Nápoles por anos foi considerada uma cidade suja. Não é a mais próspera da Itália, mas sua economia surpreende. Como toda cidade grande há bairros problemáticos, negligenciados, tomados pelo crime… E há os bairros cuja abundância financeira é apenas um dos motivos para o bairro ser considerado nobre. Além disso, tem um cheiro ruim característico na cidade, afinal, até alguns anos atrás, os Torsello mal conseguiam manter a cidade funcionando e a coleta de lixo era inexistente. Desvio de dinheiro, indiferença dos governantes, eu poderia listar mil motivos pelos quais Nápoles ficou largada literalmente às moscas. Há, inclusive, algumas piadas italianas sobre como Nápoles é suja, o esgoto da Itália. Agora que assumi o cargo de Primo-Uomo, e até antes, quando era o Sposo de Anna Torsello, vejo que é minha responsabilidade t
— Menos resíduos, mais fácil de carregar e não requer tanta limpeza, para você que é um maldito maníaco. — Apresentei para Daniel o rifle de primeira, Sabatti ST-18, que eu tinha comprado especialmente para ele com todos os acessórios. O porta-malas do carro estava repleto de cases, os quais me orgulhei de mostrar. — E, claro, uma Beretta personalizada para o tornozelo e outra, comum, que você tem que me prometer, seu desgraçado, vai deixar ao alcance quando estiver na cama.—
A solidão pode ser a companhia perfeita para um homem de coração amargurado e eu não me importava. A garrafa de Jack Daniels estava pela metade na mão esquerda. Puxei o gargalo e levei até a boca, deixando o líquido amargo escorrer.A lápide estava na minha frente, fechada, cimentada, contendo roupas sujas, um drone e um maldito rifle que custava uma fortuna.— Droga, Daniel. — A língua enrolou, mas eu não me importei que estava bêbado e me deitei sobre o túmulo retangular de cimento simples. Era o mais perto que eu conseguia chegar daquelas memórias. — Se você estivesse aqui, seria tão mais fácil.— Decadência, hein, Benito. — Ouvi uma voz conhecida. — Bêbado, se esfregando numa lápide... Acho que essa história é pior que a das meias vermelhas!— Liam, me deixe.&md
Naquela sala não havia um homem que não estivesse impressionado com a pesquisa que havia sido desenvolvida. Eu olhava para aqueles papéis espalhados na mesa de centro do pequeno apartamento de Perugia com aflição corroendo a alma.Nero, o homem dos olhos de gelo, se adiantou, pegando um documento em cima daquilo tudo.— James Blackwell. — Camilo Hunter, o ex-marido do homem que eu amo incondicionalmente, deixou o nome escapar, reconhecendo aquela busca. Nero olhou para ele lançando uma careta de dúvida, uma emoção forte para um homem tão controlado... Mas todos n&oac
Decidimos que, por pior que fossem as notícias, Matthieu deveria ficar em Siena com sua suposta irmã gêmea, Cassidy; a garota era um clone e ainda não compreendíamos que tipo de projeto ela fazia parte, mas certamente Matt estava disposto a descobrir. Ele, Camilo e Dylan ficaram responsáveis por localizar a AEES.Eu só tinha um objetivo: reencontrar o “homem sem identidade” e descobrir sobre ele, mas Nero, por sua vez, estava disposto a localizar outros clones e eu sabia muito bem os motivos: ele queria programar Kyle.exe em qualquer outro com quem pudesse viver um romance, algo doentio na minha opinião.Acho que somos todos doentes.— A Confraria Vass-Dragovich é uma das entidades mais antigas e inimigas da Giostra, não é irônico que seja ela por trás da AEES? — Nero mexeu o café, a colher prateada tilintou contra a cerâmica de baixa qua
Era cedo. Nas escadarias da grandiosa Mansão Mantovani avistei Liam, meu primo, com um espalhafatoso casaco de pele sintética imitando leopardo por cima de uma camiseta que nem era dele, e calça jeans.Desci do carro, contornei e abri a porta. Ele desceu a escada, saltitante, e o perfume doce e feminino invadiu minhas narinas. Oh, Liam!— Que parte de seja discreto você não compreendeu?
— Como vamos entrar em Sarajevo se é domínio da Kosava? — Liam empurrou sua bolsa vermelha para o bagageiro e sentou-se ao meu lado, tomando o assento do corredor na primeira classe. — Diga-me que você tem um contato.— Tenho, claro. — Dei um sorriso e fechei o visor do celular, cansado de olhar para aquela imagem de Daniel e ficar sonhando com seus lábios macios. — Vamos chamá-lo de Donovan.— Foi alguém que você conheceu no Navio? — Liam coçou o queixo e ficou me analisando.— Exatamente. Fazia parte de nossa equipe, teve um colapso emocional e pediu dispensa, é claro que nunca completou o treinamento, mas ele também me deu uma rota de fuga de volta para a Itália, quando as coisas deram errado — suspirei com chateação, guardando o celular desligado no bolso.— Você nunca me contou sobre o Navio,
— Ai, acho que estou apaixonado. — Liam saltou do carro com um grande suspiro, ajeitando suas roupas no corpo.— Cristo. — Revirei os olhos, joguei o cigarro no chão e amassei com o pé, por entre as folhas úmidas. — Não vou conseguir dormir nunca mais depois de ouvir os urros que vocês deram e como o carro se balançou.— Não fizemos nada que você nunca tenha feito com o gracinha do Pierluigi, meu bem. — Liam sorriu, as bochechas avermelhadas do sexo com Donovan. Não acredito que ele teve — Sou o Mainframe.— Nero destruiu o mainframe. — Franzi a testa, deslizei as mãos pelas roupas que estava vestindo e apaguei o cigarro em cima da mesa de reuniões. — A AEES pegou fogo e Matthieu fugiu, ele mesmo contou sobre isso.— Ele destruiu um computador de controle, repetidor de sinal, mas eu sou o Mainframe, Benito. — Ele me encarou sério, eu pude ver a verdade em seus olhos azuis. Deu a volta na sala e sentou-se na cadeira que antes estava Trevor. Ao redor, as câmeras monitoravam o exterior da instalação do hangar, olhei rapidamente, não vi nada e me concentrei no que ele estava me falando. — Não tenho um nome e, se tenho, nunca ninguém se esforçou em dizer. Usava o nome que me davam e foram muitos, tantos… Até que não podiam mais me controlar e fiquei preso em uma mesa cirúrgica, com o soro do esquecimento pingand• • •「 Capítulo 06 」• • •