Karina soltou as malas, tomou um banho rápido e se deitou na cama. Suspirou aliviada; nada era tão confortável quanto sua própria cama. Com os olhos fechados, se deixou levar pelo sono, mas em seu último instante de consciência, ainda se perguntava: afinal, o que motivava Lucas? ... Na casa da família Costa. Lucas voltou exausto para casa. Eunice percebeu algo estranho em seu comportamento e perguntou diretamente: — Seja sincero, onde você andou nesses últimos dias longe da Cidade J? Sair do país não era algo que pudesse ser mantido em segredo. Em outras épocas, Lucas teria respondido com paciência, mas ultimamente seu humor estava bem mais instável. Ele respondeu com impaciência: — Claro que fui trabalhar! Se eu não trabalhasse, de onde você acha que viria o dinheiro que usa para viver todos esses anos? O tom irritado de Lucas deixou Eunice furiosa. Ela o segurou, impedindo ele de sair, e retrucou: — Pois bem, Lucas! Agora tem coragem de me responder desse jeit
Em um instante, a expressão de Eunice ficou rígida. Forçando um sorriso pouco natural, ela disse:— Por que está me perguntando isso? Nem todo mundo pode doar um fígado...Lucas só havia mencionado a ideia, e a reação dela já foi tão negativa que ele fechou os olhos com irritação. Já imaginava que a resposta seria assim, e por isso hesitava em falar sobre o assunto.Ao lado, Vitória percebeu o descontentamento do pai e se apressou a dizer:— Pai, eu sou sua filha. Acho que posso te doar o fígado.— O quê? — Lucas arregalou os olhos, neles se acendeu uma chama de esperança. — Vitória, você está disposta a doar para o papai?— Claro, sou sua filha, é o meu dever. — Vitória sorriu e assentiu, com uma expressão gentil e dócil. Mas então acrescentou. — Só que o Ademir acha que estou grávida. Se eu disser que vou te doar o fígado, o segredo virá à tona, não acha?As palavras dela trouxeram uma súbita lembrança a Eunice, que exclamou rapidamente:— É verdade! A Vitória está a um passo de se c
Eunice elevou a voz imediatamente:— Chame ela agora!Porém, Lucas demonstrou hesitação:— Ainda não contei a Karina sobre isso...— Pai. — Vitória ponderou um instante. — Se você não se sente à vontade para falar, eu posso cuidar disso.Mesmo assim, Lucas continuou indeciso:— Talvez devêssemos esperar um pouco mais.Vitória balançou a cabeça, firme:— Não podemos esperar. O médico disse que quanto antes essa cirurgia for feita, melhor. Se adiarmos, os danos ao seu corpo só vão aumentar.— Isso...— Pai. — Vitória decidiu rapidamente. — Deixe isso comigo. Eu mesma vou falar com a Karina, pode ficar tranquilo.Depois de um longo momento de silêncio, Lucas finalmente assentiu:— Está bem....Quando Karina despertou, o quarto estava escuro. As cortinas não estavam fechadas, então um leve feixe de luz da rua entrava pela janela, indicando que já era noite.Ela pegou o celular e viu que havia uma mensagem de Patrícia: "Tem arroz na panela elétrica. Eu fui para a biblioteca, mas se preci
— Karina! — Vitória explodiu, seu rosto se contorcendo de raiva. — Você é médica, como consegue dizer algo tão repulsivo?Karina suspirou, exasperada:— Minha fala te enoja porque as atitudes de vocês são nojentas, minha querida irmã. Será que suas notas sempre ruins te impediram de entender o que é causa e consequência? Sinto muito por você!— Você... Você... — Vitória tremia de tanta raiva, incapaz de responder.— Está irritada? — Karina soltou uma risada fria. — Mas me diga: com que direito você está irritada? Que direito você acha que tem?— Karina, vou ser clara. Você vai doar o fígado, querendo ou não!— Então fique tranquila, porque eu não vou doar.Sem perder mais tempo, Karina se virou para sair. Sentia que, se continuasse naquela conversa, a náusea a dominaria. Mas, ao dar o primeiro passo, Vitória segurou seu braço.O rosto bonito de Vitória assumiu uma expressão sombria, com os dentes cerrados de ódio:— Karina, estou te dando uma ordem, não estou pedindo.— Uma ordem? — Ka
— Escute...— Vitória!Como se soubesse o que a filha ia dizer, Lucas tentou apressadamente impedir.Vitória olhou para o pai com resignação e disse:— Pai, as coisas chegaram a esse ponto. Não há outra saída, você também viu. Você foi bom com ela, mas ela não tem gratidão.Vitória não demonstrou pressa, aguardando calmamente pela decisão de seu pai.Depois de muito pensar, o desejo de sobreviver ainda era o mais forte.Lucas fechou os olhos e assentiu.Vitória esboçou um leve sorriso, olhou para Karina e disse:— Se você concordar com isso, então aquela casa que meu pai te mostrou será sua. Além disso, nós cobriremos todas as despesas do Catarino. Se você não concordar...Ela não terminou a frase.Mas não precisava, pois Karina compreendia perfeitamente.Se não concordasse, ela não teria nada! E Catarino voltaria à mesma situação de antes, vivendo como um paciente comum com autismo!O silêncio tomou conta do ambiente, e ninguém disse nada.— Karina... — Lucas olhou para a filha, com u
Desde o momento em que Karina entrou pela porta, Otávio percebeu que a jovem estava passando por dificuldades. Embora ela se esforçasse para disfarçar, sua pouca idade ainda a traiu; não era capaz de esconder tudo completamente.Podia enganar as pessoas comuns, mas será que Otávio era uma pessoa comum?— Conte ao vovô, está enfrentando algum problema? — Otávio perguntou com carinho. — Independentemente de você e o Ademir serem casados ou não, eu continuo sendo seu avô, não é?No mesmo instante, Karina não conseguiu conter a emoção e seus olhos se encheram de lágrimas.— Sim, vovô.— Não chore. — Otávio se inclinou, puxando uma caixa de lenços de papel da mesa e entregando ela a ela. — Diga ao vovô o que está acontecendo. Você não está sozinha, ainda tem a mim ao seu lado.Karina pegou o lenço e cobriu os olhos. Deveria contar? Faltavam menos de três meses, e Catarino não podia perder a chance de ir para o Instituto do País de Gales. Ela estava exausta, não conseguia mais suportar tu
— Vovô...Como Karina poderia aceitar isso? Ela havia acabado de escapar de um casamento insustentável, teria que se lançar em outro de novo?Ao perceber sua relutância, Otávio suspirou.— Você não precisa me responder agora. Uma decisão tão importante assim, claro que precisa ser bem pensada, não é? — Otávio sorriu levemente. — O vovô te dá dois dias. Daqui a dois dias, você me responde. Até lá, se precisar de dinheiro, o vovô te dará, é pouco, e não precisa me devolver. O que vovô dá, não se devolve.Otávio fez uma pausa, enfatizando:— Não é que você precise aceitar. Independentemente da sua resposta, você me chama de vovô, e eu serei sempre seu avô. Nunca a forçarei.Isso...Karina também não sabia o que dizer.Embora ele tivesse dito aquilo, ela não se sentiu mais leve.Pelo contrário, seu coração estava ainda mais pesado....Karina abriu a porta e, ao sair, deu de cara com Ademir, que acabava de chegar.Ambos ficaram parados, trocando olhares breves, mas logo desviaram.Ademir h
Otávio riu, lançou um olhar para Rui e comentou:— Quantos anos se passaram, e você continua tão impulsivo.Rui, sem modéstia alguma, respondeu:— Faz tempo que não faço algo assim; estou até sendo bem mais gentil.— Tio Denis, as pessoas já chegaram! — Um homem vestido de preto trouxe três pessoas, colocando-as diante de Otávio.Rui fez um sinal com a mão e disse:— Tirem as vendas dos olhos deles.— Sim, senhor.O homem de preto se aproximou e retirou as faixas que cobriam os olhos da família Costa.Os três estavam em casa, jantando tranquilamente, quando de repente uma horda de homens invadiu o local, calando-os à força, vendando-os e amarrando-os sem dar qualquer explicação. A viagem até ali já tinha sido um pesadelo.No instante em que as vendas foram retiradas, os três caíram de joelhos no chão, as pernas trêmulas e sem forças para sustentá-los.Rui abaixou a cabeça e riu:— Sr. Otávio, essa família é realmente educada; até se ajoelharam de forma sincronizada.Otávio esboçou um