— Algo relacionado à Karina? — Ademir ficou em silêncio por um momento, antes de perguntar calmamente. — O que tem ela?Estêvão sorriu.Não sabia se o Sr. Ademir havia percebido, mas sempre que mencionavam Karina, sua voz se tornava muito mais suave.— É o seguinte, a Karina pediu para que eu te avisasse que ela quer ir primeiro ao tribunal de justiça para assinar os papéis. O restante dos trâmites, ela não tem pressa para resolver.Ao ouvir isso, Ademir ficou surpreso. Era sobre isso que se tratava.Karina estava com tanta pressa assim?O coração de Ademir se encheu de amargura.Ele pensou em Túlio.Ela estava com pressa por causa dele, não era? Agora que estavam juntos, como Túlio suportaria que o nome dela continuasse ligado à família Barbosa?A mão que segurava o celular se apertou com força.Ademir disse lentamente:— Faça como ela pediu, você pode organizar tudo.Ele já a havia desapontado demais, então permitiria que ela estivesse com o homem que amava o quanto antes.— Certo, S
Júlia tinha pouco mais de quarenta anos, vivia uma vida confortável e sempre teve uma saúde excelente. Túlio não conseguia conceber que sua mãe estivesse doente, e ainda por cima, com uma enfermidade tão grave.Ele tentou manter a calma:— O que o médico disse? O tumor é benigno ou...— Ainda não sabemos. — Zeca balançou a cabeça. — Isso só poderá ser determinado após a cirurgia e exames mais detalhados.Essas palavras fizeram o coração de Túlio afundar ainda mais.Pai e filho ficaram em silêncio, compartilhando a mesma angústia.— Vá ficar um pouco com sua mãe. — Zeca deu um tapinha no ombro de Túlio. — Desde que você se mudou, ela pensa em você todos os dias.Túlio assentiu dolorosamente e empurrou a porta do quarto, entrando.No quarto, Júlia dormia tranquilamente.Túlio ficou ao lado dela a noite inteira, sem sair por um minuto.Na manhã seguinte, Júlia acordou, com um ânimo razoável, e ficou ainda mais feliz ao ver o filho.— Túlio, você veio. — Disse ela, tentando se levantar.—
— Você é...? — Túlio perguntou, franzindo as sobrancelhas.A jovem à sua frente lhe parecia familiar, mas ele não conseguia lembrar o nome.A garota sorriu com confiança e se levantou, inclinando a cabeça de leve:— Sou a Tábata Pereira. Quando éramos crianças, eu vivia atrás de você, aquela garotinha gordinha.Com essa explicação, Túlio finalmente se lembrou.A família Pereira e a família Martins sempre tiveram uma relação muito próxima. A mãe de Tábata e a mãe de Túlio eram amigas de infância.No entanto, a jovem à sua frente, com sua figura esguia, estava completamente diferente daquela menininha rechonchuda que ele lembrava.— Ah, é você! Agora me lembro. — Túlio sorriu gentilmente. — Quanto tempo, hein?Há muitos anos, o pai de Tábata havia sido enviado pela família para cuidar dos negócios no exterior, e desde então eles não se viam mais.— Mãe. — Túlio olhou rapidamente para o relógio. — Eu preciso ir para a empresa. O papai deve chegar logo, mas se acontecer qualquer coisa, me
Túlio ficou em silêncio, sem dizer nada. Zeca, por sua vez, ajudou a esposa a falar: — É só encontrar com eles, não estamos te pedindo nada além disso. Nossas famílias sempre tiveram uma boa relação, e se você não for, vai ser muita falta de educação. Depois de um longo momento de silêncio, Túlio hesitou e perguntou: — É só para encontrar com eles? — Que coisa estranha. — Zeca riu. — A gente não pode te obrigar a fazer mais nada além disso, não é? Era verdade. Túlio lutou consigo mesmo por um instante, mas finalmente cedeu, acenando com a cabeça: — Tudo bem, eu aceito. Mas vou só para o encontro. Não quero que esperem nada mais de mim. — Certo. — Júlia sorriu e acenou com a cabeça. — Sua mãe já sabe de tudo. Filho, obrigada. A família Pereira marcou o horário do encontro para o dia seguinte, que coincidia com o fim de semana. Às oito da noite, eles iriam assistir a um drama moderno juntos. ... Noite de sábado. Ademir foi buscar Vitória para irem ao grande teat
Ademir ligou para ele? Ademir também estava no teatro? Ele o chamou para fora porque sabia que ele estava lá? Então, por que Ademir o chamou para fora? Pelo tom de sua voz no telefone, parecia estar muito irritado. Com essas perguntas em mente, Túlio avisou Tábata e saiu do teatro. — Sr. Ademir... Mal tinha aberto a boca para cumprimentá-lo, quando Ademir de repente levantou o punho e o acertou com força. Sem tempo para desviar, Túlio levou o soco. Por sorte, a reação de Ademir não foi das melhores, ele cambaleou um pouco, mas conseguiu se manter em pé. No entanto, o golpe fez com que o canto da boca de Túlio se rachasse, e o sangue começou a escorrer. Túlio levantou a mão, limpou o sangue do canto da boca e, muito confuso, perguntou: — Ademir! O que você quer dizer com isso? Ademir deu um sorriso frio, com os olhos cheios de raiva: — Você foi assistir drama moderno com outra mulher, a Karina sabe disso? Naquele instante, Túlio ficou atônito, e uma expressão
— Isso mesmo, era isso que eu queria dizer. Desculpe pela falta de educação mais cedo.Tábata sorriu com naturalidade, balançando a cabeça:— Não tem problema. Já que estamos aqui, que tal terminarmos de assistir ao drama moderno?— Claro.Túlio assentiu levemente, se sentindo completamente relaxado agora.Karina não sabia nada sobre o que tinha acontecido no teatro da Cidade J durante o final de semana. Na manhã de segunda-feira, ela acordou cedo para se arrumar. Ela havia combinado com Ademir que iriam ao tribunal de justiça assinar os papéis hoje. Quando terminou de se arrumar e estava prestes a trocar de roupa para sair, recebeu uma ligação de Estêvão.— Advogado Estêvão. — Karina atendeu. — Estou saindo agora, não vou me atrasar...Do outro lado da linha, Estêvão respondeu com um tom de desculpas:— Me perdoe, Karina, não sei bem como te explicar isso, mas o Sr. Ademir me ligou esta manhã dizendo que ele não poderá ir ao tribunal de justiça hoje.Karina ficou chocada e perguntou
Karina escolheu a manhã para visitar Otávio. Geralmente, naquele horário, Ademir estaria ocupado na empresa, o que diminuía as chances de encontrá-lo.O quarto estava tranquilo. Karina abriu a porta com cuidado e entrou devagar. Otávio estava com uma agulha no braço, recostado na cabeceira da cama, adormecido. Ela não quis incomodá-lo e, após verificar os dados no monitor, viu que seus sinais vitais estavam estáveis. Isso a tranquilizou.No entanto, no momento em que se preparava para sair, Otávio abriu os olhos lentamente. Seus olhos envelhecidos brilharam com surpresa e alegria. Ele estendeu a mão:— Karina. — Vovô. — Karina segurou sua mão com um doce sorriso. — Eu te acordei? — Não. — Otávio balançou a cabeça, suspirando com a testa franzida. — Minha querida, você sofreu muito. Me desculpe, foi falha minha não ter educado bem o Ademir.De repente, a porta do banheiro se abriu. Ademir saiu a passos largos, sua expressão levemente irritada enquanto se aproximava de Karina
— Sim. — Ademir assentiu. — Por quê? — Karina não entendia.Pela lógica, se ele quisesse facilitar a entrada da Vitória na família Barbosa, não deveria ter contado ao Sr. Otávio que o bebê em sua barriga não era seu filho biológico?— O que você acha? — Ademir abaixou a cabeça e a olhou como se estivesse falando com uma tola. — Depois que nos separamos, meu avô ficou tão irritado que acabou adoecendo. Se eu contasse que seu filho não é meu, você acha que ele não pioraria ainda mais?Karina compreendeu. Fazia sentido.Ao chegarem ao elevador, Karina parou. — Obrigada por me acompanhar até aqui. Vou pegar o elevador, e você pode voltar a ficar com seu avô.O quê? Ademir ficou espantado. Tinham andado tão pouco, e ela já estava se despedindo?O elevador parou e as portas se abriram. Não havia ninguém lá dentro. — Vamos. Antes que pudesse reagir, Karina sentiu o aperto em seu braço e, num movimento inesperado, Ademir a puxou para dentro do elevador. Com as portas se fechando, e