de que sua presença ali não era necessária. Numa noite, durante o jantar, quando ele sugeriu que descobríssemos o sexo do nosso bebê, engasguei com a comida – quase tive um ataque cardíaco.— Quero ser surpreendida. — Declarei com firmeza, encerrando minha fala calma e m