Bernardo recolheu o cigarro com um movimento ágil e se levantou de forma despreocupada, pegando uma tigela e bebendo um gole sem muita cerimônia.— Muito aguada.Gabriel estreitou os olhos, quase explodindo de raiva. Estava a um passo de virar a mesa de centro.Como podia? Érico era um homem poderoso, pai de filhos que eram verdadeiros exemplos de sucesso, mas Bernardo... Bernardo parecia um caso à parte, um verdadeiro espírito livre, uma aberração genética!Bernardo saiu da sala bocejando, deixando Gilbert e Gabriel sozinhos. A atmosfera mudou instantaneamente, o silêncio se instalou, criando uma tensão quase palpável no ar.Gilbert, no entanto, não levantou nem o olhar para ele, tratando Gabriel como se fosse invisível. Aquela indiferença, aquela frieza, desestruturava completamente o homem, acostumado a conquistar corações com um simples olhar ou sorriso.Gabriel, que já tinha visto e lidado com todo tipo de pessoa, não conseguia decifrar as intenções de Gilbert. Será que ele estav
Com um estrondo, Gabriel foi arremessado contra a estante de livros. Vários volumes despencaram ao chão, e um deles o acertou na cabeça, fazendo seus ouvidos zumbirem de dor.— Ai... Gilbert! O que você está fazendo?— Eu avisei, mas você não quis ouvir. — Gilbert respondeu, vendo que ele se machucara, mas mantendo seu semblante impassível. — Gabriel, é verdade que minha irmã pediu sua ajuda, mas isso não significa que você pode fazer o que quiser comigo. O que aconteceu naquela noite, acabou ali. Se você se comportar, continuamos como parentes. Mas se fizer isso de novo, nem eu sei do que sou capaz.Gilbert nunca foi conhecido por ser uma pessoa paciente. Na verdade, ele era o mais temperamental de todos os filhos da família Bastos. Se fosse dez anos atrás, qualquer homem que ousasse se aproximar dele dessa maneira já teria seus tendões cortados, sem hesitação.— Gilbert... Então você não vai assumir o que fez comigo naquela noite? — Gabriel apertou os punhos, sua voz tremendo de indi
Maia não conseguiu esconder sua preocupação.— Gilbert, naquele dia você tem que ir junto. Aconteça o que acontecer, vamos fazer de tudo para proteger a Vivia. Não podemos deixar que ninguém a prejudique!— Isso é certo, tia Maia. Obrigado por me contar tudo. — Respondeu Gilbert, com um olhar firme.Assim que ele saiu, Maia entrou no quarto.— Gabriel, o que aconteceu aqui? Você brigou com o Gilbert?Gabriel estava agachado, recolhendo os livros que haviam caído no chão, de costas para Maia. Sua voz saiu abafada, quase como um resmungo.— Não, está tudo bem.— Não me venha com essa! O barulho foi tão grande que eu ouvi lá de fora. Só não consegui ouvir sobre o que estavam falando. Gilbert é um homem tão calmo, em todos esses anos nunca o vi perder a paciência. E você, em poucos dias, já conseguiu tirá-lo do sério? Com certeza, a culpa é sua!Ao ouvir isso, Gabriel se exaltou.— Eu? O que eu fiz de errado? Foi o Gilbert que me tratou mal!— Gabriel! Não venha com essas desculpas esfarra
Olívia abaixou os cílios delicados e afastou a mão quente dele.— Vai abrir a porta primeiro.Ela disse, passando ao lado de Charles, sem sequer olhá-lo. Ele percebeu que havia algo errado em seu comportamento, como se ela guardasse algum ressentimento.Olívia correu até a entrada e abriu a porta.— Bianca!— Sra. Marques!Com uma mala simples na mão, Bianca jogou o pacote no chão e, emocionada, abraçou Olívia com força.— Ai, Sra. Marques… Eu senti tanta falta da senhora! — Apesar de seus mais de cinquenta anos, Bianca chorava como uma criança.— Eu também senti sua falta. Mas agora, vendo você tão bem, fico aliviada. — Olívia disse, com a voz embargada, enquanto acariciava as costas da Bianca com carinho.Nesse momento, Charles também apareceu, surpreso ao ver Bianca ali. Mas ele não precisou de explicações para saber que foi Olívia quem a chamou.— Bianca, o Sr. Charles não tem se sentido muito bem ultimamente. Eu ando com muitas coisas para fazer, então pensei em pedir sua ajuda pa
Olívia saiu do banho, fez sua rotina de cuidados com a pele e se jogou na cama, soltando um suspiro profundo.Antes, ela jamais se deixaria abalar por um homem. Provavelmente já estaria saindo para se divertir com seus irmãos, curtindo a noite sem preocupações. Mas, depois de ouvir a conversa entre Charles e Benjamin naquela manhã, uma tristeza profunda tomou conta dela. O que ela menos queria agora era ver a cara de Charles.Ela sabia que não podia culpar Charles completamente pela perda do filho, mas, no fundo, ainda não conseguia superar isso. Mesmo que não falasse sobre o assunto e tentasse não pensar nele, aquilo estava sempre lá, como uma ferida que nunca cicatrizava.O som de batidas suaves na porta interrompeu seus pensamentos. Ela pensou que Charles estava vindo perturbá-la de novo, então fechou os olhos e se escondeu debaixo do cobertor, decidida a ignorá-lo.— Sra. Marques, sou eu. A senhora já dormiu? Eu trouxe um copo de leite quente, se ainda estiver acordada, por que nã
— O Sr. Charles usa relógio o tempo todo, não é porque gosta, mas para esconder as cicatrizes dos cortes nos pulsos.Olívia já tinha sido esposa dele, então sabia muito bem sobre aquela cicatriz. Mas ela sempre pensou que era uma marca de guerra, um "troféu" que ele teria ganhado durante o tempo no exército. Nunca imaginou que por trás daquele corte estreito e profundo houvesse uma história tão dolorosa.— Você deve se perguntar por que o Sr. Charles insistiu tanto em ficar com uma mulher como a Rafaela, tão venenosa, egoísta e vaidosa, sem querer se separar dela. Tudo isso porque o Sr. Charles é alguém muito leal, e de coração simples. Ele nunca teve contato com outra mulher além da Rafaela. E, quando ele tentou se matar cortando os pulsos, foi a Rafaela quem o encontrou e o salvou. Se não fosse por ela, ele talvez nem estivesse vivo. — Bianca enxugou os olhos cansados. — Além disso, o Sr. Charles, quando criança, era visto como bastardo e era rejeitado na escola. Ninguém queria se ap
A noite estava silenciosa, e Charles permanecia sozinho no quarto, sentado no sofá, com o semblante carregado de preocupação.Durante toda a noite, ele pensou em ir até Olívia, mas o medo de irritá-la o impediu de tomar qualquer iniciativa. Ele sabia que, se ela o visse, poderia ficar ainda mais chateada, e ele não queria incomodá-la.Embora Bianca tivesse retornado, ela não deu muitos detalhes sobre o motivo da raiva de Olívia. No entanto, as duas conversaram longamente sobre Tânia. Bianca acabou chorando bastante, mas garantiu que, ao voltar para Vila dos Lagos, fingiria não saber de nada para evitar que Tânia suspeitasse e tomasse alguma atitude precipitada.Agora, o fogo da vingança já estava aceso, e tudo estava sendo cuidadosamente planejado nos bastidores. Não havia espaço para erros. Qualquer passo em falso poderia comprometer a revelação dos crimes de Tânia, que eram muitos e graves.— Sr. Charles, eu tenho uma sensação... A Sra. Marques parece carregar algo muito pesado no co
Ela entendia bem demais o que ele estava sentindo. Durante aqueles três anos de casamento, ela também viveu com o medo constante, dia e noite, de que ele parasse de falar com ela, de que ele pedisse o divórcio.Agora, o sofrimento que ela passou por amor, ele também teria que experimentar.Olívia entrou no quarto e abriu a caixa de bolo. O aroma doce e irresistível do bolo de morango com chantilly invadiu o ar, fazendo-a engolir em seco.Mas, para Charles, aquele bolo não tinha nada de tão atraente quanto a mulher à sua frente. Comparado ao bolo, ele preferia devorar Olívia...Ela cortou duas fatias com agilidade e ofereceu uma a Charles.— Eu nunca soube que você gostava de doces. Você nunca me disse. Antes, quando eu fazia sobremesas para você, nem chegava a provar. Achei que não gostasse.Os dedos de Charles tremiam enquanto segurava a colher. Ele engolia grandes pedaços de bolo, mas sentia um gosto amargo na garganta.— Está bem doce... Obrigado...— Vai com calma, não tem ninguém