Me afastei assustada da fonte e caí com a bunda no chão, Sam parecia ter se recuperado do choque inicial, ela me levantou e me puxou apressada.
_ Vamos, você precisa ir para o seu quarto, ninguém pode ver isso Ash, entendeu?
_ Por que? – Fiquei ainda mais assustada com o tom preocupado que ela havia dito aquilo. – Para Sam! – Puxei meu braço do seu aperto e paramos perto da entrada dos corredores. Ela segurou meus braços e olhou pra mim séria.
_ Aisling, as pessoas desse lugar não podem ver seus olhos, vamos para um lugar seguro e eu te explico.
Eu nunca havia visto ela agir daquela maneira tão séria, ela era naturalmente mandona, cresceu como uma princesa e sempre teve tudo o que quis, mas nunca tinha usado aquele tom de ordem, não comigo.
Encontramos alguns alunos no caminho, mas nenhum reparou em nós, a maioria estava nas salas de aula e conseguimos chegar ao meu quarto no andar onde eu morava com Lenora, Sam trancou a porta quando entramos. Ela então ficou um pouco mais calma e fez sinal para que eu me sentasse em minha cama.
_ Amiga, - ela começou- você já ouviu falar sobre os Filhos Dourados ou As Crianças Douradas?
_ Não sei, acho que já ouvi o termo antes.
_ É uma lenda antiga, muito popular no meu país, mas ficou conhecida aqui pois há boatos de que o falecido rei mandou executar uma. De onde eu venho, nas escrituras falam que elas são enviadas da deusa da magia e do destino e que nascem de tempos em tempos com poderes diferentes, dons capazes de trazer grandes bençãos ou grandes desgraças. – Eu estava dando meu melhor para acompanhar lutando contra a dor constante, mas ainda não sabia onde ela queria chegar – Acontece que nos livros sagrados do meu reino elas eram descritas como muito bonitas, habilidosas e que eram reconhecias pelos olhos, sempre um deles teria um tom de dourado, representando o fogo sagrado das suas almas, mas também sua natureza perigosa se provocada.
Agora eu entendia onde ela queria chegar.
Eu me lembrava vagamente de uma história sobre o rei ter enlouquecido e mandado executar um menino porque ele havia o ofendido, o falecido rei já estava em estágios avançados de loucura e nada conseguia cura-lo. Pessoas próximas falaram que ela chamava o garoto de criança dourada e que ele tinha vindo destroná-lo e destruir sua família, mas nem todo mundo levou muito a sério.
_ Então foi por isso que elas falaram sobre você me ajudar, elas acham que eu posso ser uma dessas crianças?
_ É possível que sim, não consigo pensar em outra explicação para o que aconteceu com seus olhos, elas falaram sobre o selo estar expirando, provavelmente te enfeitiçaram para esconder seus olhos e não levantar suspeitas, quando você nasceu o antigo rei ainda estava vivo, se ele suspeitasse de uma criança dourada você estaria morta.
_ Mas isso é só história Sam, eu sempre fui perfeitamente normal, tirando as crises de enxaqueca e os sonhos esquisitos, talvez eu só esteja doente e meus olhos sejam resultado disso, elas podem estar discutindo se me contam ou não. - Foi o pensamento mais lógico que consegui alcançar naquele momento.
_ Mas por que elas estariam querendo te mandar pras montanhas de Cair da Noite comigo? Sabe onde isso fica? Na última fronteira do continente antes da muralha Ash.
Antes que eu pudesse responder ouvimos alguém bater na porta.
_ Aisling! _ Chamou Lenora do lado de fora - Você está aí?
Ouvi Sam soltar a respiração que ela estava segurando e acabei notando que eu havia feito o mesmo.
_ Sim mãe! - Sam e eu nos olhamos com cautela.
_ Passei na sala do professor Mark e ele disse que você não havia comparecido à aula e nem Samantha, está tudo bem? Porque a porta está trancada?
_ Eu só estou com muita enxaqueca mãe, Sam me acompanhou para que eu viesse sozinha.
Não sabia se deveria deixar ela entrar e ver a aberração dos meus olhos brilhantes, talvez fosse a chance dela me explicar o que estava acontecendo. Sem pensar muito a respeito eu me levantei da cama passei por Sam e abri a porta, quando Lenora me olhou ela disso apenas uma coisa:
_ Merda!
Lenora me olhou pensativa por dois segundos antes de sair sem dizer nada, Sam e eu nos encaramos confusas mas não levou muito tempo até que Lenora retornasse com dois frascos em suas mãos. Ela parecia cansada, ela sempre parecia, mas naquele dia parecia mais, Lenora me ofereceu os frascos que ela segurava, um pequeno com um liquido azul claro e um maior com um líquido vermelho._ Isso vai te ajudar com as dores de cabeça, - ela disse me passando o liquido vermelho primeiro- beba o frasco todo, e esse aqui - ela disse oferecendo o menor - você pinga uma gota em cada olho, vai fazer com que eles voltem a cor normal. Aquilo foi estranho, ela já tinha exatamente o que eu precisava mesmo sem saber o que tinha acontecido, minha expressão deve ter deixado claro meus pensamentos pois ela continuou. _ Eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, era uma questão de tempo até seu selo se desgastar. Eu só não esperava que fosse tão rápido. Ela se sentou em minha cama e olhou para mim
Lenora, Sam e eu combinamos que enquanto a formatura não chegasse nós agiríamos como se nada tivesse normalmente, tomei a poção de líquido vermelho para ajudar com as dores de cabeça que minha mãe me deu na noite anterior e pinguei uma gota da azul em cada olho, que era apenas um glamour para que ninguém visse a cor dos meus olhos. Naquela manhã eu havia acordado bem melhor, finalmente tinha dormido o suficiente e me sentia físicamente normal, mentalmente por outro lado eu estava perturbada. Não prestei atenção à aula de poções o suficiente e acabei explodindo o pequeno caldeirão, poções não eram meu forte então a professora não ficou impressionada, fui derrubada pelo menos três vezes no tatame no treinamento de luta o que já era uma coisa incomum, acabei inventando que estava com dores de cabeça novamente e ele pareceu acreditar e me dispensou mais cedo, saindo do vestiário vejo alguém encostado na parede a minha frente, era Fin, o garoto prodígio, eu o ignorei e passei por ele mas
As nuvens escuras de tempestade rodeavam as montanhas do norte como um mau agouro, o vento frio e forte afugentava os moradores da aldeia que se escondiam dentro de suas casas pequenas, trancando portas e janelas e acendendo lareiras, as mães abraçavam suas crianças fazendo-as ficar em silêncio. Não era estranho as tempestades nas montanhas, mas aquele dia tinha uma aura diferente, todos podiam sentir, humano ou não, tendo magia ou não, havia um aviso no ar de que alguma coisa estava prestes a acontecer. Da torre oeste do palácio, o imperador olhava pela janela as primeiras gotas de chuva e o reflexo de um raio que acabara de cair, ele podia jurar que no piscar da luz nas nuvens asas grandes batiam na direção deles. Mas não podia ser, ele pensou, talvez fosse o nervosismo que havia se instalado nos últimos meses desde a visita ao oráculo de Sohros, aquela visão confusa de sangue e escuridão assombrava seus sonhos todas as noites desde então. Sua esposa a imperatriz e seus dois filhos
Minha cabeça latejava como se um punhal estivesse atravessando meu cérebro, os gritos dos cavaleiros treinando ao fundo pareciam distantes quando uma pontada cruel vinha e me deixava tonta. Sam era só suspiros ao meu lado admirando os rapazes que à àquela altura já estavam sem camisa e cobertos de suor, o calor naquele dia em particular estava insuportável, choveria em breve eu tinha certeza, apesar do céu claro e sem nuvens aquele clima abafado só podia significar uma coisa: uma tempestade muito feia estava chegando.Mas não era apenas o clima que me dizia isso, eu podia sentir que algo se aproximava, sorrateiro e agourento, os sonhos que eu havia tendo ultimamente eram mau presságio, o arrepio que subia pela minha espinha vez ou outra também. Sam sabia que eu andava preocupada e tentava ao máximo me distrair, nesse dia fora o treinamento externo, no dia anterior o passeio para buscar ervas medicinais na floresta, a semana toda uma ocupação diferente. No fim isso também era para dist