01 de julho, 2005
Não sei de onde arranquei forças para conseguir escrever hoje neste diário. Não sei nem como estou conseguindo segurar a caneta. Meus dedos tremem tanto que, tudo que for aqui registrado, ficará de maneira ilegível – o que poderá ser considerado bom.
As desconfianças apenas aumentaram com o decorrer do tempo. A menstruação não descia mais, os sangramentos que surgiram foram abruptamente interrompidos, sem razão nenhuma para ter ocorrido. As dores de cabeça se intensificavam, o cansaço se unia a enjoos e azias insuportáveis. Meus hormônios inteiros estavam em completa avalanche e só existia apenas uma resposta para aquele completo descontrole metabó
01 de agosto, 2005 Mais do que nunca, tive a certeza de que estou no caminho em que deveria estar. Vi que não valeria a pena largar a minha vida, todos os meus planos tão cuidadosamente pensados por um sentimento que não deveria existir. Fergus está bem. Fui hoje à escola unicamente para conversar com ele, ser bem franca e não tentar mais fugir – era mais do que justo deixá-lo a par dos fatos, minha consciência talvez não pesasse tanto depois. Por mais que a sua opinião não interferisse na minha decisão, avisá-lo seria correto. E então eu o vi. Vi e preferi não ter visto, mas sei que foi o melhor que pod
Para ele, é como se o mundo tivesse perdido uma fonte de energia. Não gostava de exageros românticos ou de histórias ao estilo Romeu e Julieta, mas não conseguia sentir-se melhor, mais animado, entusiasmado com qualquer coisa. Jade havia levado consigo grande parte dele, deixando um vazio que não seria preenchido tão cedo. Nunca pôde imaginar que se apaixonaria por alguém daquele modo, que pudesse amar naquela intensidade. Achava que o que nutrira por Cecília era forte. Só então, percebeu como estava enganado. Passou a mão pelos cabelos desgrenhados e longos. A falta de notícias dela o arrasava. Estava aflito com a saúde física e mental de Jade. A cena que vira na última vez em que estiveram juntos não cons
Ele largou a lapiseira subitamente quando a campainha tocou. Era dezesseis de setembro, e a mãe conseguiu um dia de folga – estava em casa, no quarto, descansando o almoço que fizera especialmente para os dois. Por aquele mesmo motivo, pouparia Rosália da aparentemente complicada tarefa de atender o visitante. Abriu a porta. — Adriano? Adriano Fergus? O susto de ver aquele rapaz parado à sua frente o impediu de responder à pergunta. Não estava atordoado apenas por Quartzo ter ido à sua casa – sabia Deus o que ele queria –, mas por ver o estado decadente que seu rosto mostrava – olheiras fundas, face molhada, magreza. Não era um bom sinal. 
Hoje é o aniversário dela. As vozes na sala pareciam distante demais para que seus ouvidos captassem o som com perfeição. Seus olhos vagueavam por pontos imperceptíveis do ambiente, como os cadarços desamarrados de Rita, ou a mochila aberta de Eduardo. Seus pensamentos, contudo, estavam fixos na única imagem que, por infindáveis semanas, não abandonava a sua mente. Hoje é o aniversário dela e eu não poderei comemorar. E se tudo tivesse ocorrido de maneira diferente? E se não tivesse sido comandado pelo seu instinto naquela noite? Se tivesse controlado os seus desejos, se tivesse apenas lhe dado um beijo de boa noite e houvesse saído em seguida?
31 de Outubro, 2005 Outubro finalmente acabou. Tenho a estranha sensação de que um ciclo longo e, ao mesmo tempo, efêmero chegou ao fim. Não que este seja o final com ação, o desfecho. Este é o fim premeditado – aquele que colocou o último ponto e encerrou definitivamente um período. Acho que esta é a última vez que escrevo aqui, porque quero deixar algum registro da minha memória antes de abandonar de vez este caderno – não tem muito sentido continuar com este monte de páginas. Minhas folhas estão caindo, meu inverno está chegando e eu preciso estar pronta para a primavera que, brevemente, virá.&
— Boa noite, meninas! O ar encheu-se com o doce Calvin Klein que entrou inesperadamente. As atendentes mais velhas, sorridentes, levantaram a cabeça, ansiosas para ver a jovial expressão do mais novo e simpático enfermeiro do hospital. Não que ele fosse o exemplo exímio da beleza grega ou do charme hollywoodiano, visto que não possuía nada de exuberante em sua aparência simples. Entretanto, a amabilidade que emanava e sua alegria quase surreal faziam-nas suspirar pelos corredores. — Boa noite, Adriano! — disseram em coro, amistosas, perdendo o mau-humor ocasionado por mais uma noite em plantão. O jovem sorriu e seguiu para a ala dos enfermeiros, pronto para pôr seu uniforme e cuid
Primeiro de outubro, 2004. Sinto-me tão nervosa que meus dedos tremem assim que toco a primeira tecla do piano. Venho treinando há dias, mas continuo a encontrar falhas. Chego a pensar que todos os anos de intenso aprendizado e esforço foram em vão, porém me lembro de que sou uma irredutível pessimista. Por isso, tento acreditar que esteja apenas exagerando, depreciando-me, como sempre faço. Tudo por culpa do meu intenso perfeccionismo e da minha eterna busca por melhorias. Não me sinto satisfeita enquanto não alcanço a perfeição.* Desceu as escadas apressado, desligado d
Doze de Outubro, 2004. Parece que meu trabalho como professora, mesmo que substituta, vem agradando. O professor e coordenador da área já está me chamando para vários outros eventos musicais da escola. Quer que eu faça parte do coral, servindo de apoio instrumental, além de acompanhar a banda do colégio em suas pequenas apresentações escolares. Ah, claro, no teclado – afinal, por razões óbvias, não há como levar um piano para todos os lugares. Creio que ele tenha conhecimento sobre minhas outras habilidades no ramo musical. Se não me engano, acho que deixei bem claro que também cantava e que estava aprendendo a tocar violão. Se não tiver dito, talvez tenha sido o melhor