Capítulo Cinco
A manhã estava calma, e uma brisa suave soprava pelas árvores ao redor da nossa casa na Ilha Encantada. Era o tipo de dia que parecia pedir por um descanso, mas o peso de tudo o que estava acontecendo em Eutanásia não me permitia relaxar. Eu sabia que era hora de liberar Atlas para o que ele mais temia: a verdade. Ele tinha o direito de conhecer o que havia acontecido, e eu, como sua guardiã, não poderia mais ocultar debaixo das sombras.
Atlas estava sentado à beira do lago, os olhos fixos no horizonte, perdido em pensamentos. Ele ainda não sabia tudo, mas já sentia que algo estava faltando. Cada novo poder que ele desbloqueava parecia trazer mais dúvidas do que respostas, e a angústia em seu coração era palpável. Eu podia ver, com a clareza de quem conhece o próprio reflexo, que ele precisava entender. Precisava saber a verdade.
Me aproximei lentamente, meu passo suave, quase inaudível, como se o destino pedisse para ser revelado com cautela.
— Atlas... — Falei, interrompendo seus pensamentos.
Ele virou o rosto para mim, e seus olhos refletiam uma mistura de curiosidade e desconforto.
— Eu sei que você tem muitas perguntas. — Continuei, aproximando-me. — E hoje, você terá respostas.
Ele olhou para mim, desconfiado, mas também com uma necessidade silenciosa de compreender.
— Eu... eu preciso saber, Kate. Quem sou eu? O que aconteceu com minha mãe? — Ele disse com a voz tremendo, como se estivesse se libertando de uma prisão emocional que o havia mantido atado por anos.
Eu sabia o peso daquela pergunta. Sabia que, ao responder, ele poderia nunca mais ser o mesmo. Mas, ao mesmo tempo, ele merecia saber. Era hora de finalmente compartilhar o poder que eu guardava com tanto segredo, o poder que poderia revelar todas as verdades enterradas nas profundezas da memória.
— Eu vou te mostrar a verdade, Atlas. Não apenas com palavras, mas com as lembranças de quem esteve lá.
Ele me olhou confuso, sem entender de imediato.
— Como assim?
Eu estendi minha mão em direção a ele, e ele hesitou por um momento, como se fosse algo arriscado. Mas, ao ver a sinceridade em meus olhos, ele se aproximou e colocou a mão na minha, o consentimento silencioso que eu precisava.
Fechei os olhos e concentrei minha energia. O poder que eu possuía era algo que poucos poderiam compreender completamente. Era um poder peculiar, e, ao tocá-lo, a pessoa se tornava parte da minha visão. Cada toque minha memória se entrelaçava com a dela, e ao contrário de muitos outros poderes, eu não precisava controlar a memória de alguém. Eu apenas via, sentia. Era como se o tempo se dilatasse, e eu fosse transportada para dentro de sua mente, revelando tudo o que estava escondido.
Visões começaram a se formar diante de nós, em um borrão de imagens que se cristalizavam lentamente.
Primeiro, vi a imagem de uma jovem Corigan, a rainha, sorrindo com Atlas em seus braços. Ele era um bebê, feliz e saudável. Depois, a cena mudou para um ambiente sombrio, uma sala escura. A silhueta de Oregon Pax-Sun-Din, um ser monstruoso e imponente, estava à sua frente, uma presença ameaçadora que parecia consumir tudo ao redor.
— Isso... isso é o que aconteceu com minha mãe? — Atlas murmurou, sua voz agora um sussurro de dor.
As imagens mudaram rapidamente, e eu senti o peso das lembranças de Corigan, o medo e a dor que ela experimentava ao perceber que seu filho era a única ameaça à tirania de Oregon. Eu via sua luta pela sobrevivência, seus últimos momentos antes de me pedir para levar Atlas ao mundo dos humanos. Sua última expressão foi de amor e sacrifício, uma mãe desesperada que só queria proteger o futuro do reino.
Eu vi a batalha, o fogo, e as sombras do castelo sendo engolidas pelas chamas.
A cena se deslocou, e agora a visão me mostrou a minha própria luta, a fenda dimensional sendo aberta e Atlas sendo colocado nas mãos de Fred e Kesia. A dor em minha alma ficou mais intensa ao reviver o momento em que deixei aquele pequeno ser no mundo dos humanos, sem saber o que o futuro lhe reservava.
— Eu... eu deixei ela morrer... — Atlas sussurrou, o desespero tomando conta de sua voz.
A imagem seguinte era ainda mais aterradora: Oregon. O rei demônio estava em seu trono, sua risada maligna ecoando pelas cavernas do submundo. Eu sentia sua sede insaciável de poder e sua obsessão em destruir o que fosse mais forte que ele. Em um flash, as palavras de Oregon se fizeram claras na minha mente: “Ele nunca será maior do que eu.”
A imagem se distorceu e desapareceu por um momento. Quando a visão retornou, estávamos de volta à ilha. Atlas ainda segurava minha mão, agora com uma expressão de choque. Ele estava processando o que havia visto, absorvendo a realidade de sua origem e da verdade por trás da morte de sua mãe.
— Agora você sabe o que aconteceu, Atlas. Você é o herdeiro de Eutanásia, e sua batalha contra Oregon está apenas começando.
Ele permaneceu em silêncio, seus olhos fixos no vazio. Eu sabia que as palavras que ele procurava não existiam, que a verdade trazia mais dor do que conforto. Mas, ao mesmo tempo, ele agora tinha a compreensão que precisava se preparar para o futuro.
— Eu... eu não posso deixar isso assim. Eu preciso lutar. — Ele finalmente falou, sua voz mais firme agora, um brilho determinado em seus olhos.
Eu assenti, sabendo que, apesar da dor, Atlas havia encontrado sua força. Ele sabia o que precisava fazer, e agora estava pronto para enfrentar Oregon e tudo o que sua linhagem significava. Mas essa batalha não seria apenas física. Ele enfrentaria sua própria identidade, os demônios do passado e, por fim, o maior desafio de todos: a verdade sobre quem ele realmente era.
— Sim, Atlas. Você vai lutar. Mas lembre-se: você não está sozinho.
Com essas palavras, a verdade estava finalmente revelada. O destino de Eutanásia agora estava nas mãos do herdeiro que, sem saber, havia sido forjado pelas sombras do passado.
{...}
Capítulo SeisUm ano havia se passado desde que Atlas descobriu sua verdadeira identidade, e, desde então, nossa rotina era centrada em prepará-lo para o que estava por vir. O tempo na Ilha Encantada foi dedicado a treinamentos intensos, à construção de sua força, habilidades e, acima de tudo, sua compreensão sobre o poder que carregava. Cada dia, ele ficava mais forte, mais hábil, mas ainda faltava algo. Algo que eu sabia que só ele poderia encontrar em seu próprio coração.Nós estávamos em outra ilha distante, fora dos limites do reino, onde o feitiço de invisibilidade estava em pleno efeito, mantendo nossa presença oculta de todos os olhares externos. Ali, Atlas praticava incansavelmente, enfrentando os robôs que eu criava com a ajuda de minha tecnologia, máquinas com uma inteligência quase humana, projetadas para desafiá-lo. Cada robô era mais forte que o anterior, testando seus limites.Eu observava de longe enquanto ele lutava. Cada golpe de sua katana, cada movimento de seu cor
Capítulo SeteQuando chegamos à Ilha Encantada, o céu estava tingido de laranja pelo último suspiro do sol, como se fosse uma tela em que o universo pintava o fim de um dia comum. A ilha sempre me parecia tranquila, com seu feitiço invisível envolvendo a todos ali, longe de qualquer perigo externo. Mas, naquele momento, algo estava diferente. A tensão pairava no ar, como se a calma fosse só uma fachada. Atlas estava mudando, e eu sabia que o mundo ao nosso redor também estava prestes a fazer o mesmo.Assim que aterrissamos, Nani já nos esperava, como sempre. Sua expressão séria se suavizou ao nos ver, mas havia algo em seu olhar que demonstrava preocupação. Atlas voou até ela, os pés ainda tocando o chão, como sempre, com um sorriso brincalhão no rosto.— Atlas, você está irreconhecível! — Nani disse, rindo enquanto observava seus cabelos, que estavam mais longos e bagunçados. Ela parecia a própria imagem da irmã que não via há anos.Atlas, como de costume, passou a mão pelos cabelos,
Capítulo OitoOs dias passaram rapidamente, e a rotina na Ilha Encantada continuava intensa. Atlas, cada vez mais imerso no treinamento, se mostrava uma versão nova de si mesmo a cada dia que passava. Embora seu humor irreverente e sua maneira de provocar não tivessem diminuído, algo em seu olhar havia mudado. Havia uma seriedade mais profunda nele, algo que não estava presente no início de nossa jornada juntos.E, embora eu tentasse manter a distância, ele não demorava a me surpreender com suas atitudes. Quando começou a me chamar de "mestra", eu sabia que era uma tentativa de reafirmar seu respeito, mas também percebi que, por trás disso, havia algo mais. Algo que ele não conseguia esconder, mesmo com seus sorrisos galanteadores e palavras provocativas.— Mestra, posso pedir um favor? — Ele se aproximou de mim em um dia particularmente quente de treino, quando os ventos da ilha pareciam dançar ao nosso redor. Sua expressão era séria, mas havia uma pitada de humor, como se ele estive
Capítulo NoveO tempo passou depressa, como areia escorrendo por entre os dedos. Mais um ano se foi, e Atlas agora tinha 17 anos. Ele não era mais um menino-era um homem. Seu corpo, antes mais franzino, agora estava definido pelo treinamento intenso. Seus olhos carregavam uma maturidade que não possuíam antes. Ainda brincalhão, ainda provocador, mas agora com um olhar mais sério, ciente da responsabilidade que carregava sobre os ombros.Amanhã partiríamos. Nossa jornada estava apenas começando, e nosso objetivo era claro: encontrar aliados para a guerra que estava longe de terminar. Oregon continuava em busca de Atlas, e, cedo ou tarde, precisaríamos enfrentá-lo. Mas, para isso, precisávamos de forças além das nossas.- Fique parado, seu pentelho. - resmungou Nani, cortando os longos cabelos de Atlas que insistiam em crescer de forma absurda.Ele riu, inclinando a cabeça para trás de propósito.- Ai, Nani... Você tem mãos de ferro! Cuidado para não cortar minha cabeça junto.- Seria m
Capítulo DezO céu estava limpo e a brisa leve balançava as folhas das árvores ao redor da Ilha Encantada. O dia da partida havia chegado.Atlas ajustava as alças da mochila enquanto Nani terminava de organizar os últimos suprimentos. Havia um ar de expectativa misturado à melancolia da despedida.— Tem certeza de que não quer vir, Nani? — perguntei, dobrando o mapa e guardando-o no bolso.Ela sorriu, mas seus olhos carregavam um peso que eu conhecia bem.— Alguém precisa proteger a Ilha Encantada enquanto vocês estiverem fora. Além disso, esse é o destino de vocês dois, não o meu.Atlas bufou, cruzando os braços.— Isso é um absurdo! Você luta tão bem quanto a Kate. Se viesse, nossa missão seria mais fácil.— Ou talvez vocês se tornassem dependentes demais da minha ajuda. — Nani sorriu de lado e bagunçou o cabelo dele. — Agora vá, antes que eu mude de ideia e te prenda aqui para sempre.Atlas revirou os olhos, mas não conseguiu esconder o brilho emocionado ao encarar a mulher que o c
PARTE.02: Jornada ao Reino ÉlficoCapítulo UmO céu escuro se estendia acima de nós, salpicado por incontáveis estrelas. Estávamos há mais de um dia voando sem descanso, e o peso do cansaço começava a se acumular em nossos corpos. Atlas, como sempre, fazia piadas para tentar quebrar a monotonia, mas nem mesmo ele conseguia ignorar o fato de que precisávamos de um descanso.Foi então que avistei uma pequena ilha abaixo de nós, cercada por um mar calmo e iluminada apenas pelo brilho prateado da lua.— Vamos parar ali. — Falei, apontando.Atlas suspirou em alívio.— Finalmente! Achei que minha mestra fosse me obrigar a voar até meus músculos se desfazerem.Revirei os olhos e comecei a descer.Mas assim que nos aproximamos da ilha, percebi algo estranho. O lugar estava silencioso demais. Nenhum som de criaturas noturnas, nem mesmo o barulho das ondas quebrando contra as rochas.Foi então que vimos.No centro da ilha, um grupo de criaturas sombrias se movia em círculos ao redor de algo—ou
Capítulo DoisA noite caiu sobre a pequena ilha, e uma leve brisa soprou enquanto nos sentamos ao redor de uma fogueira improvisada.Atlas suspirou dramaticamente, segurando o estômago.— Kate, se não comermos logo, vou virar pó!Revirei os olhos e murmurei um feitiço. Folhas próximas começaram a brilhar suavemente e, em poucos segundos, se transformaram em pão, frutas e pedaços de carne seca.— Aqui está sua comida, drama ambulante. — Empurrei um pedaço de pão para ele.Atlas pegou a comida e deu um sorriso satisfeito.— Você é a melhor, xuxuzinho!Filomena observava tudo com curiosidade, segurando um pedaço de fruta.— Vocês sempre brigam assim?Atlas riu.— Brigar? Eu chamo de amor fraternal... apesar de Kate ser péssima em demonstrar afeto.Eu o encarei.— E eu chamo de paciência, porque conviver com você é um verdadeiro teste.Filomena riu baixinho, parecendo mais relaxada.— Vocês são engraçados.Atlas se virou para ela com um olhar curioso.— E você, Filó? Posso te chamar de Fi
Capítulo Quatro Eu confesso que estava completamente exausta. O peso da viagem e da batalha contra os demônios de Oregon começaram a cobrar seu preço assim que paramos diante dos enormes portões do palácio élfico. Meu corpo doía, minha mente estava saturada e, por um momento, desejei apenas me afundar em um colchão macio e dormir por dias.Mas ainda não era hora de descanso.O interior do castelo era um espetáculo à parte. Altas colunas de pedra entrelaçadas por raízes douradas sustentavam a estrutura, e vinhas luminosas pendiam do teto, espalhando um brilho suave e acolhedor. Pequenas fadas voavam ao redor, observando-nos com curiosidade, e a arquitetura refinada refletia toda a graça e grandiosidade do povo élfico.No centro do salão principal, sentado em um trono esculpido em madeira viva e adornado com folhas prateadas, estava Lord Eldrin, o Rei dos Elfos.Ele era um elfo alto e imponente, de cabelos longos e prateados como a luz da lua, olhos cor de âmbar e uma expressão sábia,