— Vovô...Como Karina poderia aceitar isso? Ela havia acabado de escapar de um casamento insustentável, teria que se lançar em outro de novo?Ao perceber sua relutância, Otávio suspirou.— Você não precisa me responder agora. Uma decisão tão importante assim, claro que precisa ser bem pensada, não é? — Otávio sorriu levemente. — O vovô te dá dois dias. Daqui a dois dias, você me responde. Até lá, se precisar de dinheiro, o vovô te dará, é pouco, e não precisa me devolver. O que vovô dá, não se devolve.Otávio fez uma pausa, enfatizando:— Não é que você precise aceitar. Independentemente da sua resposta, você me chama de vovô, e eu serei sempre seu avô. Nunca a forçarei.Isso...Karina também não sabia o que dizer.Embora ele tivesse dito aquilo, ela não se sentiu mais leve.Pelo contrário, seu coração estava ainda mais pesado....Karina abriu a porta e, ao sair, deu de cara com Ademir, que acabava de chegar.Ambos ficaram parados, trocando olhares breves, mas logo desviaram.Ademir h
Otávio riu, lançou um olhar para Rui e comentou:— Quantos anos se passaram, e você continua tão impulsivo.Rui, sem modéstia alguma, respondeu:— Faz tempo que não faço algo assim; estou até sendo bem mais gentil.— Tio Denis, as pessoas já chegaram! — Um homem vestido de preto trouxe três pessoas, colocando-as diante de Otávio.Rui fez um sinal com a mão e disse:— Tirem as vendas dos olhos deles.— Sim, senhor.O homem de preto se aproximou e retirou as faixas que cobriam os olhos da família Costa.Os três estavam em casa, jantando tranquilamente, quando de repente uma horda de homens invadiu o local, calando-os à força, vendando-os e amarrando-os sem dar qualquer explicação. A viagem até ali já tinha sido um pesadelo.No instante em que as vendas foram retiradas, os três caíram de joelhos no chão, as pernas trêmulas e sem forças para sustentá-los.Rui abaixou a cabeça e riu:— Sr. Otávio, essa família é realmente educada; até se ajoelharam de forma sincronizada.Otávio esboçou um
— Rui.— Sim!Com um único olhar de Rui, Eunice nem sequer teve tempo de reagir. O homem de preto mais próximo deu-lhe um tapa tão forte que ela levou as mãos à boca, sentindo os dentes vacilarem, e a dor a silenciou por completo.Otávio suspirou, limpando as mãos com um lenço, e comentou:— Ora, ora... Já tem essa idade, mas ainda não aprendeu a falar direito. Realmente, é lamentável.Então, ele se voltou para Lucas.— Você é homem, é quem toma as decisões. Escute bem, pois só vou dizer uma vez. — Otávio apontou para Vitória. — Faça sua filha se afastar do Ademir. Se fizer isso, ainda poderá manter o padrão de vida que têm agora. Mas, se não conseguir, posso muito bem fazer com que acabem falidos, mendigando nas ruas; isso seria algo bem fácil de se realizar.Lucas, com o rosto pálido de medo, assentiu rapidamente.Vitória, por outro lado, balançava a cabeça, e lágrimas escorriam sem parar por seu rosto. Ela queria implorar ao Otávio, mas ele a encarou e não deu qualquer chance:— Est
Karina mal conseguiu dormir a noite toda. Pela manhã, tentou se concentrar no trabalho, mas sentia a mente dispersa. Durante o almoço, decidiu dar uma passada em Colinas Verdes.Na última viagem ao País de Gales, comprou algumas coisas para Catarino e queria levar para ele. Aproveitaria também para mostrar-lhe os folhetos do Instituto do País de Gales.Ao chegar em Colinas Verdes, uma enfermeira informou ela:— O Catarino trocou de quarto hoje de manhã. Como você não estava aqui, quer que eu te acompanhe até lá?Karina ficou surpresa e perguntou:— Por que ele trocou de quarto?— O que houve? — A enfermeira parecia igualmente surpresa. — Você não sabia?— Não, não sabia. — Karina balançou a cabeça, intrigada.— Que estranho. Foi um senhor chamado Rui quem organizou tudo. Ele disse que você mesma o tinha enviado.Rui?Karina compreendeu instantaneamente. Aquilo foi obra de Otávio.— Vou levá-la até o novo quarto.— Certo.Catarino estava em um quarto coletivo para quatro pessoas, mas a
Mas rapidamente Ademir percebeu que seu avô estava falando sério! Uma dor de cabeça intensa o atingiu de súbito. Franziu o cenho e perguntou:— O que o senhor fez com a Vitória?A voz saiu alta, carregada de raiva e até de reprovação.Otávio soltou uma risada fria:— Ademir, você realmente cresceu... Desde que conheceu essa pequena celebridade, só tem me trazido aborrecimentos. Já me deixou doente a ponto de me hospitalizar várias vezes! Está tentando me matar de desgosto?Com um olhar gélido, continuou:— Criei um neto tão desobediente... E um erro que eu mesmo cometi.Ademir ficou em silêncio. As palavras do avô eram duras, difíceis de aceitar, mas era verdade que tudo mudou desde que ele conheceu Vitória...— Avô. — Ademir massageou a testa, buscando as palavras. — A Vitória está esperando um filho, e o senhor sabe disso. Eu cresci sem pai e sem mãe, não quero que meu filho passe pela mesma experiência!Otávio parou, surpreso. Então era por isso. Deveria ter imaginado! A infância in
A noite toda, Vitória mal conseguiu dormir.Ela não conseguia entender: embora Otávio não gostasse dela, ele nunca a tinha incomodado. Por que agora Otávio se tornou tão implacável? Havia, sem dúvida, uma razão para isso, não?Pensou por um longo tempo, e a única mudança recente foi a doença de Lucas. E por causa disso, ela tinha ameaçado Karina. Será que...?Vitória chegou à conclusão: certamente era por causa de Karina! Tudo se relacionava com a questão da doação de fígado!Naquele momento, ela acreditou que Karina estava sem saída e que acabaria aceitando doar parte do próprio fígado. Mas, na verdade, Vitória havia forçado Karina a seguir esse caminho!Vitória sabia que o Sr. Otávio sempre gostou muito de Karina.Conspiração!Era uma conspiração de Karina!Só podia ser Karina, usando o carinho de Otávio, que o havia feito agir daquela maneira! Era uma vingança contra ela!Sim, era isso mesmo!Vitória, tomada pelo ódio, murmurava sem parar:— Eu não vou deixar você vencer, não vou f
Desde pequena, quando foi que Vitória já havia falado com ela com um tom tão manso?Ela realmente amava Ademir.Karina respondeu com frieza:— Estou indo agora para o Colinas Verdes.E desligou o telefone.Vitória queria vê-la, então com certeza apareceria por lá.Karina semicerrava os olhos, imaginando o que poderia acontecer em breve, sentindo uma certa excitação com o pensamento.Ao sair da escola, Karina pegou o ônibus que ia para o Colinas Verdes.Chegando lá, empurrou a porta do quarto e encontrou Lucas.Ele também havia acabado de chegar; ainda segurava uma sacola que nem teve tempo de colocar no chão.Ao vê-la, Lucas ficou visivelmente sem jeito, ajustando os óculos enquanto seu olhar expressava uma profunda insegurança:— Karina, você também veio.Karina fez um leve aceno com a cabeça, o que bastou como resposta.Lucas se surpreendeu um pouco; pensava que Karina talvez não quisesse mais falar com ele. Agora, ela estava apenas um pouco distante, o que, para ele, já era bem melh
Karina pegou uma laranja, descascando ela lentamente enquanto perguntava:— Diga logo, sobre o que você quer falar comigo?— Karina. — Vitória mordeu os lábios, colocando a bolsa sobre as coxas e apertando as próprias mãos. — Quero falar sobre o Ademir.Karina assentiu e perguntou:— Esse assunto você já mencionou antes. Especificamente, o que você quer conversar?A respiração de Vitória ficou um pouco ofegante:— Quero pedir que você deixe a família Barbosa!Os movimentos de Karina ao descascar a laranja ficaram mais lentos, e ela esboçou um leve sorriso.Otávio tinha acabado de falar com ela, pedindo que voltasse para a família Barbosa, e Vitória já estava sabendo dessa conversa?Vitória reuniu coragem, encarou Karina e disse:— Você e o Ademir não têm sentimentos um pelo outro. Forçar essa relação, o que mais pode trazer além de sofrimento?A casca da laranja já estava completamente retirada.Karina pegou uma rodela, colocou ele na boca e disse calmamente:— A laranja está bem doce.