Alice.
Dois anos depois do beijo.
Hoje é aniversário do meu pai e mamãe está preparando uma festa surpresa para ele.
Casa cheia. Penso um tanto animada. E eventos formidáveis.
Amanhã bem cedo estarei de partida para Londres, onde irei fazer o curso de jornalismo. Meu maior sonho. Camila vai fazer medicina nos Estados Unidos. É a primeira vez que nos separamos de verdade e eu sei que sentirei a sua falta. Tenho procurado não surtar durante esses meses pensando em um certo beijo. De verdade, depois desse, saí beijando outros garotos do colégio. Pelo menos uns cinco e nenhum apagou o gosto daquele beijo. Tenho que essa oportunidade de ouro para conversar com o Lucca.
Suspiro e observo atentamente o jardim movimentado.
Pessoas andando de um lado para o outro cuidando dos preparativos para essa noite. Além do aniversário do meu pai, teremos também a minha despedida e estou ansiosa por isso. Um tipo de liberdade que eu sempre desejei, embora eu saiba que tanto a minha mãe quanto o meu pai vão me ligar todos os dias assim como vi fazer com o Cris.
E por falar no Cris. Estou feliz que finalmente a Jenny e ele tenham decidido vir morar de vez aqui no Brasil. Já era hora. Daqui a algum tempo teremos bebês em casa.
A Vick e o Thiago também já resolveram as suas vidas e agora eles administram as empresas dos dois lados da família. O Edu praticamente já foi adotado pelos Ávila, embora a minha irmãzinha também já esteja com um bebê a caminho.
E agora é a minha vez de dar andamento com a minha vida, e começarei pelo básico: serei a melhor jornalista de fatos reais que esse país já teve e todos ouvirão falar em Alice Ávila por um bom tempo.
Passo o dia entediada e trancada dentro do meu quarto. No fim da tarde, resolvo tomar um banho longo, relaxante e perfumado para enfim, me arrumar. São quase oito da noite quando fico totalmente pronta pra descer e o meu coração dá batidas ansiosas.
Ele virá para festa.
Pensar que já faz dois anos desde o nosso beijo me deixa intrigada. Por que eu nunca consegui esquecer? Pior, por que nunca mais tive sonhos tranquilos? Ter sonhos eróticos com o meu primo tem tirado o meu somo ao longo dos meses. E sabe o que me deixa com o pé atrás? Desde esse dia Lucca nunca mais pôs os pés aqui e nós nunca tivemos a oportunidade de falar sobre o... enfim! Eu realmente espero que ele venha essa noite.
— E aí, ele já chegou? — Camila inquire parando do meu lado à medida que seu olhar curioso varre todo o salão lotado.
— Não.
Queria que a minha voz não tremesse, que ela não expressasse a minha ansiedade e no ato, esfrego uma mão na outra para tentar manter-me passiva.
— Acha que ele virá?
Dou de ombros.
— Espero que sim.
— E o que dirá para ele? — Ela beberica o seu champanhe.
— Ainda não sei.
— Como não? Já faz dois anos e você não pensou no que vai dizer para o tiozão?
Suspiro.
Eu sei que nada nunca vai rolar entre a gente. Lucca é um homem centrado, ele jamais iria querer se envolver com uma garota da minha idade. Na cabeça dele e de muitos homens mais velhos eu sou apenas uma garotinha fantasiosa.
Bufo e olho para o meu reflexo no vidro de janela retangular. Vestido de gola alta, cinza claro com estampa floral minimalista. A saia plissada vai até o meio das coxas e as sandálias de saltos altos de tirinhas me dão alguns centímetros a mais. Meus cabelos loiros estão soltos e tive a delicadeza de fazer alguns cachos largos neles.
Péssima ideia! Agora sim me dou conta de que pareço uma garotinha.
— A sua mãe é incrível! — Desperto com o resmungar admirado da minha amiga e imediatamente olha na mesma direção.
Dizem que sou a cópia perfeita de minha mãe. Diferente do Cris e da Vick eu sou exatamente loira como ela e tenho a pele branca como dela, além dos olhos claros. Então, por que não me sinto sexy como ela e tão exuberante quanto? Isabelly Sampaio é mesmo um exemplo de dama da alta sociedade e um dia sonho em ser como ela.
Respiro fundo.
Cadê você?
Meu cérebro indaga e meus olhos ansiosos correm vez ou outra para a porta da frente.
Será que você não vem?
Está fugindo de mim, ou o beijo não foi tão bom assim?
A verdade, é que sempre me perguntei se ele também pensa naquele dia, no nosso beijo. E… se isso mexe com ele tanto quanto ainda mexe comigo?
— Vocês vão ficar aqui em cima? — A voz de Vick me desperta e me faz abrir um sorriso espontâneo. Portanto, não hesito em abraçá-la e beijar as suas bochechas de modo exagerado.
— É claro que vamos descer. — Camila responde, abraçando-a em seguida.
— Então vamos?
Enquanto descemos os degraus da escadaria os burburinhos sobressaem a música clássica que está tocando e eu sei que o assunto são as filhas dos Ávila.
— Filha! — Papai diz animado, abrindo os seus braços para me receber. E eu me aconcheguei nesse seu gesto de carinho, me demorando um pouco mais.
— Parabéns, papai! — sibilo docemente, recebendo um beijo seu no topo da minha cabeça.
— Obrigado, filha!
Depois, foi a vez da Vick e aproveitei para caminhar no meio dos convidados.
Do lado de fora o perfume das flores se mistura ao vento frio da noite, mas o céu noturno está pipocado de minúsculas estrelas que prende a minha visão por algum tempo. Logo fito as pequenas luzes brancas que enfeitam o jardim e os arranjos florais que ditam a entrada dos convidados. Através da janela larga fito a bela pista de dança onde alguns poucos casais se aventuram em uma dança lenta.
— Já combinei com o pessoal. — Mila me alcança do lado de fora.
— O que você combinou? — inquiro curiosa.
— Vamos ficar algumas horas por aqui, depois vamos para uma danceteria. Todos estarão lá nos aguardando para a sua despedida.
Abro um largo sorriso.
— Ótimo! Estou mesmo a fim de extravasar essa noite.
Olho na direção dos ´portões largos e me sinto desanimada.
Ele não vem.
E com esse pensamento decido voltar para a festa. Contudo, os portões se abrem e por algum motivo o meu coração b**e descompassado quando vejo o seu carro adentrar o perímetro. Penso em ir ao seu encontro, mas Lucca logo sai do veículo e ele não está sozinho.
— Uau! — Camila sibila com admiração para a estonteante mulher que desce do carro logo em seguida.
Samantha Solário. É, eu sei bem quem é essa garota. Ela é sua companheira de trabalho e pelo jeito é a sua namorada também.
AlicePensar que Samantha tem as mesmas paixões que o Lucca me deixa em desvantagem. Ela é exatamente como ele; tem a mesma idade e sabe agradá-lo. Ela tem a experiência feminina que eu não tenho.Bufo contrariada quando percebo que eles formam um par perfeito.Sem que eu consiga evitar, passo boa parte da festa observando o casal sempre sorridente e comunicativo. Esvazio a minha terceira taça da noite quando percebo que parece estar feliz ao lado dela. Lucca fala algo ao seu ouvido e se afasta para ir em direção da cozinha.É a minha deixa.Levanto-me abruptamente da minha cadeira e me afasto da mesa.— Aonde você vai? — Minha amiga questiona.— Pode me fazer um favor? — peço de repente.— Claro.— Tá vendo aquela mulher? — Aponto sutilmente para a acompanhante do meu primo.— Estou.— Pode distraí-la por alguns minutos? — Mila me encara especulativa.— O que você está aprontando, A?Faço um gesto desdenhoso em resposta.— Eu só preciso de alguns minutos para falar com ele.Sério, is
Alice— Eu sei, mas prometo que será apenas um beijo de despedida — sibilo baixinho.Ele solta o ar com força e eu tenho vontade de rir. Como um homem desse tamanho está tremendo de medo de dar um beijo em uma garota insignificante como eu?— Só um beijo. — Ele repete. Provavelmente para ter certeza.— Só um beijo. — Confirmo ansiosa e o meu coração dispara ritmado dentro do meu peito quando ele dá alguns passos para perto de mim.Sua mão grande segura na minha cintura quase sem força e aproveito para enlaçar o seu pescoço, sentindo imediatamente o calor da sua pele na palma da minha mão. Seus olhos permanecem o tempo todo conectados nos meus. O ar quente que sai da sua boca aquece a minha pele. Contudo, prendo a respiração, tamanha a minha ansiedade de sentir o seu sabor mais uma vez.Lucca se inclina um pouco, trazendo a sua boca para a minha e inicia um suave roçar de lábios.Fogo.Céus, estou queimando.Quente demais.Penso quando ele toma a minha boca em um beijo calmo. Contudo,
AliceEu quero respirar! Preciso respirar, mas não consigo fazer uma das funções mais vitais na vida do corpo humano. Penso quando sinto a sua língua ardente me invadir e não seguro um grito agudo de puro êxtase.— Lucca! — No ato, seguro nos fios castanhos claros, apertando-os entre os meus dedos e o mantenho ali, até que ele me dê o que necessito. Outro rosnado alto escapa da sua boca quando ele ergue a sua cabeça e os nossos olhos se encontram.— Goza para mim, querida! — Ele simplesmente ordena, voltando a enfiar a sua cara entre as minhas pernas e o meu mundo gira violentamente fora de órbita.Meu corpo está queimando e molhado de suor. Minha respiração ofegante pesa dentro do meu peito e eu penso que irei desfalecer. Então ele ergue a sua cabeça e eu vejo a intensidade dos seus olhos. É tão primitiva, não impulsiva e tão envolvente. Lucca se assemelha a um cão raivoso.Um cachorrão. É isso o que ele é. Um cachorrão filho da mãe!Seu corpo paira sobre o meu.Ainda estou ofegante
Lucca— Droga! O que essa garota tem na cabeça? — Suspiro alto pela terceira vez, enquanto aspiro o ar frio da noite carioca, tentando me acalmar para voltar para a festa. — Primeiro ela me provoca, depois me incendei e enfim joga a porra de um balde água fria na minha cabeça.— Aí está você! — A voz doce de Samantha me faz enrijecer no mesmo instante. NO entanto, ela para na minha frente e parece me analisar. — Está tudo bem? Você parece nervoso. — Sam me abraça por trás e no ato, ela deixa um beijo casto na minha nuca.O meu coração está disparado em fúria.O meu sangue está correndo quente em minhas veias.E a minha vontade é de gritar para extravasar essa maldita inquietude dentro de mim. Contudo, apenas respiro fundo e me viro de frente para ela. Seu olhar radiante me encara cheio de inocência e me repreendo por isso. Na sua cabecinha, ela veio aqui essa noite para finalmente conhecer a minha família. Mas na minha, ela está apenas me acompanhando, a fim de manter-me distante de u
LuccaEu posso ter a mulher que eu quiser. Digo para mim mesmo com petulância.Não você não pode, Lucca. Você não pode ter ela. Minha consciência aponta com brutal realidade. Irritado, me levanto do sofá, jogando uma garrafa quase intocada contra uma parede. Ela se quebra e o líquido se espalha, se misturando aos cacos pelo chão.— Tanta mulher te dando mole por aí e você se apaixona por uma menina mimada, e cheia de vontades! — rosno entre dentes para mim mesmo.Ela fodeu comigo. Fodeu com a minha cabeça e com a minha sanidade.Filha de mãe!***Na manhã seguinte…— Porra! — grunho quando abro os meus olhos e a minha cabeça dá algumas latejadas violentas. Com alguns resmungos mal-humorados me arrasto para o banheiro e tomo um banho demorado. E quando saio do banho, o meu celular começa a tocar.A luz da minha vida brilha na telinha e sorrio ao atendê-la.— Senhora Rose Fassini, bom dia!— Você sumiu da casa dos Ávila na noite passada. O que houve?— Por que acha que houve alguma cois
Alice.Me sinto diferente. O meu corpo, a minha cabeça, os meus sentimentos. Tudo está diferente. Lembranças de nós dois naquela pequena casa e naquele quarto me faz abrir um sorriso preguiçoso. A minha primeira vez com Lucca fora inesquecível, mas a segunda certeza foi marcante.Você me marcou, Lucca Fassini e temo que outro homem jamais poderá mudar isso um dia.Suspiro de modo audível, quando seus beijos ardentes me vem a lembrança. O seu corpo grande e forte sobre o meu, me envolvendo e me inquietando. As suas mãos me apertando...Ai, Deus preciso parar de pensar nisso ou vou enlouquecer! A pior parte foi ter que deixá-lo ali sozinho. Eu precisava fazer aquilo. Não seria justo deixá-lo aqui no Brasil preso a uma promessa por três longos anos. E não seria justo comigo também.— E aí, não vai me contar mesmo o que rolou entre você e o Lucca na festa? — Mila, minha amiga desde sempre me desperta com a sua curiosidade aguçada.— Não houve nada, Mila.Não sei se estou querendo enganá-
Alice— Não acredito que me atrasei! — resmungo irritada enquanto ando apressada pelos campos da universidade. — Vinte malditos minutos de atraso! — retruco. — Droga de fuso horário! — ralho, adentrando o prédio da enorme universidade, lotada de alunos e apresso ainda mais os meus passos pelo longo corredor. Todos parecem perdidos e confusos, a procurar da sala certa. E eu não tenho a mínima ideia de onde ir ou qual direção seguir. `Portanto, paro no meio do corredor observo o pequeno papel em minha mão, com um mapa da sala que eu deveria estar a... — Droga vinte e cinco minutos atrasada?Bufo audivelmente.Isso não é bom para um primeiro dia de aula, Alice Ávila. Lamento mentalmente quando algum desorientado esbarra forte em minhas costas, no exato momento que ergo os meus olhos para ler a plaquinha em uma das portas.— Oh, me desculpe! — A voz masculina diz com receio.— Ãh, não tem problema. Estou procurando a sala Beethoven — digo erguendo o papel para o belo estranho. — Será que
LuccaMomentos antes da partida de Alice…Termino de vestir o meu macacão antifogo e por fim, afivelo o cinto. Depois, ponho o boné e quando coloco o meu pé para fora da casa, o meu telefone começa a tocar. Bufo ao ver que é a Sam outra vez.— Fala, Samantha — falo um tanto rude, escutando o seu suspiro do outro lado da linha. Contudo, ela faz silêncio por um curto espaço de tempo.— Agora eu voltei a ser a Samantha para você? — A sua cobrança me faz fechar os meus olhos. Portanto, respiro de modo audível e monto na minha moto.— Sam, eu não estou com cabeça…— O capitão quer todos reunidos no pátio em meia hora. — Ela avisa, mudando de assunto.— Ok, eu só preciso ver uma coisa antes.— Você já devia estar no caminho. Sabe como ele é, Lucca.— Não vou me atrasar, ok? Eu preciso desligar.Encerro a ligação sem esperar a sua resposta, ponho o capacete e ligo o motor, ganhando o asfalto em seguida. Durante o trajeto, o meu subconsciente me fez a mesma pergunta de sempre: o que você está