A chuva veio acompanhada de um vento frio e ruidoso, de raios e seus trovões, fato este que causava uma alternância entre escuridão e extrema claridade.
Dentro da sede da fazenda, mais precisamente num dos quartos dos fundos reservados aos empregados, Antônia está acordada. Tensa ela olha para os papéis espalhados em sua cama, cada um com um desenho diferente, qualquer um olhando atentamente perceberá que se trata de trabalhos de pessoas diferentes, neste caso, de crianças diferentes, os traços e até as palavras escritas em alguns deles deixam como prova que não foi apenas Ceci que os fez, mas que seus amiguinhos também participaram.
O primeiro desenho foi feito claramente pela menina Cecília: mostra ela mesma no centro, ao lado de seu palhacinho de pano e de uma garota com um vestidinho rosa.
No segundo desenho aparece um menino
— Querido... Acorde!— O quê? Mas onde...— Bobinho... Você dormiu de novo no escritório!— Isabella? Mas e a fazenda, minha filha...— Já faz quase um mês que vocês voltaram Nick. Está tudo bem, você não se lembra? A sua filhinha só estava brincando de esconde-esconde e acabou dormindo debaixo da cama!— É... e assim que a chuva parou voltamos para cá.— Isso mesmo! Agora vamos voltar ao presente. Lembra do que conversamos lá na fazenda?— Sobre... – e Nick abaixou o tom de voz para evitar que as paredes do escritório os ouvissem – a possibilidade de estarem me dando um golpe?— Sim... Tenho quase certeza de que estou na pista certa, me dê uma semana e te digo qual de seus sócios está te traindo. Agora, por que não aproveita pa
O mais correto era ele ter ficado em casa ajudando a procurar a pequenina, pois provavelmente ela estaria lá mesmo, em seu próprio quarto, no entanto, Genival experimentava sensações que nunca havia sentido, pelo menos não naquela intensidade, sentia um alerta de perigo e era como se uma força o impulsionasse para a pequena floresta existente a uns duzentos metros dos fundos da casa.A chuva engrossara de tal forma que era difícil enxergar e até mesmo se mover e foi por meio de uma visão turva que ele identificou um vulto movimentando rapidamente em direção às árvores. Um vulto pequeno, todo borrado, mas uma coisa era certa: uma mancha amarelada tremulava ao vento, os cabelos loiros de Ceci.— Menina Ceci! – gritou o funcionário da fazenda.Como em resposta a garotinha parou, virou-se e acenou.Dentro da casa a situaç&atild
Amanda chegou à porta de seu quarto, girou levemente a maçaneta, ela esperava encontrar a filhinha escondida debaixo da cama, num daqueles acessos de brincadeiras inconseqüentes que as crianças fazem de vez em quando. Ela a princípio ficaria furiosa, mas perdoaria a filha.— Ceci? Cecília minha filhinha, já está na hora de parar com essa brincadeira! Mamãe está aqui!A luz azulada da tempestade lá fora iluminava mais que a vela que trazia consigo, mas nada, nada de Ceci. Estava disposta a olhar cada canto minuciosamente quando ouviu um gemido. Era sua filha? Estaria machucada?— Mamãe? É a senhora?A voz estava meio abafada e parecia vir da suíte.No andar de baixo Joselina lembra-se de que a filha tinha uma lanterna, já que a que ficava na cozinha havia desaparecido, abriu uma gaveta e l&aa
Nick tenta mais uma vez abrir os olhos, era inútil, era como se algo muito pesado impedisse que suas pálpebras se abrissem. Tentou mexer-se e novamente foi em vão. Outra tentativa foi gritar por socorro e, assim como os olhos, algo também pesava sobre sua boca e garganta. Seu fim era este? Num instante estava de volta à sua casa na cidade, no instante seguinte estava num lugar frio, escuro e que o deixava imobilizado. Tentava pensar, organizar os acontecimentos, no entanto era muito difícil pensar, apenas uma coisa importava naquele momento: sair dali.Joselina estava parada olhando aquela parede, aquele horripilante mural com desenhos infantis e propósitos malignos. E as letras? Letras redondas e bem feitas, como de uma criança que treinava bastante a caligrafia. Com um nó na garganta ela observa o final da frase feita com giz de cera, o trecho onde dizia que sua filha havia sido v&
Amanda aproxima-se da banheira para ver o vulto que parecia estar com sua filha. De passos lentos e cuidadosos ela avança. Um raio caído lá fora, na tempestade, ilumina o ambiente e o brilho da faca ofusca a visão da mulher. Pode ver também que sua filha estava realmente lá, e junto com ela uma moça que não tinha ainda trinta anos, era de uma beleza exótica e seu rosto lhe era familiar.Joselina está parada no meio do quarto da filha, de um lado o mural perverso com desenhos das crianças fantasmas e um recado macabro, do outro, uma figura comprida, usando uma mortalha preta e um véu também negro. Era ela, só podia ser! Era a Antônia. Sua filha havia voltado para casa e estava viva. Isso era o que desejava com todas as forças o seu coração, mas aquela pessoa que estava ali, apesar da semelhança, parecia
Nick está na praia, sente o calor, o cheiro de maresia, o barulho das ondas... Fazia tempos que não aproveitava o seu tempo com a família, não só o pessoal de sua casa, mas os tios e primos. Era muito tímido e não brincava muito com os parentes. Ele era o mais novo e por isso não lhe davam muita importância, mas naquele dia as coisas iam mudar, sentia isso. Quatro meninos e duas meninas, todos mais velhos, adolescentes e o pequeno Nick possuía naquela ocasião apenas dez anos. — Vejam só! É o pequeno com o cabeção! Um dos garotos faz gozação, mas é interrompido por outro que lhe fala algo no ouvido. — Sabe Nick... A gente fez uma competição e eu sou o re
Os olhos de Joselina ardiam depois de tanto chorar. Continuava algemada na cadeira e via figuras incomuns a sua frente:Um casal com uma boa aparência, ao contrário dos demais, pareciam seres iluminados, eles traziam junto a si a garotinha que Joselina havia resgatado de um monstro asqueroso metade homem, metade molusco, aquela menina seria a representação de sua infância sofrida;Numa cama em estado sonolento a adolescente de nome Flora, uma jovem que se viu obrigada a entrar para a prostituição. Novamente uma versão de outra fase de sua vida;Ao lado de Flora, segurando maldosamente o seu corpo, está um homem conhecido como Senhor “T”. O sujeito era um dos proprietários do bordel onde Flora era escravizada. Veste-se com um grosseiro traje feito de couro negro, com adereços metálicos, de suas costas, curiosamente ainda saem filetes de fumaça, co
— Vamos Lucas! Não sei se teremos muito tempo. Eles podem convencer Ceci a ficar na mansão para sempre!— Pra você é fácil, as pedras e galhos não a machucam enquanto você corre, você não pode nem sequer escorregar e cair no meio de toda essa lama!— Alguém já lhes disse que és muito resmungão, um jovem lindo e resmungão!— Você me acha bonito?— Não pense besteiras numa hora dessas, somos de mundos diferentes! Temos que nos concentrar em salvar sua irmã!— Tem razão! Vamos!E Lucas continua a correr pela floresta assustadora de tantas histórias tenebrosas. A todo momento sente que está sendo observado, ouve o farfalhar das folhagens se mexendo e vê vultos por entre os troncos brilhantes com a água da chuva. Quando Lucas e Eva já estava