Capítulo 6

Após a breve conversa com Túlio pelo telefone, corri para o chuveiro. O banho, embora rápido, conseguiu aliviar todo cansaço acumulado do dia. Após enrolei uma toalha macia ao redor do corpo e fui me vestir. 

O som da campainha interrompeu meus pensamentos, anunciando a chegada do meu namorado. Meu coração disparou com a antecipação. Corri para abrir a porta, encontrando-o ali, com aquele sorriso que sempre desencadeava um turbilhão de borboletas em meu estômago. Sem hesitar, lancei-me em seus braços, envolvendo-o em um abraço que carregava toda a saudade acumulada. Seus lábios encontraram os meus numa saudação rápida, mas carregada de significado para mim.

— Que saudades, amor — sussurrei contra sua boca, permitindo que o carinho transbordasse em cada sílaba.

— Também estava com saudade — ele respondeu, os olhos explorando os meus, como se buscassem ler minha alma. — Como foi seu dia? — Sua curiosidade era genuína, as mãos ainda entrelaçadas nas minhas, como se me ancorassem ao presente.

— Bem, e o seu? — Respondi, tentando mascarar a ansiedade por tê-lo ali.

Ele deu de ombros, uma sombra de indiferença passando brevemente por seu semblante. 

— Tudo bem, nada de mais — murmurou, mas seus olhos pareciam reter palavras não ditas, pensamentos ainda não compartilhados.

Guiando Túlio para dentro, senti o calor de sua mão na minha, uma conexão silenciosa, mas poderosa. Foi então que ele lançou uma pergunta casual, mas carregada de subtextos: 

— Onde estão seus pais?

— Foram para a casa da minha irmã, decidiram passear. Vão ficar por lá o fim de semana — expliquei, tentando parecer desinteressada, embora meu coração batesse em um ritmo acelerado pela possibilidade de estarmos sozinhos.

— Então quer dizer que você vai estar sozinha todo o fim de semana? — Sua voz era baixa, mas a intensidade em seu olhar e o jeito como ele me puxou para mais perto falavam por si só. Havia um brilho de entusiasmo em seus olhos que me fez sorrir involuntariamente.

— Sim! — Respondi, a empolgação evidente em meu sorriso. — Bem que você poderia vir ficar comigo, né?

— Quer minha companhia? — A alegria transbordou de mim como uma corrente elétrica. 

— Claro que sim. 

— Tudo bem, mas primeiro vou à quadra encontrar com os meninos. Depois eu volto, pode ser?

— Claro, meu amor — disse, meu sorriso refletindo toda a felicidade e antecipação que sentia. 

— Aquela garota não volta hoje aqui, certo? — Ele perguntou, os olhos escurecidos por uma tempestade iminente, a mandíbula travada em uma clara demonstração de desagrado.

Tentei suavizar o ambiente, embora meu coração batesse como um tambor, ecoando meu desconforto. 

— Não implica com ela, Túlio — pedi, a voz suave, quase suplicante, enquanto minhas mãos buscavam as suas, tentando construir uma ponte sobre o abismo que se formava entre nós.

Ele, no entanto, não se deixou aplacar, sua insistência marcada por uma rigidez nos ombros. 

— Ela vem ou não? — Sua voz cortou o ar, mais áspera, mais exigente, como uma lâmina afiada que ameaçava rasgar a frágil trégua entre nós.

— Não, ela vem amanhã — suspirei, soltando suas mãos para abraçar a mim mesma, uma tentativa de me proteger das palavras que voavam como flechas em nossa pequena bolha de calmaria.

— Eu não quero você grudada naquela garota — ele declarou, com uma firmeza que não admitia contestação, os olhos fixos nos meus, como se tentasse imprimir sua vontade na minha alma.

Tentei, mais uma vez, encontrar um terreno comum, uma paz temporária. 

— Vocês precisam começar a se dar bem. Eu não quero meu namorado e minha melhor amiga nessa guerra eterna — argumentei, minha voz quase um sussurro, um lamento pela harmonia perdida.

— Ela começou a pegar no meu pé, não eu — ele retrucou, cruzando os braços, uma muralha erguendo-se entre sua razão e seus sentimentos.

— Ela só se preocupa comigo. Não quer que eu me machuque — defendi.

— Ela mente para você, July — ele disse, a irritação vibrando em cada palavra. — Mas hoje eu não quero discutir, ainda mais por causa dela. Vou até a quadra e mais tarde passo aqui.

A possibilidade de sua ausência, mesmo temporária, acendeu uma centelha de medo em meu peito. 

— Volta mesmo para dormir comigo? — Perguntei, a esperança tingindo minha voz de um tom quase infantil.

Ele assentiu, seus lábios encontrando os meus num beijo que prometia muito mais do que palavras poderiam expressar. 

— Venho sim — murmurou contra minha boca, sua mordida maliciosa enviando ondas de calor através do meu corpo, que se pressionava involuntariamente ao seu, numa dança tão antiga quanto o tempo.

Mas a doce promessa foi quebrada por minhas próprias inseguranças, uma barreira invisível erguendo-se entre a paixão e o medo. 

— Eu ainda não estou preparada para dar esse passo — confessei, baixando o olhar, uma admissão de minha própria vulnerabilidade.

Sua impaciência era um vendaval que ameaçava derrubar as poucas defesas que eu havia erguido. 

— Quando você vai estar? — Ele pressionou, cada palavra um martelo que buscava quebrar minha resolução. — Essa história de menina pura já encheu.

A frase era um golpe, cru e cortante, e me encontrei em um precipício de dúvidas e medos, questionando onde sua doçura havia se perdido, onde nós havíamos nos perdido.

Ele segurou meu braço com força, e, ao se afastar, um calafrio percorreu minha espinha, deixando um rastro de medo e insegurança que eu lutava para ignorar.

— Não vai responder? — Sua voz soou mais como uma exigência do que uma pergunta, os olhos cravados nos meus, buscando uma submissão que eu não estava pronta para dar.

Engoli em seco, tentando encontrar minha voz entre as ondas de ansiedade que ameaçavam me engolir. 

— Eu só quero esperar o momento certo — murmurei, mas as palavras pareceram evaporar antes mesmo de atingi-lo, perdidas em um abismo de incompreensão.

— Você tem vinte e três anos, July — ele retrucou, suas mãos encontrando meu rosto com uma firmeza que beirava a agressão, os dedos apertando minha pele com uma pressão que me fez piscar contra a dor súbita. — Estou de saco cheio dessa conversa de não estar pronta — suas palavras foram como um tapa, ecoando com uma raiva que me empurrou, quase literalmente, para longe de qualquer sensação de segurança.

Lançada bruscamente contra o sofá, senti o impacto reverberar através de meu corpo, deixando marcas invisíveis de medo e confusão. Sentei, atordoada, tocando delicadamente meu rosto, onde a dor latente desenhava a lembrança de seus dedos.

 

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