O coração de Karina doía tanto que ela mal conseguia respirar.Ela não conseguia entender... Como alguém que estava ao seu lado durante o dia podia estar morto agora? O que ele disse naquele momento? Ele disse que queria levá-la de volta ao hotel primeiro, mas ela recusou. Se ela soubesse que seria a última vez que se veriam, jamais teria recusado... Assim, poderia ter dito mais algumas palavras para ele.— Não, não...Karina chorava em silêncio, balançando a cabeça. Só algumas palavras a mais... Como se isso fosse o suficiente. Ele ainda era tão jovem, tinha uma vida inteira pela frente, ainda não havia vivido tanto. E seu avô... O avô o tinha como sua própria vida. Como ele poderia aceitar a morte do único neto?Tudo isso era por causa dela! Se não fosse por ela, ele nunca teria vindo para o País G...— Como você pôde ser tão tolo? — Karina sussurrava entre lágrimas. — Por que você veio? Já não temos mais nenhuma ligação. Eu não sou sua responsabilidade...As lágrimas escorriam,
Muita dúvida e choque. O que estava acontecendo? Karina estava ajoelhada no chão. Quem era a pessoa deitada à sua frente? Por que chorava diante dele, chamando seu nome? Não seria...? Em menos de um segundo, ele entendeu o motivo. Karina pensava que a pessoa deitada era ele. Ele conseguia ouvir com clareza o próprio coração batendo! Karina soube do atentado e, ao vir procurá-lo, acabou confundindo alguém com ele, por algum motivo. Agora, ela chorava achando que ele estava morto. Sim! Era exatamente isso que estava acontecendo! Ademir sabia que não deveria se alegrar, mas não conseguia esconder a felicidade que explodia em seu peito! Se esforçando para manter a calma, ele caminhou lentamente até ela. Chamou seu nome em voz baixa: — Karina. Karina ouviu e, de repente, paralisou, olhando para o corpo coberto com um lençol branco sobre o carro. Estaria tão desolada a ponto de ter uma alucinação? Ela realmente ouviu Ademir chamando seu nome? Vendo ela ali,
Karina, claro, não havia desmaiado apenas por causa do beijo. No hospital, após os exames, o médico explicou: — A oscilação emocional foi muito intensa. Como a gravidez já deixa o corpo mais frágil, sua esposa ficou exausta de tanto chorar. — Obrigado, doutor. No quarto, Karina estava recebendo medicação intravenosa. Ademir permaneceu ao seu lado em silêncio, sem querer incomodá-la. Karina gostava dele. O quanto? Ele não sabia ao certo. Mas sabia que não era uma mera afeição. Ninguém choraria assim por alguém de quem não gostasse nem um pouco. — Karina. — Ademir segurou suavemente sua mão. — Você gosta de mim, mesmo que seja só um pouco, não é? A porta do quarto se abriu lentamente. Era Júlio. — O que foi? — Ademir. — Disse Júlio — Enzo saiu da sala de cirurgia. Não houve maiores complicações com a perna dele. Vai querer dar uma olhada? Ademir havia pedido para ser informado assim que Enzo terminasse a cirurgia. Embora Júlio não quisesse interromper aquele
Karina soltou as malas, tomou um banho rápido e se deitou na cama. Suspirou aliviada; nada era tão confortável quanto sua própria cama. Com os olhos fechados, se deixou levar pelo sono, mas em seu último instante de consciência, ainda se perguntava: afinal, o que motivava Lucas? ... Na casa da família Costa. Lucas voltou exausto para casa. Eunice percebeu algo estranho em seu comportamento e perguntou diretamente: — Seja sincero, onde você andou nesses últimos dias longe da Cidade J? Sair do país não era algo que pudesse ser mantido em segredo. Em outras épocas, Lucas teria respondido com paciência, mas ultimamente seu humor estava bem mais instável. Ele respondeu com impaciência: — Claro que fui trabalhar! Se eu não trabalhasse, de onde você acha que viria o dinheiro que usa para viver todos esses anos? O tom irritado de Lucas deixou Eunice furiosa. Ela o segurou, impedindo ele de sair, e retrucou: — Pois bem, Lucas! Agora tem coragem de me responder desse jeit
Em um instante, a expressão de Eunice ficou rígida. Forçando um sorriso pouco natural, ela disse:— Por que está me perguntando isso? Nem todo mundo pode doar um fígado...Lucas só havia mencionado a ideia, e a reação dela já foi tão negativa que ele fechou os olhos com irritação. Já imaginava que a resposta seria assim, e por isso hesitava em falar sobre o assunto.Ao lado, Vitória percebeu o descontentamento do pai e se apressou a dizer:— Pai, eu sou sua filha. Acho que posso te doar o fígado.— O quê? — Lucas arregalou os olhos, neles se acendeu uma chama de esperança. — Vitória, você está disposta a doar para o papai?— Claro, sou sua filha, é o meu dever. — Vitória sorriu e assentiu, com uma expressão gentil e dócil. Mas então acrescentou. — Só que o Ademir acha que estou grávida. Se eu disser que vou te doar o fígado, o segredo virá à tona, não acha?As palavras dela trouxeram uma súbita lembrança a Eunice, que exclamou rapidamente:— É verdade! A Vitória está a um passo de se c
Eunice elevou a voz imediatamente:— Chame ela agora!Porém, Lucas demonstrou hesitação:— Ainda não contei a Karina sobre isso...— Pai. — Vitória ponderou um instante. — Se você não se sente à vontade para falar, eu posso cuidar disso.Mesmo assim, Lucas continuou indeciso:— Talvez devêssemos esperar um pouco mais.Vitória balançou a cabeça, firme:— Não podemos esperar. O médico disse que quanto antes essa cirurgia for feita, melhor. Se adiarmos, os danos ao seu corpo só vão aumentar.— Isso...— Pai. — Vitória decidiu rapidamente. — Deixe isso comigo. Eu mesma vou falar com a Karina, pode ficar tranquilo.Depois de um longo momento de silêncio, Lucas finalmente assentiu:— Está bem....Quando Karina despertou, o quarto estava escuro. As cortinas não estavam fechadas, então um leve feixe de luz da rua entrava pela janela, indicando que já era noite.Ela pegou o celular e viu que havia uma mensagem de Patrícia: "Tem arroz na panela elétrica. Eu fui para a biblioteca, mas se preci
— Karina! — Vitória explodiu, seu rosto se contorcendo de raiva. — Você é médica, como consegue dizer algo tão repulsivo?Karina suspirou, exasperada:— Minha fala te enoja porque as atitudes de vocês são nojentas, minha querida irmã. Será que suas notas sempre ruins te impediram de entender o que é causa e consequência? Sinto muito por você!— Você... Você... — Vitória tremia de tanta raiva, incapaz de responder.— Está irritada? — Karina soltou uma risada fria. — Mas me diga: com que direito você está irritada? Que direito você acha que tem?— Karina, vou ser clara. Você vai doar o fígado, querendo ou não!— Então fique tranquila, porque eu não vou doar.Sem perder mais tempo, Karina se virou para sair. Sentia que, se continuasse naquela conversa, a náusea a dominaria. Mas, ao dar o primeiro passo, Vitória segurou seu braço.O rosto bonito de Vitória assumiu uma expressão sombria, com os dentes cerrados de ódio:— Karina, estou te dando uma ordem, não estou pedindo.— Uma ordem? — Ka
— Escute...— Vitória!Como se soubesse o que a filha ia dizer, Lucas tentou apressadamente impedir.Vitória olhou para o pai com resignação e disse:— Pai, as coisas chegaram a esse ponto. Não há outra saída, você também viu. Você foi bom com ela, mas ela não tem gratidão.Vitória não demonstrou pressa, aguardando calmamente pela decisão de seu pai.Depois de muito pensar, o desejo de sobreviver ainda era o mais forte.Lucas fechou os olhos e assentiu.Vitória esboçou um leve sorriso, olhou para Karina e disse:— Se você concordar com isso, então aquela casa que meu pai te mostrou será sua. Além disso, nós cobriremos todas as despesas do Catarino. Se você não concordar...Ela não terminou a frase.Mas não precisava, pois Karina compreendia perfeitamente.Se não concordasse, ela não teria nada! E Catarino voltaria à mesma situação de antes, vivendo como um paciente comum com autismo!O silêncio tomou conta do ambiente, e ninguém disse nada.— Karina... — Lucas olhou para a filha, com u