Passaram-se cinco anos desde aquele dia agitado no hospital, e minha vida ao lado de Murilo floresceu de maneiras que jamais havíamos imaginado. A chegada do nosso filho, com seus olhos curiosos e sorriso que ilumina qualquer ambiente, foi apenas o começo das inúmeras alegrias e desafios que enfrentaríamos juntos.Murilo fez um excelente trabalho com nosso restaurante, tornando-o um lugar ainda mais acolhedor e popular entre os moradores da região. Graças ao seu esforço e visão de negócios, conseguimos expandir nossa presença e, atualmente, gerenciamos quatro restaurantes pela cidade. Agora, estamos nos organizando para abrir mais um, desta vez em uma nova área.Paralelamente, encontrei na fotografia uma nova forma de expressão, dedicando-me a registrar os momentos especiais de nossa família e círculo de amigos. Essa atividade se tornou minha grande paixão.Murilo e eu temos enfrentado os desafios que a vida nos apresenta, aprendendo a lidar com as responsabilidades familiares, nosso
O quarto parecia encolher com a intensidade das palavras de Cristine, cada sílaba uma martelada em minhas incertezas. Eu a encarava, lutando para manter a compostura enquanto sentia o peso de sua preocupação me esmagar. Minhas mãos tremiam levemente, uma dança silenciosa de nervosismo e medo, refletindo o tumulto interno que suas palavras desencadeavam.— Ele é um babaca, July! Por que você não termina logo com esse cretino? — Cristine questionou, com as sobrancelhas franzidas, claramente irritada ao me ver tentando ligar para Túlio pela milésima vez. Seu tom de voz exalava preocupação e irritação, um reflexo do cuidado que ela sempre teve por mim.Olhei para baixo, sentindo um nó se formar em minha garganta. As palavras de Cristine ecoavam em minha mente, misturando-se com as dúvidas que eu tentava ignorar.— Cristine, eu gosto dele, você sabe. Por favor, não comece com isso — eu disse, com a voz trêmula, lutando contra o mar de emoções que ameaçava engolir meu raciocínio. Meu dedo p
De volta a minha realidade, debati contra a verdade que Cristine me impunha.— Sim, ele está arrependido do que fez — afirmei, embora a incerteza vibrasse em cada palavra, minando a convicção que eu tentava projetar. Era como se, ao dizê-las, eu tentasse convencer a mim mesma tanto quanto a Cristine, agarrando-me a qualquer resquício de esperança.— Você está brincando comigo? — Cristine retrucou, seu tom de incredulidade se elevando, uma tempestade de frustração se formando em seus olhos. — Você não vê o que ele faz contigo?Desviei o olhar, refugiando-me em meus próprios pensamentos, numa tentativa de escapar da realidade que suas palavras tentavam impor.— Ele é carinhoso comigo — murmurei, mas minha voz vacilou, traída pela consciência de que talvez estivesse me agarrando a fragmentos de momentos bons, ignorando a vastidão de evidências contrárias.— Carinhoso!? — Ela ecoou, sua incredulidade se transformando em indignação. — Ele é um grosso — disse com convicção, suas palavras ca
O ambiente da lanchonete estava viva com o som de conversas animadas e o cheiro convidativo de comida sendo preparada. Cristine, com seus olhos brilhando de entusiasmo, folheava o cardápio com uma energia contagiante.— Gosto tanto dos lanches daqui — ela disse, uma genuína antecipação em sua voz, que trazia uma leveza que contrastava fortemente com o peso que eu carregava no peito.Forcei um sorriso, tentando me conectar com aquele momento de leveza, mas meus olhos traíam minha preocupação, desviando-se involuntariamente para o visor do meu celular. A espera por uma mensagem de Túlio era como uma âncora, puxando minha mente de volta para o mar agitado de dúvidas e incertezas.Cristine notou minha distração e seu tom carregava uma leve impaciência quando disse:— Você pode deixar esse celular um pouco de lado para escolher o seu lanche? — A razão estava do lado dela, mas o coração teimoso raramente segue a razão facilmente.— Tudo bem, ele deve estar com o Murilo, ele disse que tinha
A atmosfera entre nós, enquanto nos afastávamos dos amigos de Túlio, estava carregada de um humor misto. A ironia suave de Cristine não passou despercebida, seu sorriso irônico pintando uma expressão que conhecia bem.— Satisfeita? Logo você fala com o seu príncipe desencantado — ela zombou, uma leveza forçada em sua voz que escondia uma preocupação mais profunda.Voltei a olhá-la, sentindo o peso das suas palavras, mas dentro de mim, uma chama de esperança ainda ardia fraca.— Cristine, você vai ver, você está sendo cru&l com ele — retorqui, embora minha defesa soasse frágil aos meus próprios ouvidos, uma mistura de esperança e dúvida entrelaçadas.Houve uma mudança sutil na postura de Cristine, seu sorriso irônico dando lugar a uma expressão mais contemplativa.— Amiga, espero mesmo por isso, de verdade, eu só quero que você seja feliz — ela respondeu, sua sinceridade transparecendo em suas palavras, um lembrete do laço forte que compartilhávamos.Retornamos à nossa mesa, um refúgio
A noite envolvia as ruas com seu manto de silêncio e mistério, apenas o som suave de nossos passos contra o asfalto frio quebrava a quietude. Sob o fraco brilho dos postes de luz, parei por um momento, meu coração pesado de indecisão. Desbloqueei meu celular, a luz da tela iluminando meu rosto numa tentativa de encontrar alguma resposta, algum sinal de Túlio. Ao meu lado, pude sentir o olhar de Cristine sobre mim, uma mistura de irritação e preocupação desenhando suas feições à luz difusa.— Você vai mesmo ligar para ele agora? — Sua voz cortou o ar noturno, tingida com um tom de desaprovação que não precisava de luz para ser percebida. Ela cruzou os braços, sua postura rígida em contraste com a suavidade da noite.— Claro, Cristine. Ele não atende desde cedo — respondi, a defensiva emergindo em minha voz como uma armadura frágil, enquanto meus dedos tremiam ligeiramente sobre a tela iluminada do telefone. A ansiedade e a frustração misturavam-se em minhas palavras, uma tempestade int
Após a breve conversa com Túlio pelo telefone, corri para o chuveiro. O banho, embora rápido, conseguiu aliviar todo cansaço acumulado do dia. Após enrolei uma toalha macia ao redor do corpo e fui me vestir. O som da campainha interrompeu meus pensamentos, anunciando a chegada do meu namorado. Meu coração disparou com a antecipação. Corri para abrir a porta, encontrando-o ali, com aquele sorriso que sempre desencadeava um turbilhão de borboletas em meu estômago. Sem hesitar, lancei-me em seus braços, envolvendo-o em um abraço que carregava toda a saudade acumulada. Seus lábios encontraram os meus numa saudação rápida, mas carregada de significado para mim.— Que saudades, amor — sussurrei contra sua boca, permitindo que o carinho transbordasse em cada sílaba.— Também estava com saudade — ele respondeu, os olhos explorando os meus, como se buscassem ler minha alma. — Como foi seu dia? — Sua curiosidade era genuína, as mãos ainda entrelaçadas nas minhas, como se me ancorassem ao prese
Túlio, percebendo talvez a extensão de sua própria tempestade, aproximou-se com uma calma que parecia deslocada frente ao caos que acabara de instaurar. — Você precisa parar de ser chata com essa história, meu amor — disse ele, sua voz agora tingida de uma doçura que contrastava cruelmente com suas ações anteriores, enquanto suas mãos, antes tão duras, agora acariciavam meu rosto com uma ternura forçada. — Não existe o tempo certo, nós fazemos o momento.Ele segurou meu queixo com uma delicadeza que não conseguia mais me confortar, seus lábios encontrando os meus num beijo que deveria ser de amor, mas que carregava as sombras de uma demanda não atendida. Quando começou a baixar a alça do meu vestido, meu coração se partiu entre o desejo de ceder para agradá-lo e o instinto de preservar minha própria integridade.— Túlio, por favor — supliquei, minha mão encontrando a dele num gesto desesperado para pausar a avalanche de sentimentos contraditórios.— Você não me ama? — Ele questionou,