“Feche os olhos e esqueça seus problemas, escute somente a sua voz.”
Eterno e infinito são coisas distintas. O eterno dura para sempre, além dos limites de todas as medições de tempo. Mesmo que isso seja apenas um milésimo de segundo. O que é infinito, não pode ser mensurado. No fim dará tudo na mesma. Infinito e eterno são meras partículas de espaço, tempo e matéria, ilusórias que nos causam a sensação de transtorno mental e nos faz querer acreditar que algo possa existir de verdade, continuar existindo ou mesmo ser notificado.
A fase do noivado foi rápida, conturbada e praticamente impossível de ser recordada. Ambos estavam apaixonados e empenhados na preparação do casamento, não faziam outra coisa que não fosse em função deste momento.
Hélio trabalhava duro, lecionan
“Abra os olhos, quero que me veja brilhar com minhas asas de querubim.”Hélio mal dormia, comia ou pensava, sua vida estava definhando. Ele não conseguia ver uma saída para seus problemas. Ele começara acreditar que havia tomado uma péssima decisão e acabou percebendo que longe de Joana sua vida não existia.Certa manhã seu celular toca e ao atender a voz de Joana atravessa seus ouvidos e corre em direção ao seu coração, inundando-o de vida, calor e cores. Ela decidira voltar e dizia que era para sempre. Hélio não entendia o porquê da decisão e ela disse que não tinha um motivo a ser explicado.Ela volta e com ela, parte da vida dele. Ela parecia animada e revigorada, falava sobre filhos, viagens e planos para ajuda-lo a se encontrar. Hélio não estava acostumado a bons momentos duradouros, então nã
“Abra os olhos e sorria quando eu te estender a mão.”As pessoas se preocupam tanto em serem aceitas numa sociedade hipócrita que acabam escondendo seus sentimentos mais sinceros. A ignorância e a repressão te sufocam e lhe fazem temer aos que têm ideias próprias. Não podemos nos acovardar e apoiar essa repressão. Precisamos nos libertar. Quantas vezes ouvi “Bulimia” e me senti encorajada a mudar? Não sei. Porém, foram mais que em uma vida poderei contar.O tio Hélio era querido por todo mundo da escola. Com o passar dos anos, os pais se acostumaram com sua presença e passavam a ver o resultado de seu trabalho, empenho e carinho para com as crianças e entenderam que não havia problemas ou perigo ali.Isso foi ainda pior para Hélio. Se ao menos ele não fosse aceito, poderia mudar e tentar de novo. Contudo, agora ele criara
“Abra os olhos e dê o primeiro passo.”Helena se olhava no espelho constantemente, era mais que uma fascinação, era quase obsessão. Finalmente sorria ao ver que o que por tanto tempo esteve preso dentro de seu corpo pode por fim sair. Joana acolhera-a de braços abertos. Em nenhum momento demonstrou sinais de fraqueza ou insatisfação e isso enchia Helena de orgulho e amor à vida.A aceitação pelos colegas de trabalho não era total, mesmo todos eles sendo educadores, a maioria era dotada de preconceitos e despida de conhecimento. Helena saía às ruas e notava diversos olhares. Alguns de inveja, outros de repúdio e ainda alguns de contemplação. Alguns se iniciavam em seu quadril e morriam em seu pescoço. Durante algum tempo, Helena se sentiu incomodada com aquela única parte do seu corpo. No entanto, não tinha como remov&e
“Abra as asas, você está pronta para voar.”As músicas altas faziam meu corpo se mover de maneira ritmada e inconsciente. As luzes piscantes me forçavam ver parcialmente todas as cenas à minha frente, fazendo-me entender que nada do que vemos e ouvimos está completo, que para tudo existem três pontos de vista; o meu, o seu e o certo. Os aromas doces me faziam desejar cada vez mais qualquer coisa que estivesse em minha mente. O cheiro dos corpos suados e esbarrões involuntários me faziam sentir-me viva, como nunca me senti antes.As baladas eram nossa segunda casa. Todos nossos amigos frequentavam, nos divertíamos e estávamos seguras ali. Visto que morávamos no país campeão em assassinatos de transexuais e travestis e para piorar a situação, na cidade campeã nesses mesmos quesitos dentro desse território nacional. Encontrar seu
“Feche os olhos e sinta o vento de minhas asas tocar a sua face.”É noite. Sinto o ar gélido arrepiar minha pele. A chuva cai molhando meu corpo deitado ao chão. Sinto as gotas tocarem minha pele e escorrerem por ela, procurando seu inexorável destino cíclico. Minha visão está turva, manchada de vermelho, mas ainda posso ver as luzes artificiais brilhando acima dos homens tentando enganá-los, dizendo que são estrelas, não caio mais nessa. Vejo além delas, as nuvens carregadas e escuras despejando sobre a Terra seu pranto desesperado, por todos os filhos perdidos e todo o mau recebido, por nossa culpa. Elas se afastam e então vejo luzes piscando de maneira lenta e fraca, são poucas, mas elas estão lá, estrelas vivas de verdade.As estrelas parecem estar ao alcance de minha mão erguida ao céu, mas quando fecho os dedos, nada posso se
Feche os olhos e ouça o clamor de sua alma.”Cada vez que minha pele sente o gélido toque da noite, simultaneamente minha mente é invadida por um tsunami de lembranças. Momentos passados, tão claros, tão vívidos que chegam a parecer com instantes pessoais e atuais. Mas de quem são essas memórias?Hélio estava curioso do porque tinha de urinar de pé enquanto sua mãe o fazia sentada. A explicação era categoricamente fria e vazia; porque você é menino. As perguntas giravam em sua mente o tempo todo, e as mais fortes e em maior constância eram: e se ele fosse menina, e o que tinha depois do céu? Obviamente as perguntas não estavam relacionadas, não ainda. Mas tanto fazia, pois, inexoravelmente suas questões ficariam sem respostas mesmo.Hélio nunca teve problemas em aceitar outras crianças em se
“Feche os olhos e ouça o mundo gritar e chorar ao seu redor.”As luzes azuis e vermelhas piscam freneticamente. Ouço sons agudos e distantes ecoando ao meu redor. Será possível que tamanha cacofonia me impedirá de mergulhar mais fundo nessas memórias? Não, penso que não. Essas luzes me lembram…O natal chegara depressa. Ao menos o primeiro de que Hélio se lembrava. Nenhum dos seus desejados presentes estava na sala quando despertou. A bicicleta vermelha, o tênis que pulava bem alto, a boneca Barbie, o boneco do Fofão e nem mesmo a marreta do Chapolin. Bastava um, mas nenhum estava lá. Ao invés desses havia um caminhão de madeira repleto de soldadinhos de plástico, um rádio à pilha e um revólver de espoleta. Fora o primeiro natal traumático daquela criança.Hélio possuía uma simpatia m
“Feche os olhos, e ouça minha voz, ela acalentará seu coração.”Hélio era filho de mãe solteira, diarista que dependia da ajuda da família para cuidar de seus filhos enquanto estava fora. Nada aborrecia mais o garoto do que ficar na casa da avó. Os motivos eram muitos. Ele não podia correr, espalhar brinquedos pela casa, brincar com o cãozinho do tio, fazer barulho, pois, atrapalhava a soneca vespertina da vó, nem assistir televisão por que gastava muita energia… Os dias na casa da avó eram tediosos e longos.Mas não era isso que o faziam não querer ir para lá. O tédio era suportável, as chineladas e pimentas na boca — quando escapava um palavrão — também. Os brinquedos que iam parar no lixo eram mais difíceis, mas ainda assim suportável.O que amedrontava o garoto era se