— E então, o que pretende fazer daqui pra frente? — perguntou Júlio mostrando interesse na minha resposta.
— Eu ainda não sei. Ainda não me decidi...
— Qual a dúvida? — insistiu.— Eu ainda não sei... Ainda não me decidi... — repeti a frase, dessa vez mais desanimada, o que fez com que ele tirasse o quarto copo de bebida da minha mão.
— Acho que você já bebeu um pouquinho demais, aniversariante. Não acha?
— Eu não sei.... Ainda não me decidi... — Renata, Bricie e Júlio agora davam gargalhadas do meu estado e senti pela primeira vez que o álcool provocava dentro de mim, um efeito oposto da alegria que me contagiava horas antes. Pela primeira vez, todas as minhas frustrações, dúvidas, medos e inseguranças eram instigadas, o que consequentemente me deixava deprimida. &nSenti uma mão quente no meu rosto e abri os olhos cuidadosamente. Era Júlio com o semblante preocupado e cheio de culpa. — Não durma, por favor... Mantenha-se com os olhos abertos. Mantenha-se acordada — ele pedia angustiado. Ahh se eu conseguisse falar... Diria para que não se preocupasse, pois não dormiria mais. Pretendia ficar ali em seus braços, olhando para seu rosto aproveitando cada segundo de seu toque. As pessoas que antes pronunciavam palavras acusatórias, agora mantinham-se longe. Apenas um burburinho era ouvido ao fundo. Júlio que estava ajoelhado ao meu lado, sentara no chão colocando uma camisa enrolada embaixo do meu pescoço, protegendo minha cabeça do asfalto que esquentava rapidamente devido ao calor. Olhei para aquele homem tomado por adrenalina, querendo que soubesse tudo o que eu estava sentindo e o modo como o buraco dentro do meu coração com nosso término estava sendo preenchido novamente de boas recordações,
As sextas-feiras nunca mais foram as mesmas. Eu, Renata, Bricie e Júlio estávamos sempre no Vulgar, que passou a ser nossa parada obrigatória e tendo Júlio como o único motorizado do quarteto, assumiu a responsabilidade de nos levar para casa no final da noite. Eu passei a ter uma grande admiração pelas sextas. Tudo era muito divertido, engraçado, além de minha paquera sempre entreter-me com assuntos interessantes. Durante a semana na escola, passamos a sentar juntos e conversávamos por horas sem perceber o tempo passar. As aulas, pela primeira vez, estavam interessantes e mais produtivas, pois ele agora me ajudava em química e biologia e eu o ajudava em redação. Apreciava tudo que vinha de Júlio, principalmente o fato dele me ver de forma diferente dos demais. A ânsia de conhecer o que o rodeava exigia de mim uma dedicação em tempo quase integral e a recíproca também era verdadeira. O trio de meninas que antes o cercava nos intervalo
Uma sirene alarmou a todos. O barulho vinha de longe e ficava cada vez mais perto. — Está chegando... aguente firme — disse Júlio tentando manter-me acordada A verdade é que não importava quanto tempo a ambulância levasse até a mim, pois eu apenas desfrutava da única coisa que desejei a vida inteira: Estar novamente perto de Júlio. Eu poderia jurar que todas as minhas dores físicas seriam indiferentes ao que acontecia. Nem mesmo a fome que me consumia minutos antes incomodava mais, embora eu ainda fizesse um esforço sobre-humano para continuar com os olhos abertos e atenta ao que acontecia ao meu redor. Júlio, por sua vez, também participava ativamente do cabo de guerr
Após a primeira crise na casa de Júlio que quase culminou no nosso término, finalmente tínhamos conseguido superar o ocorrido.Ansiava por falar com Mayara que tomou parte na discussão com Sandra e quando conseguimos enfim nos rever, fomos almoçar na casa de Renata, que achou importante ficarmos em um ambiente mais íntimo e somente de meninas.- Mayara... Me desculpe pelo o que aconteceu na casa de Júlio.- Deixa de ser boba. Não tem que me pedir desculpas por nada. - Ela disse com seu jeito descontraído.- Claro que tenho... - Insisti.- Luísa... Acho que ninguém podia imaginar que aquilo
Passamos por um longo corredor com paredes repletas porta retratos pendurados, registrando inúmeros momentos em família. Eu e papai estávamos em todas elas.- Sua madrinha é muito gente boa! - Disse Júlio observando as fotos, enquanto eu concordava com a cabeça.Antes de subirmos a escada que dava para os quartos, fui atraída pelo cheiro que vinha da cozinha.- Vem.. Vou te apresentar a uma pessoa maravilhosa. - Disse para Júlio que me seguia cuidadosamente.Quando adentramos a cozinha, abracei Marie, cozinheira da minha madrinha há pelo menos dez anos que mexia algo na panela sem perceber minha chegada.Uma m
Depois de colocarmos as devidas vestimentas para explorar o campo, eu e Júlio descemos animadamente as escadas e nos deparamos com o escritório.- Vem.. Vou te mostrar uma coisa. - O puxei para dentro da dependência.Quando adentramos, ele parecia em estado de estase.- O que são esses quadros? - Indagou observando de perto o realismo da pinturas.- Você já leu alguma coisa de José de Alencar?- Sim... O Guarani, eu acho.- Então olha esse aqui !Tio Gilberto era um aficionado pelo escritor clássico José de A
Na mesa de angelim vinda diretamente do sul do país e fabricada artesanalmente, o que era de grande orgulho para tio Gilberto já que cabia pelo menos dez pessoas, nos sentamos para que o almoço fosse servido e quando o leitão a pururuca foi trazido, Júlio quase não conseguiu disfarçar a sua surpresa.O animal estava encolhido devidamente assado, com uma maçã vermelha brilhante na boca e galhos de alecrim que o enfeitavam. A sua volta, estavam tomates e pimentas colhidos diretamente da hortaTodos a mesa quando avistaram o prato principal, suspiraram em uníssono com a beleza da comida. Em seguida, o arroz e o feijão tropeiro também foram postos em uma bela panela de barro, acompanhados pela farofa de linguiça.
Não era duas da manhã quando o aconchego nos braços de Júlio me fez querer ir para o quarto, embora o dia tivesse sido muito proveitoso e eu estivesse disposta a aproveitar o luau, meu corpo suplicava por descanso, afinal na manhã seguinte os planos estavam voltados para levar meu namorado até a nascente do rio que cercava toda a propriedade.- Vamos para o quarto? - perguntei sabendo que Júlio aceitaria sem hesitar, pois ele parecia mais cansado do que eu.No entanto, nos despedimos do meu tio Gilberto, da minha madrinha e de meu pai, já que as crianças dormiam unidas dentro de uma barraca próxima.Eles conversavam animadamente sobre assuntos aleatórios, enquanto o cooler de cerveja er