A noite saía exatamente como planejada.
Ela era longa, cheia de músicas, passos sincronizados, beijos na boca, drinks e uma possibilidade real de terminar com um nascer do sol na beira da praia, o que fazia meu corpo todo vibrar de excitação.
Era a noite mais feliz da minha vida eu me sentia livre, capaz de qualquer coisa e totalmente segura de que coisas boas estavam reservadas para mim a partir daquele momento.
Eu dançava no meio da pista sem me importar com absolutamente nada, quando de repente alguém pegou meu braço, puxando-me para longe do DJ.
— Luísa!!! Bricie chegou!! — gritou Renata em meu ouvido.
Olhei ao redor e Bricie estava acompanhado por um amigo que reconheci na hora, era Júlio, um dos meninos da nossa turma.
Apesar de nunca ter falado com ele nos intervalos das aulas, sempre me pareceu ser gente boa e estava sempre na dele.
Não se misturava com qualquer um e andava com um grupinho de três meninas, da qual uma delas era apaixonada por ele.
Assim como Bricie, Júlio também jogava basquete, mas não era de time algum. O seu histórico escolar não era tão bom, pois ele já tinha cursado o terceiro ano e fora reprovado.
Vinha de um colégio militar, onde alguma coisa que não sabíamos aconteceu, e precisou refazer o terceiro ano, além disso, assim como eu e Renata, ele e Bricie eram melhores amigos.
Eu poderia esperar tudo, menos que o garoto mais popular da escola aparecesse com Júlio na comemoração do meu aniversário, pois além de não sermos próximos, não cogitei a ideia de chamá-lo, embora estivesse feliz por eles terem ido.
Isso mostrava ao menos algum tipo de interesse e consideração.
— Parabéns de novo, Luísa!! — exclamou Bricie com um copo de cerveja na mão. — Esse aqui vocês já conhecem, né? Júlio!!!
O barulho da música era tão alto, que Bricie praticamente precisou gritar no meu ouvido. Olhei para o seu amigo e sorri gentilmente, que por sua vez, se aproximou dando-me dois beijinhos no rosto e felicitações pelos meus dezoitos anos.
— Obrigada!! Que bom que vocês vieram!!! — disse com as palavras embaralhadas por causa das bebidas que tinha consumido.
Renata também os cumprimentou reciprocamente.
— Vocês topam ir lá para baixo? Aqui está muito cheio!!!
De fato, a danceteria estava lotada e mal dava para andar ou conversar. Bricie e Júlio foram abrindo caminho pela pista de dança, onde dezenas de pessoas se esbaldavam e se beijavam.
Logo atrás deles, eu e Renata os seguíamos.
Quando finalmente encontramos uma mesa confortável e longe da aglomeração, percebi que estávamos em quatro e não sabia se tinha sido proposital. Olhei para minha amiga, que não escondia sua admiração por Bricie, enquanto eu, tentava parecer o máximo que podia, sóbria.
— Eu estava pensando em comer uma pizza. O que vocês acham? Colocar alguma coisa no estômago antes de começar a beber oficialmente.
Sem hesitar, concordamos com a ideia genial de Bricie, mesmo tendo certeza de que era nítida a minha embriaguez.
Júlio continuou quieto, observando o movimento à sua volta, esperando que pudesse interagir em algum momento. Nós não tínhamos assuntos em comum e por um momento a mesa ficou silenciosa, com cada membro olhando para um lado diferente.
— Vocês chegaram cedo aqui? — Foi Júlio quem finalmente quebrou o silêncio.
— Ah, sim! Deve ter umas duas horas...— E vieram só vocês duas?— Sim! — respondi rapidamente. — Chamei o Bricie...— Em cima da hora. — Ele me interrompeu e sorrimos.— Já pedi desculpas por isso! Além disso, ele trouxe você... — Minhas palavras saíram com ar de provocação sem que eu quisesse.— Ahh, sim. Eu nem ia vir, na verdade. — Júlio devolveu à altura, fazendo com que eu o olhasse desafiadoramente.— E por que veio?Renata me cutucou por debaixo da mesa e Bricie soltou um sorriso no canto da boca se divertindo com as alfinetadas.
— Porque eu não tinha nada para fazer!
Nesse momento, Bricie chamou o garçom para pedir a pizza que ele e Raquel tinham escolhido, no entanto, eu e Júlio nos encaramos por alguns segundos, para depois relxar e entrar no seu jogo.
Percebi que ele também tinha relaxado e não demorou para que o quarteto começasse a interagir mutuamente sobre os assuntos do colégio, da maioridade, dos planos para o futuro e da noite que estava apenas começando.
.....O chão começava a esquentar debaixo de mim e eu não conseguia mexer nenhum membro do meu corpo. Para a minha infelicidade, Júlio ainda não tinha me reconhecido. Ele se aproximou, a sua testa sangrava e sua respiração ofegava. Suas mãos estavam trêmulas e seus olhos pareciam perdidos no meu corpo, avaliando o meu estado. Procurou alguma coisa no bolso da calça, mas não encontrou, enquanto as pessoas em volta falavam palavras ofensivas para ele. — Você avançou o sinal!!— Não mexa nela!— Ele está sangrando! Muita gente falava ao mesmo tempo e eu só conseguia pensar que bem na minha frente estava o meu querido Júlio. Eu ti
— E então, o que pretende fazer daqui pra frente? — perguntou Júlio mostrando interesse na minha resposta. — Eu ainda não sei. Ainda não me decidi...— Qual a dúvida? — insistiu. — Eu ainda não sei... Ainda não me decidi... — repeti a frase, dessa vez mais desanimada, o que fez com que ele tirasse o quarto copo de bebida da minha mão. — Acho que você já bebeu um pouquinho demais, aniversariante. Não acha?— Eu não sei.... Ainda não me decidi... — Renata, Bricie e Júlio agora davam gargalhadas do meu estado e senti pela primeira vez que o álcool provocava dentro de mim, um efeito oposto da alegria que me contagiava horas antes. Pela primeira vez, todas as minhas frustrações, dúvidas, medos e inseguranças eram instigadas, o que consequentemente me deixava deprimida. &n
Senti uma mão quente no meu rosto e abri os olhos cuidadosamente. Era Júlio com o semblante preocupado e cheio de culpa. — Não durma, por favor... Mantenha-se com os olhos abertos. Mantenha-se acordada — ele pedia angustiado. Ahh se eu conseguisse falar... Diria para que não se preocupasse, pois não dormiria mais. Pretendia ficar ali em seus braços, olhando para seu rosto aproveitando cada segundo de seu toque. As pessoas que antes pronunciavam palavras acusatórias, agora mantinham-se longe. Apenas um burburinho era ouvido ao fundo. Júlio que estava ajoelhado ao meu lado, sentara no chão colocando uma camisa enrolada embaixo do meu pescoço, protegendo minha cabeça do asfalto que esquentava rapidamente devido ao calor. Olhei para aquele homem tomado por adrenalina, querendo que soubesse tudo o que eu estava sentindo e o modo como o buraco dentro do meu coração com nosso término estava sendo preenchido novamente de boas recordações,
As sextas-feiras nunca mais foram as mesmas. Eu, Renata, Bricie e Júlio estávamos sempre no Vulgar, que passou a ser nossa parada obrigatória e tendo Júlio como o único motorizado do quarteto, assumiu a responsabilidade de nos levar para casa no final da noite. Eu passei a ter uma grande admiração pelas sextas. Tudo era muito divertido, engraçado, além de minha paquera sempre entreter-me com assuntos interessantes. Durante a semana na escola, passamos a sentar juntos e conversávamos por horas sem perceber o tempo passar. As aulas, pela primeira vez, estavam interessantes e mais produtivas, pois ele agora me ajudava em química e biologia e eu o ajudava em redação. Apreciava tudo que vinha de Júlio, principalmente o fato dele me ver de forma diferente dos demais. A ânsia de conhecer o que o rodeava exigia de mim uma dedicação em tempo quase integral e a recíproca também era verdadeira. O trio de meninas que antes o cercava nos intervalo
Uma sirene alarmou a todos. O barulho vinha de longe e ficava cada vez mais perto. — Está chegando... aguente firme — disse Júlio tentando manter-me acordada A verdade é que não importava quanto tempo a ambulância levasse até a mim, pois eu apenas desfrutava da única coisa que desejei a vida inteira: Estar novamente perto de Júlio. Eu poderia jurar que todas as minhas dores físicas seriam indiferentes ao que acontecia. Nem mesmo a fome que me consumia minutos antes incomodava mais, embora eu ainda fizesse um esforço sobre-humano para continuar com os olhos abertos e atenta ao que acontecia ao meu redor. Júlio, por sua vez, também participava ativamente do cabo de guerr
Após a primeira crise na casa de Júlio que quase culminou no nosso término, finalmente tínhamos conseguido superar o ocorrido.Ansiava por falar com Mayara que tomou parte na discussão com Sandra e quando conseguimos enfim nos rever, fomos almoçar na casa de Renata, que achou importante ficarmos em um ambiente mais íntimo e somente de meninas.- Mayara... Me desculpe pelo o que aconteceu na casa de Júlio.- Deixa de ser boba. Não tem que me pedir desculpas por nada. - Ela disse com seu jeito descontraído.- Claro que tenho... - Insisti.- Luísa... Acho que ninguém podia imaginar que aquilo
Passamos por um longo corredor com paredes repletas porta retratos pendurados, registrando inúmeros momentos em família. Eu e papai estávamos em todas elas.- Sua madrinha é muito gente boa! - Disse Júlio observando as fotos, enquanto eu concordava com a cabeça.Antes de subirmos a escada que dava para os quartos, fui atraída pelo cheiro que vinha da cozinha.- Vem.. Vou te apresentar a uma pessoa maravilhosa. - Disse para Júlio que me seguia cuidadosamente.Quando adentramos a cozinha, abracei Marie, cozinheira da minha madrinha há pelo menos dez anos que mexia algo na panela sem perceber minha chegada.Uma m
Depois de colocarmos as devidas vestimentas para explorar o campo, eu e Júlio descemos animadamente as escadas e nos deparamos com o escritório.- Vem.. Vou te mostrar uma coisa. - O puxei para dentro da dependência.Quando adentramos, ele parecia em estado de estase.- O que são esses quadros? - Indagou observando de perto o realismo da pinturas.- Você já leu alguma coisa de José de Alencar?- Sim... O Guarani, eu acho.- Então olha esse aqui !Tio Gilberto era um aficionado pelo escritor clássico José de A