Em um instante, a expressão de Eunice ficou rígida. Forçando um sorriso pouco natural, ela disse:— Por que está me perguntando isso? Nem todo mundo pode doar um fígado...Lucas só havia mencionado a ideia, e a reação dela já foi tão negativa que ele fechou os olhos com irritação. Já imaginava que a resposta seria assim, e por isso hesitava em falar sobre o assunto.Ao lado, Vitória percebeu o descontentamento do pai e se apressou a dizer:— Pai, eu sou sua filha. Acho que posso te doar o fígado.— O quê? — Lucas arregalou os olhos, neles se acendeu uma chama de esperança. — Vitória, você está disposta a doar para o papai?— Claro, sou sua filha, é o meu dever. — Vitória sorriu e assentiu, com uma expressão gentil e dócil. Mas então acrescentou. — Só que o Ademir acha que estou grávida. Se eu disser que vou te doar o fígado, o segredo virá à tona, não acha?As palavras dela trouxeram uma súbita lembrança a Eunice, que exclamou rapidamente:— É verdade! A Vitória está a um passo de se c
Eunice elevou a voz imediatamente:— Chame ela agora!Porém, Lucas demonstrou hesitação:— Ainda não contei a Karina sobre isso...— Pai. — Vitória ponderou um instante. — Se você não se sente à vontade para falar, eu posso cuidar disso.Mesmo assim, Lucas continuou indeciso:— Talvez devêssemos esperar um pouco mais.Vitória balançou a cabeça, firme:— Não podemos esperar. O médico disse que quanto antes essa cirurgia for feita, melhor. Se adiarmos, os danos ao seu corpo só vão aumentar.— Isso...— Pai. — Vitória decidiu rapidamente. — Deixe isso comigo. Eu mesma vou falar com a Karina, pode ficar tranquilo.Depois de um longo momento de silêncio, Lucas finalmente assentiu:— Está bem....Quando Karina despertou, o quarto estava escuro. As cortinas não estavam fechadas, então um leve feixe de luz da rua entrava pela janela, indicando que já era noite.Ela pegou o celular e viu que havia uma mensagem de Patrícia: "Tem arroz na panela elétrica. Eu fui para a biblioteca, mas se preci
— Karina! — Vitória explodiu, seu rosto se contorcendo de raiva. — Você é médica, como consegue dizer algo tão repulsivo?Karina suspirou, exasperada:— Minha fala te enoja porque as atitudes de vocês são nojentas, minha querida irmã. Será que suas notas sempre ruins te impediram de entender o que é causa e consequência? Sinto muito por você!— Você... Você... — Vitória tremia de tanta raiva, incapaz de responder.— Está irritada? — Karina soltou uma risada fria. — Mas me diga: com que direito você está irritada? Que direito você acha que tem?— Karina, vou ser clara. Você vai doar o fígado, querendo ou não!— Então fique tranquila, porque eu não vou doar.Sem perder mais tempo, Karina se virou para sair. Sentia que, se continuasse naquela conversa, a náusea a dominaria. Mas, ao dar o primeiro passo, Vitória segurou seu braço.O rosto bonito de Vitória assumiu uma expressão sombria, com os dentes cerrados de ódio:— Karina, estou te dando uma ordem, não estou pedindo.— Uma ordem? — Ka
— Escute...— Vitória!Como se soubesse o que a filha ia dizer, Lucas tentou apressadamente impedir.Vitória olhou para o pai com resignação e disse:— Pai, as coisas chegaram a esse ponto. Não há outra saída, você também viu. Você foi bom com ela, mas ela não tem gratidão.Vitória não demonstrou pressa, aguardando calmamente pela decisão de seu pai.Depois de muito pensar, o desejo de sobreviver ainda era o mais forte.Lucas fechou os olhos e assentiu.Vitória esboçou um leve sorriso, olhou para Karina e disse:— Se você concordar com isso, então aquela casa que meu pai te mostrou será sua. Além disso, nós cobriremos todas as despesas do Catarino. Se você não concordar...Ela não terminou a frase.Mas não precisava, pois Karina compreendia perfeitamente.Se não concordasse, ela não teria nada! E Catarino voltaria à mesma situação de antes, vivendo como um paciente comum com autismo!O silêncio tomou conta do ambiente, e ninguém disse nada.— Karina... — Lucas olhou para a filha, com u
Desde o momento em que Karina entrou pela porta, Otávio percebeu que a jovem estava passando por dificuldades. Embora ela se esforçasse para disfarçar, sua pouca idade ainda a traiu; não era capaz de esconder tudo completamente.Podia enganar as pessoas comuns, mas será que Otávio era uma pessoa comum?— Conte ao vovô, está enfrentando algum problema? — Otávio perguntou com carinho. — Independentemente de você e o Ademir serem casados ou não, eu continuo sendo seu avô, não é?No mesmo instante, Karina não conseguiu conter a emoção e seus olhos se encheram de lágrimas.— Sim, vovô.— Não chore. — Otávio se inclinou, puxando uma caixa de lenços de papel da mesa e entregando ela a ela. — Diga ao vovô o que está acontecendo. Você não está sozinha, ainda tem a mim ao seu lado.Karina pegou o lenço e cobriu os olhos. Deveria contar? Faltavam menos de três meses, e Catarino não podia perder a chance de ir para o Instituto do País de Gales. Ela estava exausta, não conseguia mais suportar tu
Às dez da noite, no Hotel Dynasty.Karina Costa olhou para o número na porta: Suíte Presidencial 7203.“É aqui.”Seu celular vibrou com uma mensagem de Lucas Costa: [Karina, sua tia concordou. Contanto que você acompanhe bem o Sr. Francisco, eu pago imediatamente as despesas médicas do seu irmão.]Karina leu a mensagem, com uma expressão neutra em seu rosto pálido.Ela já estava entorpecida, incapaz de sentir dor.Depois que seu pai se casou novamente, ele deixou de se importar com ela e seu irmão. Durante mais de dez anos, eles foram deixados à mercê dos maus-tratos e até abusos da madrasta.Faltar roupas e comida era normal; insultos e espancamentos eram frequentes.Desta vez, devido a dívidas de negócios, eles a forçaram a dormir com um homem!Quando Karina se recusou, eles ameaçaram cortar o tratamento do irmão dela.Seu irmão tinha autismo, e o tratamento não podia ser interrompido.Mesmo os tigres, por mais ferozes que sejam, não comem seus filhotes. Lucas era pior que um animal!
Karina se apressou para voltar para casa.Um homem de meia-idade, gordo e com a cabeça semi-careca, estava sentado no sofá da sala, olhando furioso para Vitória.— Uma estrela em ascensão, eu prometi que me casaria com você! Como ousa me enganar e me deixar esperando a noite toda?Vitória aguentava a humilhação. Nem se falava que Francisco usava essa desculpa todas as vezes para se aproveitar das mulheres. Mesmo que ele estivesse realmente disposto a se casar com Vitória, isso seria uma armadilha! Quem se atreveria a se casar com ele?Vitória teve o azar de ser notada por ele.Mas seus pais, preocupados com ela, fizeram Karina substituir Vitória.Só que não esperavam que Karina fugisse na última hora!Eunice falou cuidadosamente:— Sr. Francisco, sinto muito, a menina não entende as coisas, por favor, perdoe ela.Lucas falou timidamente:— Por favor, não fique zangado.— Não ficar zangado? — Francisco disse muito irritado. — Impossível! Já que Srta. Vitória não está disposta, eu não a
— Sr. Ademir. — Francisco de repente parou de andar. No círculo comercial, todos que tinham algum status conheciam Ademir. — O que o senhor está fazendo aqui?Ademir nem olhou para ele, com os olhos fixos em Vitória, que não parava de chorar.Essa mulher era a garota que na noite passada chorava delicadamente em seus braços...De repente, ele levantou a mão e deu um tapa forte em Francisco, jogando-o no chão!Francisco imediatamente cuspiu um dente, ainda coberto de sangue.A família de Vitória estava tão assustada que nem ousava respirar.Os lábios finos de Ademir se curvaram em um sorriso sarcástico. Sua voz, indiferente, era como uma lâmina fina e afiada:— Você ousa tocar na minha pessoa?!Francisco, caído no chão, cobria a boca, falando tremulamente:— Sr. Ademir, eu não sabia que ela era sua pessoa, eu não a toquei, juro! Por favor, me perdoe!Ademir não acreditou em suas palavras e olhou para Vitória.— É verdade?Vitória balançou a cabeça, atordoada:— Não, não é...— Saia daqu