— Ah, é? Achei que fosse algo mais sério. — Érico deu de ombros, como se aquilo não fosse grande coisa, e lançou um olhar quase motivador para Vasco. — O Benjamin ainda nem pediu a mão dela oficialmente. Vasco, ter goleiro no gol não quer dizer que não dá pra marcar. Você ainda tem chance. Vasco fechou os olhos e massageou as têmporas, exasperado. Ele queria desaparecer naquele exato momento. Antes que pudesse responder algo, passos rápidos e decididos ecoaram pela sala, interrompendo o clima. — Érico! Que palhaçada é essa de trazer um batalhão pra ocupar o jardim? Vai começar uma guerra, é? — Olívia entrou como um furacão, com uma das mãos na cintura e os olhos faiscando de irritação. Era evidente que o tempo e as mudanças em sua vida a haviam transformado. A Olívia de antes, que temia e evitava confrontar o pai, agora estava firme, confiante. O peso de ser filha de Érico e de lidar com a pressão do poder do Grupo Bastos não a assustava mais. Na noite anterior, enquanto esta
A atmosfera na sala de estar ficou pesada de repente. Vasco sabia que não havia nada que pudesse ser dito para mudar aquela situação. Qualquer tentativa de argumentar só pioraria as coisas. Sem fazer barulho, ele saiu discretamente. Stéphanie também puxou Samara pela mão e deixou o casal e Érico a sós para conversarem. Charles sentia a respiração presa no peito. Sua mão trêmula começou a se mover, quase alcançando a de Olívia, mas ele hesitou no último segundo. Os dedos pararam no ar antes de se fecharem em um punho, frustrados. “Vivia... Eu realmente não quero que você vá.” — Ele murmurava em pensamento. Charles nunca foi um covarde. Quando amava, fazia isso com intensidade, e quando odiava, era com ferocidade. Mas, diante de Érico, havia algo que o esmagava: culpa. Não apenas por tudo o que havia feito com Olívia durante os três anos de casamento, mas também pelo sofrimento que infligira indiretamente ao pai dela. A perda do filho que Olívia carregava, as feridas que ela te
— Sério? Vasco sentiu o coração dar um salto e se virou bruscamente. Samara estava ali, sem que ele tivesse percebido, abraçando com força um ursinho de pelúcia marrom. Seus olhos baixos e expressão tímida a deixavam ainda mais encantadora. Ele deixou escapar um sorriso suave, os olhos brilhando com gentileza: — Claro que sim, estou falando sério. Foi você quem pintou? — Foi. — Samara confirmou com um leve aceno de cabeça. — Dá pra ver que você dedicou muito tempo, colocou seu coração nisso. Aposto que deu bastante trabalho, né? — Ah... Deu sim, mas não tem problema. O importante é que o Benjamin gostou. Ao mencionar Benjamin, os olhos de Samara brilharam como se estivessem banhados pelo sol. Um sorriso doce surgiu em seus lábios. — Benjamin é muito bom pra mim. Eu não tenho muito pra oferecer a ele... Então resolvi dar isso, uma pintura. Ele não se importou, e isso já me deixa feliz. O coração de Vasco apertou. Anos como policial o haviam acostumado a lidar com o p
Olívia não conseguiu segurar o riso enquanto passava o avental pelo pescoço de Charles e o ajustava nas costas. Depois, deu a volta e começou a amarrar as tiras atrás dele. — Olha, a boca do meu pai, depois de anos sendo mimada pela tia Glória, ficou absurdamente exigente. Ele é chato e cheio de frescura com comida. Charles engoliu em seco e respirou fundo. — Mas não se preocupe. Eu vou te guiar. Só seguir as minhas instruções que não tem erro. Sem conseguir se conter, Charles a puxou para os braços firmes, envolvendo-a e depositando um beijo quente em sua testa. — Às suas ordens, minha comandante. …— Ai! Era pra colocar a carne primeiro! — Ai, ai, ai! Você colocou vinagre demais! — Ai, meu Deus! O fundo da panela tá queimando! Rápido, vira isso! A cozinha, que deveria ser um lugar de tranquilidade, virou uma bagunça completa. Entre os gritos desesperados de Olívia e os movimentos atrapalhados de Charles, parecia que estavam no meio de uma guerra caótica. Na sala, Ér
Depois de mais de uma hora na cozinha, finalmente algumas comidas apresentáveis chegaram à mesa. Era evidente: receitas simples, tudo bem, mas qualquer coisa mais elaborada estava completamente fora do alcance de Charles. Cozinhar definitivamente não era o seu dom. E isso porque ele teve a supervisão constante da “comandante” Olívia. Sem ela, provavelmente o jantar só sairia de madrugada. Quando tudo terminou, Charles estava com a testa coberta de suor. Sua camisa branca, completamente encharcada, colava ao corpo, mostrando o quanto ele havia se esforçado. Olívia percebeu e sentiu um aperto no coração. Pegou um guardanapo e começou a secar o suor dele com cuidado, enquanto fazia um biquinho irritado. — Meu pai é muito chato, sabia? Cheio de cozinheiros em casa, sem falar na tia Glória, que é praticamente uma chef de mão cheia. Ele pode comer o que quiser, mas insiste em ficar aqui só pra te colocar à prova! Charles, no entanto, não parecia incomodado. Ele sorriu, pegando o gu
O jantar passou de forma surpreendentemente tranquila. Érico e Olívia tinham um entendimento silencioso, uma espécie de trégua não declarada. Nenhum dos dois tocou em assuntos que poderiam estragar o momento. — Pô, que sacanagem é essa?! Vocês tavam comendo sozinhos? Que falta de consideração! — A voz de Vasco ecoou pela casa. Ele estava vagando pelos cômodos, entediado e com fome, até que, ao ver a mesa cheia de comida, correu e se jogou na cadeira com um estrondo. — Vivia, isso não se faz! Uma mesa cheia dessas e nem me chamou! Só porque eu como muito não quer dizer que vou devorar tudo, né? Nem sou pior que o Pietro comendo! Érico e Olívia trocaram olhares e, quase ao mesmo tempo, responderam: — Eita, esquecemos de você. …Depois do jantar, Érico se preparou para ir embora. Olívia ficou parada nos degraus da entrada, observando o pai e Dimitri se afastarem. Charles, por outro lado, fez questão de acompanhá-los até o carro, sem demonstrar qualquer descuido. Pouco antes
— Qualquer coisa, eu aguento. Mas aquela frase... Vivia dizer que eu nunca soube o que a mãe dela realmente queria... — Érico fechou os olhos devagar. Sob a luz suave, os cílios longos e úmidos carregavam um peso de tristeza. — Isso me partiu o coração. Nesse mundo imundo, quem mais poderia entendê-la além de mim? — Sr. Érico, a Srta. Olívia ainda é jovem, impulsiva. Muitas coisas do passado ela não viveu, não sabe. — Dimitri suspirou profundamente. — Quando chegar o momento certo, e ela conhecer tudo sobre a Sra. Rebeca, tenho certeza de que entenderá o quanto o senhor sempre se dedicou. …Depois de se despedir de Érico, Stéphanie subiu com Samara para o quarto, enquanto Olívia, Charles e Vasco ficaram na sala, discutindo assuntos importantes. — Vivia, juro por tudo que é sagrado, eu não fui o dedo-duro! — Vasco ergueu a mão, com convicção. — Eu sei. Meus irmãos jamais fariam algo tão baixo. Nem mesmo o Arthur, que é o mais contra o Chad, chegaria ao ponto de usar nosso pai pa
Uma frase tão casual de Vasco e, de repente, o clima ficou tenso, como um campo prestes a explodir. Os olhos de Benjamin se estreitaram imediatamente, e ele ficou em alerta, os músculos tensos, como se algo o tivesse atingido em cheio. “Por que diabos ele está me chamando assim? Quanto tempo eu fiquei fora? O que aconteceu aqui?” — Vasco? Você ainda tá aqui? No meio do impasse, os passos de Olívia e Charles ecoaram no corredor. Os dois apareceram para ver o que estava acontecendo, atraídos pelo barulho. Olívia, sempre perspicaz, percebeu de imediato o clima estranho entre os dois homens. Seus olhos, atentos e ligeiramente desconfiados, analisaram a cena. — Ah, essa porta... Eu tava com dificuldade de abrir, mas ainda bem que Benjamin chegou na hora pra me ajudar. — Vasco se virou para a irmã com um sorriso tranquilo, como se nada tivesse acontecido. — Já tô indo, Vivia. Quando eu terminar essa correria toda, vou te levar pra dar uma volta. Você precisa sair mais, parar de ficar