PARTE.01: Onde tudo começou
Capítulo Um
Eu sou Kate, guerreira de Eutanásia e fiel guardiã da rainha. Vi com meus próprios olhos a escuridão engolir nossa terra. Vi aldeias serem destruídas, famílias despedaçadas e a esperança se esvair dos corações do nosso povo. Mas, de todas as atrocidades que Oregon já cometeu, há uma certeza que me assombra: ele ainda não mostrou todo o seu poder. E quando o fizer, será para tomar tudo o que restou.
— Kate, você sabe que ele virá atrás de mim. — A voz de Corigan me tira dos pensamentos. Ela passa a mão em sua barriga, já enorme. Seus olhos azuis estão preocupados. — Ainda mais ao descobrir que estou grávida. Atlas nascerá em breve, eu sinto que ele já está se posicionando para vir ao mundo.
Eu me ajoelho diante dela, jurando lealdade.
— Farei de tudo para protegê-la, minha rainha.
Ela me encara por um longo momento e então, para minha surpresa, segura minha mão com firmeza.
— Você fará de tudo para proteger Atlas. Me prometa, Kate.
Meu coração aperta. Entendo o que ela quer dizer. Se a escolha for entre ela e o bebê…
— Eu prometo, Corigan.
Oregon ainda não havia lançado um ataque direto ao castelo, mas o medo já dominava Eutanásia. As noites eram frias e silenciosas, interrompidas apenas pelo eco distante dos gritos de quem era caçado pelo exército demoníaco.
Naquela manhã, deixei Corigan descansando e voei até o povoado. Precisava ver minha irmã, Nani. Ela era uma guerreira como eu, mas havia sido gravemente ferida em uma batalha contra os quatro servos de Oregon. Por pouco, não morreu.
Assim que entrei na cabana, ela sorriu ao me ver e tentou se levantar.
— Que bela surpresa, Kate.
— Não se esforce. Só vim vê-la, saber como está.
— Não se preocupe comigo. — Ela ri fraco. — Você tem que ficar ao lado da rainha e de olho no nosso príncipe. Atlas é o futuro de Eutanásia.
— Corigan está bem, e Atlas logo virá ao mundo.
O sorriso de Nani desaparece.
— Você sabe que, quando ele nascer, Oregon virá para matá-los.
— Nós temos um plano. Vai dar tudo certo. Oregon não vencerá.
— Assim eu espero… — Sua voz soa incerta, e isso me incomoda.
Eu a abraço antes de partir. No fundo, eu também não sei se venceremos.
Ao voltar para o castelo, uma sensação estranha me percorre. Meu coração b**e acelerado, e meu corpo inteiro parece avisar que algo está prestes a acontecer. Então, o som corta o ar: gritos.
Corro pelos corredores até os aposentos reais e entro a tempo de ver Atlas chorando nos braços de Corigan. O parto foi rápido, mas sua expressão não é de alívio—é de medo.
— Pegue-o, Kate. — Ela me entrega o bebê, as mãos tremendo. — Leve-o daqui, Oregon está vindo. Salve o meu filho. Ele é o futuro do nosso povo.
Por um segundo, hesito. Se eu partir agora, estou condenando Corigan à morte. Mas o som de explosões se aproxima, e vejo pela janela a escuridão rastejando sobre o castelo. Não há tempo.
— Eu volto para buscá-la! — Grito, abrindo uma fenda mágica no ar.
Seus olhos se enchem de lágrimas, mas ela sorri.
— Eu sei que não voltará.
Então, a fenda se fecha, e a última coisa que vejo é minha rainha... e o brilho vermelho das chamas que tomam o castelo.
A viagem entre mundos é rápida. Quando pisamos no mundo humano, Atlas dorme em meus braços, alheio ao caos que deixou para trás. Ele não sabe, mas acabou de se tornar órfão.
Eu sigo até a casa de um casal que havíamos escolhido previamente. Fred e Kesia não podiam ter filhos, e sabíamos que criariam Atlas com amor. Deixo um cesto na porta com o bebê e uma carta, explicando que ele está em perigo e precisa ser protegido.
Bato na porta e me escondo. Logo, Fred abre e seus olhos se arregalam ao ver o bebê.
— Kesia… venha aqui.
— O que houve, querido? — Ela se aproxima e, ao ver o bebê e a carta, começa a chorar.
Ela o pega nos braços com todo carinho, e Fred fecha a porta, protegendo Atlas do frio da noite.
Eu continuo observando, lágrimas silenciosas escorrendo pelo meu rosto. Ele ficará seguro… por um tempo.
{...}
Capítulo DoisEu sabia que ele estava à espreita. Oregon jamais deixaria um único resquício de esperança sobreviver em Eutanásia. Mas, ainda assim, quando atravessei o portão de volta ao reino, não estava preparada para o que vi.O castelo estava em chamas.As Torres que antes tocavam o céu estavam desmoronando, engolidas pelo fogo. A bandeira de Eutanásia, símbolo de um reino próspero, queimava como um pedaço inútil de pano. O ar estava carregado de cinzas, o cheiro de carne e sangue impregnada cada canto, e os gritos dos inocentes se misturavam ao estalar das chamas.Eu queria correr até os destroços e procurar sobreviventes. Eu queria lutar. Mas não havia mais luta para travar. Oregon venceu essa batalha.Foi a primeira e última vez que chorei.As lágrimas desciam pelo meu rosto, ardendo como brasas contra minha pele. Mas eu não podia me dar ao luxo de sofrer agora. Havia pessoas que ainda precisavam de mim.Reuni os sobreviventes—mulheres, crianças e os poucos guerreiros que conse
Capítulo TrêsO som metálico dos passos de Hermes ecoava pelo meu quarto quando acordei. Seus olhos luminosos briljaram no escuro enquanto ele se aproximava.— Minha ama, ele descobriu que o menino está vivo. Oregom enviou os quatro servos para matá-lo.Meu coração parou por um instante. Quinze anos. Durante quinze anos mantive Atlas seguro no mundo do humano. Mas o tempo de paz havia acabado.— O que?! — Minha voz saiu como um trovão enquanto me levantava.Sem hesitar, abri uma fenda para o mundo humano. O ar quente e o cheiro dr fumaça atingiram mei rosto assim que atravessei o portal. O horror se revelou diante de mim.A casa de Fred é Kesia estava em chamas.O fogo consumia as parede, lambendo o céu escuro. Os gritos dr agonia deles ainda ecoavam no ar, mesmo que eu soubesse que já era tarde demais. Eu falhei.Mas Atlas... onde estava Atlas?Foi então que o vi. Chegando de bicicleta, com uma mochila pendurada nos ombros, o rosto ilimitado apenas pelas chamas que engoliram sua ca
Capítulo QuatroO treinamento começou logo após a decisão de Atlas. Nani, com sua experiência em combate, era a pessoa ideal para lhe ensinar a luta corporal. Ela o guiou em cada movimento, cada passo, cada golpe. Atlas se mostrou resistente, apesar de sua raiva, e, com o tempo, suas habilidades começaram a se aprimorar.Nani falava pouco, mas cada palavra era carregada de sabedoria.- Não se concentre apenas no golpe, Atlas. O corpo é um reflexo da mente. Se você não estiver totalmente presente, não conseguirá vencer.Atlas seguia suas instruções com intensidade, mas seu olhar ainda estava distante, perdido nas lembranças do passado. Mesmo assim, algo dentro dele começava a despertar. Cada golpe, cada movimento, parecia trazer uma conexão mais profunda com a sua verdadeira natureza.Eu, por outro lado, estava responsável por algo muito mais delicado: o despertar dos seus poderes. Ele ainda não entendia a magnitude de sua origem, mas sabia que algo mudara quando cruzou o limiar da Ilh
Capítulo CincoA manhã estava calma, e uma brisa suave soprava pelas árvores ao redor da nossa casa na Ilha Encantada. Era o tipo de dia que parecia pedir por um descanso, mas o peso de tudo o que estava acontecendo em Eutanásia não me permitia relaxar. Eu sabia que era hora de liberar Atlas para o que ele mais temia: a verdade. Ele tinha o direito de conhecer o que havia acontecido, e eu, como sua guardiã, não poderia mais ocultar debaixo das sombras.Atlas estava sentado à beira do lago, os olhos fixos no horizonte, perdido em pensamentos. Ele ainda não sabia tudo, mas já sentia que algo estava faltando. Cada novo poder que ele desbloqueava parecia trazer mais dúvidas do que respostas, e a angústia em seu coração era palpável. Eu podia ver, com a clareza de quem conhece o próprio reflexo, que ele precisava entender. Precisava saber a verdade.Me aproximei lentamente, meu passo suave, quase inaudível, como se o destino pedisse para ser revelado com cautela.— Atlas... — Falei, interr
Capítulo SeisUm ano havia se passado desde que Atlas descobriu sua verdadeira identidade, e, desde então, nossa rotina era centrada em prepará-lo para o que estava por vir. O tempo na Ilha Encantada foi dedicado a treinamentos intensos, à construção de sua força, habilidades e, acima de tudo, sua compreensão sobre o poder que carregava. Cada dia, ele ficava mais forte, mais hábil, mas ainda faltava algo. Algo que eu sabia que só ele poderia encontrar em seu próprio coração.Nós estávamos em outra ilha distante, fora dos limites do reino, onde o feitiço de invisibilidade estava em pleno efeito, mantendo nossa presença oculta de todos os olhares externos. Ali, Atlas praticava incansavelmente, enfrentando os robôs que eu criava com a ajuda de minha tecnologia, máquinas com uma inteligência quase humana, projetadas para desafiá-lo. Cada robô era mais forte que o anterior, testando seus limites.Eu observava de longe enquanto ele lutava. Cada golpe de sua katana, cada movimento de seu cor
Capítulo SeteQuando chegamos à Ilha Encantada, o céu estava tingido de laranja pelo último suspiro do sol, como se fosse uma tela em que o universo pintava o fim de um dia comum. A ilha sempre me parecia tranquila, com seu feitiço invisível envolvendo a todos ali, longe de qualquer perigo externo. Mas, naquele momento, algo estava diferente. A tensão pairava no ar, como se a calma fosse só uma fachada. Atlas estava mudando, e eu sabia que o mundo ao nosso redor também estava prestes a fazer o mesmo.Assim que aterrissamos, Nani já nos esperava, como sempre. Sua expressão séria se suavizou ao nos ver, mas havia algo em seu olhar que demonstrava preocupação. Atlas voou até ela, os pés ainda tocando o chão, como sempre, com um sorriso brincalhão no rosto.— Atlas, você está irreconhecível! — Nani disse, rindo enquanto observava seus cabelos, que estavam mais longos e bagunçados. Ela parecia a própria imagem da irmã que não via há anos.Atlas, como de costume, passou a mão pelos cabelos,
Capítulo OitoOs dias passaram rapidamente, e a rotina na Ilha Encantada continuava intensa. Atlas, cada vez mais imerso no treinamento, se mostrava uma versão nova de si mesmo a cada dia que passava. Embora seu humor irreverente e sua maneira de provocar não tivessem diminuído, algo em seu olhar havia mudado. Havia uma seriedade mais profunda nele, algo que não estava presente no início de nossa jornada juntos.E, embora eu tentasse manter a distância, ele não demorava a me surpreender com suas atitudes. Quando começou a me chamar de "mestra", eu sabia que era uma tentativa de reafirmar seu respeito, mas também percebi que, por trás disso, havia algo mais. Algo que ele não conseguia esconder, mesmo com seus sorrisos galanteadores e palavras provocativas.— Mestra, posso pedir um favor? — Ele se aproximou de mim em um dia particularmente quente de treino, quando os ventos da ilha pareciam dançar ao nosso redor. Sua expressão era séria, mas havia uma pitada de humor, como se ele estive
Capítulo NoveO tempo passou depressa, como areia escorrendo por entre os dedos. Mais um ano se foi, e Atlas agora tinha 17 anos. Ele não era mais um menino-era um homem. Seu corpo, antes mais franzino, agora estava definido pelo treinamento intenso. Seus olhos carregavam uma maturidade que não possuíam antes. Ainda brincalhão, ainda provocador, mas agora com um olhar mais sério, ciente da responsabilidade que carregava sobre os ombros.Amanhã partiríamos. Nossa jornada estava apenas começando, e nosso objetivo era claro: encontrar aliados para a guerra que estava longe de terminar. Oregon continuava em busca de Atlas, e, cedo ou tarde, precisaríamos enfrentá-lo. Mas, para isso, precisávamos de forças além das nossas.- Fique parado, seu pentelho. - resmungou Nani, cortando os longos cabelos de Atlas que insistiam em crescer de forma absurda.Ele riu, inclinando a cabeça para trás de propósito.- Ai, Nani... Você tem mãos de ferro! Cuidado para não cortar minha cabeça junto.- Seria m