— Querido... Acorde!
— O quê? Mas onde...
— Bobinho... Você dormiu de novo no escritório!
— Isabella? Mas e a fazenda, minha filha...
— Já faz quase um mês que vocês voltaram Nick. Está tudo bem, você não se lembra? A sua filhinha só estava brincando de esconde-esconde e acabou dormindo debaixo da cama!
— É... e assim que a chuva parou voltamos para cá.
— Isso mesmo! Agora vamos voltar ao presente. Lembra do que conversamos lá na fazenda?
— Sobre... – e Nick abaixou o tom de voz para evitar que as paredes do escritório os ouvissem – a possibilidade de estarem me dando um golpe?
— Sim... Tenho quase certeza de que estou na pista certa, me dê uma semana e te digo qual de seus sócios está te traindo. Agora, por que não aproveita pa
O mais correto era ele ter ficado em casa ajudando a procurar a pequenina, pois provavelmente ela estaria lá mesmo, em seu próprio quarto, no entanto, Genival experimentava sensações que nunca havia sentido, pelo menos não naquela intensidade, sentia um alerta de perigo e era como se uma força o impulsionasse para a pequena floresta existente a uns duzentos metros dos fundos da casa.A chuva engrossara de tal forma que era difícil enxergar e até mesmo se mover e foi por meio de uma visão turva que ele identificou um vulto movimentando rapidamente em direção às árvores. Um vulto pequeno, todo borrado, mas uma coisa era certa: uma mancha amarelada tremulava ao vento, os cabelos loiros de Ceci.— Menina Ceci! – gritou o funcionário da fazenda.Como em resposta a garotinha parou, virou-se e acenou.Dentro da casa a situaç&atild
Amanda chegou à porta de seu quarto, girou levemente a maçaneta, ela esperava encontrar a filhinha escondida debaixo da cama, num daqueles acessos de brincadeiras inconseqüentes que as crianças fazem de vez em quando. Ela a princípio ficaria furiosa, mas perdoaria a filha.— Ceci? Cecília minha filhinha, já está na hora de parar com essa brincadeira! Mamãe está aqui!A luz azulada da tempestade lá fora iluminava mais que a vela que trazia consigo, mas nada, nada de Ceci. Estava disposta a olhar cada canto minuciosamente quando ouviu um gemido. Era sua filha? Estaria machucada?— Mamãe? É a senhora?A voz estava meio abafada e parecia vir da suíte.No andar de baixo Joselina lembra-se de que a filha tinha uma lanterna, já que a que ficava na cozinha havia desaparecido, abriu uma gaveta e l&aa
Nick tenta mais uma vez abrir os olhos, era inútil, era como se algo muito pesado impedisse que suas pálpebras se abrissem. Tentou mexer-se e novamente foi em vão. Outra tentativa foi gritar por socorro e, assim como os olhos, algo também pesava sobre sua boca e garganta. Seu fim era este? Num instante estava de volta à sua casa na cidade, no instante seguinte estava num lugar frio, escuro e que o deixava imobilizado. Tentava pensar, organizar os acontecimentos, no entanto era muito difícil pensar, apenas uma coisa importava naquele momento: sair dali.Joselina estava parada olhando aquela parede, aquele horripilante mural com desenhos infantis e propósitos malignos. E as letras? Letras redondas e bem feitas, como de uma criança que treinava bastante a caligrafia. Com um nó na garganta ela observa o final da frase feita com giz de cera, o trecho onde dizia que sua filha havia sido v&
Amanda aproxima-se da banheira para ver o vulto que parecia estar com sua filha. De passos lentos e cuidadosos ela avança. Um raio caído lá fora, na tempestade, ilumina o ambiente e o brilho da faca ofusca a visão da mulher. Pode ver também que sua filha estava realmente lá, e junto com ela uma moça que não tinha ainda trinta anos, era de uma beleza exótica e seu rosto lhe era familiar.Joselina está parada no meio do quarto da filha, de um lado o mural perverso com desenhos das crianças fantasmas e um recado macabro, do outro, uma figura comprida, usando uma mortalha preta e um véu também negro. Era ela, só podia ser! Era a Antônia. Sua filha havia voltado para casa e estava viva. Isso era o que desejava com todas as forças o seu coração, mas aquela pessoa que estava ali, apesar da semelhança, parecia
Nick está na praia, sente o calor, o cheiro de maresia, o barulho das ondas... Fazia tempos que não aproveitava o seu tempo com a família, não só o pessoal de sua casa, mas os tios e primos. Era muito tímido e não brincava muito com os parentes. Ele era o mais novo e por isso não lhe davam muita importância, mas naquele dia as coisas iam mudar, sentia isso. Quatro meninos e duas meninas, todos mais velhos, adolescentes e o pequeno Nick possuía naquela ocasião apenas dez anos. — Vejam só! É o pequeno com o cabeção! Um dos garotos faz gozação, mas é interrompido por outro que lhe fala algo no ouvido. — Sabe Nick... A gente fez uma competição e eu sou o re
Os olhos de Joselina ardiam depois de tanto chorar. Continuava algemada na cadeira e via figuras incomuns a sua frente:Um casal com uma boa aparência, ao contrário dos demais, pareciam seres iluminados, eles traziam junto a si a garotinha que Joselina havia resgatado de um monstro asqueroso metade homem, metade molusco, aquela menina seria a representação de sua infância sofrida;Numa cama em estado sonolento a adolescente de nome Flora, uma jovem que se viu obrigada a entrar para a prostituição. Novamente uma versão de outra fase de sua vida;Ao lado de Flora, segurando maldosamente o seu corpo, está um homem conhecido como Senhor “T”. O sujeito era um dos proprietários do bordel onde Flora era escravizada. Veste-se com um grosseiro traje feito de couro negro, com adereços metálicos, de suas costas, curiosamente ainda saem filetes de fumaça, co
— Vamos Lucas! Não sei se teremos muito tempo. Eles podem convencer Ceci a ficar na mansão para sempre!— Pra você é fácil, as pedras e galhos não a machucam enquanto você corre, você não pode nem sequer escorregar e cair no meio de toda essa lama!— Alguém já lhes disse que és muito resmungão, um jovem lindo e resmungão!— Você me acha bonito?— Não pense besteiras numa hora dessas, somos de mundos diferentes! Temos que nos concentrar em salvar sua irmã!— Tem razão! Vamos!E Lucas continua a correr pela floresta assustadora de tantas histórias tenebrosas. A todo momento sente que está sendo observado, ouve o farfalhar das folhagens se mexendo e vê vultos por entre os troncos brilhantes com a água da chuva. Quando Lucas e Eva já estava
No meio da floresta, na clareira, os raios de sol buscam caminho entre as folhas das copas das árvores para chegar ao solo enegrecido. Apenas o vento se faz notar por muito tempo. Todos os animais residentes parecem estar descansando e ninguém nota quando uma pequena mão ergue, saindo debaixo da terra fofa, com alguns movimentos ela busca apoio e em seguida surge o corpo de um garoto pré-adolescente abraçado a uma garotinha, ambos cobertos de sujeira. O menino balança a cabeça de um lado para o outro até ouvir o próprio pescoço estalar, ele olha para baixo, para o corpinho de sua irmã.— Ceci! Conseguimos mana! Ceci?O corpinho estava frio e imóvel, o irmão a puxa para saírem do meio da terra fofa, ele a deita entre as folhas caídas no chão.— Irmãzinha! Não faz isso comigo! Responde!Lucas sacode a irmã segurand