Júlia tinha pouco mais de quarenta anos, vivia uma vida confortável e sempre teve uma saúde excelente. Túlio não conseguia conceber que sua mãe estivesse doente, e ainda por cima, com uma enfermidade tão grave.Ele tentou manter a calma:— O que o médico disse? O tumor é benigno ou...— Ainda não sabemos. — Zeca balançou a cabeça. — Isso só poderá ser determinado após a cirurgia e exames mais detalhados.Essas palavras fizeram o coração de Túlio afundar ainda mais.Pai e filho ficaram em silêncio, compartilhando a mesma angústia.— Vá ficar um pouco com sua mãe. — Zeca deu um tapinha no ombro de Túlio. — Desde que você se mudou, ela pensa em você todos os dias.Túlio assentiu dolorosamente e empurrou a porta do quarto, entrando.No quarto, Júlia dormia tranquilamente.Túlio ficou ao lado dela a noite inteira, sem sair por um minuto.Na manhã seguinte, Júlia acordou, com um ânimo razoável, e ficou ainda mais feliz ao ver o filho.— Túlio, você veio. — Disse ela, tentando se levantar.—
— Você é...? — Túlio perguntou, franzindo as sobrancelhas.A jovem à sua frente lhe parecia familiar, mas ele não conseguia lembrar o nome.A garota sorriu com confiança e se levantou, inclinando a cabeça de leve:— Sou a Tábata Pereira. Quando éramos crianças, eu vivia atrás de você, aquela garotinha gordinha.Com essa explicação, Túlio finalmente se lembrou.A família Pereira e a família Martins sempre tiveram uma relação muito próxima. A mãe de Tábata e a mãe de Túlio eram amigas de infância.No entanto, a jovem à sua frente, com sua figura esguia, estava completamente diferente daquela menininha rechonchuda que ele lembrava.— Ah, é você! Agora me lembro. — Túlio sorriu gentilmente. — Quanto tempo, hein?Há muitos anos, o pai de Tábata havia sido enviado pela família para cuidar dos negócios no exterior, e desde então eles não se viam mais.— Mãe. — Túlio olhou rapidamente para o relógio. — Eu preciso ir para a empresa. O papai deve chegar logo, mas se acontecer qualquer coisa, me
Túlio ficou em silêncio, sem dizer nada. Zeca, por sua vez, ajudou a esposa a falar: — É só encontrar com eles, não estamos te pedindo nada além disso. Nossas famílias sempre tiveram uma boa relação, e se você não for, vai ser muita falta de educação. Depois de um longo momento de silêncio, Túlio hesitou e perguntou: — É só para encontrar com eles? — Que coisa estranha. — Zeca riu. — A gente não pode te obrigar a fazer mais nada além disso, não é? Era verdade. Túlio lutou consigo mesmo por um instante, mas finalmente cedeu, acenando com a cabeça: — Tudo bem, eu aceito. Mas vou só para o encontro. Não quero que esperem nada mais de mim. — Certo. — Júlia sorriu e acenou com a cabeça. — Sua mãe já sabe de tudo. Filho, obrigada. A família Pereira marcou o horário do encontro para o dia seguinte, que coincidia com o fim de semana. Às oito da noite, eles iriam assistir a um drama moderno juntos. ... Noite de sábado. Ademir foi buscar Vitória para irem ao grande teat
Ademir ligou para ele? Ademir também estava no teatro? Ele o chamou para fora porque sabia que ele estava lá? Então, por que Ademir o chamou para fora? Pelo tom de sua voz no telefone, parecia estar muito irritado. Com essas perguntas em mente, Túlio avisou Tábata e saiu do teatro. — Sr. Ademir... Mal tinha aberto a boca para cumprimentá-lo, quando Ademir de repente levantou o punho e o acertou com força. Sem tempo para desviar, Túlio levou o soco. Por sorte, a reação de Ademir não foi das melhores, ele cambaleou um pouco, mas conseguiu se manter em pé. No entanto, o golpe fez com que o canto da boca de Túlio se rachasse, e o sangue começou a escorrer. Túlio levantou a mão, limpou o sangue do canto da boca e, muito confuso, perguntou: — Ademir! O que você quer dizer com isso? Ademir deu um sorriso frio, com os olhos cheios de raiva: — Você foi assistir drama moderno com outra mulher, a Karina sabe disso? Naquele instante, Túlio ficou atônito, e uma expressão
— Isso mesmo, era isso que eu queria dizer. Desculpe pela falta de educação mais cedo.Tábata sorriu com naturalidade, balançando a cabeça:— Não tem problema. Já que estamos aqui, que tal terminarmos de assistir ao drama moderno?— Claro.Túlio assentiu levemente, se sentindo completamente relaxado agora.Karina não sabia nada sobre o que tinha acontecido no teatro da Cidade J durante o final de semana. Na manhã de segunda-feira, ela acordou cedo para se arrumar. Ela havia combinado com Ademir que iriam ao tribunal de justiça assinar os papéis hoje. Quando terminou de se arrumar e estava prestes a trocar de roupa para sair, recebeu uma ligação de Estêvão.— Advogado Estêvão. — Karina atendeu. — Estou saindo agora, não vou me atrasar...Do outro lado da linha, Estêvão respondeu com um tom de desculpas:— Me perdoe, Karina, não sei bem como te explicar isso, mas o Sr. Ademir me ligou esta manhã dizendo que ele não poderá ir ao tribunal de justiça hoje.Karina ficou chocada e perguntou
Karina escolheu a manhã para visitar Otávio. Geralmente, naquele horário, Ademir estaria ocupado na empresa, o que diminuía as chances de encontrá-lo.O quarto estava tranquilo. Karina abriu a porta com cuidado e entrou devagar. Otávio estava com uma agulha no braço, recostado na cabeceira da cama, adormecido. Ela não quis incomodá-lo e, após verificar os dados no monitor, viu que seus sinais vitais estavam estáveis. Isso a tranquilizou.No entanto, no momento em que se preparava para sair, Otávio abriu os olhos lentamente. Seus olhos envelhecidos brilharam com surpresa e alegria. Ele estendeu a mão:— Karina. — Vovô. — Karina segurou sua mão com um doce sorriso. — Eu te acordei? — Não. — Otávio balançou a cabeça, suspirando com a testa franzida. — Minha querida, você sofreu muito. Me desculpe, foi falha minha não ter educado bem o Ademir.De repente, a porta do banheiro se abriu. Ademir saiu a passos largos, sua expressão levemente irritada enquanto se aproximava de Karina
— Sim. — Ademir assentiu. — Por quê? — Karina não entendia.Pela lógica, se ele quisesse facilitar a entrada da Vitória na família Barbosa, não deveria ter contado ao Sr. Otávio que o bebê em sua barriga não era seu filho biológico?— O que você acha? — Ademir abaixou a cabeça e a olhou como se estivesse falando com uma tola. — Depois que nos separamos, meu avô ficou tão irritado que acabou adoecendo. Se eu contasse que seu filho não é meu, você acha que ele não pioraria ainda mais?Karina compreendeu. Fazia sentido.Ao chegarem ao elevador, Karina parou. — Obrigada por me acompanhar até aqui. Vou pegar o elevador, e você pode voltar a ficar com seu avô.O quê? Ademir ficou espantado. Tinham andado tão pouco, e ela já estava se despedindo?O elevador parou e as portas se abriram. Não havia ninguém lá dentro. — Vamos. Antes que pudesse reagir, Karina sentiu o aperto em seu braço e, num movimento inesperado, Ademir a puxou para dentro do elevador. Com as portas se fechando, e
— O quê? — Ademir parecia um pouco confuso, abaixando a cabeça para olhar.Era um cartão fino, familiar de certa forma.— É o seu cartão. — Karina sorriu e o empurrou de volta para as mãos dele. — Já devia ter devolvido faz tempo, mas agora que saio só com o celular, nunca carrego comigo. Quase esqueci de novo há pouco. Ainda bem que você não foi longe.Depois de falar, ela deu um passo para trás, se afastando do abraço dele.Num instante, o rosto de Ademir endureceu, e ele perguntou:— Você saiu correndo só por causa disso?— Sim. — Karina respirava mais calmamente, um pouco sem jeito. — Agora, só posso devolver o cartão para você.O dinheiro que estava nele, ela havia usado. E se sentia mal por isso, já que não tinha como devolver ao Ademir no momento.Ademir, no entanto, não prestava atenção ao que ela queria dizer com aquelas palavras. O que o perturbava era que Karina não queria mais o cartão dele. Ela estava, pouco a pouco, se afastando do mundo dele!— Então vou me preparar para