— Karina! — Vitória explodiu, seu rosto se contorcendo de raiva. — Você é médica, como consegue dizer algo tão repulsivo?Karina suspirou, exasperada:— Minha fala te enoja porque as atitudes de vocês são nojentas, minha querida irmã. Será que suas notas sempre ruins te impediram de entender o que é causa e consequência? Sinto muito por você!— Você... Você... — Vitória tremia de tanta raiva, incapaz de responder.— Está irritada? — Karina soltou uma risada fria. — Mas me diga: com que direito você está irritada? Que direito você acha que tem?— Karina, vou ser clara. Você vai doar o fígado, querendo ou não!— Então fique tranquila, porque eu não vou doar.Sem perder mais tempo, Karina se virou para sair. Sentia que, se continuasse naquela conversa, a náusea a dominaria. Mas, ao dar o primeiro passo, Vitória segurou seu braço.O rosto bonito de Vitória assumiu uma expressão sombria, com os dentes cerrados de ódio:— Karina, estou te dando uma ordem, não estou pedindo.— Uma ordem? — Ka
— Escute...— Vitória!Como se soubesse o que a filha ia dizer, Lucas tentou apressadamente impedir.Vitória olhou para o pai com resignação e disse:— Pai, as coisas chegaram a esse ponto. Não há outra saída, você também viu. Você foi bom com ela, mas ela não tem gratidão.Vitória não demonstrou pressa, aguardando calmamente pela decisão de seu pai.Depois de muito pensar, o desejo de sobreviver ainda era o mais forte.Lucas fechou os olhos e assentiu.Vitória esboçou um leve sorriso, olhou para Karina e disse:— Se você concordar com isso, então aquela casa que meu pai te mostrou será sua. Além disso, nós cobriremos todas as despesas do Catarino. Se você não concordar...Ela não terminou a frase.Mas não precisava, pois Karina compreendia perfeitamente.Se não concordasse, ela não teria nada! E Catarino voltaria à mesma situação de antes, vivendo como um paciente comum com autismo!O silêncio tomou conta do ambiente, e ninguém disse nada.— Karina... — Lucas olhou para a filha, com u
Desde o momento em que Karina entrou pela porta, Otávio percebeu que a jovem estava passando por dificuldades. Embora ela se esforçasse para disfarçar, sua pouca idade ainda a traiu; não era capaz de esconder tudo completamente.Podia enganar as pessoas comuns, mas será que Otávio era uma pessoa comum?— Conte ao vovô, está enfrentando algum problema? — Otávio perguntou com carinho. — Independentemente de você e o Ademir serem casados ou não, eu continuo sendo seu avô, não é?No mesmo instante, Karina não conseguiu conter a emoção e seus olhos se encheram de lágrimas.— Sim, vovô.— Não chore. — Otávio se inclinou, puxando uma caixa de lenços de papel da mesa e entregando ela a ela. — Diga ao vovô o que está acontecendo. Você não está sozinha, ainda tem a mim ao seu lado.Karina pegou o lenço e cobriu os olhos. Deveria contar? Faltavam menos de três meses, e Catarino não podia perder a chance de ir para o Instituto do País de Gales. Ela estava exausta, não conseguia mais suportar tu
— Vovô...Como Karina poderia aceitar isso? Ela havia acabado de escapar de um casamento insustentável, teria que se lançar em outro de novo?Ao perceber sua relutância, Otávio suspirou.— Você não precisa me responder agora. Uma decisão tão importante assim, claro que precisa ser bem pensada, não é? — Otávio sorriu levemente. — O vovô te dá dois dias. Daqui a dois dias, você me responde. Até lá, se precisar de dinheiro, o vovô te dará, é pouco, e não precisa me devolver. O que vovô dá, não se devolve.Otávio fez uma pausa, enfatizando:— Não é que você precise aceitar. Independentemente da sua resposta, você me chama de vovô, e eu serei sempre seu avô. Nunca a forçarei.Isso...Karina também não sabia o que dizer.Embora ele tivesse dito aquilo, ela não se sentiu mais leve.Pelo contrário, seu coração estava ainda mais pesado....Karina abriu a porta e, ao sair, deu de cara com Ademir, que acabava de chegar.Ambos ficaram parados, trocando olhares breves, mas logo desviaram.Ademir h
Otávio riu, lançou um olhar para Rui e comentou:— Quantos anos se passaram, e você continua tão impulsivo.Rui, sem modéstia alguma, respondeu:— Faz tempo que não faço algo assim; estou até sendo bem mais gentil.— Tio Denis, as pessoas já chegaram! — Um homem vestido de preto trouxe três pessoas, colocando-as diante de Otávio.Rui fez um sinal com a mão e disse:— Tirem as vendas dos olhos deles.— Sim, senhor.O homem de preto se aproximou e retirou as faixas que cobriam os olhos da família Costa.Os três estavam em casa, jantando tranquilamente, quando de repente uma horda de homens invadiu o local, calando-os à força, vendando-os e amarrando-os sem dar qualquer explicação. A viagem até ali já tinha sido um pesadelo.No instante em que as vendas foram retiradas, os três caíram de joelhos no chão, as pernas trêmulas e sem forças para sustentá-los.Rui abaixou a cabeça e riu:— Sr. Otávio, essa família é realmente educada; até se ajoelharam de forma sincronizada.Otávio esboçou um
— Rui.— Sim!Com um único olhar de Rui, Eunice nem sequer teve tempo de reagir. O homem de preto mais próximo deu-lhe um tapa tão forte que ela levou as mãos à boca, sentindo os dentes vacilarem, e a dor a silenciou por completo.Otávio suspirou, limpando as mãos com um lenço, e comentou:— Ora, ora... Já tem essa idade, mas ainda não aprendeu a falar direito. Realmente, é lamentável.Então, ele se voltou para Lucas.— Você é homem, é quem toma as decisões. Escute bem, pois só vou dizer uma vez. — Otávio apontou para Vitória. — Faça sua filha se afastar do Ademir. Se fizer isso, ainda poderá manter o padrão de vida que têm agora. Mas, se não conseguir, posso muito bem fazer com que acabem falidos, mendigando nas ruas; isso seria algo bem fácil de se realizar.Lucas, com o rosto pálido de medo, assentiu rapidamente.Vitória, por outro lado, balançava a cabeça, e lágrimas escorriam sem parar por seu rosto. Ela queria implorar ao Otávio, mas ele a encarou e não deu qualquer chance:— Est
Karina mal conseguiu dormir a noite toda. Pela manhã, tentou se concentrar no trabalho, mas sentia a mente dispersa. Durante o almoço, decidiu dar uma passada em Colinas Verdes.Na última viagem ao País de Gales, comprou algumas coisas para Catarino e queria levar para ele. Aproveitaria também para mostrar-lhe os folhetos do Instituto do País de Gales.Ao chegar em Colinas Verdes, uma enfermeira informou ela:— O Catarino trocou de quarto hoje de manhã. Como você não estava aqui, quer que eu te acompanhe até lá?Karina ficou surpresa e perguntou:— Por que ele trocou de quarto?— O que houve? — A enfermeira parecia igualmente surpresa. — Você não sabia?— Não, não sabia. — Karina balançou a cabeça, intrigada.— Que estranho. Foi um senhor chamado Rui quem organizou tudo. Ele disse que você mesma o tinha enviado.Rui?Karina compreendeu instantaneamente. Aquilo foi obra de Otávio.— Vou levá-la até o novo quarto.— Certo.Catarino estava em um quarto coletivo para quatro pessoas, mas a
Mas rapidamente Ademir percebeu que seu avô estava falando sério! Uma dor de cabeça intensa o atingiu de súbito. Franziu o cenho e perguntou:— O que o senhor fez com a Vitória?A voz saiu alta, carregada de raiva e até de reprovação.Otávio soltou uma risada fria:— Ademir, você realmente cresceu... Desde que conheceu essa pequena celebridade, só tem me trazido aborrecimentos. Já me deixou doente a ponto de me hospitalizar várias vezes! Está tentando me matar de desgosto?Com um olhar gélido, continuou:— Criei um neto tão desobediente... E um erro que eu mesmo cometi.Ademir ficou em silêncio. As palavras do avô eram duras, difíceis de aceitar, mas era verdade que tudo mudou desde que ele conheceu Vitória...— Avô. — Ademir massageou a testa, buscando as palavras. — A Vitória está esperando um filho, e o senhor sabe disso. Eu cresci sem pai e sem mãe, não quero que meu filho passe pela mesma experiência!Otávio parou, surpreso. Então era por isso. Deveria ter imaginado! A infância in