Lenora, Sam e eu combinamos que enquanto a formatura não chegasse nós agiríamos como se nada tivesse normalmente, tomei a poção de líquido vermelho para ajudar com as dores de cabeça que minha mãe me deu na noite anterior e pinguei uma gota da azul em cada olho, que era apenas um glamour para que ninguém visse a cor dos meus olhos.
Naquela manhã eu havia acordado bem melhor, finalmente tinha dormido o suficiente e me sentia físicamente normal, mentalmente por outro lado eu estava perturbada. Não prestei atenção à aula de poções o suficiente e acabei explodindo o pequeno caldeirão, poções não eram meu forte então a professora não ficou impressionada, fui derrubada pelo menos três vezes no tatame no treinamento de luta o que já era uma coisa incomum, acabei inventando que estava com dores de cabeça novamente e ele pareceu acreditar e me dispensou mais cedo, saindo do vestiário vejo alguém encostado na parede a minha frente, era Fin, o garoto prodígio, eu o ignorei e passei por ele mas logo ouço meu nome ser chamado.
_ Ei! Aisling não é? - Parei de repente e logo ele me alcançou e parou na minha frente estendendo sua mão em cumprimento- Eu sou Fin, fazemos algumas aulas juntos.
Olhei para sua mão estendida desconfiada, geralmente os rapazes não se aproximavam muito de mim, eu não era das mais populares, ser filha da diretora costumava assustar a maioria das pessoas, algumas era simpáticas mas distantes, outras que se aproximavam costumavam querer favores e quando eu não atendia suas expectativas elas voltavam a me ignorar. Então ter o rapaz mais adorado do Instituto falando comigo era no mínimo esquisito, já que em anos aqui nunca nos falamos, entretanto peguei sua mão que aguardava pacientemente e o cumprimentei de volta.
_ Sim, eu sei quem você é, como posso ajudar? - sorri tentando transmitir alguma simpatia.
_ Bem, eu vi que você apanhou feio no tatame hoje, ta tudo bem? Você normalmente é uma boa lutadora. - Aquilo foi estranho para dizer o mínimo, e acho que minha expressão de confusão ficou muito óbvia por que ele continuou - Desculpe te abordar assim do nada, é que já que vamos viajar juntos eu achei que seria adequado me apresentar formalmente.
_ Nós o que? - Foi tudo o que saiu da minha boca.
_ A diretora não te informou? - Ele deu uma boa olhada para todos os lados e abaixou um pouco o tom de voz se aproximando de mim - Vou te acompanhar para as montanhas de Cair da Noite.
_ Voce? - Minha voz saiu alta demais e ele tapou minha boca, se alguém visse tamanha proximidade entre mim e ele poderia deduzir coisas e isso poderia me trazer bastante problemas com as fãs obcecadas dele - Você é a pessoa de confiança? Por essa eu realmente não esperava.
_ Isso é um problema pra você? - Ele pergunta receoso, jamais imaginei ver o rei da popularidade preocupado com os pensamentos de alguém.
_Não! - Me apresso em dizer- Só fiquei surpresa, você sabe onde está se metendo? - Eu precisava ser cautelosa, eu não sabia o quanto Lenora havia dito pra ele e se ele estava realmente disposto a se arriscar nessa jornada, pelo que ela havia me explicado naquela noite seria muito perigoso, ela não poderia ir comigo, além das responsabilidades com o Instituto ela precisava ficar atenta a movimentação no palácio. Ela não me explicou o por quê, mas as relações entre Lenora e o palácio eram bastante frágeis desde que o novo rei ascendeu ao trono, se o antigo era paranóico, esse era dez vezes pior, e por alguma razão ele tinha um interesse exagerado no Instituto e em Lenora.
_ Acho que sim, - ele não parecia ter muita certeza - Lenora me disse que você tinha uma missão muito importante e que sua vida corria perigo, que tem alguém nas montanhas que pode te ajudar.
_ Como você aceita uma coisa assim sem saber dos detalhes?
Por alguma razão minha mãe não tinha falado tudo a ele, e provavelmente ela não esperava que ele viesse falar comigo tendo em vista que ninguém se aproxima muito. Mas Fin parecia tranquilo com aquilo e de certa forma seu semblante era até mesmo animado.
_ Minha mãe confia muito em Lenora, e temos uma dívida com ela, se a filha dela corre perigo vai ser um prazer ajudar.
_ Mas, e a corte? Eu pensei, bem, todo mundo pensou que você se tornaria cavaleiro depois da formatura.
_ As pessoas deduzem coisas demais, mas o que elas sabem de fato? - Ele sorriu de forma gentil, Fin era uma pessoa mais interessante do que eu imaginava.
O horário das aulas havia terminado e finalmente os alunos começaram a aparecer vindo do treino para o vestiário, Sam vinha correndo em minha direção e nem percebeu que Fin estava bem ali.
_ Você está bem? Vi o professor te liberar mais cedo e achei que alguma coisa tivesse acontecido.
Ela me olhava preocupada e continuava alheia a presença do nosso novo parceiro de viagem que nos observava pacientemente.
_ Estou bem, eu só estava distraída demais pra treinar. Aliás, lembra do Fin? - Eu então virei ela para ele que deu mais um charmoso sorriso simpático e acenou com a cabeça. Sam ficou muda.
_ Bem, eu vou deixar vocês duas conversando, - ele claramente percebeu o clima estranho, e Sam ainda encarava boquiaberta, ela com certeza se arrependeria disso mais tarde - podemos nos encontrar depois pra discutir os detalhes da viagem? Só temos duas semanas pra nos preparar e tem as provas e toda a preparação para a formatura, seria bom nos encontrarmos sempre que pudermos pra estudar o caminho e o que devemos levar.
_ Claro! - Respondi rapidamente - Claro que podemos, o escritório da Lenora é um lugar seguro eu acho que ela não vai se importar de usarmos quando ela não estiver.
_ Combinado então, depois nos falamos. - Ele sorriu novamente acenou e saiu, Sam continuava parada feito uma estátua sem entender absolutamente nada do que havia acabado de acontecer.
Depois de tirá-la do transe e aguardar enquanto ela surtava por não ter conseguido dizer nada na frente do Fin, eu contei a ela sobre nossa conversa e eu nunca vi ela tão animada para uma viagem potencialmente arriscada e que ela nem tinha certeza se conseguiria ir, mas estava determinada.
Fomos para a última aula do dia, era sobre a história do coven Barford das bruxas de sangue, essencial nas guerras da conquista do continente, foram as mais poderosas da história ajudando na construção dos reinos e impérios que conhecemos hoje. Elas eram sete irmãs membros originais, as primeiras de sua espécie, Calisto, Celeste, Cassiopéia, Cassandra, Celia, Carmem e Cornélia, conhecidas por dominarem os elementos e energias da natureza, Calisto o vento, Celeste a luz, Cassiopéia o raio, Cassandra as sombras, Celia a água, Carmem o fogo e Cornélia a terra. Eu já havia lido sobre elas antes mas me fascinava ouvir sua história todas as vezes, cada uma delas ficou responsável no desenvolvimento de um país, elas não tinham desejo de reinar portanto apenas auxiliavam os reis e imperadores nas suas funções.
Elas viveram por centenas de anos antes da grande guerra contra o imperador Hipno, que tentou dominar todos os países com o exército dos soldados de fogo, criaturas demoníacas libertadas de sua prisão no submundo, nunca descobriram como ele havia conseguido tal feito, mas na última batalha as irmãs se juntaram nas planícies de Alskhar e ao fundir seus poderes baniram os soldados para seu mundo novamente, graças a elas o imperador foi morto e a grande guerra teve fim, mas infelizmente suas vidas foram levadas não restando nem mesmo os corpos para o funeral.
Através dos séculos seus filhos continuaram fazendo seu trabalho, suas filhas traumatizadas pela guerra aboliram o coven e se espalharam pelos mundos, não se sabe nada delas desde então. Os filhos homens geralmente fruto de relacionamentos com humanos se tornaram os primeiros magos alquimistas, o sangue misto lhes proporcionava poder mas não forte como o das bruxas de sangue, então unindo-se com os humanos e misturando sua técnologia e a magia eles passaram a ensinar, e criaram escolas para preparar os mestiços chamados de magos e magas, seres que nasciam de relações de bruxas e humanos.
Futuramente essas escolas cresceriam e passariam a ensinar também os féricos, as fadas e os humanos em várias áreas, formando até mesmo membros da realeza. O instituto como conhecemos e estudamos é o resultado final dessas escolas, hoje formando cavaleiros, damas reais, membros da corte, princesas e principes com aptidão a magia, magos, entre outros, podendo ser em Institutos mistos ou especialiazados.
Aquela aula conseguiu distrair minha cabeça dos acontecientos recentes e melhorar muito o meu humor, eu gostava particularmente de história, de estudar civilizações antigas e acontecimentos, estávamos no meio de um exercício quando aquela sensação estranha de agouro retornou e não demorou muito para eu descobrir o por quê. Com um grande estrondo todas as janelas da sala explodiram em cacos, o que significava que alguém ou alguma coisa tinha perfurado a barreira de proteção do castelo e estávamos sendo atacados.
As nuvens escuras de tempestade rodeavam as montanhas do norte como um mau agouro, o vento frio e forte afugentava os moradores da aldeia que se escondiam dentro de suas casas pequenas, trancando portas e janelas e acendendo lareiras, as mães abraçavam suas crianças fazendo-as ficar em silêncio. Não era estranho as tempestades nas montanhas, mas aquele dia tinha uma aura diferente, todos podiam sentir, humano ou não, tendo magia ou não, havia um aviso no ar de que alguma coisa estava prestes a acontecer. Da torre oeste do palácio, o imperador olhava pela janela as primeiras gotas de chuva e o reflexo de um raio que acabara de cair, ele podia jurar que no piscar da luz nas nuvens asas grandes batiam na direção deles. Mas não podia ser, ele pensou, talvez fosse o nervosismo que havia se instalado nos últimos meses desde a visita ao oráculo de Sohros, aquela visão confusa de sangue e escuridão assombrava seus sonhos todas as noites desde então. Sua esposa a imperatriz e seus dois filhos
Minha cabeça latejava como se um punhal estivesse atravessando meu cérebro, os gritos dos cavaleiros treinando ao fundo pareciam distantes quando uma pontada cruel vinha e me deixava tonta. Sam era só suspiros ao meu lado admirando os rapazes que à àquela altura já estavam sem camisa e cobertos de suor, o calor naquele dia em particular estava insuportável, choveria em breve eu tinha certeza, apesar do céu claro e sem nuvens aquele clima abafado só podia significar uma coisa: uma tempestade muito feia estava chegando.Mas não era apenas o clima que me dizia isso, eu podia sentir que algo se aproximava, sorrateiro e agourento, os sonhos que eu havia tendo ultimamente eram mau presságio, o arrepio que subia pela minha espinha vez ou outra também. Sam sabia que eu andava preocupada e tentava ao máximo me distrair, nesse dia fora o treinamento externo, no dia anterior o passeio para buscar ervas medicinais na floresta, a semana toda uma ocupação diferente. No fim isso também era para dist
Me afastei assustada da fonte e caí com a bunda no chão, Sam parecia ter se recuperado do choque inicial, ela me levantou e me puxou apressada._ Vamos, você precisa ir para o seu quarto, ninguém pode ver isso Ash, entendeu?_ Por que? – Fiquei ainda mais assustada com o tom preocupado que ela havia dito aquilo. – Para Sam! – Puxei meu braço do seu aperto e paramos perto da entrada dos corredores. Ela segurou meus braços e olhou pra mim séria._ Aisling, as pessoas desse lugar não podem ver seus olhos, vamos para um lugar seguro e eu te explico.Eu nunca havia visto ela agir daquela maneira tão séria, ela era naturalmente mandona, cresceu como uma princesa e sempre teve tudo o que quis, mas nunca tinha usado aquele tom de ordem, não comigo.Encontramos alguns alunos no caminho, mas nenhum reparou em nós, a maioria estava nas salas de aula e conseguimos chegar ao meu quarto no andar onde eu morava com Lenora, Sam trancou a porta quando entramos. Ela então ficou um pouco mais calma e
Lenora me olhou pensativa por dois segundos antes de sair sem dizer nada, Sam e eu nos encaramos confusas mas não levou muito tempo até que Lenora retornasse com dois frascos em suas mãos. Ela parecia cansada, ela sempre parecia, mas naquele dia parecia mais, Lenora me ofereceu os frascos que ela segurava, um pequeno com um liquido azul claro e um maior com um líquido vermelho._ Isso vai te ajudar com as dores de cabeça, - ela disse me passando o liquido vermelho primeiro- beba o frasco todo, e esse aqui - ela disse oferecendo o menor - você pinga uma gota em cada olho, vai fazer com que eles voltem a cor normal. Aquilo foi estranho, ela já tinha exatamente o que eu precisava mesmo sem saber o que tinha acontecido, minha expressão deve ter deixado claro meus pensamentos pois ela continuou. _ Eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, era uma questão de tempo até seu selo se desgastar. Eu só não esperava que fosse tão rápido. Ela se sentou em minha cama e olhou para mim