Capítulo 02

Eu acabei pegando minha filha no hospital, porque não tive coragem de deixar uma menininha tão pequena sozinha. Já fazia dois meses que Luna tinha vindo ao mundo, semana passada fizemos o batizado dela. Todos a adoravam. Acordei exatamente às 3:00hrs de madrugada de hoje com o choro da minha pequena por ter ouvido um barulho de chuva.

- Que foi, meu bebê? – Peguei-a no colo e balancei-a delicadamente. – Calma, mamãe está aqui, vai te proteger, mesmo longe, vai te proteger.

Isso, é o que você está mesmo se perguntando, eu ainda não desisti de dar a minha pequena, mesmo com Vic e sua mãe insistindo para eu ficar com ela.

- Desculpe a mamãe pelo o que vou fazer hoje, meu amor. – Peguei um casaco do cabideiro, coloquei com dificuldade, já que fiquei segurando Luna.

Fui para a sala de jantar e na mesa de vidro coloquei uma cestinha e a forrei com um cobertor, coloquei um travesseirinho e coloquei Luna dormindo calmamente de novo dentro dele, o que me fez sentir culpada por fazer isso, fechei os olhos e segurei sua mão, que apertava meu dedo com força. Enrolei-la em dois cobertorzinhos e dei um profundo beijo em sua testa e sussurrei em seu ouvido:

- Mamãe te ama muito, nunca se esqueça disso, ok?

Fiquei olhando Luna por mais um tempinho até que sentei em uma cadeira pegando o bloquinho de papel e comecei a escrever um bilhete para os futuros papais da minha menina, eu só peço que cuidem bem dela, única coisa que eu quero nessa vida.

Depois de ter terminado de escrever, guardo dentro do cobertor o bilhete e seguro a cestinha balançando a minha pequena, pego um guarda-chuva, fecho a porta e saio na rua de madrugada, com uma rua silenciosa, sem ninguém, apenas eu e o silêncio, que me fazia sentir culpada e voltar a cada passo que eu dava. Mas eu não podia desistir.

- É para seu bem, pequena. – Repetia comigo mesmo.

Cheguei a uma casa não muito grande nem muito pequena, ela tinha cerca que a separava dos vizinhos, e tinha uns degraus que nos levava a uma pequena varanda, o jardim da frente da casa era muito lindo e tinha um caminho de pedras na direção dos degraus, a varanda era de piso de madeira e continha uma rede e um banquinho, que devia ser para leitura, a casa era em um tom azul e me parecia um sobrado, pois era grande.

Respirei fundo e decidida. Fiquei rondando a cidade durante duas horas e já eram quase 5:00 horas da manhã. Olhei para a casa e finalmente achei o lar para meu bebê. Sorri para minha filha e agradei a mãozinha dela, embaixo daquela chuva. Dei um beijo demorado e fechei os olhos, deixando uma lágrima escapar.

- Desculpa a sua mãe, minha filha, mesmo eu estando longe, sempre vou estar por perto. – Peguei uma pulseirinha que comprei com a letra inicial de seu nome e do meu, no meio tinha um coração. – Isso é para você sempre se lembrar de mim, e que quando se sentir sozinha, basta olhar para essa pulseira que você saberá que terá alguém com quem contar.

Vi meu bebê sorrindo de leve e rápido quando colocava a pulseira em seu bracinho.

- Mamãe precisa ir. – Dei um beijo na sua testa demorado.

Caminhei até a porta subindo os degraus, ainda bem que a varanda era coberta e meu bebê não pegaria mais chuva. Encarei aquela grande porta marrom e suspirei batendo três vezes na porta. Esperei um pouco, mas nada. Olhei minha filha, que ameaçava acordar e bati mais três vezes. Quando vi que uma luz acendeu no cômodo de dentro.

- Tchau, amorzinho.

Falei a Luna e sai às pressas, me escondendo atrás de uma árvore no outro lado da rua, me escondi de um jeito que a pessoa não me visse e fiquei olhando para a cena. Parecia que tudo estava em câmera lenta, os pingos de chuva pingavam devagar, apareceram alguns relâmpagos fazendo um barulho assustador, e quando a pessoa abriu a porta, saiu de dentro da casa, um homem sonolento que esfregava as mãos nos olhos.

- Sim? – O ouvi perguntar com sono de onde estava.

A rua estava em um silêncio total e quando ele falou, me deu vontade de voltar atrás, mas agora já era tarde. O homem, como viu que não tinha ninguém, apenas deu de ombros e entrou em casa. Fui até lá de volta olhei Luna uma última vez antes de partir e ela estava acordada chupando seu dedinho e eu sorri com a cena, fiz carinho no seu pequeno cabelinho e pisquei para ela.

Me levantei e bati de novo na porta. Corri o mais depressa até a árvore e então um trovão deu às caras, fazendo minha pequena chorar no momento em que o homem começa a dizer:

- Cara, eu não estou para... – Ele parou de falar ao olhar para baixo e ver meu bebê chorando. – Oh Meu Deus.

Ele olhou para Luna assustado e ficou um tempo a encarando até que olhou para os lados e viu que ninguém apareceria e a pegou no colo.

- Vem, pequena. – pegou no colo tentando acalmar minha filha e eu deixei uma lágrima escorrer fechando os olhos. - O que temos aqui? – Abriu a tempo de o vê pegando meu bilhete.

Luna tinha parado de chorar e então o vi beijar o ombrinho dela.

- Vou cuidar de você, pequena. Vamos entrar.

Assim que ele entrou em casa, fechando a porta com minha Luna, comecei a andar de volta para minha casa, não sei como cheguei ali, então estiquei a mão para um táxi que estava por perto e fui para meu apartamento, assim que entrei, fechei a porta e me encostei na mesma, me permitindo chorar o que até agora eu não tinha chorado.

Eu sempre quis ser mãe, sempre quis ter uma filha, mas não desse jeito, não nesse momento, se ao menos eu tivesse apoio do pai dela que um dia foi o meu melhor amigo, mas sozinha, sem ter onde morar, eu não ia conseguir sobreviver sabendo que ela podia ter um futuro melhor que eu podia dar a ela, pelo menos Luna estando com aquele homem, ela estaria em uma vida, um mundo melhor, acredito que ele seja uma pessoa do bem, eu sentia isso, eu precisava acreditar. Peguei meu celular e fui na minha foto preferida com meu bebê.

- Perdoa a mamãe meu amor. – Beijei a foto sem saber o que fazer.

**

No dia seguinte, não falei com ninguém, queria ficar sozinha em meu apartamento, segurei apenas um bichinho de pelúcia da minha filha e fiquei deitada pensando no que eu iria fazer da vida, eu tinha meu sonho, era ser babá, eu adorava crianças, cuidaria de uma sem problemas, e isso é um dos motivos por me deixar tão culpada por dar minha filha embora. Mas eu tinha que começar a trabalhar. Decidi então ir atrás de um emprego, muitas pessoas dizem que eu tenho mão boa para a cozinha, então decidi começar por aí primeiro, pelo menos no começo, para eu ter uma graninha para ter algo melhor. Eu sabia que uma amiga minha do colégio tinha uma loja de doces, então eu fui direto para a loja.

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